Sobre Amor e Botões escrita por AmanditaTC


Capítulo 1
Capítulo Único


Notas iniciais do capítulo

Para os mais emotivo sugiro ler a história ao som de Storm, do Lifehouse. Já o mais objetivos, sugiro Human, do The Killers



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Sobre amor e botões

 

Isso é ridículo! Eu estou aqui, olhando a minha volta, e tudo o que eu consigo fazer é sorrir e pensar no quanto a vida é irônica. Se me perguntarem agora uma palavra que pode descrever nossas vidas, essa palavra seria “botões”.

 

Sim, botões, de todos os estilos e para todas as finalidades. Dos eletrônicos, aos plásticos, passando pelo antigo brinquedo infantil.

 

Foi graças a um botão que nos conhecemos. E eu juro que nunca me senti tão estúpido na frente de alguém...

 

- Droga! Funciona, porra! – a máquina simplesmente não respondia aos meus comandos verbais ou táteis – Mas que hora para isso travar... Eu preciso desse relatório!

 

- Você tem que falar com ela com jeitinho! – uma voz divertida falou atrás de mim, fazendo com que me virasse levemente assustado e as bochechas corando.

 

- De-desculpe! É que eu não... quer dizer, essa impressora é diferente...

 

- Tudo bem! Se você pedir com jeito e souber onde apertar – ele deu um passo a frente, quase colando o corpo ao meu, e apertou um botão atrás da máquina – ela faz tudo o que você quiser.

 

O rapaz ali sorriu orgulhoso vendo os papéis que eu tanto queria saindo da máquina em perfeito estado.

 

- Obrigado! – respondi com sinceridade e alívio.

 

- Sem problemas. Meu nome é Henry. Você é novo por aqui?

 

- Ah, prazer. Sou Nicholas. Não, não sou novo. É que a impressora do departamento pessoal está quebrada, por isso vim aqui.

 

- Você é do departamento pessoal? O setor mais temido da Explorer – ele acrescentou com um sorriso perfeito, que fazia seus olhos se estreitarem por baixo dos óculos de armação fina.

 

- Nossa, do jeito que você fala, meu setor até parece uma sala de torturas. Nós não somos monstros. – respondi, entrando na brincadeira, me sentindo à vontade ao lado daquele “quase” estranho.

 

- É o que se diz por aí. Mas olhando para você acho que tem razão, nem todos lá são monstros.

 

Ficamos em silêncio. Ele ainda sorria, de um jeito quase convidativo e eu senti que seria impossível não lhe sorrir de volta. Acho que passamos uns cinco minutos nos olhando até que eu lembrei que o relatório precisava estar na mesa da diretoria há pelo menos meia hora.

 

Me despedi com um tapinha em seu ombro, agradecendo de novo e corri porta a fora, derrubando uma lata de lixo, esbarrando em duas pessoas e quase dando de cara na parede. Não pude ver na hora, mas depois ele me disse que ficou observando meu jeito estabanado, tão diferente do dele, e pensando o quanto seria divertido passar mais tempo ao meu lado.

 

Acho que ele apenas não sabia que esse tempo que passaria ao meu lado duraria tanto. Completaremos oito anos dentro de duas semanas. Oito anos desde o botão da impressora e mais tarde o do alarme do meu carro.

 

Céus, se eu fiquei embaraçado em não saber mexer numa estúpida impressora de um modelo que eu nem conhecia, imagina o quanto fiquei constrangido por não conseguir desligar o alarme do meu próprio carro?

 

Carteira no chão, pastas com relatórios e testes psicológicos de funcionários, o blazer azul marinho, a gravata que havia acabado de tirar... Tudo espalhado e eu não achava a porcaria do aparelho que desligava o alarme do meu carro.

 

Também, só um idiota como eu para querer colocar um alarme caríssimo que eu ainda não havia aprendido a mexer e ainda assim insistir em vir para o trabalho com meu novo “brinquedinho”.

 

Mas convenhamos, quem não gostaria de exibir para os amigos o carro novo, 0km, comprado a vista depois de anos de economia? Confesso que a minha euforia foi maior que o meu bom senso e agora estou aqui, nessa situação vexatória.

 

Sinto gotas de suor escorrerem pela minha testa e pela minha coluna. A irritação crescendo e deixando minhas bochechas quentes e, com certeza, rosadas. Até que uma mão branca, de dedos longos, passa pelo meu rosto abaixado e próximo ao assento do banco do motorista, alcança um pequeno objeto preto e aperta um botão.

 

Silêncio.

 

Sorrio com o fim do barulho irritante, enxugo o suor da testa com a manga da minha camisa social e olho para cima para agradecer. E o que sinto é que eu deveria ter ficado com a cabeça baixa.

 

Lá estava novamente aquele sorriso divertido, calmo, os mesmos olhos apertados por baixo das lentes de vidro. Henry me encarava e agora se abaixava para me ajudar a recolher minha “bagunça”.

