Você é a pior coisa que aconteceu na minha vida! "

" Você é a pior coisa que aconteceu na minha vida! "

Esta frase percorreu toda a minha mente enquanto me dirigia para o carro. Mal me sentei, Austin ficou esperando a olhar para mim. Encostei a cabeça à janela e não pronunciei uma única palavra. Eu já tinha ouvido de tudo, já tinham me insultado, tratado mal, mas dizer isto à sua própria filha? Como? Como é que ele consegue? Não tem remorsos? Não tem saudades de me ter por perto? Se calhar fui mesmo a pior coisa que lhe aconteceu na vida. Talvez se ele me tivesse mandado logo embora não teria tantas preocupações. Mas que é raio é que eu estou para aqui a pensar? Ele nunca me tratou assim ... até ... até à gravidez. Eu tinha 20 anos, não era assim tão nova! Podia ainda não ter uma vida estável e o curso terminado, mas já não era uma adolescente!

– Hum ... Alls como ... como é que correu lá ? - o loiro perguntou desviando os olhos da estrada e olhando para mim.

– O que é que você acha que aconteceu ? - falei irônica.

– Eu não sei, Ally . Estava à espera que me dissesses!

– Mal ... Péssimo ... Horrível ... - falei quase num sussurro.

– Oh. - abriu a boca para falar algo, mas nada sair apenas voltou a olhar para a estrada.

– Onde é que vamos? - perguntei quebrando o silêncio quando reparei que passamos a rua de minha casa.

– Para minha casa ... - falou como se fosse óbvio.

– E a Angie?

– Às 6pm vou busca-la ... quer dizer, vamos busca-la! - disse sorrindo.

Assenti e esperei que chegássemos a casa dele, o que não demorou muito tempo. O seu sofá estava mesmo a pedir que me sentasse lá, e foi isso que eu fiz. Passados uns minutos, Aus apareceu com duas xícara de chá e ofereceu-me uma. Agradeci e encostei a minha cabeça ao sofá, fechando os olhos de seguida. As palavras do meu pai não me saiam da cabeça. Desta vez ele foi demasiado longe.

– Queres falar sobre isso? - perguntou como se tivesse ouvido os meus pensamentos.

– Sobre o quê? - perguntei de um jeito mais rude do que eu queria.

– Tenha calma! Estava só a tentar ajudar, Ally.

– Desculpa ... Sim, quero.

– Estou todo ouvidos. - ele fisse e sorri.

– Ele disse que eu fui a pior coisa que lhe aconteceu em toda a sua vida.

Vi o seu sorriso desaparecer e uma lágrima escorreu pela minha face. Ele chegou mais para perto de mim e abraçou-me. Comecei a lhe contar tudo o que o meu pai me tinha dito e ele ouviu atentamente. Nunca ninguém me tinha ouvido da maneira tão atenciosa como o Austin. Ele faz sempre tudo parecer mais fácil. Ele é como um melhor amigo para mim, e eu sei que pareço uma criança a falar, mas é mesmo isto que eu sinto. Estamos a criar uma grande amizade que me faz sentir bem. A mim e à Angie.

– Está com fome? Posso cozinhar alguma coisa para nós ... - O interrompi .

– Eu te Ajudo. - disse me levantando.

– Ally , tens a certeza que está a reagir bem a isto tudo? Eu sei que aconteceu tudo muito de repente e talvez estejas a guardar tudo o que sente para ti, eu não sei ...

– Eu não posso mostrar fraquezas, principalmente à Angie! E além disso eles não merecem que eu esteja assim. Eles me fizeram sofrer muito, Austin.

– Você é que sabe ... Só quero que voltes a sorrir, mas que sejam sorrisos verdadeiros! - falou sorrindo.

– Tenho a certeza que em breve esses irão aparecer!

Decidimos fazer uma pizza. Sim, fazer. Porque encomendar é para os fracos. Por momentos consegui esquecer tudo o que se passa à minha volta. Soltei gargalhadas quando vi que a cara de Austin estava cheia de farinha. Eu não estava melhor, pelo menos foi o que os risos do Aus transmitiram. Há muito tempo que não me divertia assim, por isso seria boa ideia aproveitar estes momentos como se fossem os últimos.

Quando o fogão deu o sinal de que a pizza já estava pronta, corremos para ver como ficou.

– Tem melhor aspecto que as nossas roupas! - disse sorrindo e longo ele sorriu me olhando.

– É, esperemos que esteja boa. Não estou a pensar cozinhar mais alguma coisa!

– E o mau-feitio voltou ... - falei revirei os olhos.

– Desculpa. Vamos para a mesa.

Segui-o e vi que já tinha posto a mesa. Acho que estávamos a almoçar, lanchar e quase jantar. E não, não me esqueci de Angie. Ainda falta uma hora para a ir buscar. Almoçamos com calma e a normalidade voltou àquela casa. Aliás, o ambiente ficou um pouco pesado. Abri a boca para dizer algo, mas rapidamente a fechei quando Austin ligou a televisão. Ele está a ignorar-me? Mas o que é que se passou agora? Levantei-me e peguei no meu prato. Levei-o para a cozinha e o pus na máquina de lavar louça. Dirigi-me para casa de banho e tentei limpar a farinha da minha roupa.

– Hum ... eu posso te emprestar uma roupa, se quiseres ... - disse o loiro .

– Não, obrigada. - falei e continuei o que estava a fazer.

– Alls ... - " lá lá lá lá . Ignorei - o cantando uma musiquinha mentalmente .- Ally vá lá, olha para mim! - olha a parede é azul ... ai que liiinda - Allycia ! - perrou me agarrando pelo braço e encostando-me à parede.

– A-Austin? - sussrurei assustada

" O que é que se está a passar aqui?" Pensei .

– Porque é que está a agir assim? -falou quase desesperado.

– Você que parecias chateado comigo ...

– Não tenho qualquer razão para isso! - falou passando a mão pela minha bochecha .

Aí meu santo pickles, me coração bate fortemente!

– Desculpa. - falei tentando esconder a cara nas minhas mãos, mas sem sucesso.

– Está tudo bem. - disse se aproximando mais de mim.

– Se calhar é melhor irmos buscar a Angie!

Austin assentiu e afastou-se. Pedi-lhe uma camisola e mudei-me. Arrumamos a cozinha o mais rapidamente possível e, de seguida, fomos buscar a Angie. Mal ela nos viu, começou aos saltinhos e agarrou-se a nós. Austin conduziu até minha casa e, depois de muita insistência da menina, ele acabou por ficar a dormir. Decidi que no dia a seguir ia trabalhar. Não vale a pena ficar em casa a pensar no que se passou hoje. Eles quiseram que eu me afastasse da vida deles e é isso que eu vou fazer. Para sempre.