Paz Temporária - Chama Imortal escrita por HellFromHeaven


Capítulo 1
A amargura do "sempre"




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O calor insuportável somado à quase que total falta de vento indicava que deveria ser verão. Os únicos alívios que eu podia “aproveitar” nessa estação era o fato de que morava em uma floresta densa e que havia um pequeno lago próximo a minha moradia. As árvores proporcionavam uma ótima sombra, mas toda a construção do templo ficava em uma clareira, o que complicava as coisas. É claro que havia algumas árvores plantadas ao longo do terreno, mas estavam lá mais por uma função estética do que prática e cuidar delas era mais uma de minhas tarefas. Manter um templo daquele tamanho da maneira mais apresentável possível não era uma tarefa fácil nem para um grupo de sacerdotes... E eu tinha que cuidar de tudo sozinha.

A propósito, meu nome é Tsuya e sou a sacerdotisa chefe... Aliás... A única sacerdotisa que restou no antigo e esquecido templo da grande T’eemu, o espírito da paz que abençoa todos os guerreiros. Sei que parece contraditório, mas esse título requer um pouco de aprofundamento para que possa ser entendido. E isso pode ficar para uma outra hora. O melhor no momento seria continuar explicando minha “bela” situação.

Como estava dizendo, sou a única sacerdotisa (então me autodeclarei sacerdotisa chefe) e, assim, sou a única pessoa encarregada de... Todas as tarefas que visam o “bem estar” das instalações e seus fiéis... Se houvesse algum, claro. Naquele dia específico de verão, eu estava apenas varrendo as folhas da entrada do templo... As mesmas que sempre estavam ali (esta é a única desvantagem de ter muitas árvores por perto) e acabavam com meu humor... Digo... Acabariam, se ele ainda existisse.

Naquela época, era mais do que normal que eu não tivesse um momento sequer onde meu humor estivesse, pelo menos, normal. Isso pode soar estranho, mas havia um bom motivo por trás disso. Eu estava vivendo sozinha ali... No meio daquela floresta densa e perigosa... Por décadas... Não... Séculos. Como isso é possível? Bem... Digamos que eu consegui algo que todos os guerreiros e líderes antigos almejavam a ponto de lutar em guerras e cruzar o mundo à procura do mesmo... A imortalidade! Pena que ninguém me avisou sobre a verdade por trás desse grande “tesouro”. Aos meus olhos, isso não passa de uma maldição que consome sua sanidade e te faz cada vez menos humano... Está aí o motivo principal do mau humor constante em minha pessoa.

Bem... Mas sinto que eu não podia evitar cair nesse mar de trevas... Aliás, para ser mais exata é como se eu tivesse mergulhado de cabeça. Fazer o quê? Antes de ser sacerdotisa, eu era uma mercenária renomada de uma famosa família de assassinos e acabei sendo “convertida” depois de matar todos os habitantes deste mesmo templo pela razão do mesmo existir... A grande T’eemu. Ela não é um Deus ou coisa do tipo, mas sim um espírito elevado que ficava materializado no templo e dava conselhos e benção àqueles que o visitavam. É... O importante nessa linha de raciocínio é que mesmo tendo mudado de “profissão”, eu continuei com o espírito de guerreira e não pude resistir à tentação da tão aclamada vida eterna. Esse nome até é engraçado... Pois depois de alguns anos percebi que aquilo mais parece uma “morte consciente”. O termo pode não cair bem, mas foi do que passei a chamar a maldição que joguei sobre mim mesma. Por quê? Simples: eu não sentia fome, sede, vontade de ir ao banheiro ou cansaço. As únicas sensações “mortais” que eu tinha eram sono e dor. Mas a última também mal importava, pois descobri mais para frente que eu me regenerava, não importando a gravidade do ferimento. Nem preciso dizer que isso me concedeu algumas experiências... No mínimo desagradáveis, mas é melhor deixar isso de lado por enquanto.

Voltando a onde parei, estava apenas varrendo o chão do templo quando o desânimo me deu um forte soco no rosto e quase caí apagada no chão. Olhei ao meu redor e percebi que ainda havia uma parte com várias folhas caídas. Pensei em deixa-las ali mesmo, mas notei que não havia vento. Então aproveitei a rara ocasião para me livra de vez daquele maldito monte de... Planta. Tirei elas de lá e as coloquei junto a todas as outras (costumava fazer um grande amontoado de folhas e... Me jogar em cima do mesmo para relaxar) Uma forte brisa passou levando todas, eu disse todas as filhas da puta de volta ao templo. Fiquei tão irritada que quebrei a vassoura no meu joelho. Essas minhas reações eram muito comuns, mesmo que eu não me orgulhe disso. A minha sorte é que havia uma imensa biblioteca no templo com todo o tipo de livros. E como tive muito tempo de sobre, acabei lendo todos mais do que uma vez e acabei aprendendo algumas técnicas interessantes para aplicar ao cotidiano. Tendo isso em mente, fui até o depósito de ferramentas e peguei meu machado. Depois disso entrei na floresta e andei até achar uma pequena e fina árvore. Cortei o pedaço e voltei ao templo, arrumando a vassoura logo em seguida.

