Point Of View: Andrew Evans

Estava cercado em pesadelos, todos os semideuses passam por isso, mas comigo provavelmente era muito pior. Ser um filho de Hades piorava tudo, pois em todos eu via sangue e morte, e eu via um dos momentos mais horríveis da minha vida, e sentia o cheiro de café recém – feito pela minha mãe quando eu tinha sete anos. Eu voltei para minha casa em Nápole, onde eu nasci, era dia vinte de setembro de dois mil e quatro, e eu brincava na varanda quando um vento forte invadiu toda a casa, as luzes começaram a piscar e o dia sumiu, dando lugar a uma escuridão profunda, da qual não tinha medo, eu sempre as manipulei e nunca elas a mim. Minha mãe veio correndo, e segurou minha mão enquanto procurávamos uma vela, ela era a mulher mais corajosa que eu já conheci, e o seu nome era Amélia, ou mais conhecida como Mia pelos mais íntimos, ela era alta, tinha cabelos chocolates e olhos da mesma cor, totalmente cheios de amor, que acabaram se fechando para sempre, por causa de uma deusa chamada Hemera, a deusa do dia, que encurtou a vida da pessoa que eu mais amava, e anos depois, me explicou que isso seria necessário e se nomeou como minha patrona e sua responsabilidade, e que me manda esses pesadelos, que eu nunca vou esquecer da minha mãe ser assassinada com luz por uma deusa. Desde então eu venho fugindo, tentando esquecer, fugir dessa vida, e consegui no dia que fugi do Acampamento por uma viagem nas sombras, tentando voltar para Nápole, que acabou dando em Veneza pelo caminho... Na porta de uma igreja quase abandonada e lotada de lunáticos que se intitulam Caçadores de Sombras, que matam demônios e outras coisas. Voltei meu foco para o pesadelo, na parte em que minha mãe grita e chora por mim... mas sou interrompido:

– Andrew Evans !!! Seu preguiçoso, já amanheceu !! – E jogou uma almofada no meu rosto, eu sinceramente gostaria de ser amigo de uma mulher com atitude, mas essa... era atitude demais !! E linda demais por sinal, com olhos azuis nublados, como o céu de noite, bem escuros, cabelos pretos meio cacheados, e uma pose irritante de superior, mesmo que ela seja de bom coração, tinha a alma fria, e isso eu pude sentir de longe. Ela continuava me olhando, incrédula, ficou meio corada ao perceber que eu a olhava, e disse:

– Bom, eu acho que já esperei muito... Vou estar na cozinha tomando café da manhã caso queira me procurar, afinal, o Instituto pode não ser um dos maiores, mas continua sendo imenso... – E foi embora, levando consigo o som das botas de salto. Era incrível o jeito pelo qual ela é insensível, sem mais ou menos foi – se embora. Respirei fundo e levantei, descendo as grandes escadas, que levavam a uma grande sala de estar, que continuavam parados os enfeites de natal, desejando ter força o suficiente para dar um salto nas sombras e evitar os olhares desconfiados de Tristan Herondale sobre mim. Fui tentando me lembrar dos corredores certos aos quais entrar, mas não fazia a mínima ideia, havia um gato branco e fofo parado numa grande porta, a qual imaginei que daria a cozinha, segurei a gatinha no colo, que miou em satisfação, e li o nome em sua coleiria vermelha: Holly. Ela tinha grandes olhos vermelhos e um comportamento um pouco reservado, mas logo deixou que eu a acariciasse seu pelo macio, abri a grande porta, que rangeu. Lá dentro, havia uma enorme biblioteca, talvez maior que a dos filhos de Atena, a maior que eu já vi, o carpete era vermelho, havia confortáveis mesas e uma central com a cadeira mais alta. Instantaneamente a cadeira maior virou para trás, deixando uma loira com um livro no colo cair no chão, a gata se assustou e correu para debaixo de uma das mesas, e lá ficou observando, enquanto eu ajudava a moça a se levantar. Ela me olhou curiosa e perguntou:

– Eu nunca te vi por aqui... qual o seu nome ?? – Sua voz era melódica, suave como uma pétala de flor, e eu respondi:

