P.O.V Ally

(...)

Fechei os olhos e voltei a passar a lâmina pelo meu pulso, desta vez com mais força. Vi uma linha de sangue escorrer pelo braço e deixei-me cair no chão, encolhendo-me. Senti um pequeno ardor, mas nada comparado com a dor que sinto no peito.

Voltei a encarar o objeto cortante e encostei-o à minha pele já suja pelo líquido vermelho lá escorrido e quase seco. Tenho a plena noção de que quando o Austin chegar eu já estarei aqui caída, inconsciente, morta. Voltei a sentir as lágrimas a escorrerem pela minha face e finalmente decidi dar o meu último corte, o corte que me vai matar, que me vai levar para o outro lado, que me vai trazer a paz que necessito neste momento. Não só a mim como às pessoas que se preocupam comigo. Não quero pensar muito porque, se o fizer, tenho medo de que me arrependa. Não posso parar agora e, dentro de minutos, vai estar tudo acabado e vou finalmente deixá-los serem felizes... Sem mim !!

P.O.V Austin

Faltam duas horas para sair do meu trabalho, eu estou cansado, mas não é isso que me ocupa a mente neste momento, mas, o fato de que minha namorada ainda não ter aparecido, vai fazer-me voltar para casa mais cedo. Ela não atendeu nenhuma das minhas chamadas, não me respondeu às mensagens, e estou definitivamente preocupado. O seu estado psicológico não tem sido dos melhores, não tem reagido bem a tudo o que aconteceu e, o meu maior medo, é que ela cometa uma loucura.

Avisei a minha irmã de que precisava que ela fosse buscar a Angie e a levasse para sua casa, explicando-lhe o que está a acontecer. Eu tenho que salvar a Ally disto tudo, tenho que a ajudar a ultrapassar esta fase e, para isso, precisámos de um momento só nosso. A Angie já sente a falta da sua mãe e eu próprio sinto falta do seu carinho, do seu entusiasmo quando chegava-mos a casa e quando estávamos juntos.

Conduzi até casa e um mau pressentimento abateu-se sobre mim, fazendo-me ir o mais rápido que consegui. Estacionei o carro na garagem e saí, trancando-o de seguida.

Destranquei a porta de entrada e logo ouvi o choro compulsivo da minha namorada, fazendo-me sentir um aperto no coração. Aproximei-me e, quando vi sangue espalhado pelo chão e uma das minhas lâminas de se barbear nas suas mãos, pensei que fosse tarde demais. Corri até ela e parei o que é que ela fosse fazer. Isto não pode acontecer, eu ia perder a mulher da minha vida, o único ser que se deu ao trabalho de me compreender e de me amar com todo o seu coração. O único ser por quem me apaixonei verdadeiramente e por quem daria a minha vida.

— Amor ! — disse atirando o objeto cortante para o outro lado desta divisão e abraçando o corpo fraco de Ally. — Não me faças isto, por favor. — sussurro , e uma lágrima escorreu pelo meu rosto.

— Eu só quero que vocês sejam felizes. — disse minha mulher entre soluços. — Sem mim...

— Não! Tu não entendes! Eu te amo, te amo meu amor , tu és quem me traz felicidade. — abracei-a com mais força. — Eu não te posso perder! A Angie não te pode perder!

— D-Desculpa. — agarrando mais a mim. — Ajuda-me. — sussurrou.

— Eu vou-te ajudar, meu amor. Eu prometo.

Tentei acalma-la, mas eu é que continuava nervoso. Não sei o que é que faria se chegasse a casa e a encontrasse morta. Acho que o meu mundo desabava, que morria logo a seguir ao desgosto que sentiria.

Eu prometi que a iria ajudar e é isso que eu vou fazer.

Vou fazer com que ela acorde e adormeça com um sorriso nos lábios e com momentos felizes no seu pensamento.

Peguei no seu corpo frágil e transportei-o até ao nosso quarto, levando-o para a nossa casa de banho para lhe dar um banho. Despi-a com cuidado para não a magoar e senti os seus arrepios devido à temperatura relativamente baixa. Despi-me também e liguei a água quente, deixando a banheira encher. Voltei a pegar nela e deitei-a sobre o meu corpo, deixando a água aquecer-nos. Abracei-a e senti novamente lágrimas a escorrerem pela minha face.

Tenho tanto medo de a perder. Ficamos em silêncio durante longos minutos e, estar assim com ela, só me faz querer trazê-la de volta, fazer com que ela se sinta feliz novamente. Quero voltar a ter a nossa pequena família feliz e sempre pronta para o que der e vier.

— Eu queria morrer. — clareou a voz e pousou a cabeça sobre o meu peito. — Senti-me perdida. Pensei que o melhor era deixar-vos. Desde que perdi o bebé que tenho vontade de desistir. — A sua voz começou a quebrar. — E é incrível como essa vontade se apoderou do meu corpo tão rapidamente.

— Eu não quero que desistas. — passando a minha mão pelas suas feridas no seu braço. — Quero que fiques comigo, aconteça o que acontecer, na saúde e na doença… até que a morte nos separe.

Ally virando-se, olhando-me nos olhos disse :

— Desculpa, Aus. — voltou a abraçar-me. — Sinto-me tão estúpida.

— Não te sintas assim. Não tens que te sentir assim. — beijei os seus lábios ligeiramente inchados. — Eu vou estar sempre aqui para te salvar.

— Eu te amo muito. Eu ia cometer um erro grande. — as lágrimas voltaram aos seus olhos. — Ia te magoar e … e a Angie …

— Shhh… — pondo um dedo à frente dos seus lábios. — Ela está bem.

— Mas não a tenho tratado bem, eu tenho sido tão egoísta, e não tenho pens… — eu não deixei ela terminar, interrompendo-a :

— Quer casar comigo?

Ally mostrou o seu primeiro sorriso desde que tudo aconteceu.

— Tu queres casar comigo?

— Eu perguntei primeiro! — falei soltei uma pequena gargalhada, fazendo-a sorrir ainda mais. — Então??

— E… Eu… Sim! — Beijando-me apaixonadamente, abraçando-me de seguida. — Obrigada... Por me salvar.