Na véspera de seu casamento, a princesa Orihime caminhava silenciosa e triste pelo seu jardim, que tanto amava, quando ouviu um suspiro, que por um momento acreditou ter saído de dentro de si mesma.

Voltou-se e viu atrás de um arbusto de peônias, suas flores prediletas, um jovem envolto em um manto de veludo salpicado de peônias bordadas a ouro.

Se surpreendeu com a beleza dele, cabelos negros até os ombros, pela lisa e alva, corpo esguio e elegante. O que a surpreendeu ainda mais, foi o olhar dele, doce e triste, seus olhos eram verde esmeralda e abaixo destes haviam leves linhas esverdeadas, como se estivesse chorando. E a emoção presente em seus olhos chegou ao fundo do coração de Orihime.

Repentinamente, o jovem desapareceu e Orihime retornou lentamente para casa, disse ao seu irmão, o Senhor Feudal das Terras ao Sul do Japão, que não se casaria com o príncipe Kurosaki, um rapaz de cabelo estranhamente laranja, pois estava apaixonada pelo jovem que tinha visto no jardim.

Seu irmão decidiu adiar as núpcias e ordenou a todos os cavalheiros e servos que saíssem à procura de um desconhecido que usasse um manto de veludo salpicado de peônias bordadas a ouro. Mesmo que fosse contra as tradições, ele faria qualquer coisa por sua adorável irmã.

Os mensageiros transpuseram montanhas perigosíssimas, atravessaram rios caudalosos e desertos áridos, e percorreram planícies sem fim, em vão: voltaram para o castelo de mãos vazias.

O jovem Senhor disse, então, à sua irmã:

¬ O jovem que você viu, minha menina, não é uma criatura deste mundo, é provavelmente o espírito da peônia. É impossível casar-se com um espírito, portanto, amanhã celebraremos seu casamento com o Kurosaki-dono.

Só restou a Orihime consentir, pois compreendeu que não poderia insistir em algo que mais parecia um capricho. Correu ao jardim e foi despedir-se de suas flores preferidas.

Ao chegar diante do arbusto de peônias, ajoelhou-se e irrompeu em soluços.

As lágrimas copiosas que caíam dos seus olhos regaram a terra e uma flor de incomparável beleza desabrochou ali. Assim que a viu, Orihime só conseguiu chorar ainda mais. Enquanto chorava sentiu que alguém a abraçava e compartilhava de suas lágrimas, levantou o olhar, mas nada encontrou. Mesmo assim, a sensação de que alguém estava ali com ela não a abandonava, e então ouviu uma voz rouca e embargada dizer ao pé de seu ouvido:

¬ Que as lágrimas que hoje rolam dos meus olhos levem consigo o meu amor não correspondido, e que esse sorriso nos meus lábios seja a certeza de que eu te amo e te desejo toda felicidade do mundo.

Após o termino desta frase, aquele presença a deixou, o que a fez chorar e chorar, até que seu irmão apareceu e a levou para dentro do castelo, onde ela foi confortada da melhor maneira possível. Mesmo assim, a tristeza no coração de Orihime jamais sumiria, e seu irmão sabia bem disso.

No dia seguinte, os convidados que passavam diante do arbusto de peônias pararam para admirar a flor que desabrochou no dia anterior, mas, após a cerimônia, quando passaram por lá novamente, viram-na murchar e cair por terra.

O coração da pobre flor, não resistindo à dor de ver a princesa esposar um outro, despedaçou-se.