Quando ouviu o trovão ao longe, a garotinha fechou os olhos com toda força, se encolheu sob os lençóis e fez uma pequena prece. Queria mostrar a sua mãe que não tinha medo, mas o mundo parecia desabar. A chuva ficava mais forte a cada minuto e os trovões estavam cada vez mais frequentes. Ela resistiu bravamente pelos dez minutos mais intermináveis de sua pequena vida.

Um clarão iluminou seu quarto e o estrondo gigantesco fez a pequena saltar da cama, o que a fez tropeçar nos lençóis e quase cair de cara no chão. Conseguiu se livrar dos lençóis que pareciam não querer largar seus pés e agarrou Inverno, seu cachorrinho de pelúcia, com força. As lágrimas de medo e desespero começaram a escorrer teimosamente enquanto corria, tentando chegar no quarto ao lado o mais rápido possível.

— Mamãe — choramingou a pequena enquanto sacudia a mulher de camisola.

— O que aconteceu, Maria? — A mulher sentou com dificuldade e encarou a pequena que puxava os lençóis com força.

— Posso dormir com você hoje? — implorou.

— Não, Maria. Você já é uma mocinha, precisa aprender a encarar seus medos. São apenas trovões e chuva, nada vai te acontecer, pequena. Além disso, dormiu comigo ontem, lembra? — A mãe encarou os pequenos olhos, se contorcendo para não ceder, mas manteve-se firme.

— Mas, é só por hoje... — ela insistiu enquanto abraçava a perna esquerda da mulher.

­— Não, não. Você me prometeu que hoje dormiria sozinha. Volte para cama.

A garota, enfunada, voltou ao quarto batendo os pequenos pés no chão. Bufou e deitou novamente agarrada à Inverno. Toda aquela coragem se esvaiu ao som do trovão, que caiu perto de sua casa. Puxou os lençóis e olhou o pequeno relógio do Mickey, que apontava duas e cinco da manhã. Fechou os olhos com força, na tentativa vã de forçar o sono a chegar, mas aquilo parecia ter o efeito contrário. Teve a ideia de ir ao quarto da mãe silenciosamente e deitar em sua cama enquanto estivesse dormindo, mas antes que pudesse se levantar, ouviu a porta ranger.

Os passos lentos pareciam se arrastar pesadamente pelo assoalho do quarto e o cheiro podre começava a se alastrar pelo ambiente, fazendo a garota contorcer o rosto com uma careta chorosa.

Maria respirava descompassadamente enquanto sentia aquilo se aproximar de si. O relâmpago abafou seu grito estridente quando viu o monstro a alguns metros de sua cama. Sentiu seu coração parar quando os dedos gélidos se esticaram até seu pescoço, apertando-o com força. O ar começou a faltar em seus pulmões e as garras estavam perfurando sua pele. Sentiu as lágrimas quentes escorrendo pela bochecha já pálida.

***

O trovão a fez saltar da cama respirando ofegante. Havia sido um pesadelo. Queria correr até o quarto da mãe, mas só poderia se ela já estivesse dormindo. Olhou o relógio ao seu lado e viu o ponteiro marcar duas e cinco da manhã. A garota sentiu um arrepio percorrer seu pequeno corpo quando ouviu a porta ranger.