When a Kiss Doesn't Mean That escrita por silentread


Capítulo 1
Único


Notas iniciais do capítulo

Rápida one-shot em comemoração às três partes mais homossexualísticas de Frodo e Sam no livro As Duas Torres.
A cena em questão, que é uma Realidade Alternativa, se passa depois da toca de Laracna e a ideia veio de uma cena de Teen Wolf.
Não fiz nenhum esforço para shippar (como algumas pessoas acreditam que é assim que acontece) porque eu acho mesmo que Tolkien dava uns toques aí. Bromance que é bromance todo mundo gosta! Mas resolvi exagerar as coisas, apesar de só shippar eles como amigos mesmo.
Espero que gostem.



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When a kiss doesn’t mean that

O pior já tinha passado. Apesar de suas mãos sofrerem espasmos fracos, seu coração já batia mais devagar. O tempo em que ficou prendendo a respiração oxigenou demais seu cérebro e ele tinha ficado tão tonto que Frodo parou de andar e passou a ampará-lo.

“Acalme-se, meu amigo. Não se desespere. Não ainda.”

A voz do outro parecia tão longe que ele pensou em correr para chegar até ela, mas Frodo estava a sua frente, prestes a agarrar seus ombros e fazê-lo voltar a si.

Não sabia porque aquilo acontecia, já que vira perigos tão maiores ‒ a exemplo do balrog, em Khazad-dûm – e aquela toca não era tão assustadora quanto. Se começasse a pensar bem, perceberia que o motivo de ter tido o ataque de pânico – ou de ainda estar sofrendo ele – era por ver Frodo; pálido, pequeno e indefeso sob o poder de Laracna. Monstruosidade que quase o envenenara para depois saboreá-lo.

Só de pensar na possibilidade de perder seu mestre daquele jeito o tirava de sério, causava arrepios e lhe trazia um amargor na garganta; terminar aquela jornada angustiante sem aquele que, com certeza, daria a vida por.

Quando mergulhado nesses pensamentos agourentos, outra parte da cabeça lhe perguntava insistentemente o porquê de tanto desespero; ele não sabia responder. Lágrimas caiam pelo rosto agora, mesmo que ele não desse conta disso.

Enquanto tudo aquilo acontecia, Frodo, que não tinha nem ideia do que se passava na cabeça de seu amigo, assistia a cena, atordoado. Sam se sentou no chão, olhando ao longe, as Emyn Muil antes do horizonte, e mantinha o olhar fixo e ao mesmo tempo turvo nelas.

Frodo, ainda tomado de pena, ajoelhou-se a sua frente, procurando em seus olhos alguma centelha de que estava bem e pronto para continuar o caminho para a Montanha. Tudo o que encontrou foi um olhar perdido, tão triste como nunca se viu em um hobbit, cheio de dor e passado ruim. As mãos jogadas no colo tremiam de novo e ainda mais.

“Sam”, ele pediu “Sam, olhe para mim. Obedeça-me, ouça ao seu mestre. Samwise...”

Em breve, o desespero que assomava Sam trouxe sensações ruins para Frodo, que parecia não aguentar mais ver o amigo naquele mau agouro. Não conseguia pensar numa solução para o problema; o que lhe passava era apenas sofrimento, perigo de estarem parados e saudades de casa. Pousou as mãos nas bochechas do outro, direcionando a cabeça para si, mas Sam ainda não acalmara-se em todo.

Balbuciou algo, uma última lágrima rolou e em breve uma euforia tão alucinante atacaria seu coração, as pontas das suas orelhas e seu estômago, mas antes disso, Frodo ficaria analisando suas feições; assim, tomaria uma decisão.

Confusão tornou-se o pensamento, porque não era um beijo. Era um beijo, porém em virtude de atenção; um beijo curto, sem trabalho, que deixou em catástrofe seu receptor e emissor. Um toque que dizia tanto e nada, calou voz e tremor, coloriu e desfigurou suas ações; mesmo que não fosse um beijo.

Um beijo.

