Sophie:

No maior teatro do estado do Rio de Janeiro ocorre a estreia do lançamento do filme sobre a Pamela e o Herval. Nós queríamos fazer algo diferente, na grandiosidade que eles merecem, então surgiu essa ideia. Uma fileira de cadeiras é posta sobre o palco, para que ao fim do filme, nós autoras, atores e a família dos homenageados possam responder perguntas da plateia, e logo atrás dessas cadeiras, onde deveria ser uma cortina, há uma tela imensa de projeção.

Todos se acomodam, o filme já vai começar.

“Primeiro vou contar como tudo começou. Eu nasci e vivi até minha maturidade na Califórnia, meu daddy, Jack Parker, dono da Parker TV, casou-se com uma modelo brasileira, Branca Mendes, minha mãe, e eles me criaram com muito amor e carinho, mas quando eu tinha 9 anos de idade, mom morreu.

[...]”

E eu me lembro como se fosse hoje a Pamela começando a contar a história dela. No filme, quem fala é a atriz que interpreta a Pam, mas nos meus ouvidos, a voz que soa é da Pamela verdadeira, isso já me deixa com um nó na garganta e completamente arrepiada.

[...]

E a cena final, antes de uma mensagem de Pamela, é a mais dolorosa. No filme nós incluímos a morte deles. Precisamos nos concentrar muito em tudo o que sabíamos sobre os dois, para saber como eles supostamente agiriam antes de morrer, e o resultado foi realmente tocante.

Nós imaginamos e pomos em prática eles... com certeza com medo. Sem querer morrer, afinal, quem quer? Mas apesar de tudo, serenos. Unidos. Talvez de mãos dadas. Mas com certeza olhando um nos olhos do outro, porque é claro que essa seria a última coisa que ambos gostariam de ver antes de morrer, o seu ser amado. E o Herval com certeza com um “vai ficar tudo bem...” nos lábios.

“[...] Eu sei que posso falar isso tanto por mim quanto por Herval: as nossas vidas não foram fáceis. A maioria das pessoas acha que sim, but it was not. Because... se a gente conseguiu ser feliz, é porque lutou muito para isso. A maioria das pessoas vivem tristes porque é mais fácil, você não precisa se mexer para fazer seu dia parecer ruim, mas precisa fazer muita coisa para ele ser bom. E a gente fez muita coisa all these years... e é por isso que cada momento que as meninas registraram é um ensinamento, é uma árvore de raízes profundas, capaz de fazer você se aperceber de muita coisa! De fazer você se levantar e literally live your life. Sem pretensão eu posso dizer que a nossa história é a prova de que o amor existe, que ele é a base de qualquer coisa boa que você possa querer na vida e que se ele existe, você pode enfrentar o que for, pode viver os melhores dias, ou pode estar tão mal de cavar um poço tão fundo que vá parar no núcleo da terra, mas você vai vencer! Você vai recuperar as forças, will fight and will win! Vai segurar a mão da pessoa que você ama e juntas vocês farão da vida de vocês, a maior e melhor aventura! That’s the point, right? A gente quer que o que as meninas escreveram, ajude muitas pessoas a enxergar suas vidas com olhos especiais e a procurar o extraordinário no comum, assim como eu e o Herval fizemos. Assim como a arte faz day by day e mantem as pessoas humanas.”

A imagem congela. É o rosto da Pamela e o do Herval, sorridentes, olhando um para o outro, que dá fim ao filme e à estrutura emocional de todos os presentes. E aparecem as palavras:

In memory of

PAMELA PARKER & HERVAL DOMINGUES

1970 – 2050               1971 - 2050

Todos nós, eu, Emília, a família dos homenageados, os atores que fizeram esse filme acontecer e todo o resto dos expectadores nos pomos de pé e aplaudimos tudo o que acabamos de ver. Eu, que detesto chorar em público, não consegui me conter e enxugo as lágrimas, sentindo o coração apertado dentro do peito. Não consigo acreditar que nós fizemos isso... e que o processo criativo acabou... quatro anos após o acidente de avião que matou Pamela Parker e Herval Domingues carbonizados, acabamos de assistir à estreia do filme que lançamos em homenagem aos dois, dá para acreditar?

