Semanas se passaram e eu me dediquei totalmente nas gravações do CD. Ele estava quase finalizado, só faltava uma música a ser gravada. Uma música que eu gravaria sozinha. Eu já tinha composto ela e depois do ano novo, iria gravá-la.

Eu estava sozinha no estúdio, ouvindo as músicas já gravadas. Estavam muito boas, nós, eu e os meninos, estávamos muito confiantes sobre o CD. Não víamos a hora de lançá-lo.

Olhei no celular e me assustei ao ver que já se passavam das oito da noite. Resolvi que era hora de ir embora. Levantei-me e vesti meu sobretudo vermelho e peguei minha bolsa e o celular. Fui em direção a porta e tranquei-a jogando a chave dentro da bolsa.

Estava muito frio, o inverno tinha chegado há apenas dois dias, mas o frio já tinha chegando um pouco antes. Enquanto me dirigia ao meu carro no estacionamento, o vento soprava forte contra o meu corpo fazendo minhas narinas gelarem e o ar quente da minha boca se condensar no ar.

Abri a porta do carro e me senti agradecida por estar quentinho ali dentro. Liguei o carro e sai dirigindo devagar pelo estacionamento até chegar ás ruas movimentadas do Brooklyn.

Eu não estava com muita fome mas estava morrendo de vontade de comer alguns waffles, muffins e tomar um bom Machiatto de caramelo do Starbucks, então decidi passar no Starbucks mais próximo e enfrentar uma grande fila para levar tudo para casa e me enfiar debaixo do edredom e assistir um programa na TV.

Estacionei em frente ao Starbucks de esquina e desci do carro. As mesas do lado de fora do estabelecimento estavam vazias por conta do frio. Quando entrei no local, o ar estava quente e cheio de pessoas. Enfrentei uns bons dez minutos de fila e depois fui atendida por um rapaz simpático de olhos azuis. Fiz o meu pedido e esperei do outro lado do balcão para pegá-lo.

Quando estava saindo com o meu pedido no braço, meu celular começou a vibrar no meu bolso da calça. Tirei-o e olhei para a tela. Franzi o cenho ao ler o nome de Noah.

Respirei fundo e tornei a colocar o celular no bolso.

Não está na hora de você ter outra taquicardia. – pensei.

Entrei no carro colocando as sacolas no banco do passageiro e coloquei o cinto de segurança. E então, tive uma ideia louca e comecei a dirigir até o Brooklyn Bridge Park.

***

Eu tinha parado o carro perto dali. Era insano estar ali de noite e no frio que estava fazendo. Mas não me arrependi ao me deparar com aquela vista maravilhosa dos prédios de Manhattan.

Sentei-me na grama e peguei meus waffles que ainda estavam mornos e comecei a comê-los e a bebericar meu Machiatto de caramelo. As luzes da Brooklyn bridge refletiam no rio Hudson abaixo. Era a coisa mais linda de se ver. Estava tudo calmo, tranquilo e silencioso. Ultimamente eu tinha dado muito valor a esse silêncio e a essa paz.

Eu não tinha falado mais com Nate e nem com Noah e nenhum deles tinha entrado em contato comigo até alguns minutos atrás. Eu não atendi o telefonema de Noah porque provavelmente ele estaria bêbado ou iria falar alguma coisa que iria me aborrecer e como disse antes, eu estava querendo paz.

Eu sentia falta de Nate, pois ele era maravilhoso comigo e eu esperava não ter magoado ele, pois não era a minha intenção. Eu sentia falta de Noah também porque apesar de todos os apesares, ele também foi bom para mim em muitos sentidos. Mas o que eu realmente precisava no momento, era refletir e ficar um pouco sozinha.

Enquanto eu terminava de comer meus waffles, fiquei admirando aquela paisagem incrível bem na minha frente e me senti feliz porque sabia que eu nunca tinha feito aquilo e porque eu estava me sentindo bem mesmo solitária. Talvez a solidão não seja tão ruim quanto as pessoas falam. Você só tem que saber apreciar.

Um casal chegou cochichando e rindo e não pareceram notar minha presença e se dirigiram até a grade próxima a margem do rio Hudson e ficaram conversando abraçados admirando a mesma paisagem que eu estava desfrutando.

Talvez eu não seja a única insana que esteja querendo olhar paisagens bonitas num dia de inverno – pensei e sorri.

Terminei de beber meu café e levantei-me pegando as colas e me dirigi de volta para o carro.

***

Dirigi de volta para casa sem pressa e quando estava entrando no prédio alguns flocos pequenos de neve começaram a cair e foi lindo. As ruas estavam enfeitadas, todas as árvores acesas com luzes de natal brancas e estavam silenciosas. As pessoas conversavam baixinho entre si.

Parei na escada e fiquei olhando para o céu enquanto os flocos começavam a cair com mais intensidade.

Como as pessoas fugiam disso¿ Como elas não achavam maravilhoso quando os primeiros flocos de uma nevasca começavam a cair¿ Talvez eu estivesse sendo sensível demais, mas era a minha época favorita do ano.

***

Depois de tomar um banho quente e colocar um moletom confortável e prender meu cabelo num coque relaxado, fiz um chá e peguei o edredom branco da minha cama e sentei-me no sofá. Liguei a televisão e sorri ao ver que Orgulho e Preconceito estava passando na televisão novamente. Deus abençoe Jane Austen!

Tomei um gole do meu chá e a capainha da porta tocou. Franzi o cenho e coloquei a caneca em cima da mesa de centro. Levantei-me e andei em direção ao balcão para pegar a chave. Coloquei-a na maçaneta e destranquei-a.

Paralisei surpresa e meu coração se acelerou ao ver aquele sorriso.

– Noah¿

– Oi Gen.