 

Eu não conseguia abrir a boca para agradecer. Pensei que talvez Deus me odiasse ou então, na melhor das hipóteses, que ele estava tendo um dia muito entediado e decidiu se divertir à custa de um reles psicólogo.

 

Guardei tudo o que havia derrubado e apenas fiz um sinal de cabeça para Henry. Entrei no carro, dei a partida e saí do estacionamento, não sem antes o ouvir dizer:

 

- Acho que os botões não gostam muito de você!

 

Ok, agora minhas bochechas estavam definitivamente vermelhas, porque a vergonha deve ter fritado a minha pele e deixado meu rosto em carne viva. Saí do estacionamento desejando ser contaminado pelo ebola só para não ter que vir trabalhar no dia seguinte.

 

Tudo em um único dia e o que eu achava que era azar, acabou virando sorte. Aconteceu tanta coisa desde então... Passei dias sem ter notícias de Henry. Não precisei ir ao setor da contabilidade, e nunca fui bom em arranjar desculpas esfarrapadas. Mas não conseguia, assim como não consigo até hoje, tirar a imagem daquele sorriso da minha cabeça.

 

Eu nem sabia se Henry era gay ou não. O que me deixava ainda mais sem graça. Porque todos ali, no meu setor pelo menos, sabiam das minhas preferências. Eu nunca fui uma dessas bichas escandalosas e acho que alguém de fora jamais saberia que eu havia acabado de romper um namoro de quase três anos com um ex-colega de faculdade. Robert me deixou por uma bolsa de estudos na Alemanha.

 

Não o culpo. Nunca culpei. Mesmo porque se ele não tivesse partido eu não estaria aqui, vivenciando todas essas emoções e tendo tantas boas recordações para carregar comigo.

 

E se não fosse o cartão de Natal que Robert me mandou, eu também não teria tido a oportunidade de inverter o jogo com Henry.

 

- O carteiro deixou isso hoje de manhã para você. – a voz de Cassidy me alcançou antes mesmo de eu conseguir abrir a boca para dar bom dia.

 

Ela certamente havia visto o carimbo do correio e estava doida para saber o que Robert me diria na correspondência. Não satisfiz sua curiosidade logo. Primeiro guardei minhas coisas, tirei o casaco, o cachecol, as luvas e só então me sentei em minha mesa e abri o envelope.

 

Era um cartão de Natal simples, uma mensagem de boas festas, desejando sucesso e a assinatura: Abraços, Robert. Simples assim. Seco. Direto. Ponto final.

 

Parecia que eu tinha um buraco no estômago. Abraços, Robert. Li essa assinatura tantas vezes que acho seria capaz de falsificá-la se tentasse. Passei o cartão para que Cassidy saciasse sua curiosidade e quando ela ameaçou fazer qualquer comentário, apenas lhe dirigi um olhar sério. Ela entendeu. Não queria, não poderia falar sobre o assunto.

 

Claro que eu não era estúpido de pensar que Robert passaria três anos estudando na Alemanha sem sair com ninguém. Ele também não esperava isso de mim. Mas porra, “abraços”? Abraços a gente manda para o vizinho, o médico, o chinês da lavanderia que nunca lhe cumprimenta mesmo quando você manda lavar seu terno mais caro lá e paga uma fortuna por isso. No máximo, você manda abraços para colegas. CO-LE-GAS. Não amigos. Não ex-namorados.

 

Aquela palavra foi escolhida a dedo por ele, tenho certeza. Era o jeito de colocar um ponto final. De verdade. E isso doeu. Saí da sala procurando um café quente e forte para me manter vivo para o trabalho. Entrei na cozinha e parei apenas um passo depois da porta.

 

Henry estava ali. Mas ele não me viu. Encarava a cafeteira, com a sobrancelha levemente franzida. Contemplava o aparelho sem piscar. Eu dei mais um passo e chamei sua atenção.

 

- Estou atrapalhando?

 

- Nick! – ele me chamou por um apelido que até então apenas meus pais usavam e isso me fez arquear a sobrancelha esquerda, em sinal de surpresa – Você não atrapalha.

 

Mas eu não estava para conversas aquele dia. Aliás, achava que perto de Henry eu nunca estava para conversas. Um dia estava atrasado, outro estava envergonhado e naquele momento eu me sentia derrotado. Muitos “ados” entre a gente.

 

- Preciso de um café. – foi tudo o que falei e me dirigi para a cafeteira, ligando-a e procurando uma cadeira para esperar os 5 minutos que ela levaria para encher minha xícara.

 

- Então é aí! – ele exclamou maravilhado – Estou há uns 10 minutos tentando descobrir onde se liga essa maquina.

 

Não consegui evitar um sorriso e esfreguei os olhos, cansado. Tornei a olhar para Henry e percebi que seu rosto tinha uma alegria quase infantil observando a cafeteira funcionar.

 

- Estamos quites, então? – não resisti e perguntei.

