SAKURA

O sinal havia tocado, Hinata e eu caminhamos até a sala de aula, sentindo vários olhares em nós junto com alguns assobios. Sabia que a maior parte daquela atenção era para minha amiga ao meu lado, e isso me deixava contente por saber que a minha obra prima era um sucesso.

— Eu estou me sentindo uma alienígena.

Olhei para Hinata, ela estava um pouco desconfortável diante daquelas atenções sobre nós.

— Não fique assim, Hinata - ela me olhou, eu sorri -, você está linda.

Ela suspirou pesadamente, ajeitando sua mochila em seu ombro direito, olhando para o chão.

— Ontem quando eu cheguei em casa, meu pai mal me reconheceu.

— Sério? E aí? Conta.

Ela me olhou e sorriu um pouco mais animada.

— Ele disse que eu estava parecendo gente - e riu. - É tudo diferente agora, mas eu estou gostando dessa mudança. Estou gostando desse meu novo eu desconhecido por mim.

Sorri, engatando o meu braço no dela.

— Daqui para frente tudo será melhor.

Ela sorriu também e começamos a andar no extenso corredor infestado de alunos. Vi uma movimentação na porta da minha sala, era a professora de japonês. Ela estava agachada no chão recolhendo suas pastas, papéis, provas e livros, toda desajeitada. As pessoas passavam e a ignoravam.

Aproximei-me junto com Hinata, e como uma alma caridosa que eu era, ajudei a professora a arrumar suas coisas.

— Obrigada, meninas - ela disse, toda atrapalhada.

— Não a de quê, professora - e terminei de pegar algumas provas e Hinata os livros.

Entramos na sala, caminhando atrás dela que tentava equilibrar as folhas de provas para não cair de seus braços.

— Pode deixar aqui. E mais uma vez muito obrigada. - Ela sorria para gente, enquanto depositava sua bolsa preta na cadeira.

— Estamos aqui para ajudar. - Disse Hinata.

Caminhamos até a nossa carteira quando de repente uma ideia genial passou pela minha cabeça.

— Ah meu Deus!

Hinata sentou-se na sua cadeira que ficava a minha frente, e virou seu corpo para trás.

— O que foi, Sakura?

Sentei-me em minha cadeira, e fitei a professora de japonês mais uma vez. Ela faria um belo par com o ogro do professor Asuma.

Como eu não tinha pensado nisso antes?

Kurenai Yuhi era a professora mais atrapalhada do colégio, sem contar nas suas aulas que também eram chatas. Noventa por cento dos alunos dormiam em suas explicações, tirando os dez por cento que eram os CDF e os estudantes de intercâmbio.

A professora Kurenai era uma mulher bonita, mas era mal arrumada. Devia estar caminhando para sua casa dos trinta. Ela sempre vinha com aquelas saias sociais um pouco abaixo do joelho, uma blusa qualquer por baixo do blazer que era uns dois números maior do que o seu manequim. Os cabelos pretos sempre presos em um coque mal arrumado mesclando com aqueles óculos de leitura, e sem um grama de maquiagem.

Eu poderia dar um jeitinho nisso, umas dicas de beleza. Sabia que ela era divorciada, e como o professor Asuma era solteiro, isso iria ser demais. Bom, mas o único problema seria se ela não gostasse de homens que fumam. O professor Asuma parecia uma chaminé, ele fuma mais do que respira... bom, acho que exagerei um pouco. Ah, mas nada com que um pregador no nariz não resolvesse o problema. O fato era que eu iria ajuntar os dois e em troca minhas notas aumentariam.

Como eu sou um gênio!

Olhei para Hinata enquanto sorria confiante, ela me olhava confusa.

— Hinata, eu sou um gênio.

— Como assim? – Ela tombou a cabeça para o lado, confusa.

Nossa atenção fora desviada quando Ino passou pela gente e sentou-se em sua cadeira, atrás de mim. Ela bufava de raiva. Parece que a conversa com o Gaara não tinha sido boa.

— O que foi, Ino? - Perguntei virando meu corpo para o lado.

