Jake se materializou na minha frente com Berrá ao seu lado. O quarto se transformou em um pista de dança e o meu lustre de cristal começou a refletir uma luz néon. Chamei por Odete. Na verdade, gritei por Odete. Mas ninguém apareceu, Jacob continuou dançando e, do nada, rodou a calcinha fio-dental no dedo, como se estivesse rodando uma bolsa. Bella bateu palmas e fez um moonwalk, colocou a mão no meio das pernas e imitou o gritinho do Michael Jackson. Será que eu estava morto e não sabia?

Não tinha música, mas coloquei as mãos nas orelhas para abafar qualquer som que viesse de fora. Encolhi minhas pernas, fiquei em uma posição fetal, e totalmente desorientado

— Para! – Gritei e balancei o corpo para frente e para trás. – Para! Para!... Odete, Odete, Odete…

Dois braços musculosos me abraçaram, entretanto não estava vendo  de quem eram. Na pista de dança estava eu, Jake e Isabella. Os braços começaram a sussurrar uma canção de ninar, não daquelas que colocam medo nas crianças. Era algo parecido com "borboletinha, está na cozinha"... Fechei meus olhos. Não queria ver aqueles dois felizes e rindo da minha desgraça. Lágrimas começaram a escorrer pelo meu rosto e senti-me como uma criança, isto é, indefeso e imbecil. Mais imbecil do que indefeso.

— O que está acontecendo? – Abri os olhos para ver quem estava falando. Uma nova Bella, também, tinha materializado, mas essa estava completamente sã e, principalmente, não dançava. – Cara, ele não está bem. Será que ficou doido?

— Ele não está doido – uma voz respondeu e reconheci como sendo a de Jacob. – Parece um pouco confuso e… - Bella fez uma careta de desaprovação. – Certo, Edward parece um pouco doido.

Foi então que, percebi que quem cantava a canção de ninar e me abraçava era Jake. Não o Jake que dançava rodando uma calcinha fio-dental no dedo, vestido com uma fantasia de lobo. Esse Jacob usava calça jeans com blazer e sapatos de couro. Mirei seu rosto e ele abriu um sorriso meio-triste. Aquele sorriso, não sei como, me despertou para a realidade e a pista de dança desapareceu junto com o lobinho e Berrá. Aspirei profundamente um pouco de ar, estiquei minhas pernas e afastei do meu sócio. Ele era como um irmão, entretanto não precisava ficar me apertando e apalpando.

— Fala para Odete chamar um médico – balbuciei dando conta de que talvez estivesse vendo coisas... Muitas coisas.

Black assentiu e saiu do quarto, deixando-me sozinho com Isabella. Ela sentou no pé da minha cama e ficou observando meu rosto por um longo tempo

— Sabe, eu tenho medo de pessoas doidas – disse e começou a engatinhar no colchão vindo para o meu lado. – Mas… Você… Acho que posso dizer que não tenho medo de você – finalmente, parou de tentar ser sexy e sentou quase em cima de mim.

Fiquei meio sem jeito para perguntar, todavia “tomei” coragem e falei:

— Qual sentimento tem em relação a mim?

Bella deu um sorriso, que mesmo com aquela cara de sonsa, era quase sedutor. Colocou seu dedo no meu queixo e aproximou o rosto do meu.

— Acho que tesão. Entretanto, não vou envolver com um cara que pega a calcinha de mulheres indefesas.

Tesão? Quase fiz um sinal da cruz. Era impossível me imaginar com Isabella. Quem se interessaria por uma pessoa tão estranha como ela. Além disso, tinha me chamado de doido. Eu não era doido, eu não estava doido e nunca, nunca mesmo, ficaria doido. Maluca... esse era o adjetivo aplicável à Berrá. Simplesmente, demente, louca e alienada.

— Achei minha calcinha dentro de uma gaveta no seu banheiro – sussurrou no meu ouvido. – Tinha muitas outras calcinhas, especialmente calcinhas fio-dental.

— O que? – Perguntei, não entendo. – Como que sua calcinha estava nessa gaveta? Eu nem tenho uma gaveta de calcinha.