O Ciume tem olhos verdes escrita por Miyuki ki


Capítulo 1
A hóspede...




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Ciel suspirou profundamente ao ler a carta que Sebastian acabara de lhe entregar. As notícias não eram boas. Sua majestade não estava em Londres, havia viajado para resolver assuntos ligados à coroa e estaria de volta dentro de uma semana ou talvez duas. Eles haviam acabado de regressar à Inglaterra e Ciel esperava conduzir sua jovem companheira de viagem à presença da velha soberana tão logo o trem chegassem a Londres. Mas os planos teriam de mudar.

Ele olhou para a menina de cabelos negros que estava adormecida no assento ao seu lado. Ela estava vestida com roupas apropriadas para o dia-a-dia da Inglaterra vitoriana e não as vestes pesadas e medievais que usava em sua aldeia. Seu rosto estava em paz e ela até mesmo parecia sorrir. Após todos os acontecimentos e decepções pelos quais ela passara a perspectiva de poder ver o mundo novo com seus próprios olhos era algo que a acalentava.

– Se sua majestade não se encontra em Londres... ela terá de ser nossa hóspede até o retorno dela. – ele fechou os olhos e recostou-se no assento perdido em pensamentos.

– Com seu perdão, jovem mestre... a perspectiva de ser o anfitrião da Srta. Sullivan por alguns dias o perturba? – o servo exibia um sorriso largo, divertindo-se ao ver seu amo abrir o olho profundamente azul e lançar-lhe um olhar duro.

– Está se divertindo, Sebastian?

– Não tive a intenção de ofendê-lo, senhor... – Sebastian disse com uma mesura, disfarçando o sorriso. Na verdade divertia-o profundamente ver como a Srta. Sullivan era capaz de fazer seu orgulhoso pequeno senhor perder a compostura e tingir-se dos mais variados tons de rosa a cada uma das inconveniências da pequena dama. Quanto divertimento! Não havia tédio quando seu jovem lorde e a pequena lady se engalfinhavam em discussões e desentendimentos ( que ele maliciosamente procurava aumentar a cada vez que servia de intérprete ).

– Tch! Imagino que não... de qualquer forma, iremos direto para a mansão depois de chegarmos a Londres. Providencie acomodações adequadas à posição dela e diga a Meirin para serví-la como dama de companhia pelo período em que ela ficar conosco. – Ciel instruiu sem olhar para seu mordomo, em vez disso deixando seu olhar se perder na paisagem que corria pela janela.

“ Eu espero que sua majestade retorne o mais breve possível... antes que Elizabeth descubra que eu voltei e que estou hospedando uma jovem desacompanhada...”

Ciel não percebeu o pequeno sorriso que fez curvar os cantos da boca de seu criado. Ainda que não possuísse o dom da onisciência Sebastian conhecia o suficiente de seu senhor para imaginar qual era a preocupação do nobre.

Sua principal função era afastar perigos que pudessem por a vida de sua criança em risco... mas ora, que risco poderia haver se sua jovem noiva viesse a descobrir que o noivo dava abrigo a uma convidada da rainha? Com certeza nenhum... então não havia porque esconder correto?

xXx

– Waaaaaahhh!!! - a pequena bruxa gritava maravilhada com a cabeça para fora da janela. Ela achava a experiência de andar de carruagem algo realmente maravilhoso! Em sua aldeia ela nunca havia ido para muito longe e era sempre nos braços de alguém. A carruagem particular dos Phantonhive era confortável e rápida, puxada por animais fortes e velozes e ela agora avistava a mansão.

– Você vai cair pra fora!! - exasperado Ciel puxou a menina de volta para dentro - Por favor, fique quieta!

–Aquela é a sua casa?! É tão diferente da minha!! Posso ver o jardim? Sebastian disse que tem um jardim enorme atrás da mansão! E uma floresta também! E eu quero-

– Srta. Sullivan, acalme-se. Você vai poder ver tudo o que desejar. Por enquanto sente-se, por favor. – Sebastian disse com seu sorriso e gentileza habitual.

Na frente da mansão estavam os criados que haviam voltado para a Inglaterra um dia antes para prepararem a casa para receber de volta o seu senhor. Eles sorriram surpresos ao ver Ciel descer da carruagem e logo atrás Sebastian trazendo nos braços a bruxa alemã.

