Paz Temporária - Chama Imortal escrita por HellFromHeaven


Capítulo 22
De volta à razão




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Meus soldados apenas ficaram observando confusos enquanto eu expulsava toda a angústia e desespero que residiam em minha alma. Depois um bom tempo gritando, um de meus homens colocou a mão em meu ombro e eu me virei assustada. Percebi que todos me olhavam e alguns até coçavam a cabeça, tentando entender o que estava acontecendo.

– Comandante... O que houve?

– Eu... Eu apenas... Percebi que está tudo errado. Tudo!

Minha resposta apenas aumentou a confusão nas mentes de meus aliados, que até mesmo se contiveram ao invés de perguntar mais alguma coisa. Levantei-me e dei um soco em meu próprio rosto. Tal gesto gerou algo que eu nem sequer sabia que era possível: eu senti dor. Porém, acredito que aquilo foi muito mais psicológico e espiritual do que físico, mas o que importa é que foi o suficiente para me fazer acordar de vez e voltar à sanidade. Cair em desespero ali não resolveria nada. Então apenas olhei para todos e disse determinada:

– Sei que estão confusos com minhas atitudes, então vou esclarecer o que está acontecendo: eu finalmente abri meus olhos.

– O quê? – exclamou um dos soldados, indignado. – Não me diga que aquele Fallen One maldito conseguiu mexer com a sua cabeça?

– Não tem nada a ver com ele. É apenas um velho patético que treme diante de qualquer perigo e venderia sua própria mãe para salvar sua pele. Gostaria que todos vocês escutassem em silêncio o que tenho a dizer e apenas comentem algo quando eu disser que podem.

Os soldados, mesmo sem entender bem o que estava acontecendo, concordaram com a cabeça. Cocei minha garganta, tomei fôlego e comecei a falar:

– O que está errado é essa guerra. Eu entrei para a Organização porque os Fallen Ones haviam manipulado a história e estavam usando isso para controlar a população. Ou seja, eu apenas queria expurgar toda a mentira e a falsidade para longe desse mundo e impedir uma possível segunda “Reforma Cética”. Porém... Tudo foi longe demais. Perdemos o controle. Saímos da linha e entramos em um caminho totalmente distorcido que continua a alimentar nossos espíritos com a ideia ilusória de que estamos fazendo a coisa certa. Mas como acabei de dizer... Tudo não passa de uma mentira. Fomos todos enganados por nós mesmos. Deixamos nossa raiva nos dominar e apenas utilizamos os erros de nossos inimigos como desculpa para extravasar esses sentimentos ruins e eliminar tudo aquilo que nos incomodava. E como isso nos faz melhor do que eles? A resposta é óbvia: não faz. Tornamo-nos aquilo que detestávamos e carregamos inúmeras pessoas conosco. Isso não pode continuar assim... E... Agora já podem falar.

Olhei ao meu redor para verificar como tinha sido a recepção de minhas palavras por parte de meus aliados e apenas alguns haviam baixado a cabeça, como se realmente tivessem captado a mensagem e estivessem envergonhados, assim como eu. Porém, a grande maioria me olhava com desdém e um deles (o que colocou a mão em meu ombro) veio até mim e disse com raiva:

– Do que você está falando? Aqueles filhos da puta mataram minha família e agora você quer que tenhamos misericórdia? Por acaso eles tiveram? Não! E quem é você para dar uma de moralista? Ontem mesmo você dizimou uma tropa sozinha! Não deixou nenhum homem vivo e nem sequer nos deu a chance de fazer algo. Quem diria que nossa comandante não passa de uma hipócrita exatamente como esses porcos.

Olhei no fundo dos olhos do homem e percebi que ele estava cego pelo ódio que sentia por nossos inimigos. Mas isso não me dava o direito de julga-lo, uma vez que eu estava do mesmo jeito.

– É verdade que nenhum deles teve misericórdia de nossos amigos e familiares, que eu sujei minhas mãos de sangue mais do que qualquer um presente aqui e que minhas palavras contradizem minhas ações passadas. Porém, é exatamente por isso que eu acabei de fazer um discurso. É uma pena que eu tenha que explica-lo, sendo que eu acredito ter respondido a “dúvidas” como as suas. Enfim... Gostaria que todos vocês olhassem para o chão, mais especificamente para os inimigos caídos nele.

Todos obedeceram meu comando, mesmo demonstrando um desgosto para com meu comentário e se espantaram ao perceber que a maioria dos corpos era de civis.

– Por acaso eles parecem ameaçadores para vocês? Não acha que aqueles que mataram pessoas inocentes sem um pingo de misericórdia nesta ocasião fomos nós? Não acham que isso pode estar acontecendo em todo o país neste exato momento? Não acham que essas pessoas eram parentes de alguém?

Minha última pergunta fez com que todos começassem a largar suas armas lentamente. Alguns começaram a chorar e outros entraram em desespero assim como eu. Mas eu sabia que era preciso foco para consertar nossos erros.

– Ouçam todos! Quero que deem um soco naqueles que estão fora de si, assim como eu fiz comigo mesma. O primeiro passo para corrigir um erro é reconhecer o mesmo e se já passaram por essa etapa, então ainda há esperança.

Eles obedeceram minhas ordens e se recompuseram em alguns minutos.