Emília:

Assim que a produção termina e aparece o “in memory of...” eu sinto uma dor no peito. É lembrar a gente que esses dois seres humanos tão maravilhosos não estão mais entre nós. Foi instantâneo e não planejado, mas todos nos erguemos e aplaudimos. Dirijo meu olhar para o lado e encontro não só a Sophie, como toda a família da Pamela e do Herval, emocionados. Deixo minhas lágrimas escorrerem livremente e sorrio 100% satisfeita. Lembro o quão dramática foi a notícia da morte deles, mas alguma coisa me diz que, apesar de não terem curtido nem um pouco morrerem carbonizados, eles estão felizes por terem feito isso juntos. E com certeza, agora, estão orgulhosos do que estão vendo...

Obrigada por terem existido, Pamela e Herval. Vocês e a sua história estarão sempre vivos em nossos corações.

Por um momento eu e a Sophie nos entreolhamos, ambas com lágrimas e sorriso no rosto, desmontadas interiormente, claro! Agradecemos uma a outra pela parceria e subimos ao palco junto com os outros, para o início das perguntas.

[...]

— Primeira pergunta?! – Olho em volta, várias pessoas com a mão levantada e então eu aponto aleatoriamente para uma moça da terceira fila. Ela engole em seco, sorri e levanta:

— Como vocês duas, autoras, se sentem diante desse trabalho tão fiel a Pamela e ao Herval? Q-que tipo de sentimento, fazer algo assim traz a vocês?

— Bom... eu me sinto... – Olho para meus dois lados, e visualizo que estou cercada de pessoas maravilhosas, incrivelmente talentosas, e então respondo: – honrada. M-me sinto grata por esse trabalho. A pesquisa da vida da Pamela e do Herval foi árdua, captar a essência do que eles eram, faziam ou diziam foi prazeroso, mas não foi fácil... tanto, que você pode ter certeza de que eu jamais teria conseguido fazer isso sem a Sophie. Eu estou extremamente feliz pela realização tanto do livro quanto do filme, porque isso me tornou alguém melhor... eu me sinto muito abençoada porque vocês não têm noção do quão grandioso, enriquecedor, foi fazer esse trabalho. Foi graças ao nosso amor por esses dois, que eu e a Sophie nos conhecemos. Eu fui a editora tentar lançar um livro e encontrei a Sophie tentando vender a ideia de fazer um livro sobre a vida da Pamela e do Herval. Como eu também já tinha pensado nisso, entrei na conversa e depois de um tempo, eu visualizei que a gente tinha que trabalhar junto! E a gente foi percebendo que a nossa imaginação, o modo de pensar os dois eram muito parecidos. Quando eu percebi, ela já tinha se tornado uma grande amiga para mim... e eu me sinto abençoada também por ter sido capaz de, ao lado dela, emocionar vocês. De fazer todos vocês sentirem o que a gente sentiu ao ouvir cada história que saiu da boca deles. É como se eu tivesse feito a minha parte para o bem da humanidade, sabe? Se vocês foram tocados de alguma maneira por essas obras, já é o bastante para mim, a sua emoção é o meu troféu. – Olho para meu lado direito, ofereço o microfone à Sophie, que o pega e responde:

— Para mim, ajudar a contar a história de Pamela e Herval foi um dos maiores prazeres que eu tive na vida, conhecer a história desse casal me trouxe uma grande alegria, paz, admiração e sabedoria. Uma vontade imensa de transformar o mundo, assim como eles fizeram. Agradeço a minha parceira Emília por me deixar fazer parte desse projeto, pois sem ela jamais teríamos chegado até aqui. Através desse casal incrível, eu conquistei uma das melhores amizades e compartilhei os melhores sentimentos. Pamela e Herval, ou como nós, fãs, - sim eu sou uma grande fã desse casal, - preferimos chamar de Pamerval, foram um dos mais brilhantes casais que eu já conheci, duas pessoas incríveis feitas uma para a outra e que nos deixaram uma linda história não só de amor, mas de superação, de humanismo e solidariedade. Seres humanos que transformaram o mundo e nossos corações através de suas histórias. E é com muito prazer e honra que compartilhamos elas com todos vocês, hoje. Através dessas obras pretendemos eternizar o amor desse casal e levar eles a cada um de vocês.