— Gaara é um estúpido! Eu odeio aquele garoto arrogante. Quem ele pensa que é para ficar me tratando como uma pareceira dele?

— O que foi que ele fez? - Hinata perguntou, debruçando mais o seu corpo em minha mesa, tentando se situar na fofoca.

Ino revirou os olhos e tirou seu caderno na mochila, o jogando na mesa.

— Calma, o caderno não tem culpa – comentei, observando a brutalidade que ela tratava o pobre caderno.

Ela bufou.

— Ele quer que eu vá ao jantar que a família dele está preparando para a chegada do irmão que vem do Canadá.

— E?

 E aí que ele pensa que pode mandar em mim. Ele praticamente exigiu a minha presença.

— E isso não é bom? - Perguntei, não entendendo o porquê de Ino está assim, as vezes ela agia de um jeito bem estranho. - Isso só demostra o quanto ele te ama.

— Amar? Gaara só quer mostrar para mim quem é o macho alpha.

Revirei os olhos.

— Tsc. Ino, eu não dou nem duas horas para que vocês estejam se agarrando pelos cantos.

Ela soltou uma risada sarcástica como se eu tivesse falado alguma pegadinha.

— Ah, minha querida, mas isso não vai acontecer.

Apenas revirei os olhos e vi Gaara entrar na sala com os seus amigos. Ele passou por Ino, olhou para ela com aquela cara de sempre e desviou o olhar, indo sentar-se lá no fundão.

— Viu? - Ino questionou neurótica, olhando para mim. - Ele passou por mim e me ignorou completamente.

— Mas vocês não estão brigados? - Perguntou Hinata franzindo o cenho.

— Hinata - olhei para ela -, não perca seu tempo tentando entender esses dois. Vai por mim, é mais fácil o planeta terra dançar funk do que alguma alma viva conseguir entender esses dois.

Até por que nem eu mesmo os entendia, e olha que conheço Ino desde que me entendo por gente e acho complicado as vezes entender a lógica que passa na cabeça loira dela.

— Ei, eu ainda estou aqui, sabia? - Ela empurrou meu ombro, totalmente mal-humorada.

E a voz da professora Kurenai soou, chamando a nossa atenção, ela estava de frente para o quadro.

— Alunos, todos quietos, por que hoje irei ensinar Concordância Nominal.

Era impossível não ouvir as lamúrias dos alunos com aquela chatice toda. Acho que está na hora de eu tirar uma sonequinha.

* * *

Na hora do intervalo, as meninas e eu fomos para o jardim que ficava na parte esquerda da escola. No caminho contei a elas a minha brilhante ideia de ajuntar a professora Kurenai com o professor Asuma.

— Pelo amor, Sakura, Asuma e Kurenai? - Ino sentou-se ao meu lado, me observando como se eu tivesse dito algo impossível.

— O que tem de mais? A matéria mais porre que tem é japonês e matemática. Yin Yang. Bem e mal.

Hinata e Ino trocaram olhares significativos, enquanto uma careta estava na cara de cada uma.

— Sakura, você viajou literalmente na maionese com esse assunto Yin Yang. - Disse Hinata.

— A Hinata tem razão - falou Ino. - Aqueles dois estão mais para nicotina e a destrambelhada.

E as duas riram, me fazendo revirar os olhos.

— Vão rindo, quando eu me der bem e vocês também, não se esqueçam de me agradecer.

— Desculpe, Sakura, mas é um pouco estranho, sabe? Estou aqui nessa escola apenas alguns dias, mas foi o suficiente para enxergar que o professor Asuma e a professora Kurenai é como se fosse água e óleo.

— Hinata você disse tudo agora – apoiou Ino.

— Vocês vão me ajudar ou não? - Olhei para as duas, me segurando para não perder a paciência.

— Claro né, querida. - Disse Ino fitando suas unhas. - Eu preciso me distrair.

— Também pode contar comigo, Sakura. – Hinata sorriu.

— Valeu garotas – e agora estava mais confiante com minha ideia, e já estava até trabalhando um plano para ajuntar aqueles dois.

