Call Again escrita por Clara Luar


Capítulo 6
Amigos são para essas coisas.


Notas iniciais do capítulo

Olá, Boa leitura :)



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Com o novo corte e a tintura, o meu cabelo voltou ao tom natural e às leves ondulações. Minha cabeça, superficialmente, livrou-se dos tempos de Ben e Jean. Brian fez uma verdadeira mágica.

Meu irmão levou-me de volta para casa assim que seu expediente encerrou.

Enquanto ele tomava banho, contemplei-me no espelho em meu quarto. Sentia-me linda. Entretanto, não ter alguém... Não ter Zack para observar o resultado me deixa melancólica. Sempre ao meu lado, seria o primeiro a notar a mudança. Prevendo que voltaria à depressão de antes, dou tapas em minhas próprias bochechas para não desanimar. Sim, porque, a partir de agora, gastaria todo o tempo antes do fim do recesso para encontrar a Blair White dentro de mim.

Abro o guarda-roupa. O visual, conforme o meu melhor amigo, variou muito com os namoros. Acho até graça ao reparar, pela primeira vez, que a metade de baixo do armário guarda as roupas coloridas de vários tons de vermelho e rosa, enquanto em cima, o casaco de couro e todas as roupas pesadas e negras enfileiram-se nos cabides. É um contraste e tanto. Não gosto tanto de rosa, muito menos das peças escuras, o que prova o quanto era estranho eu ter me vestido com tais roupas por todos esses meses. Salvo as roupas que não descartei ao início do primeiro relacionamento e algumas poucas que adquire e realmente gosto, as demais não tinham muita cara de Blair.

— Preciso fazer compras – observo.

O celular vibra no meu bolso. Atendo sem checar quem liga.

— Alô?

— Sentindo a minha falta, amiga? – ouço a voz sedutora de Lince do outro lado da linha.

— Muita. – afirmo, porque era verdade.

— Desapareci , eu sei... – suspira. - Já desafogou da depressão?

Não consigo conter um riso. Eu devo ter sido insuportável nos últimos dias para ela acreditar que eu estava era afogada no meu próprio mundo. E mesmo assim Lince lidou com bom humor.

— Sim. E você? – ela também estava com problemas com um garotos, se não me engano...

— Eu? Não fui eu quem levou um fora.

— Ai. Não precisa jogar na cara... – a lembrança me entristece.

— Desculpa. Mas trate de se animar, já que eu tenho uma ótima notícia!

— Qual? – estranho tanta euforia por parte dela.

— Conhece o Charlie, certo?

Pelo nome não reconheço. Nunca fui boa em decorar nomes. Pouco a pouco, porém, recordo do rapaz alto, magro e estudioso que costuma andar com Zack.

— O amigo do Zack? – palpito.

— É. Advinha? – responde antes mesmo de eu tentar: - Nós vamos sair.

— Parabéns – faço careta para o espelho. Todo mundo feliz no amor e eu aqui, na lama.

Na verdade, Lince Lee estar a fim do Charlie é um tanto... estranho. Os dois não parecem ter nada em comum. Ela tem os cabelos loiros, mantidos curtos com corte chanel, e os olhos verdes mais encantadores que já vi. É atlética e tem estilo, mesmo assim não é metida. Boa para conversar de qualquer assunto, embora seu forte não seja ser amigável. Tão quase perfeita que chego a pensar que ela não passa de um fruto da minha imaginação. Já ele, anda pelos corredores sempre com um livro em mãos. Seus óculos geek dão certo charme. Isac me disse uma vez que o senso de humor é notável, no entanto, nunca tive o prazer de apreciar, visto que ele não fala muito.

— Desde quando você gosta dele? – pergunto.

— Ah... – precisa pensar para responder. - Ele é legalzinho.

— Ah, jura? Quais as suas segundas intenções? - sei que existem.

Ouço-a rir.

