Beyond two Souls escrita por Arizona


Capítulo 19
Danúbio


Notas iniciais do capítulo

Oi gente!
Tá aí mais um cap. Comentem, digam o que acharam, e se não gostarem, falem do que precisa. Do mais boa leitura, e até.
Beijos



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A dor se espalha pela lateral do meu corpo.

Meus olhos ainda se apertam e doem, assim como a ardência no meu peito. Suor escorre na pele, ensopando minha camiseta de dormi. A madeira gelada que reste o piso do meu quarto me causa arrepios, arranhando na espinha. Só agora percebi que cai da cama.

Olho para o relógio no criado mudo, 2:55 da manhã. Tive mais um pesadelo. Na maioria, são imagens dos Jogos atravessando minha mente. Sempre vejo o rosto na água da menina do 3. Glimmer com o corpo deformado de picadas. Uma lança atravessando o peito de Rue, assim como minha flecha atravessa Marvel. Clove com a cabeça rachada. Cato sedo devorado vivo. E no final, o cheiro de sangue da boca do presidente Snow.

São sempre assim.

Quando não são eles que morrem, sou eu.

Forço meus pés a erguerem meu corpo do chão. A janela está aberta, permitindo que o vento gélido da madrugada entre, sacudindo as cortina fina. Caminho para o banheiro ainda com as luzes apagadas, não gosto de me olhar no espelho, talvez porque ele me mostre quem sou, quem realmente sou, e só eu consigo ver essa Katniss.

Tiro minha roupa molhada de suor e entro no chuveiro. A água queima minha pele como gelo, mas não me importo, ainda quero me queimar. Desligo o chuveiro, me enrolo na toalha voltado para o quarto. Ponho uma roupa quente indo para cama mesmo não querendo dormir novamente.

Olho pela janela as estrelas brilhando no céu. Estrelas. Elas são a sombra de uma luz, a luz que apaga a escuridão. A mesma luz que eu procuro que possa dissipar as minhas trevas.

Descido respirar um pouco de ar fresco. Desço as escadas apanho meu casaco ao passar pela porta. Sento-me nos degraus da entrada abraçando meus joelhos. Meus olhos absorvam toda aquela alegria infinita das estrelas.

Como uma coisa tão bela ser tão distante, e ao mesmo tempo sempre está presente?

É como a pessoa que agora dorme na casa em frete a minha. Se eu atravessar a rua o encontrarei lá, em toda a sua pureza. Me lembro da tarde de sábado, quando encontrei Peeta na campina, olhando o sol se pôr, eu o vi pela primeira vez em toda sua pureza.

Ele fez Haymitch se alimente quando o acordamos. Lhe ajudou no banho, trocou os lençóis da cama antes de pô-lo para dormi. Ao vê-lo fazer isso por Haymitch, vi o mesmo garoto com o pão. Vi ele sendo gentil como foi comigo naquele dia, e como ainda é.

O amanhecer começa a surgi, levando as estrelas consigo. A floresta também acorda essa hora, então eu vou para ela. É uma caminhada curta, chego ao limite da Costura perto minha velha casa em que nasci e cresci. De paredes tão opacas e úmidas. A janelinha da sala que meu pai abriu alguns anos antes de morrer ainda está lá.

Meu pai sempre acordava cedo, assim como a maioria dos mineiro. Ele odiava os restos da fuligem de carvão que poderiam se impregnar na casa. Esfregava diversas verses o espelhinho do banheiro no qual ele penteava os cabelos para trás. Antes de sair para o trabalho, vinha beijar minhas bochechas e as de Prim, sussurrando um eu já volto meus amores. Mas teve uma tarde que ele nunca mais voltou.

Atravesso a cerca, pego meu arco e a aljava no mesmo troco oco que meu pai guardava, porém não estou aqui para caçar, apenas sinto vontade de caminhar pela floresta. Sempre achei que ela fica ainda mais bela no outono, Gale diz que ela fica sem vida, mas sempre gostei do laranja misturado como o verde das folhas espelhadas pela terra.

Sento-me debaixo de um velho carvalho que já tem quase todas as suas folhas laranjas, caindo aos poucos espalhando-se pelas suas raízes. Meus pés agradecem dentro das botas depois de tanto andar. Eu suspiro quando meus músculos relaxam.