 

- O que... – ele começou a perguntar quando entendeu do que eu estava falando – Ah não! Você ainda me deve uma por achar o controle do alarme do seu carro. Ainda preciso perder alguma coisa para você achar.

 

Eu sorri, melancólico ainda, peguei minha xícara e saí dali. Sem imaginar que mais tarde estaríamos realmente quites.

 

Quero ver ficar quite comigo agora... Eu o observo ainda torcendo para que ele possa ler meus pensamentos. Para que ainda lembre-se de tudo o que vivemos. Para corar novamente ao lembrar dos botões que rolaram pelo chão do seu apartamento um tempo depois.

 

Estava quase no final do expediente e nesse momento Cassidy já havia cuidado de contar a todos o que Robert havia escrito. Todos me davam tapinhas amigáveis, ou melhor, detestáveis, no ombro e lá ia eu mais uma vez ao banheiro lavar o rosto. Aquelas “condolências” pela morte do meu relacionamento com o Robert já estavam dando no saco.

 

Quando abri a porta com força, alguém gritou para que eu não me movesse. Olhei em direção à voz e vi Henry agachado, numa posição pouco digna, tateando o chão do banheiro.

 

- Henry! O que foi?

 

- Minhas lentes de contato. Uma delas caiu quando eu tirei do estojo. – ele respondeu visivelmente nervoso.

 

Sem hesitar, eu me agachei e passei a procurar junto dele. Sequer me incomodei de esbarrar meus dedos nos seus vez ou outra. Até que a encontrei, a poucos centímetros do lavatório. Fiquei em dúvida entre colocar a mão em algo tão pessoal, então, num impulso, busquei a mão direita dele com a minha e coloquei perto da lente.

 

Depois de tê-la guardado e ajeitado tudo, ele me agradeceu. Eu queria perguntar por que ele trocava os óculos por lentes na hora de sair, mas ele falou primeiro:

 

- Agora estamos quites.

 

- É! – eu concordei – Então, acho que não temos mais nad...

 

- A menos que você queira tomar um café de verdade depois do expediente. Porque aquele que você fez é um atentado ao paladar.

 

Eu demorei uns três anos para aprender a fazer o café do jeito que Henry gosta. Forte, encorpado, levemente doce, com uma nota de licor de menta.

 

O que sei é que descobri esses detalhes (exceto o modo de fazer) quando saímos no fim do dia, no meu carro, para uma cafeteria bem arrumada afastada do centro da cidade. E é o lugar aonde ainda vou para comprar o licor de menta ao menos uma vez por mês.

 

Acho que vou lá hoje a tarde, depois que sair daqui. Tomar um café, comer um pedaço daquela torta de chocolate amargo e relaxar. Preciso disso, desse momento só comigo. Acho que, mais que precisar, é uma questão de merecimento.

 

Henry concorda comigo, eu sei. Aliás, ele sempre concorda mesmo que sejamos tão diferentes. A começar por nosso tipo físico. Henry é moreno, os cabelos lisos, cheios e num corte displicente que contrasta com o resto. Tem sempre um ar calmo e seus óculos de aro de metal fazem com que pareça um desses intelectuais que passa em programas chatos na TV. Só não parece tão nerd por ser forte, com músculos bem definidos escondidos sob a roupa de contador.

 

Em compensação eu sou o retrato fiel do sujeito desengonçado. Cabelo castanho claro e cacheado, olhos verdes num rosto magro e de lábios finos. Nunca soube o que é ter barba de verdade e por causa do meu tipo magro sempre pareci mais jovem do que sou de verdade.

 

Quando brinco com Henry, dizendo que não sei o que ele viu em mim, ele ri e diz que gostou do modo como arranco os botões da sua camisa. Eu também rio desse comentário, apesar de saber que a resposta vai além disso, e tem algo a ver com a nossa conversa na cafeteria.

 

- Ótimo, não acha? – ele falou enquanto saboreava a bebida fumegante.

 

 Eu apenas concordei com um aceno, achando um pouco enjoativo aquele sabor, mas sem graça de contrariar meu novo “amigo”. Ele não era bobo e percebeu que meu silêncio não combinava com meu jeito atarantado dos outros dias.

 

- Vai me dizer o que está te incomodando?

 

- Você vai me dizer que me trouxe até aqui para ouvir meus problemas? – tornei mais ácido do que queria.

 

- Se eu disser que sim, o que você vai fazer? Me falar a verdade ou sair correndo?

 

Eu ri. De verdade, pela primeira vez naquele dia. Que mal haveria em contar a um quase estranho o meu problema se todos da empresa já estavam sabendo? Então eu me abri, notando que ele não esboçou qualquer reação quando falei que namorava outro homem. Apenas ouvia atento. Quando terminei de falar, beberiquei o café que já não me parecia tão ruim e esperei para ver se ele iria falar alguma coisa. O que de fato aconteceu pouco depois:

 

- Por que acha que ele foi cruel? Por lhe mandar abraços? Eu não abraçaria qualquer pessoa. Acho que só deixaria meus braços envolverem alguém com quem eu realmente me importo. Alguém que eu quero proteger.