– Ótimo, agora eu gostaria que vocês levassem o arcebispo até a central e o interrogassem para saber onde o líder dos Fallen Ones está. Nada de tortura física ! Ah, e ficaria feliz se vocês espalhassem minhas palavras para todos que puderem. Assim que eu resolver alguns assuntos falarei sobre isso com os outros comandantes. E antes que comecem a fazer o que pedi, quero dizer que como sua comandante, a culpa de termos nos perdido em nosso caminho é inteiramente minha e agradeceria se pudessem me perdoar.

Ajoelhei-me perante meus homens para demonstrar quanto eu estava arrependida. Isso causava um sério dano em meu espírito de mercenária, mas era irrelevante, já que havia decidido me livrar desta coisa inútil. Não pude ficar daquele jeito por muito tempo, pois logo fui erguida por eles num claro ato de perdão. Admito que fiquei emocionada com essa reação, mas isso não importa.

Eles rapidamente cumpriram minhas ordens e levaram o arcebispo para longe dali. Apenas eu fiquei naquela igreja, pois precisava de um tempo para pensar em como resolveria aquela bagunça gigantesca. Esperei todos os soldados sumirem de minha vista e decidi sair do local para tomar um ar fresco e espairecer um pouco.

Assim que dei alguns passos para fora do lugar, senti uma presença sem intenções agressivas e ouvi uma voz familiar que há muito não escutava:

– É realmente muito bom ver que você conseguiu voltar ao caminho certo sem a ajuda de ninguém, Tsuya.

Olhei para o lado e vi um jovem de cabelos brancos levemente espetados, olhos também brancos e um sorriso amigável estampado no rosto. Ao seu lado, havia uma garota do mesmo tamanho com cabelos até negros os ombros com olhos da mesma cor sorrindo de forma meiga. Ambos aparentavam ter em torno de vinte anos e estavam sentados em um sofá vermelho no meio da rua que definitivamente não estava ali antes. Logo notei do que se tratava e realmente fiquei surpresa com minha conclusão:

– Satt e Sett... Não sabia que ainda estavam por aqui.

– Na verdade somos os únicos que restaram. – disse Satt (a garota).

– Por mais que não seja do jeito que era antes, o ser humano nunca deixou de crer na vida e na morte. – disse Sett (o garoto).

– Entendo... É bom saber disso. Enfim, por que não fizeram contato comigo antes?

– Bem... – disse Satt. – Depois que lhe demos a imortalidade, sua crença na vida e na morte foi caindo cada vez mais e chegou ao seu ápice no “desaparecimento” de T’eemu.

– Sem falar que você mergulhou num mar de incertezas e afundou cada vez mais para o desespero, apenas emergindo agora. – complementou Sett. – E como ficamos bem fracos depois da Reforma Cética, você não podia nos ver.

– Oh... Entendo... Então quer dizer que agora...

– Sim, você voltou a ser a Tsuya de quem T’eemu tanto se orgulhava. – disse Satt.

– Isso é ótimo de se ouvir.

– Imagino. – disse Sett. – Esses últimos séculos foram complicados. Ninguém podia nos ver. Isso, é claro, até que os “erros” começaram a surgir.

– Anh? Como assim?

– São pessoas que deveriam morrer, mas isso foi revertido por algum fator externo, que no caso seria a tecnologia humana. – respondeu Satt. – Eles recebem poderes que apenas nós possuímos como sequela. Aliás, você pode ser considerada um deles, uma vez que pode ver os pontos vitais das pessoas desde que impedimos sua morte.

– Heh, interessante.

– Sim! – exclamou Sett. – E o melhor disso é que essas pessoas podem nos ver. O que nos permitiu influenciar esse mundo um pouco. Para isso, tomei a forma de um soldado na época da ditadura desse país e ajudei uma garotinha a mudar toda essa situação. Também a ajudei novamente a encontrar um outro “erro” e ajudar este a voltar à razão.

– Eu já fui uma garotinha que brincava na Red Moon Forest e a amiga “invisível” deste outro erro que o Sett mencionou. Como apenas poucas dessas pessoas existiram, apenas pudemos acabar com uma ditadura e com uma guerra entre “famílias”.

– Não me parece pouca coisa. – disse. – Então vocês são os responsáveis pela “ressureição” dos Fallen Ones?

– Na verdade apenas demos suporte aos “erros” e... Nem tudo sai da maneira que desejamos. – respondeu Sett.

– Eu entendo muito bem do que você está falando. – disse. – Então qual é o motivo de sua “visita”?

– Apenas queríamos trocar umas palavras amigáveis e te dar um incentivo a mais para continuar com sua luta. – disse Satt. – Afinal, T’eemu ainda vive naquela espada que está guardada no templo. E você conseguiu uma seguidora fiel para ela.

– Ruby...

– Sim, ela ainda acredita em tudo o que você diz e, principalmente, em você. Então pense nisso antes de tomar qualquer decisão.

Olhei para os céus e sorri. Foi dominada por uma imensa quantidade de felicidade e encontrei a solução que procurava. Comecei a andar para fora da cidade, rumo ao meu destino e apenas parei para deixar um último comentário para meus velhos conhecidos:

– Podem ficar tranquilos quanto a isso. Afinal, uma sacerdotisa deve agradecer da melhor forma possível àqueles que decidem seguir seu espírito evoluído.


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Notas finais do capítulo

Estamos na reta final dessa história coisada que trago até vocês =D
Tia Tsuya finalmente voltou a ser uma sacerdotisa pacífica e pretende acabar com aquela guerra o mais rápido possível.
Agradeço a quem leu até aqui, espero que estejam gostando e até a próxima =D



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