As pernas dos dois pendiam para for a da borda do telhado, o vento fazia suas roupas tremularem suavemente. Pequenos filetes de fumaça flutuavam para longe quando o menino espirava afastando o cigarro da boca.

Dois pássaros voavam cada vez mais distantes acima dos dois, muito longe para verem mais do que manchas negras como recortes borrados sobre o cinza depressivo do céu.

– Você já desejou poder voar? – As palavras saíram suavemente junto com a fumaça.

A brisa do final da tarde fazia ondas despretensiosas com o cabelo da menina. Ela não desviou o olhar da imensidão cinza quando o silêncio foi cortado, e permaneceu assim enquanto o eco das palavras lentamente desvanecia.

– A muito tempo...

Eles não voltaram a falar depois disso. Havia cenas difusas nos olhos dos dois, fantasmas de risadas esquecidas e de sorrisos desbotados de tempo. Saudade e esquecimento.

O cigarro havia acabado, o cinza caía.

Não havia mais nenhum pássaro no céu.