Tenten se aproximou de repente da gente, sorrindo enquanto carregava sua máquina digital. Ela era legal e de vez enquanto passava o intervalo com a gente. Fazia parte do jornal da escola e passava a maior parte do seu tempo tirando fotos para alguma matéria a postar no dia seguinte.

— Olá, meninas - ela nos cumprimentou, parando a nossa frente.

— E aí, Tenten, alguma novidade? - Ino perguntou.

Nós estávamos sentadas na grama do jardim bem cuidado.

— Só estou tirando umas fotos para a capa do jornal da semana que vem.

— Ah.

Tenten olhou para Hinata que estava sentada ao meu lado.

— Você é a novata, não é?

— Sim, sou eu.

— Cara, você está super demais. - Tenten sorriu tirando uma foto de Hinata, pegando-a desprevenida. - Essa vai para a fofoca da semana que vem. A TRANSFORMADA.

— Obrigada, eu acho - a cara de Hinata se transformou em uma pequena careta.

— Não fique tímida - disse Tenten. - Você deve ser a garota que os meninos do terceiro ano estavam falando.

— O que eles estavam falando? – Perguntei.

— Nem queira saber. - Ela fez careta e revirou os olhos. - Eles falam umas coisas nojentas, coisas de garotos.

— Não gosto dos garotos daqui, acho eles muito crianças para mim.

— Concordo plenamente com você, Sakura. - Concordou Tenten, sentando-se de frente para Ino e ao lado de Hinata. - Eu prefiro os universitários, eles são mais... sei lá... mais homens, entende?

— Eu até ontem iria discordar de vocês duas, mas Gaara me demostra a cada dia o quanto ele é infantil.

— Garotos - nós três falamos ao mesmo tempo.

— Olá, meninas.

Erguemos nossos olhares para cima, encontrando os garotos do terceiro ano. Sasori e sua tropa.

— O que fazem aqui? - Perguntei olhando diretamente para Sasori, mas logo desviei meu olhar para seus amigos, Deidara, Utakata e Toneri... Espera!

Toneri! Sim. Ele era um cara legal, e que eu saiba, ele estava solteiro e daria um belo par com Hinatinha.

— Gente, por que vocês não posam para uma foto para o jornal? – Disse Tenten, ficando de pé. - Eu tenho que tirar fotos da galera popular para a capa da semana que vem.

— Por mim beleza. - Disse Utakata olhando diretamente para Ino.

Utakata era caidinho pela Ino, só queria ver quando Gaara souber disso. O namorado de minha amiga tinha o pavio curto e arrumava briga do nada. Gaara era tão mal-humorado que às vezes ele brigava com seu próprio reflexo no espelho. Cada doido nesse mundo.

— Por mim também – falei, e vi o sorriso se estampar na cara de Sasori.

Sasori é o capitão do time de basquete, ouvi falar que ele gosta de mim. Ele é bonitinho e tal, mas no lugar de cérebro ele tinha uma ervilha. Um idiota que só pensa com a cabeça de baixo.

Babaca.

— Então vamos todos juntos ali no chafariz. - Tenten estava animada, preparando sua câmera.

Levantei-me junto das meninas e começamos a caminhar até o chafariz. Aproximei-me de Hinata que fitavam os meninos, um pouco aérea.

— Hinata. - Ela me olhou, e sorri convencida. - Já achei o seu pretendente.

— Já? - Seus olhos arregalaram levemente. - Quem?

Cheguei mais perto dela.

— Está vendo aquele carinha de cabelos brancos?

— Sim, e ele é uma gracinha.

Sorri ainda mais.

— Ele é Toneri Ōtsutsuki do terceiro ano. É super descolado e completamente vai adorar conhecê-la.

— Será, Sakura? Ele não pareceu nenhum pouco amigável. - Senti um pouco de apreensão em sua voz.

— Relaxa, amiga, ele é assim mesmo quando conhece gente nova.

— Hm.

— Vamos, que eu vou te ajudar.