– Bem vindo, jovem mestre!! Bem vinda, Srta. Sullivan!! – eles saudaram animados.

Ela sorriu alegremente enquanto Ciel acenou com a cabeça.

O dia transcorreu rapidamente, Ciel fez companhia para sua hóspede no jardim e ela o acompanhou num passeio a cavalo pelas terras. Sebastian o aconselhou a levá-la na sela junto com ele para que não houvesse o risco dela cair e se machucar e o conde teve momentos impagáveis ao lado da pequena todas as vezes que ela se agarrava a ele ou porque o cavalo acelerava ou porque simplesmente ela gostava de fazer isso. A menina com certeza adorou o seu dia. O jantar transcorreu de forma calma e todos se recolheram a seus aposentos.

xXx

Em seu quarto, já banhado e vestido para dormir Ciel ordenou ao seu servo

– Sebastian, Meirin está servindo lady Sullivan, mas ela pode ser um tanto desastrada. Durante a noite verifique se está tudo bem com ela e atenda-a se necessário.

– Yes, my lord... – Sebastian sorriu de modo muito sutil enquanto cobria seu mestre. Era muito mais fácil para ele agora que seu próprio senhor lhe ordenara para servir a pequena estrangeira. A noite seria interessante.

Em meio à madrugada Ciel sentiu algo o envolver pela cintura e despertou.

– Sebastian...? - ele esfregou os olhos e tentou focar a visão. O quarto deveria estar completamente escuro, mas havia um candeeiro aceso na parede oposta à cama lançando uma luz fraca sobre o aposento.

– Ele saiu. – uma vozinha doce respondeu e o aperto em sua cintura aumentou.

– Saiu...? Mas pra ond... – De repente o sobressalto, se não era Sebastian... quem era?!

Ciel se levantou num salto e agarrou a pistola que sempre estava sob seu travesseiro e mirou no vulto que estava a seu lado na cama.

– Quem é você?! – ele perguntou furioso e espantado.

– Sou eu. – Sieglinde sussurrou assustada - Você dorme com uma arma debaixo do travesseiro? Cuidado, não me machuque!

– S-srta. Sullivan?! – Ciel abaixou a arma - Mas... MAS COMO VOCÊ VEIO PARAR AQUI NA MINHA CAMA?

– Sebastian disse que se eu quisesse poderia te pedir para me ensinar sobre o que os casais fazem. Então eu pedi a ele para me trazer aqui. Você estava dormindo e ele me pôs aqui e falou-me que os casais dormem abraçados. E se retirou. Então eu fiz o que ele me disse.

– Sebastian disse... – Ciel fechou os olhos e deu um profundo suspiro... – “se Sebastian pensa que não haverá troco por este constrangimento, ele não me conhece...”

– Mas tem mais , não é? – ela disse dando um sorrisinho de canto – Eu li mais a esse respeito.

–A-ah... você leu... - * limpa a garganta*- gostaria de saber que tipo de livros eles permitiam que você lesse... – Ciel resmungou.

– Bom, eu li...

– Não! Foi apenas um comentário...! – o conde todo corado apressou-se em responder - Srta. Sullivan, deitar-se na cama de um homem com quem você não tem um compromisso apenas por curiosidade é muito mal visto. Se essa história vir a público pode destruir sua reputação. E você pode acabar se envolvendo com alguém que pode tirar vantagem de você sem se importar com o que te acontecerá depois. Eu não quero que isso te aconteça.

– Oh... entendi... – a menina pensou por um instante – outros podem tirar vantagem de mim... mas eu conheço você! Você não faria isso comigo... então me ensine.

Ele a observou com olhos arregalados, ela falava sério. E mais que isso ele viu confiança nos olhos da garota. Então ele decidiu não mentir.

– Eu... eu tenho alguém... então não posso fazer isso com essa pessoa. Por isso não entendo a atitude de Sebastian... Me desculpe...

A bruxa verde olhou para o rosto dele e o viu de olhos baixos, sentiu sinceridade em suas palavras de uma forma que não sentira em outros momentos. Suspirou e respondeu.

– Eu entendo, me perdoe. Você tem alguém especial. Eu... devia saber... – ela então se deitou na cama e abraçou o travesseiro de Ciel – mas eu posso dormir aqui apenas esta noite?

Ciel a olhou intrigado enquanto ela abraçava seu travesseiro, era tarde ele se sentia cansado e não desejava entrar em outra discussão...