— Você, é claro! – diz como se fosse óbvio.

— Eu não estou entendendo...

— Não é para menos, não me deixa explicar!

— Então, explica! – uma súbita curiosidade me preenche.

— Ele é tímido, está muito sem graça em sair só nós dois... – o tom de voz alegra-se a cada palavra pronunciada. – por isso, eu disse que levaria minha melhor amiga!

— Eu não vou segurar vela, Lince. – corto seu entusiasmo.

A última coisa que preciso é que esfreguem a alegria de estarem namorando, e eu não, na minha face.

— Não é isso! – faz uma pausa para aumentar a expectativa sobre sua próxima fala: - Ele também vai levar o melhor amigo, o Zack.

— AH! – solto um grito.

— Eu sou uma amiga maravilhosa! – exclama no telefone.

— Sim! Eu te amo! – agradeço.

— Te buscarei amanhã.

— Como é? Amanhã? – pega-me de surpresa.

— Até! – desliga.

O encontro marcado é tão repentino. Volto-me para o guarda-roupa e penso que não tenho nada de bom para vestir. Preciso planejar o que dizer. Devo cumprimenta-lo como sempre fiz? Ou algo mais contido, devido a nossa atual situação. Precisava de mais tempo. Não estou preparada. Esperei tanto para encontra-lo, mas não imaginei que seria tão problemático.

Não. Não posso fugir. Eu disse que lutaria.— diz a minha mente.

Entre o conflito da razão e emoção, tento ser positiva. Poderei vê-lo mais cedo que o previsto, isto é bom. Mal posso esperar para encontra-lo e contemplar seu sorriso cantado. Mesmo os gestos duvidosos com que imagino que nos trataremos, ainda assim, ficarei feliz de tê-lo um pouco mais perto.

 

~♥~♥~♥~♥~♥~

Na manhã seguinte, acordei num salto, engoli o café da manhã e abri as portas do meu guarda-roupa.

Mergulhei entre as partes coloridas e monocromáticas atrás de algo que me agradasse. Em meio à pilha de roupas estendidas sobre a cama, uma mistura desuniforme de cores, bufo revoltada. Há tantas peças a minha volta e nenhuma parece boa suficiente.

— Blair, venha ajudar! – ouço meu pai gritando do andar debaixo.

Ergo-me rápido: hoje é dia das surpresas do papai. Ele decidiu cozinhar um almoço italiano, que minha mãe adora. Procuro as horas exatas nos ponteiros do relógio da sala. Dez horas. Mamãe está no seu turno da manhã na redação do único jornal da cidade. Visto que é sábado, ela só chegará pouco depois do meio dia. Por que meu pai precisa de tanto tempo? Porque faz questão de fazer a massa e o molho de tomate. Sua comida não é a melhor do mundo, mas dá para sentir o amoroso tempero da paixão por cozinhar para a minha mãe.

Pediu a minha ajuda e a do meu irmão, porém, faz quase tudo sozinho. Eu pico os ingredientes principais, como cebolas, brócolis e cenouras, enquanto Brian amassa as batatas e a abóbora. Papai une os nossos ingredientes para preparar seu nhoque especial. Carlinhos assiste desenho animado.

Enquanto almoçamos, não sei se graças ao molho de tomate que me sobe à cabeça por estar um tanto apimentado demais, lembro de uma coisa: a máquina de costura guardada no sótão. 

Parei de costurar aos doze anos, por perder o encanto pela arte das roupas, substituída pelo balé e depois pela pintura. Se não tinha uma roupa, bastava fazer!

Agradeço a refeição e corro para o quarto a fim de contemplar as roupas sobre a minha cama. Passei a analisa-las como um grande projeto. Pequenas costuras ali e ali; unir um tecido e o outro tornaria mais interessante; recordava vagamente das missangas, fivelas e fitas guardadas na caixa de costura.