– Meu nome é Andrew Evans... – Ela sorriu, os olhos dourados estavam quase em chamas de tão brilhantes e vivos. Ela se apresentou:

– Meu nome é Natascha Lovelace... prazer em te conhecer... – Ela usava uma calça jeans gastada e um colote branco, que a deixavam ainda mais bela, quase sem pensar, respondi:

– O prazer é meu... – Olhei para o livro que ela segurava, era um lindo exemplar de Cartas de Amor aos Mortos, que ela apertava fortemente contra o corpo, era uma amante de livros. Perguntei:

– O livro é bom ?? – Ela sorriu singelamente, respondendo:

– É maravilhoso... – Ainda curioso, tornei a pedir:

– Me conte uma resenha... – Ela sorriu, pensou um pouco e disse:

– Tudo começa com uma tarefa para a escola: escrever uma carta para alguém que já morreu. Logo o caderno de Laurel está repleto de mensagens para Kurt Cobain, Janis Joplin, Amy Winehouse, Heath Ledger, Judy Garland, Elizabeth Bishop… apesar de ela jamais entregá-las à professora. Nessas cartas, ela analisa a história de cada uma dessas personalidades e tenta desvendar os mistérios que envolvem suas mortes. Ao mesmo tempo, conta sobre sua própria vida, como as amizades no novo colégio e seu primeiro amor: um garoto misterioso chamado Sky. Mas Laurel não pode escapar de seu passado. Só quando ela escrever a verdade sobre o que se passou com ela e com a irmã é que poderá aceitar o que aconteceu e perdoar May e a si mesma. E só quando enxergar a irmã como realmente era: encantadora e incrível, mas imperfeita como qualquer um, é que poderá seguir em frente e descobrir seu próprio caminho. – Sorri, ela era mesmo uma fanática por livros. Ouvi passos vindos do corredor, as famosas botas de salto alto da Lily, abrindo a porta furiosa e gritando:

– O que você ainda está fazendo aqui ?? Estou te esperando a uma hora !!! E você aqui na biblioteca... – Olhou para Natascha e arregalou os olhos, saindo sem dizer mais nenhuma palavra... Olhei a loira, que sentou calmamente e continuou a ler o seu livro, não parecendo nem um pouco a vontade, também escolhendo as palavras certas para perguntar:

– Você e Lily se conhecem ?? – Concordei com um aceno de cabeça, ela escondeu o rosto no livro, exclamando:

– Pelo Anjo... o que eu fiz ?? – Estava completamente confuso, Natascha respirou fundo, e afundou na cadeira, lançando um olhar confuso ao mandar:

– Vá falar com ela... Lilian pode ser uma garota de cabeça quente, ciumenta e possessiva quando quer, mas tem uma alma que se quebra facilmente, além do coração... – Continuava sem entender, fiquei um pouco irritado com isso, e respondi:

– Ciumenta ?? Mas ela me odeia !! – Natascha virou a página do livro e disse:

– Você não sabe se ela te odeia ou não, além disso, ódio e amor são a mesma moeda... – Pensei um pouco sobre o que ela disse, e decidi que iria falar com ela, mas antes, agradeci a Naty, dando um abraço nela, que sorriu envergonhada. Eu vi através do colete, o começo de uma marca, que eu também havia visto na pele de Lily. Fiz uma última pergunta:

– Aqui tem algum livro que fale sobre vocês, ou sobre essas marcas ?? – Ela levantou uma sobrancelha, e andou até uma caixa de vidro no meia da biblioteca, tirou o seu colar, pegou o pingente e abriu a caixa, pegou dois livros e me entregou, dizendo:

– Bom... esse é o Códex, que fala sobre quase tudo e o Livro Gray, que mostra o significado das Runas... enfim, agora vai !! Fale com a minha parabatai !! – Parabatai... depois pesquisaria esse termo no Códex...

Fui caminhando pelo corredor dos quartos, eram muitos, o Instituto poderá abrigar mais de quarenta caçadores de uma vez só... cheguei a um simples, com a porta entreaberta, coloquei apenas os olhos dentro da porta. Era o quarto certo, com a pessoa certa, mas na situação errada: Ela e Jay estavam se beijando...