– Está bem, pode dormir em minha cama mas pelos bons costumes e em favor de preservar a sua honra, eu devo dormir em outro lugar. – Ciel foi até o grande armário e retirou de lá outro edredon, macio e tão grande quanto o que estava em sua cama. Desdobrou-o em dois para fazer uma cama improvisada no chão e deitou-se cobrindo-se com um outro cobertor que também havia retirado de lá.

– Boa noite, Srta. Sullivan. – Ele virou de lado e fechou os olhos.

A pequena alemã o observou até achar que ele havia adormecido novamente, então sorriu e abraçou o travesseiro .

– Seu cheiro é bom... boa noite. – e também adormeceu.

xXx

No fim da manhã seguinte quase na hora do almoço, Ciel foi avisado de que Elizabeth havia chegado acompanhada de sua mãe para uma visita. O queixo do pequeno conde caiu pela concretização de seu maior temor.

– Mas.... como ela soube de meu retorno... SEBASTIAN?!! – ele se voltou colérico para o mordomo.

– Era meu dever como servo avisar sua noiva de seu regresso em segurança para casa, senhor. – seu sorriso era o mais amável de todos e Ciel teve ganas de atirar o tinteiro na face debochada.

Mas ao invés disso o lorde apenas se levantou e seguiu para receber as visitas como um touro segue para o abate, não sem antes sussurrar entre dentes

– Eu vou me lembrar... disso e de outras coisas, cão!

Sebastian o seguiu antecipando toda a diversão que os aguardava.

xXx

– Cieeeeeeeellll!!! - a menina de cabelos dourados e cacheados se jogou sobre seu noivo, rodopiando com ele por todo o Hall.

– E-Elizabeth! E-está me enforcando! – Ciel levou as mãos até os braços de sua prima tentando afrouxar o afetuoso abraço que ela lhe dava.

– Mas eu estava com tantas saudades de você! E você nem se despediu de mim antes de viajar... – ela afouxou o aperto fazendo um beicinho - e é Lizzy...

– Me perdoe, Lizzy, mas eu precisei partir rapidamente e não pude avisá-la antes da partida.

– Lizzy, solte-o imediatamente. Este comportamento é extremamente inadequado para uma dama. – a voz dura da marquesa soou e Lizzy rapidamente se afastou – Bom dia, Ciel... vejo que ainda está com esse cabelo caído no rosto... – seu tom era de desaprovação.

– Bom dia, tia Frances... - Ciel cumprimentou. Mas será que sua tia iria sempre falar de seu cabelo todas as vezes que se encontrassem?!

– Eu quis vir o quanto antes e... – Lizzy calou-se olhando para a escadaria e Ciel intrigado seguiu o seu olhar e engoliu em seco ao ver Sebastian descendo as escadas trazendo Sieglinde nos braços.

Tia Frances olhou escandalizada, reparando no fato da mocinha estar no colo do criado indecente de seu sobrinho. Lizzy olhou para ela e em seguida para Ciel, seus olhos arregalados e lábios entreabertos.

– O-oh, perdoem-me, deixe-me fazer as apresentações... – Ciel apressou-se a dizer, seu rosto queimando levemente – Tia Frances, Lizzy... está é a Srta. Sieglinde Sullivan, convidada pessoal de sua Majestade a rainha e minha hóspede durante a sua ausência. Ela acaba de vir da Alemanha. Srta. Sullivan, está é Minha tia Frances, marquesa de Midford e sua filha, minha prima Elizabeth.

– Bom dia, estou encantada! Sou Elizabeth Ethel Cordelia Midford, prima e noiva prometida de Ciel. – Lizzy saudou a pequena feiticeira e não passou despercebido a Ciel e nem a Sebastian o tom com que ela frisou a palavra noiva – Eu não sabia de sua presença aqui ou teria lhe trazido algum presente. – igualmente eles notaram a ênfase dada ao “eu não sabia” e Sebastian sorriu amplamente ao perceber o desconforto de Ciel.

– Bom dia, Srta. Sullivan... por que razão se encontra nos braços deste servo? - Tia Frances perguntou sem rodeios, levantando uma das sombrancelhas.

– Bom dia... Ele me carrega porque eu não posso andar. – A menina disse como se aquele fato fosse a coisa mais rotineira que houvesse.

