Jason soltou um longo suspiro quando enfim chegou ao topo da escada.

Oito horas de trabalho e duas de trânsito, mais três intermináveis lances de escada - porque o maldito elevador estava em manutenção - pareciam ainda mais terrivelmente estressantes no meio de Nova York - que era apelidada de "a cidade que nunca dorme" por um motivo, afinal.

Para piorar a situação, estava em plena quarta-feira; ainda havia metade da semana para acordar cedo, encarar as filas de carros parados, suportar as horas no escritório e enfrentar aqueles malditos degraus cinzentos até o apartamento 302. Era cansativo, estressante e quase sempre o deixava à beira de um ataque de nervos, mas o alívio de voltar para casa no fim do dia compensava tudo isso.

Ele sorriu consigo mesmo ao ouvir a voz esganiçada de Bob Esponja na TV, enquanto colocava a chave na fechadura. Girou a maçaneta, e o que o esperava atrás daquela monótona porta branca fez valer todo o estresse e cansaço do dia inteiro.

Sem fazer barulho, Jason deixou as chaves e sua pasta cinza sobre a mesa ao lado da porta. Cuidadosamente, pôs o paletó sobre as costas de uma das cadeiras da mesa de jantar, e passou para a sala. O carpete abafou seus passos enquanto ele pegava o controle no chão e desligava a TV.

Então, se virou e fitou a melhor cena que havia visto desde que abrira os olhos naquela manhã: Leo estava apagado no sofá, com a cabeça escorregando de um par de travesseiros, um braço pendendo para o lado e o outro envolvendo a pequena figura que dormia tranquilamente sobre seu peito. Ambos tinham os cabelos escuros desarrumados, e haviam manchas borradas no rosto e nos braços de Leo, exatamente das mesmas cores que os potes de tinta facial espalhados pelo chão. Uma bacia de pipoca pela metade jazia aos pés do sofá.

Jason ficou parado ali, olhando sua família por uns minutos, guardando aquela imagem como uma foto mental e sorrindo com ela. Seu coração encheu-se de uma alegria tão intensa que fez desaparecer todas as outras coisas ruins que ele sentira durante o dia. Só havia espaço para as duas pessoas que ele mais amava em sua vida, deitadas ali naquele sofá. O terceiro andar de um apartamento no meio de uma cidade infernal pareceu o lugar mais calmo de todo o universo naquele instante.

Jason se aproximou dos dois e, com cuidado, tomou o garotinho de cabelos cacheados dos braços de Leo. Ele se remexeu um pouco, mas continuou adormecido, enquanto Jason o levava para seu quarto e o punha no berço. Sussurrou um "boa noite", depois de dar-lhe um beijo na testa, e deixou o quarto silenciosamente.

De volta à sala, ele passou os braços sob o corpo de seu marido e ergueu-o do sofá com tanta facilidade quanto havia feito com seu filho. A cabeça de Leo pousou em seu peito e ele se aconchegou involuntariamente ali. Jason o carregou para o quarto e o pousou delicadamente na cama de casal. Fechou as janelas, cobriu-o com um lençol fino e então se agachou ao lado da cama para observar a expressão calma que tomava o rosto de Leo quando ele dormia sentindo-se feliz. Havia até um resquício de sorriso em seus lábios ainda.

Jason afagou-o os cabelos e beijou-o suavemente para não acordá-lo. Quando se afastou, o sorriso inconsciente de Leo parecia maior.

-Boa noite - Jason murmurou novamente, antes de se levantar e sair silenciosamente do quarto.