 

- Ei, o psicólogo aqui sou eu! – retruquei incomodado com a análise que eu não fui capaz de fazer. Mesmo se fosse mentira, era um jeito de me sentir melhor.

 

- Digamos que eu tenha feito um curso por correspondência. – ele tornou com um sorriso – O que importa é você enxergar que às vezes um “não” é o único jeito de você ouvir muitos “sim”. Devia pensar nisso!

 

E eu pensei. A noite inteira, a semana inteira. Quase um mês pensando no que ele disse. Quase todas as tardes saíamos juntos do serviço, conversando. Não mais falava sobre Robert. Discutia com ele a tabela da liga nacional de baseball, o episódio novo de Numbers, as indicações ao Oscar e nossas últimas inovações tecnológicas.

 

- Uma máquina de fazer pipoca? Cara, eu não acredito que você gastou dinheiro com isso. Você por acaso tem um microondas? – ele perguntava, enquanto secava os olhos por baixo dos óculos, que lacrimejavam de tanto rir.

 

- Tenho, mas você sabe o meu problema com botões. Nunca consigo usar aquele trambolho. E essa máquina é simples. Só tem botão de liga e desliga.

 

- Você já estreou?

 

- Ainda não. Ela chegou ontem e nem tive tempo de tirar da caixa. Mas vou passar na locadora agora, escolher um filme clássico e usar a minha nova belezinha.

 

- Ah, eu daria tudo pra ver essa cena... – ele comentou num tom displicente e eu diminui a velocidade do carro, buscando olhar para ele.

 

- Então vem. – disse sem pensar.

 

- O quê?

 

- Vem, vamos lá pra casa. Quero dizer, vai ser melhor ter alguém para assistir o Exterminador do Futuro comigo.

 

Ele pensou um pouco. Por fim sorriu, deu de ombros e respondeu;

 

- Ok!

 

E eu me senti estranhamente feliz, pensando que aquele havia sido o primeiro “sim” que eu ouvia depois do “não” em forma de cartão de natal que recebi há algum tempo.

 

Me senti feliz demais, para logo em seguida me achar o cara mais miserável da face da terra quando chegamos em casa e eu descobri que, além de liga e desliga, a porcaria da máquina ainda tinha um timer filho da puta com 17 funções diferentes. E eu ia saber que existem 17 maneiras de se fazer pipoca?

 

E enquanto eu me constrangia e brigava com aquele botão estúpido, queimando quase o pacote de pipoca inteiro, Henry gargalhava, com uma garrafa de cerveja nas mãos. Esquecemos do filme e quando consegui uma bacia de pipoca razoável, ficamos apenas conversando. E rindo. Muito.

 

Naquela época meus finais de semana eram todos dedicados a cuidar dos meus sobrinhos. Eu tenho dois. Meredith e Joshua. Gêmeos e filhos da minha irmã. Ambos estão agora com 13 anos e já não se divertem tanto na companhia do tio, mas eu ainda sou o escolhido para buscá-los nas baladas ou para convencer a mãe deles a deixá-los ir ao show dos Jonas Brothers.

 

Mas foi por causa do aniversário dos meus pestinhas preferidos que reencontrei Henry pela primeira vez realmente fora do trabalho. Precisava escolher um presente para eles. E por isso entrei na imensa loja de brinquedos no shopping perto do meu apartamento.

 

- Não, ainda não é isso – eu dizia para a simpática atendente que já havia decido metade das prateleiras do lugar – eu queria alguma coisa mais tradicional...

 

Para todos os lugares que eu olhava os brinquedos se revelavam como miniaturas de projetos tecnológicos de última geração. Robôs coloridos prontos para dominar o mundo. E definitivamente, isso era algo que não combinava comigo.

 

- Acho que este vai ser perfeito! – disse uma voz conhecida, estendendo uma caixa imensa para o meu lado.

 

- Henry? O que está...?

 

Não precisei terminar a pergunta, pois um garoto de quase 4 anos se jogava nas pernas dele, sacudindo, ansioso, uma caixa de blocos de montar do Max Steel.

 

- Esse pode, tio Di? Esse pode? Anh?

 

- Pode, Julian. – respondeu bagunçando o cabelo liso e muito negro do rapazinho – Esse pode!

 

A criança saiu pela loja feliz, abraçado à sua caixa de blocos. Ele acompanhou com os olhos, sorrindo.

 

- Tio Di? – perguntei curioso.

 

- É, - ele tornou, rindo – Julian nunca conseguiu falar meu nome e inventou esse apelido para me chamar. Está passando o fim-de-semana comigo. Mas me diz, o que achou da minha sugestão?

 

Só então eu reparei no pacote imenso que ainda segurava. Um jogo completo de futebol de botão. Tinha tudo, quatro times, “bolas” e o campo.