– A Srta. Sullivan não pode caminhar livremente por si mesma então eu a estou auxiliando, sra. Marquesa. – Sebastian acrescentou com voz humilde.

Os olhares de ambas se voltaram para os minúsculos pezinhos da bruxa e elas se consternaram com a deformidade deles, mas nada perguntaram devido às boas maneiras.

Sebastian os conduziu uma sala ampla e bela para que pudessem conversar antes do almoço. Tia Frances pediu licença para se refrescar em um dos aposentos pois não se sentia muito bem deixando –os . Na sala ficaram apenas sua filha, seu noivo, a pequena convidada e Sebastian.

O silêncio era constrangedor. Sieglinde olhava fixamente para Lizzy e esta para a morena, como se ambas se avaliassem e Ciel pensou que era muito mais fácil se lançar com Sebastian contra assassinos e psicopatas do que ficar ali parado sem saber o que se passava na cabeça das duas garotas.

Lizzy foi a primeira a romper o desagradável silêncio.

– A Srta. Sieglinde é mesmo uma menina adorável! – Ela sorriu entrelaçando os dedinhos – eu espero que esteja apreciando a Inglaterra.

A jovem alemã ficou em silêncio por alguns momentos e então se voltou para Ciel.

– Compreendo agora porque você não quis me ensinar mais a respeito do que os casais fazem em um quarto... é por causa dela. – ela disse com um tom de voz muito firme.

O queixo de Ciel desabou e toda a cor fugiu de seu rosto enquanto ele ouvia essas palavras. Sua cabeça se voltou para Lizzy, que estava com olhos arregalados e o sorriso ainda congelado no rosto.

– N-N-Não diga asneiras!!! – o menino o menino gaguejou olhando de volta para a menina morena.

– Não foi por causa dela? – Sullivan o olhou com uma expressão de interrogação – Então é por outra pessoa?

– C-Ciel... de que ela está falando? – Lizzy perguntou com a voz trêmula – O que você ia ensinar a ela?

– Eu não ia ensinar nada!!! - o jovem conde gesticulava em negativa com as mãos, seu rosto tão vermelho quanto maçãs maduras – Ela é que veio para minha cama com ideias estranhas!! - ele disse num impulso e imediatamente se amaldiçoou pelas palavras ditas sem pensar.

– Ela foi até.... você?! Como assim?! – Lizzy agora voltava seu olhar sobre Sieglinde. Se antes a jovem loira parecia estarrecida, agora ela erguia o queixo como se pronta para um desafio. Aquela garota estava pretendendo algo com o SEU noivo? Pois que tentasse!

– A noite passada eu fui até o quarto dele pois pensava em aprender com ele sobre como fazem os casais... mas ele se conteve e falou que tinha alguém. – a pequena bruxa olhou para o chão com certa tristeza na voz mas em seguida voltou a erguer o olhar – vocês aprenderam juntos no quarto?

– S-s-s srta. Su-Sullivannnnn!!!!! – Ciel se levantou e ergueu a voz. Seu rosto estava em chamas e ele tremia tal era seu constrangimento. A conversa era mais do que imprópria. Era indecente!! De onde essa garota vinha não existiam valores como decência, pudor ou discrição?! – N-não se pergunta algo a-assim!!!

Lizzy sentiu seu rosto arder e ela olhou para Ciel e em seguida para aquela garota imoral e depois para Sebastian, que estava postado atrás da cadeira de seu noivo. O mordomo também estava com o rosto vermelho mas era na tentativa de conter o riso. Ele olhou para ela e em seguida cobriu a boca com as mãos claramente tentando não gargalhar.

Toda a situação era por demais ridícula e constrangedora.

– Por que não? Conhecimento é algo que não deve ser escondido.... – Sieglinde parecia realmente não compreender porque tanto alarde a respeito de uma questão tão simples e natural entre duas pessoas.

– Por Deus! Porque não! E...não houve nada... ainda somos muito jovens. – Lizzy respondeu apressadamente.

– Hum...então... você não gosta dele...? – Sieglinde inclinou a cabeça e perguntou.

– O quê?! – Lizzy corou violentamente – é claro que eu gosto dele! Ele é o meu noivo! E eu... eu o amo... – ela olhou timidamente para o jovem conde. Ela o amava sinceramente e não escondia isso de ninguém. Mas verbalizar isso abertamente em presença de uma estranha era algo íntimo e constrangedor. As faces de Ciel continuaram rosadas enquanto ele observava a sua jovem noiva olhá-lo. Tocado pelas palavras dela e seu olhar.