Terminei de varrer o lugar enquanto reclamava e xingava a natureza de todos os xingamentos que podia imaginar. Depois disso, resolvi dar uma pausa e descansar um pouco (mesmo que o cansaço não fizesse parte de mim). Guardei a vassoura e entrei na floresta em direção ao pequeno lago. Ele estava localizado numa pequena clareira e o vapor proveniente de suas águas criava uma névoa característica cujo cheiro possuía o poder de me acalmar um pouco. Encontrei essa maravilha uns dez anos depois que comecei a morar no templo (ainda havia visitantes e eu tomava banho com a água do poço que fica dentro do templo, só para constar) e passei a utilizá-lo como local de banho e descanso. Ah... Se for pensar direito, aquele lugar está mais para uma fonte termal do que para um lago, mas eu gosto de chama-lo assim do mesmo jeito.

Quando cheguei ao meu destino, havia alguns pássaros se banhando nas águas quentes com muita alegria. Eram os únicos seres loucos o suficiente , assim como eu, para adentrar aquelas água em pleno verão. Mas fazer o quê? Mesmo que eu saísse de lá quase derretendo... Não sei explicar bem, mas... Eu meio que gosto da sensação de ter água quente envolvendo o meu corpo... Bem, isso não importa. Tirei minhas roupas e entrei naquele maravilhoso lago, encostei minhas costas na beira e apenas... Relaxei.

Fiquei lá apenas observando o céu, que mal podia ser visto por causa de todas aquelas árvores, sem pensar em nada. Acabei tirando um cochilo e quando acordei já estava anoitecendo. Olhei para os lados e encontrei uma raposa albina se banhando do meu lado. Era uma “velha conhecida” minha, que eu encontrava com frequência naquele local.

- Olá, velho Kit.

A raposa olhou para mim e sentou-se ao meu lado voltada para frente.

- Como vão as coisas? Está quente demais, não é?

O animal apenas grunhiu... Ou seja lá como se chama o barulho que raposas fazem. Era normal para mim, falar com animais e seres inanimados... Como ficava muito sozinha, o fazia para não me esquecer de como se fala e... Para afastar um pouco a solidão.

Fiquei ali conversando com o Kit por algum tempo e decidi voltar. Saí do lago, me sequei, coloquei minhas roupas, me despedi da raposa e voltei para o templo. A maior parte do tempo, eu ficava apenas no “modo automático”, sem pensar em nada. E naquele trajeto não foi diferente. Apenas olhava para frente e andava... Até chegar ao templo. Entrei e pendurei minha toalha no varal, peguei meu velho cachimbo e sentei-me na escadaria que leva ao templo. O acendi e fiquei lá, apenas observando as estrelas. Era um costume que tinha desde minha época de assassina.

Fumar debaixo de um belo céu estrelado sempre me trouxe paz e tranquilidade, mas... Eu já não me sentia assim. Uma constante tristeza tomava conta do meu ser há séculos. Realizar esse “ritual” era uma tentativa falha de tentar recuperar aquela paz. Enfim, fiquei ali por um bom tempo, até que ouvi alguns sons desconhecidos vindos da floresta à minha frente. Levantei-me e fui em direção à origem do mesmo.

Parei alguns metros antes de adentrar a floresta e apenas esperei. Fiquei encarando atenciosamente o local e armei minha guarda. De vez em quando alguns animais perigosos apareciam por ali e era meu dever expulsá-los (minha imortalidade ajudava muito nisso). Os sons começaram a ficar cada vez mais próximos, até que pude ver a mata se mexendo. Preparei-me para o pior e esperei. Os sons cessaram e duas figuras saíram da floresta em minha direção. Estava prestes a ataca-las quando notei algo: eram duas pessoas. Um garoto alto de aproximadamente quinze anos e uma garotinha de uns dez, ambos com cabelos e olhos negros e pele morena. Eles pararam ao notar minha presença e ficamos nos encarando por um tempo.

- O-oi... – disse a pequena.

- O-olá.

- Tia... Ajuda a gente?

- Anh?

- Não envolva estranhos em nossos assuntos! – disse o garoto. – Perdoe minha irmã, garanto que nossos pais tentaram educa-la.

- O quê? Não precisa...

- Mas irmão! Seu idiota! Precisamos de ajuda!

- Não precisamos! Eu... Tenho tudo sobre controle.

Os dois ficaram discutindo ali, como se eu nem estivesse presente. Fiquei observando os dois, que não chegavam a nenhum acordo e voltei a fumar meu cachimbo. Não sei bem quanto tempo a discussão deles levou, afinal... Perdi minha noção de tempo quando ganhei minha maldição. Só sei que pouco antes de terminar, meu fumo tinha acabado. Suspirei profundamente e deixei escapar algo que deveria ter ficado apenas nos meus pensamentos:

- Essa será uma longa noite...


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Notas finais do capítulo

Bem... Esse é o começo de uma nova história... Então não tenho muito o que dizer por aqui. Vou deixar os links das outras duas partes [apesar de não existir bem uma ordem de leitura (existe uma ordem cronológica mas pode ou não ser respeitada)]

Cherry Pie (a parte 1/3)
http://fanfiction.com.br/historia/480615/Cherry_Pie/

Cursed Eyes (a parte 2/3)
http://fanfiction.com.br/historia/506167/Cursed_Eyes/

Bem... Agradeço a quem leu esse primeiro capítulo, espero que gostem e até a próxima =D



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