 

- Você uma vez comentou que sua sobrinha joga futebol na escola. E acho que isso vai ser um presente para os dois.

 

Fiquei satisfeito em saber que ele se lembrava do que eu falava e senti um calor gostoso voltar a aquecer meu peito. Agradeci e me despedi, indo pagar o jogo. Quando já estava praticamente no caixa, pensei na minha estupidez. Corri de volta para o centro da loja onde Julian ainda tentava convencer, sem sucesso, seu tio a lhe dar um caiaque.

 

Abaixei-me na altura dele e estendi minha mão me apresentando como amigo de seu tio. Ele estendeu a mãozinha de volta e sorriu.

 

- Então, Julian, eu tenho dois sobrinhos que estão fazendo aniversário hoje.

 

- Ao mesmo tempo? – ele perguntou com um olhar surpreso, arrancando gargalhadas do tio e de mim.

 

- É, ao mesmo tempo. Eles nasceram ao mesmo tempo e gostam de fazer as coisas juntos. Mas, o que você acha de ir conhecê-los? Vamos fazer uma festinha bem legal, com bolo, doces e até cama elástica. E você pode levar o seu tio com você.

 

A sugestão de Henry fez sucesso com os gêmeos. Às 7 da noite, Henry e Julian entravam, um tanto encabulados, no quintal da casa da minha irmã, Camille. A festa estava divertida, apenas família e alguns amigos mais íntimos e as crianças se enturmaram fácil com o pequeno.

 

Henry se encostou a uma mesa, enquanto observava Julian ser perseguido por Meredith, numa clássica disputa de pega-pega. Parei ao lado dele, sem dizer nada e fiquei assistindo a brincadeira. E num surto de coragem que eu nunca havia tido antes, deixei minha mão escorregar sobre a dele e entrelaçar nossos dedos. E ele não retirou a mão. Deixou que eu a segurasse. Mais que isso, apertou meus dedos carinhosamente, ainda sem olhar para mim.

 

Durante toda a festa, depois disso, vez ou outra quando estávamos lado a lado suas mãos procuravam as minhas e vice-versa. E quando o levei até a porta, para que colocasse um Julian completamente adormecido na cadeirinha no banco de trás do carro, ele me deu um beijo de boa noite.

 

Calmo, suave, carinhoso e firme.

 

É estranho que depois de tanto tempo, depois de tantos momentos quentes que vivemos, seja justamente esta lembrança que me faz perder o ar. Eu ainda sinto o calor dos seus dedos entre os meus, como fiquei sentindo por toda aquela noite depois que Henry foi embora.

 

E o que aconteceu depois disso surpreendeu a todos. Menos a nós mesmos. Porque nós já estávamos juntos sem perceber. Nós almoçávamos juntos quase todos os dias. Saíamos do trabalho conversando, discutindo para decidir o que fazer a noite. Cinema, jogos de hóquei, pôquer na casa do Fred, American Idol no meu apartamento, episódio novo de Lost no dele...

 

Por uns dias ficamos assim, nesse buscar de mãos e beijos de boa noite. Não havia medo de seguir em frente, mas era o nosso ritmo. O nosso jeito de aproveitar cada pequeno momento. Ninguém na empresa sabia, mesmo porque nem Henry nem eu somos do tipo que sai gritando aos quatro ventos as últimas novidades em nossa vida pessoal.

 

Na sexta-feira seguinte à festa de aniversário de meus sobrinhos saímos da empresa discutindo. Teria uma festa no sábado para comemorar os 25 anos da Explorer e todos os funcionários haviam sido convidados, ou melhor, intimados a comparecer.

 

- Eu queria entender de quem foi a idéia estúpida de fazer essa festa à fantasia? – havia pânico em minha voz, enquanto subíamos as escadas do prédio em que ele morava.

 

- Qual o problema, Nick? Vai ser divertido.

 

- Ow, claro, pra você é fácil! Não é conhecido por ser o cara magrelo e desengonçado que tropeça nos próprios pés e, olha só pra você, qualquer fantasia que escolher só vai te deixar mais... – eu estanquei antes de continuar a falar.

 

Sei que estava parecendo uma adolescente histérica por causa do baile de primavera. Fechei os olhos me xingando mentalmente, mas a mão de Henry em meu ombro me fez encará-lo novamente.

 

- Termina. Termina o que você ia dizer. – seus olhos pareciam um tanto mais escuros e sua boca estava entreaberta, controlando sua respiração que parecia mais profunda.

 

- Qualquer fantasia que escolher só vai te deixar mais... gostoso.

 

E eu já não pude falar mais nada. Henry me jogou contra a parede do corredor e me beijou. Não com a calma de todos os dias, mas com uma paixão que era impossível não corresponder.