– Então não consigo compreender porque tanta demora e indecisão... você o ama, ele será seu esposo, suas famílias consentem... porque é tão difícil? Porque não se beijaram quando se encontraram?

O espanto no rosto dos jovens noivos era algo realmente cômico e Sebastian virou de costas e se curvou com a mão enluvada sobre a boca. Pôs a mão sobre o estômago e refletiu que segurar ondas de riso podia ser algo um tanto doloroso.

Srta. Sullivan! Você é minha hóspede e eu sou muito grato por tudo o que fez por mim em sua casa, mas não posso ficar calado enquanto Elizabeth é constrangida em minha presença! – Ciel se levantou e bradou muito irritado.

– Desculpe-me... – a bruxinha ajuntou após alguns momentos iniciais de surpresa pela reação protetora de Ciel em relação a Lizzy – não era minha intenção... mas eu apenas não entendo... um casamento por obrigação é algo que deve ser realizado pelo bem das famílias. Mas um casamento onde ambos os noivos gostam um do outro é algo tão belo e diferente. Eu simplesmente não entendo a razão de tanta vergonha. Se eu estivesse prometida a alguém que eu amo com certeza eu o beijaria sempre que o encontrasse.

Lizzy refletiu as palavras da jovem alemã. De fato ela não estava completamente errada. Lizzy tinha sorte de estar prometida a alguém de idade próxima a dela, que ela conhecia desde pequenina e que ela amava profundamente... porque então...

Ciel com os olhos fechados e um dedo apoiado na têmpora procurava se acalmar e escolher as palavras mais adequadas para calar a jovem hóspede sem ofender uma convidada de sua majestade. Foi então que ele ouviu a voz sussurrada bem ao seu lado e abriu os olhos.

–Ciel...

Lizzy estava de pé ao seu lado. O rosto dela corado e a respiração acelerada.

– Lizz-...

Antes que pudesse concluir ele sentiu as mãos dela em seu rosto e a jovem se inclinou e seus lábios se encontraram. Foi um beijo carinhoso e leve qual o toque de uma borboleta. Durou o suficiente apenas para que ambos percebessem a maciez e o calor dos lábios um do outro.

O primeiro beijo.

Lizzy se afastou e observou seu noivo e riu envergonhada mas extremamente feliz. Ciel estava tão surpreso, o calor suave dos lábios da noiva ainda nos seus, e não conseguiu dizer nada. Apenas olhava para Lizzy como se a visse pela primeira vez em sua vida.

Sebastian e Sieglinde observavam a tudo em silêncio. O servo já não ria e a pequena bruxa fazia uma expressão pensativa...

– Só isso?! – Ela rompeu o silêncio estilhaçando o momento de alegria e sonho de Lizzy que por um momento se sentira agradecida pela estrangeira ter possibilitado a ela a coragem de fazer o que sempre ansiara.

– C-como é que é?! – a pequena lady arfou – q-que quer dizer?

– Não é assim que é um verdadeiro beijo de casal pelo que eu li. – a morena fazia uma cara de tédio.

– Ciel...! – Lizzy choramingou ofendida. Ela reunira tanta coragem para fazer aquilo e agora ainda recebia um zombaria...

– Li-Lizzy não chore! - Ciel se levantou e segurou a prima pelos ombros – Isso foi... i-isso foi... foi bom... ele disse tão baixinho que apenas os dois ouviram. Lizzy o encarou com olhos marejados e viu o quanto ele estava corado e desviando o olhar. E sorriu amplamente! Seu Ciel era tão fofo!

– Obrigada, Ciel...

O jovem conde sorriu e ajudou Lizzy a se sentar em seguida foi até a sua hóspede e disse em um tom de voz controlado.

– Já chega de conversas como esta por hoje, Srta. Sullivan e... – ele se calou quando viu ela erguer o dedinho e acenar com ele, pedindo que o nobre se aproximasse.

Ele se inclinou sobre ela supondo que ela ia dizer algo em seu ouvido, mas o que houve foram braços envolvendo seu pescoço e a pequena boca se chocando contra a dele sem nenhuma reserva!

Nem se sua majestade entrasse na sala naquele momento a surpresa teria sido maior! Lizzy observava tudo com o queixo caído e olhos arregalados e o próprio servo demoníaco arregalara seus olhos. O silêncio foi total por alguns momentos até se ouvir o pequeno som de lábios que se separam e a voz alegre de Sieglinde.