Fecho os olhos por um momento absorvendo a atmosfera da floresta. A brisa gelada da manhã se move tão quieta e maravilhosa entre as árvores. Tudo aqui é majestoso, intocáveis vestígios de uma falsa paz brevemente conquistada.

Junto minhas coisas para voltar, refazendo o mesmo trajeto da vinda. No caminha vejo alguns esquilos correndo imprudentes para lá e para cá. Meus dedos coçam em puxar a flecha da aljava, já faz uma certo tempo que não caço, afinal a minha necessidade de fazer isso não é mais precisa.

Lembro-me que esquilos sempre foram a carne favorita de Gabriel, o pai de Peeta. Ele sempre foi gentil comigo, e se eu era a única que lhe fornecia os esquilos, já faz um tempo que ele não os come.

Caminhei para fora da floresta com três esquilos e um coelho abatidos. Guardo o arco e a aljava no troco, passando pela cerca indo em direção a cidade.

Nunca vendi minhas caças na porta da frente da casa das pessoas, talvez por receio de que aquilo que fazia era ilegal apesar da vista grosa dos Pacificadores, por isso vou para os fundos da padaria. Torço para que Gabriel esteja lá e não sua esposa. Todas as vezes que isso aconteceu, ela sempre fazia questão de me agredir verbalmente, embora eu nunca tenha rebatido tais agressões.

Ele não estava lá, na verdade encontro um rapaz empilhando sacos de farinhas na varanda. Ele está de costas e não me ver, continua concentrado em equilibrar os sacos um em cima do outro.

— Com licença. – pigarreio e ele me olhar, é o irmão mais velho de Peeta – O senhor Mellark está?

— Claro. – ele sorrir abertamente – Vou chama-lo moça.

Fico olhando ele entrar para chamar Gabriel, eu já o tinha visto antes, acho que o nome dele é Sasha, e o irmão de meio se chama Sony, eu o via na escola. Sasha é ainda mais parecido com o pai. É como ver Peeta um pouco mais velho, se não fosse pela barba fechada que usa. Se juntassem Peeta, Sasha e Gabriel, se veria o mesmo homem em idades diferentes.

Já Sony é mais esquio que o irmão caçula, o único bem deferente dos três. Além dos cabelos castanhos dourados que chegam aos ombros, ele também herdou os olhos verdes da mãe.      

Gabriel surge na porta sorridente com o filho em seu encalço. Seus olhos brilham quando batem nos prodígios em minhas mãos.

— Oh, querida! – ele exclama admirado – Não me diga que você os trouxe para mim?

— E para quem mais, Gabriel?

Ele sorrir agradecido dizendo que nem se lembra do gosto dos esquilinhos. Gabriel faz questão de pagar, mas eu não aceito, digo que é um presente, que não precisa pagar, só que ele insiste que lhe proponho uma troca. Digo que só aceito como pagamento o melhor bolo de chocolate que ele tiver. Mal imagino a cara que Prim vai fazer quando eu chegar com bolo.

Chego em casa empurrando a porta com os quadris, pois as mãos estão ocupadas com o bolo. Nisso não vejo o demônio do Buttercup deitado na entrada e acabo pisando na sua calda, fazendo o gato miar que uma forma escandalosa. Prim logo vem ao socorro daquela criatura quando o ouvi.

— Katniss! O que você fez com ele? – ela me interroga agarrando o gato nos braços.

— Eu? Nada! – não entendo como ela amar esse bicho – Eu não tenho culpa se ele fica no meio do caminho.

— Tá! Mas custa olhar por onde anda?

Reviro os olhos com tanta melancolia dela com o gato. Esse demônio em pele de gato já me odeia por eu ter tentado afoga-lo quando ele era só um filhote, mas Prim chorou tanto que acabei tendo pena, e deixando ela fica com ele. Mesmo assim, ele rosna para mim sempre que tem oportunidade.

Vou até a cozinho com os olhos de Prim sobre a embalagem que trago, ela ainda não viu que é um bolo. Minha mãe está terminando de passar o café que ela tanto ama quando se vira para mim.

— Bom dia meu bem. – me cumprimenta – O que foi que você trouxe?

— Bolo de chocolate. – digo especialmente olhando para Prim que acaba por lamber os beiços.

Sei que é maldade chantagear uma criança, ainda mais minha irmã que sempre admirava os bolos da vitrine, mas era engraçado sua cara. Prim só veio comer um pedaço de bolo recheado pela primeira vez quando Gabriel a deu escondido.             