 

Senti suas mãos se enroscando em meus cabelos, sua língua pedindo passagem entre meus lábios e seu corpo forte prensando o meu. Depois daquele beijo eu o encarei e comecei a rir. Seus óculos estavam meio tortos, os lábios vermelhos e ele parecia tremer. E quando ele corou ao perceber o que tinha feito, decidi que meu mundo acabava ali, naquela expressão tímida que insistia em aparecer em sua face.

 

- Vem. – eu chamei, puxando suas mãos rumo a porta do apartamento – Vamos continuar essa conversa lá dentro.

 

Quando a porta se fechou atrás de nós eu retomei nosso beijo e puxei o suéter que ele usava sobre a camisa social. Ele jogou minha jaqueta de brim ao chão e eu, mais uma vez, amaldiçoei a pessoa que inventou os botões.

 

Eram seis botões naquela camisa azul. Seis miseráveis botões e nenhum deles queria ser aberto pelas minhas mãos estabanadas. Mas eu não ia desistir, não daquele vez. E sem perguntar nada, apenas puxei com força a peça de roupa fazendo os botões estourarem e rolaram pelo chão, com barulhinhos secos.

 

Deslizar minhas mãos por aquele corpo, sentir o calor da pele dele em contato com a minha é algo que eu jamais vou conseguir descrever. Ter a boca de Henry junto do meu pescoço, arranhando-me com os dentes, enquanto suas mãos puxavam meu cinto e abriam, sem problema algum, a minha calça é o bastante para me fazer esquecer que existe algo além de nós.

 

Ele ameaçou abrir sua própria calça, mas eu segurei suas mãos assim que ele abriu o primeiro botão. Me ajoelhei, exultando com a cara de contente surpresa com que Henry me observava. Com os dentes, puxei o zíper para baixo e desci lentamente não só sua calça, mas também sua cueca.

 

Amar Henry. Ali eu entendi que era isso que eu vivia todos os dias desde que o botão da impressora nos colocou frente a frente. Algumas horas depois, o observando dormir, com uma das mãos embaixo do travesseiro, num ângulo estranho com as pernas, eu me achei. Achei o lugar onde queria estar pelo resto dos dias.

 

As últimas palavras dele antes de adormecer ainda ficaram na minha cabeça, por um tempo:

 

- Vai comigo ao shopping amanhã cedo?

 

- Shopping?

 

- É, preciso trocar minhas camisas por algo com zíper.

 

Dezenas de camisas com zíper, velcro, malha elástica... O guarda-roupa de Henry aos poucos foi sendo substituído por peças que facilitavam a minha vida. Mas nenhuma delas facilitava tanto quanto a fantasia que ele usou na noite daquele mesmo sábado em que compramos juntos as primeiras camisas com zíper.

 

- Henry, você consegue demorar mais que uma noiva. – eu falei, encostado à porta do banheiro.

 

O clique da maçaneta me faz dar um passo para trás e observar a figura à minha frente. Ele usava uma típica roupa escocesa. Uma camisa branca justa, um kilt xadrez de preto e vermelho, meias brancas até os joelhos e um chapéu engraçado.

 

- Você vai de saia? – eu perguntei apenas para provocar, sabendo que minha fantasia de jogador de futebol era ainda pior.

 

- Isso é uma roupa típica dos meus antepassados, mais respeito, por favor. – ele respondeu indignado – E eu pensei que você fosse gostar, já que além de não ter botões, kilts devem ser usados sem nada por baixo.

 

Eu arregalei meus olhos.

 

- Você está sem nada por baixo?

 

- Vai ter que esperar o final da festa para descobrir. – ele sorriu de um jeito malicioso e me puxou para fora do apartamento.

 

Ninguém comentou nossas fantasias. Óbvio. Afinal eles tinham algo melhor para comentar. Como o fato de termos entrado no salão de mãos dadas.

 

E pensar que isso tudo aconteceu há oito anos... Ainda tenho o kilt guardado no armário. Henry o usou outras vezes, mas sempre para fazer troça comigo.

 

Nós levamos uns quatro meses para decidir se valia a pena dar um passo adiante e irmos morar juntos. E quando nos decidimos escolhemos um apartamento diferente dos que morávamos antes.

 

Ele queria móveis novos e, mesmo eu dizendo que era bobagem, ele fez questão. Fizemos um trato de que cada um podia trazer consigo uma peça de sua antiga casa. Assim eu levei minha escrivaninha e Henry levou a única coisa que eu realmente odiava na casa dele: uma poltrona azul turquesa que além de feia ainda era desconfortável.

 

A minha relação com Henry sempre foi estável e sólida. Sem idas e vindas. Sem desencontros. E acho que isso tornou mais fácil para a família dele me aceitar, assim como a minha aceitá-lo também.

 

Não posso dizer que virei amigo de Patrick, irmão mais velho de Henry e pai de Julian. Mas o carinho do menino comigo ajudou a estreitar nossos laços. As festas de fim de ano, as viagens de férias, os jogos de futebol de Julian, que agora treinava junto de Meredith e Joshua, tudo era motivo para nos reunirmos.