– Isso é muito mais um beijo! E olha que não tenho nenhum tipo de experiência! – ela sorria orgulhosa e presunçosa.

Ciel estava sem fala e sem reação, os lábios ainda entreabertos a respiração acelerada. Antes que pudesse reunir seus pensamentos ele ouviu Lizzy gritar furiosa.

– Como se atreveu?! Eu sou a filha do marquês de Midford, cavaleiro de sua majestade, rainha Victoria da Inglaterra! Ciel Phantomhive é meu noivo e eu não vou permitir que você me desonre ou toque nele novamente!

– Tantos títulos... eu também os tenho! Sou Sieglinde Sullivan, senhora de vastas terras, a Bruxa verde da Floresta dos lobisomens. Senhora de segredos e encantamentos antigos...

– Ladies... por favor... – Sebastian principiou conciliador... talvez sua diversão estivesse saindo do controle.

– Cale-se!! – as duas gritaram em uníssono contra o mordomo que ficou, como dizem as camadas pobres do povo, com cara de tacho.

– L-Lizzy... Srta. Sullivan... c-calma... – Ciel gaguejou acordando de seu estado – não há necessidade de...

– Não há necessidade?! – Lizzy olhou para Ciel com olhos marejados – ela te beija e você acha que não há necessidade?!

– Ela nem parece ser uma noiva! – Sieglinde ajuntou zombeteira - Com certeza ela é sua prima e não sua noiva!

– Diga isso de novo! – a mão de Lizzy tateou incosciente procurando por uma espada, não a encontrado atirou a primeira coisa que tocou: uma fatia de bolo.

O doce atingiu o espaldar da poltrona e espirrou no rosto de Sieglinde que furiosa agarrou sua própria fatia semi-devorada e a atirou contra a loira, atingindo-lhe o peito.

– Por Deus, o que está acontecendo aqui?! - Lady Frances abriu a porta de repente se deparando com as duas jovens se insultando e atirando peças do serviço de chá. Quase imediatamente Meirin e Bard irrompem a sala completamente armados, julgando que poderia ser algum tipo de ataque, ouve-se um estrondo e Finny entra assustado e pronto para lutar de um buraco que ele abrira na parede da sala.

Sebastian já começava a se arrepender de ter resolvido se divertir assim... ia dar um trabalho imenso desfazer toda essa confusão... Ele correu para amparar Ciel que estava lívido e oscilante.

– Sebastian... eu queria sumir daqui...

– Como desejar, meu lorde... – Sebastian imediatamente ergue seu senhor em seus braços e brada com uma voz tão forte que faz todos se calarem:

– Acaba de chegar uma carta da Scotland Yard convocando o conde a Londres. Ele deve partir imediatamente! – e antes que qualquer um dos presentes possa dizer algo Sebastian corre para fora da sala segurando Ciel contra seu peito.

– Eu achei que você não mentia... – Ciel sussurrou enquanto o servo corria com ele para os estábulos onde estaria a carruagem do jovem.

– Apenas para o senhor eu não minto, meu lorde. – ele sussurrou de volta sorrindo.

– Já mentiu por omissão. – Ciel respondeu teimoso dando um pequeno soco no ombro do criado.

– O diabo é o pai da mentira, não é mesmo? – Sebastian sorria – mas para o senhor eu não minto... e quanto ás omissões... basta que me interrogue e eu te direi a verdade.

– Sim... – o pequeno se calou enquanto o vento zunia á passagem de ambos. E Sebastian se sentiu satisfeito, fugindo de lá com o jovem. Na verdade já o estava irritando um pouco toda aquela licenciosidade com seu mestre. Mas ele nada diria.

A menos que Ciel lhe perguntasse.

Fim


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Notas finais do capítulo

Eu gosto muito mais do tema yaoi e sou louca por SebasxCiel, no entanto eu gosto das meninas ( Lizzy e Sieglinde ) e foi bem divertido escrever esta fic sem grandes pretensões. Tenho certeza absoluta que elas não iam se bicar desde o começo kkkkkk.Espero que gostem e nas próximas devo retornar ao meu OTP original ( e eu não abandonei " Seja apenas meu"! A continuação está pela metade e eu vou concluir assim que puder!Bjos!