— Eu quero de café da manhã. – Prim rapidamente larga o gato e avança no bolo.

— Eu ia até deixar você comer. – puxo o bolo para longe das suas mãos – Mas você resolveu brigar comigo por causa desse gato.

— Ah, Katniss! – ela protesta mas minha mãe interrompe.

— Já chega. Nada de bolo de chocolate de café da manhã. – vejo Prim se entristece rapidamente – E Katniss, você não deveria ter trazido um bolo rochedo tão cedo.

— Mas mãe, foi o Gabriel que me deu. – eu me defendo – Não podia recusar.

— Gabriel? – pergunta com a confusão do nome.

Abro a boca para esclarecer quem é Gabriel, mas a porta dos fundos se abre, e Peeta entra na cozinha batendo os pés no tapete da soleira, carregando um cesta nas mãos.

— Bom dia Páris! – ele beija o rosto da minha mãe, o que me estranhar o contato

— Bom dia querido. – minha mãe pega a cesta com pães e biscoitos que ele trouxe.

— Oi docinho? – Peeta me abraça de lado beijando minha testa.

Ele vai em direção a Prim podo ela nos braços, sacudindo-a no ar, a fazendo da gargalhadas. Mas desde quando ele frequenta a minha casa, brinca com a minha irmão e é tão próximo a minha mãe chamando ela pelo primeiro nome? Achei que ele fosse meu amigo, só meu amigo, e não da minha família toda.

— Quando foi que você começo a chamar minha mãe de Páris?

— Quando você começou a chamar meu pai de Gabriel.

Olho para ele indignada. Por que ele não me falou que se tornou amigo da minha mãe? Peeta percebe a minha cara de confusão, e sorrir debochado apertando as minhas bochechas.

— Não precisa ficar vermelhinha de ciúmes. – ele faz um vozinha infantil – Eu ainda sou todo seu.

Dou um tapa na sua mão que aperta minhas bochechas murmurando palavrões contra ele. Dou a volta na mesa puxando a cadeira para me sentar. Ele senta a minha frete abrindo a embalagem do bolo e metendo o dedo indicador nele, saboreando a camada de cobertura que ele roubou.

— Hum! As mãos os Mellark são ou não são divina? - ele comenta se gabando do bolo.

Eu apenas reviro os olhos em desprezo. Ele sabe que o bolo veio da padaria da sua família. Não é nem um pouco humilde em relação a isso.

Minha mãe senta à mesa permitindo que nos servirmos. Há uma porção de pães, toradas, bolos, queijos, geleias, sucos, e bebidas quentes sobre a mesa. É com essa visão de mesa cheia de comida, de nada faltando para minha família que não me arrependo de ser uma Vitoriosa.  

Quando voltei dos Jogos como a namorada de Gale, minha mãe não aprovou a ideia. Apesar dela gosta muito dele, ela disse que eu era muito nova para ter um namorado. Mal sabe minha pobre mãe que o rapaz sentado à mesa que lhe conquistou com pãezinhos, foi o primeiro que eu beijei.

Terminamos o café da manhã, e minha mãe encarrega a Peeta e a mim a limparmos tudo. Ela sai para ver alguns pacientes, levando Prim consigo já que ela tem que ir para a escola. Não sei em que momento a minha mãe passou a confiar em Peeta, para me deixar sozinha em casa com ele, tudo bem que ela não sabe a intimidade que já ocorreu entre nós, mas ela confia.

Limpamos a mesa. Recolhemos os pratos levado para a pia. Ele lava a louça enquanto eu enxugo. É em completo silêncio que fazemos, apenas algumas trocas de olhares discretos, suspiros pesados, sem alterar nosso proceder.

Peeta fecha a torneira virando-se para mim. Me olhando fixamente nos olhos segurando minha mão e agarra minha cintura. Ele começa a me balançar como em uma dança.

Peeta sorrir, e eu acabo sorrindo de volta.

— O que estamos dançando senhor Mellark?

A Valsa do Danúbio Azul.

— A Valsa do Danúbio Azul? – sorriu achando o nome engraçado. – mas eu nem sem o que é A Valsa do Danúbio Azul.

— Eu te mostro.

Peeta me conduz em seus braços, cantarolando as notas da valsa conforme dançamos cada paço. Uma dança que poderia ser eterna no abismos que nós dois conhecemos.


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