 

E eu senti a angústia do meu companheiro quando ele recebeu a notícia de que seu irmão estava com câncer no fígado.

 

A reação foi típica: entrar em choque e correr atrás de tratamento. Por mais que Patrick se submetesse à quimio ou radioterapia, nada dava resultado e o oncologista sugeriu um transplante. Ele poderia ficar na fila de espera pelo órgão, que chegava a 5 meses no mínimo, ou testar alguém da família.

 

Não sei que tipo de família o médico pensou que éramos ao não nos dar essa opção antes. Por que afinal, família é para isso. Para apoiarmos uns aos outros em todos os momentos. Inclusive neste.

 

Não! Principalmente neste!

 

Todos fizeram testes, inclusive eu, apesar da probabilidade de eu me tornar um doador ser bem baixa. Exames de todos os tipos e os resultados chegaram alguns dias depois, trazendo uma nova onda de esperança para todos nós.

 

Henry era absolutamente compatível. E chorou feito um menino, ali mesmo, no corredor do hospital quando recebeu a notícia. E posso afirmar que nunca me orgulhei tanto do meu companheiro quanto naquele momento.

 

Os dias seguintes foram de total preparação para o transplante. Alimentação balanceada, mais exames, nenhuma atividade sexual. Henry começou a tomar uma medicação para evitar infecções. Um resfriado que fosse poderia impedir a cirurgia.

 

Ele se internou dois dias antes da cirurgia. Não gostava de fazer nada de última hora. Eu dormi com ele no hospital as duas noites antes do transplante.

 

- Deixa, eu faço isso! – disse enquanto tomava um pequeno controle de suas mãos para ajustar a altura da cama.

 

- Amor, não precisa...

 

- Ah, eu faço questão... – insisti.

 

- Mas... isso é um botão...  e se... e se você fizer a cama partir ao meio?

 

Nós começamos a rir. Cada vez mais alto. E eu já olhava para a porta imaginando uma das enfermeiras entrando para bronquear conosco. Lágrimas escorriam pelo canto dos nossos olhos e eu me dobrava na poltrona ao lado da cama dele, já arfando.

 

Quando a crise de riso passou, ele se ajeitou sozinho na cama e me pediu que lhe estendesse um envelope pardo que havia em cima da mesa de canto, junto com uma caneta. Tirou de lá dezenas de formulários.

 

- O que é tudo isso?

 

- Ah, burocracia hospitalar. Esses verdes são do plano de saúde, esse azul é um termo de consentimento da doação propriamente dita, este branco é minha confirmação de que estou ciente dos riscos e este aqui – ele sacudiu um papel rosado – é para você assinar como meu representante legal.

 

- Representante legal? Mas você já me deu uma procuração para...

 

- Não, este aqui é para você ser meu representante legal perante a direção do hospital caso algo aconteça comigo. Eu já assinei, agora falta você.

 

Eu peguei o papel e já ia assinar quando notei o que estava escrito pouco acima do local onde meu nome deveria ser escrito. Ortotanásia. Minha mão tremeu e eu fechei novamente a caneta e olhei para Henry que me encarava tranqüilo.

 

- Isso é brincadeira? Como você pode me pedir isso?

 

- Nicholas, - e ele não me chamou pelo apelido – é só um papel. Burocracia, lembra? Os médicos são os melhores, o hospital é referência e eu não posso pedir isso para minha mãe. Ela acabou de assinar o do Patrick porque a Ellen não conseguiu. E se quer saber, eu também prefiro que seja você.

 

- Prefere...? Por quê? – minha voz ainda estava fraca, dado que só naquele momento eu entendi que Henry seria completamente anestesiado, aberto, ter um pedaço de seu fígado cortado e que isso era extremamente invasivo.

 

- Por dois motivos: primeiro porque gosto da sensação de saber que a minha vida está em suas mãos.

 

Meus olhos embaçaram e eu não pensei em segurar o soluço que sacudiu meus ombros.

 

- E segundo porque eu tenho a experiência que do jeito que você é ruim com botões, quem sabe se precisar fazer isso e apertar um deles para desligar o aparelho, talvez o resultado seja inverso.

 

Ele sorria das minhas lágrimas e me puxou para perto de si, beijando meu rosto, meus olhos e acariciando meus cabelos. E o calor gostoso, acompanhado da sua colônia amadeirada, fez eu me sentir seguro. Adormeci em seus braços e só despertei no meio da manhã seguinte, quando os enfermeiros vieram buscá-lo para o pré-operatório.

 

Não consigo precisar o tempo da cirurgia. Talvez umas nove horas. Acho que mais um pouco porque eu notei que o céu assumia uma cor avermelhada, indicando que o pôr-do-sol já se aproximava, quando os médicos vieram falar com a família.

 

Fiquei distante observando a mulher de Patrick, Ellen, e a mãe dele e de Henry, Aldrey ouvindo tudo o que eles falavam. Depois observei lágrimas e uma se abraçando a outra, Ellen com um sorriso rasgado na face. Me encostei à parede do corredor e suspirei aliviado, fechando meus olhos.