Escolho algumas peças e levo-as para o sótão. Demoro a achar o kit de costura e o manequim. Encontro também a velha máquina costureira de minha mamãe. Sento sobre uma antiga tapeçaria e pus mãos à obra. Eu ainda sabia muitas das técnicas de costura e sem demora, contemplava o trabalho feito. Troco as alças e a barra da regata laranja por outras amarelas e uma fivela prateada. Acrescento sobre a peça um tecido branco prissado da época de Jean, que cortei e enfeitei com um laço cor-de-rosa para cada ombro. Guardo a bagunça antes de deixar o sótão com a nova roupa sob o braço.

 

 

Tomo um banho demorado e fico perfumada. Visto minha mais nova roupa junto com uma calça jeans e sapatilhas fofas. Visito meu irmão em seu quarto a fim de que pudesse destacar as pequenas ondulações do meu cabelo com cachos.

Passo às próximas duas horas perambulando pela casa, aguardando uma ligação da minha amiga ou que ela bata à porta. Mas não recebo nenhum sinal de vida. Deito no sofá, cuidando para não desmanchar os cachos feitos pelo meu irmão, ligo a televisão sem, entretanto, um canal me atrair. Deixo no documentário sobre filhotes de leões.

Estou tentando me distrair, porém, as expectativas me preenchem.

Como melhores amigos, eu e Isac saímos muito juntos. Tardes no shopping, na padaria dos Baker, caminhadas na praça... Tudo era muito simples e à toa, e podíamos falar do que quiséssemos um com o outro. Sua presença em si era confortável. Porém, o fato de eu ter me declarado a ele mudou a forma como eu deveria lidar com o nosso encontro. A meu novo ver, parece um grande desafio. Apesar do desejo de vê-lo e passar cada minuto apreciando a sua presença, o misto de ansiedade e medo me dominava.

Com a barriga cheia e após um banho demorado, não consigo impedir as pálpebras de se fecharem.

Acordo sobressaltada. Tateio o sofá atrás do celular. Visualizo a tela inicial: 19:18.

— Não é possível!...

Desbloqueio e procuro por mensagens e ligações perdidas de Lince. Entretanto, não as encontro. Tem algo muito errado nisso.

Não aguento esperar. Logo, estou digitando o número dela.

— Fala, miga! – a voz do outro lado está animada e ao mesmo tempo apressada.

— Que encontro é esse que você marcou? Estou esperando desde às duas! – exalto-me furiosa. Será que isto tudo era uma pegadinha de Lince?

— O quê? – seja lá o que estivesse fazendo, parou para me dar atenção. – Que tipo de pessoa vai ao cinema tão cedo?

Uma grande ficha imaginária cai na minha cabeça.

— Cinema? Você não me falou que íamos ao cinema, Lince.

— Ah, não? – sua fala soa distorcida, como se reaplicasse o batom sobre os lábios enquanto falava. – Vamos ao cinema.

— Agora eu já sei. – bufo. De todos os lugares para ir tinha que ser um tão... provocativo? Todos sabem o que pode acontecer quando vai ao cinema com um garoto. – então, é a sessão das oito?

— Vamos à lanchonete antes. Combinei com os meninos na Burger Queen às oito. – ouço um estalido. – Prontinho! Estou passando para te pegar agora.

— Vamos pegar a sessão das nove? – torço para que a resposta seja não.

— Sim! Chego aí em vinte minutos. Tchau! – desliga.

Ela deveria parar de desligar na minha cara...

O encontro será mais “provocativo” do que eu imaginava: no escurinho do cinema, na sessão dos namorados. O Zack vai pensar que estou forçando a barra (mesmo que a ideia não tenha sido minha). Ele também deve ter analisado no que pode acontecer, mas se mesmo assim estava indo... Quer dizer que ele quer que algo aconteça?

Não consigo ter certeza de nada, mas meu instinto me diz que vai dar tudo errado.


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Notas finais do capítulo

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