A relva pouca incomodava, o vento não era presente e as várias pedrinhas que margeavam aquelas grandes rochas eram tão pontiagudas que quase atravessavam suas roupas. Mas o toque permanecia. Talvez Frodo pensasse que precisava continuar ali para não o assustar. Talvez não. Talvez o efeito do ataque de pânico só pioraria se ele se desencostasse. Ou não.

Quem sabe, o beijo não significasse nada; quando o loiro afastou-se em mínimo, abriu os lábios e respirou novamente, seus olhos marejados estavam agitados, dessa vez procurando o olhar de Frodo, e não o contrário.

Ainda se mantinham tão perto que seria só se inclinar um pouco para “Frodo acalmar Sam” novamente, mas um ar tão pesado se instalara no local que nenhum deles se mexeu. Os cachos de seus cabelos se misturavam na região da testa, apesar de não ter havido movimentos bruscos, nenhum na verdade, e os narizes encostavam-se, ponta a ponta.

Frodo reservara-se aos olhos fechados, mas sentia o peso de olhar do outro sobre si mesmo assim.

De um salto levantou-se, virou-se e saiu andando. Tão atordoado deixou Sam quanto ele mesmo, tropeçando algumas vezes antes de parar bruscamente a beira de um riacho. Não ouviu nenhum chamado de Sam, o que queria dizer que ele estava tão confuso quanto.

Às vezes esquecia que estavam correndo tanto perigo; orcs poderiam estar em seu encalço a todo momento. Mesmo assim, o sentimento de que poderia ser levado por orcs, esquecido por Sam e despreocupado de Anel assolou sua mente e coração num súbito; ele sentou às margens do riacho e deitou a cabeça entre os joelhos. Suspirou.

Onde estava, naqueles minutos de incerteza, era um côncavo rochoso que impedia a visão de qualquer um que bisbilhotasse por cima, nas grandes rochas; pelo menos assim ele se sentia mais protegido.

Não houve cinco minutos de água corrente interrompível, ouviu o som de passos de Sam quando queria ser notado; talvez tenha feito isso para não assustar seu mestre quando chegasse, pois tudo o que ele menos queria naquele momento era ficar longe de Frodo.

Sentou-se à margem também ao lado dele, cuidando para não irritá-lo. Ele costumava ficar tão calado quando chateado. Mas por que estaria? De certo ele colocaria a culpa em seu jardineiro, que nada ajudava tendo esses ataques de pânico. Sam trazia seus bens e seus males em horas erradas.

“Senhor, e-eu... Me desculpe.” Frodo não se mexeu. Samwise esperou quase pacientemente coisa que ele jamais fora, e bem quieto. Toda aquela espera parecia tão errada; eles deveriam agora se dirigir às entranhas de Cirith Ungol, arriscar-se ao lado do Acampamento e, enfim, destruir o tão poderoso Anel no fogo escaldantemente maléfico da Montanha da Perdição. Mas naquele momento, seus pensamentos eram tão da mais profunda e pura confusão de bons sentimentos que eles pareciam não se importar de estar sendo caçados, vigiados o tempo inteiro.

Talvez seu coração precisasse de uma escapatória para tanto sofrimento passado até ali; mas a centelha do que viviam no momento parecia aflorada na hora ‒ extremamente – errada.

Por mais incerto que fosse, e ele sabia disso, a vontade súbita de repetir o ato foi só aumentada quando Frodo decidiu encará-lo novamente; mas ele não praticou o pensamento. O olhar de culpa e súplica em seu rosto fez Frodo sorrir, mas sorrir pouco, talvez remoesse na cabeça o que fizera afim de Sam diminuir seu nervosismo no ataque; pensando bem, poderia até ter piorado a situação no pobre coraçãozinho do outro.

Nenhum dos dois falava, mas não era por falta de assunto. Havia tanto para ser dito que preferiram poupar seus próprios ouvidos.

Sam ofereceu seu colo depois um tempo. Frodo aceitou de bom grado. Por ali permaneceram até ouvirem novamente o som dos tambores de orcs ribombando; depois seguiram viagem pelos calabouços e entradas secretas de Cirith Ungol.


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Notas finais do capítulo

Anar kaluva tielyanna, mellonen! Salve Frodo, Sam e seu bromance. ♥