Paramos no chafariz que ficava no jardim, Ino conversava com Utakata que estava todo animado com a presença da minha amiga. Sasori parou e me fitou.

— Você vai à festa do Deidara, Sakura? Será sábado da semana que vem.

Olhei para ele que mantinha um sorriso idiota nos lábios.

— Sim, adoro as festas do Deidara.

E seu sorriso se alargou mais, e fitou Hinata que estava ao meu lado.

— Olá.

— Oi.

— Ah, antes de mais nada, essa é a Hinata, ela é nova - a apresentei. - Hinata, esse é o Sasori, aquele é Deidara, Utakata, e aquele ali - apontei - é Toneri.

— E aí, Hinata - Deidara estendeu sua mão. - Gostando da escola?

Hinata apertou sua mão, sorrindo timidamente.

— Sim, aqui é bem legal.

— Você era de onde? - Deidara era um poço de curiosidade. Lembro-me quando o conheci. Ele só faltou pedir o número do meu RG e do meu CPF.

— Eu vim da Sobu High School.

— Sobu High School? - Toneri perguntou, ele parecia um pouco interessado.

Hinata assentiu timidamente. Ai que fofo, eles estão interagindo.

— Um amigo meu estudava lá. - Toneri disse aleatoriamente, ele não tirava os olhos dela.

Own, eu acho que eu estava fazendo uma carinha de gato com aquela cena.

— Sério? - Percebi um pouco de animação em Hinata.

— Uhum. Ele levou um tiro no estômago no segundo dia de aula. Passou uma semana na UTI.

Senti minha boca escancarar e olhei para Hinata, apavorava. Nunca tinha perguntado para ela como era a sua outra escola. E pelo que eu soube agora, lá era barra pesada.

— Você nunca nos disse que estudava na Sobu High School. - Comentou Ino, ficando ao meu lado.

— Vocês nunca perguntaram - respondeu, nos fitando.

Droga, pelo jeito que Toneri estava olhando para Hinata, ele nunca iria ficar com ela.

— E como ainda está viva depois de passar por lá? - Deidara perguntou, a olhando interessado.

Hinata apenas deu de ombro.

— Ah, eu tinha uma certa “amizade” com o líder da gangue.

O quê?

Hinata tem amizade com gente da pesada? Oh Meu Deus! Quem era Hinata de verdade? Uma marginal? Um serial Killer? Ela podia ser a própria Samara de O Chamado! Será que eu seria uma fora da lei se continuasse a andar com ela? Oh! Como deve ser a sensação de ter uma fixa na polícia? Menos Sakura, acho que viajei agora.

— Que foda! - A voz de Deidara me tirou de meus devaneios internos.

— É a primeira vez que tenho amizade com um membro de uma gangue. - Utakata disse ao lado de Ino.

— Eu não faço parte de uma gangue. - Explicou Hinata.

— Mas é amiga do líder. - Sasori disse.

— Ele é meu vizinho, nós crescemos juntos, nada demais.

— Estou chocada. - Ino murmurou, ao meu lado, os olhos incrédulos.

— Nós podíamos marcar um dia para sair, o que você acha?

Desta vez quem estava incrédula era eu, olhando para Toneri. Ele acabou de chamar Hinata para sair? Mesmo sabendo que ela tinha más amizades? E todos os meninos estavam achando essa história de gangue maravilhosa? É isso mesmo?

Garotos.

Hinata mordeu o lábio e balançou a cabeça para cima e para baixo.

— Seria legal.

Vi os cantos da boca de Toneri se erguer, num pequeno sorriso.

— Gente, se vocês não perceberam, eu quero essa foto para hoje e não para daqui a uma semana.

Olhamos para Tenten que estava de braços cruzados, batendo o pé. Todos nós nos arrumamos em frente ao chafariz e tiramos as fotos. Toneri ficou ao lado de Hinata a sessão toda, com direito a um abraço de lado.

Não sei como, mas essa história de gangue tinha despertado o interesse de Toneri em Hinata. Os dois formavam um belo casal.

Ai, acho que sirvo para ser cupido.