 

Quando tornei a abri-los notei um dos médicos diante de mim. Pensei em falar alguma coisa, mas ao notar sua expressão levemente embaraçada, seu olhar que vagava do chão para um ponto afastado no fim do corredor, eu entendi que eles haviam dado apenas metade das notícias às duas mulheres que agora usavam os celulares para tranqüilizar os demais familiares.

 

Não sei que palavras ele disse. Não ouvi nada além do “sinto muito”. E a vontade de gritar que ele não sentia nada, que ele não poderia sentir nada porque não conhecia Henry, não convivia com ele, não acordava de manhã com um beijo com gosto de hortelã e um abraço cheirando a perfume e sono, essa vontade de ser estúpido e quebrar metade daquela sala de espera, sumiram no momento que meu olhar se cruzou com o de minha sogra.

 

E ela viu o vazio dentro de mim. Um vazio que aos poucos a alcançava e a forçava a buscar apoio a uma das poltronas no local. Eu caminhei até ela e me ajoelhei a sua frente, sem saber o que fazer. E ela apenas puxou minha cabeça, me colocando deitado em seu colo.

 

E provavelmente apenas o som dos meus soluços ecoava naquele andar.

 

Já faz 24 horas que me informaram que a burocracia hospitalar deveria ser seguida a risca. E cá estou eu, perto de Henry, vendo seu peito subir e descer graças a um respirador artificial, assim como suas outras funções vitais estão todas dependentes de máquinas.

 

Olho cada uma delas, prestando atenção aos botões e penso quantos meios eu não encontraria de estragar todas elas ou mesmo dar-lhes novas funções. Isso é ridículo! Eu estou aqui, olhando a minha volta, o branco das paredes da UTI, seu pijama de algodão verde água, seu rosto pálido e sem aquele sorriso tranqüilo que sempre teve a capacidade de mostrar que caminho seguir, e tudo o que eu consigo fazer agora é sorrir e pensar no quanto a vida é irônica.

 

O médico responsável faz um barulho qualquer, como se forçasse uma tosse e eu entendo que a hora chegou.

 

Aperto o botão, torcendo para que como todos os outros em nossa vida, este se recusasse a funcionar. Mas justo esse maldito botão funcionou. De primeira.

 

Os aparelhos foram se desligando aos poucos, um por um. Eu vejo, com os olhos mais secos do que supus que estariam, seu peito parar de se mexer e ouço aquele apito insuportável indicar que seus batimentos cardíacos cessaram.

 

E o médico anuncia:

 

- Hora da morte: 17h31min.

 

As pessoas vão saindo do quarto. Sua mãe, forte e elegante, amparando sua cunhada que não se conforma com o desfecho da história. Fred e Cassidy, grandes amigos... Mas eu ainda vou ficar um tempo aqui.

 

Os enfermeiros me pedem minutos depois que saia da UTI para remover o corpo. Saio não só do quarto, mas do hospital também. Vou ao café, pego minha torta de chocolate meio amargo e volto para nossa casa.

 

Quero um pouco de silêncio, um pouco do seu cheiro que se eu pudesse guardaria num frasco para derrubar sobre meu travesseiro um pouquinho a cada dia.

 

Não estou chorando e vago pelo apartamento listando mentalmente cada detalhe seu. Os retratos, as estantes do escritório, a poltrona azul turquesa que eu detesto e que é justamente onde noto um envelope com a sua caligrafia.

 

Pego com cuidado, indeciso entre abrir ou não. O que quer esteja escrito ali não trará você de volta. Quase amasso o papel, mas desisto, imaginando que seria infantil da minha parte agir assim. Sento, então, na poltrona de Henry e leio as últimas linhas que ele escreveu:

 

 

Nick,

 

            Só queria dizer que amo você. Inteiro. Você e o seu jeito estabanado, sempre atrasado, amassado ou despenteado. Amo seu físico magro, esguio e leve, andando sem fazer barulho com medo de acordar quando durmo até mais tarde.

            Amo o modo como consegue formatar o computador apenas apertando a tecla Espaço. Amo quando desprograma toda a TV a Cabo tentando aumentar o volume.

            Amo o cheiro da pipoca queimada que você insiste em fazer na sua máquina. Amo o jeito que entrelaça seus dedos aos meus e a lentidão com que fecha aos olhos quando acaricio seus cabelos.

            Amo o jeito que fala que me ama quando estamos na cama e o som da sua respiração falhando quando você goza.

            Amo o fato de você só se dar bem com o botão da cafeteira e odiar os botões das minhas camisas, que fez questão de arrancar um a um.

            E amo, mais que tudo isso, saber que no meio disso tudo eu sou o botão que liga e desliga o sorriso do seu rosto...

 

            Obrigado, amor, por ser você!

 

Eternamente, Henry

 

 


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Notas finais do capítulo

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