Equilíbrio escrita por Huntress


Capítulo 1
Ninguém sai!


Notas iniciais do capítulo

Esse é o prólogo da história. Não colocarei com o nome de prólogo porque... bem... Não sei. Apenas não colocarei.
Boa leitura. Espero que apreciem sem moderações.



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Das paredes branquíssimas às lacunas ornamentadas, o local parecia perfeitamente pronto para a recepção de tamanho evento anual. A comoção de seres míticos no recinto era intensa e os murmúrios das conversas dispersas fazia o lugar parecer mais cheio do que realmente estava; eram ruídos de todos os cantos e o barulho animado da multidão de deuses e seus filhos ansiosos pelas notícias que seriam dadas com tanta formalidade.

De seu trono podia ver todos os convidados, prestando atenção aos semideuses receosos por estarem ali pela primeira vez. Para que todos tenham sido convocados, algo de muito importante deveria estar acontecendo – e, hesitantes, esqueciam rivalidades banais entre seus respectivos lares e aceitavam o medo por sua integridade em conjunto.

Seus cabelos anelados desciam por seus ombros e um sorriso calmo brindava seu rosto, embora não houvesse muita festividade em seu olhar. Os orbes cinzentos presenteavam os curiosos com uma tristeza peculiar. Sua postura continuava branda e altiva, embora, visivelmente, existisse algum problema envolvido.

A mulher respirou fundo, prevendo seu discurso e escolhendo palavra por palavra antes de se levantar e, com isso, deixar de ouvir os comentários e palavras de seus colegas, inimigos e familiares. Um novo silêncio surgiu, aumentando aquele que já estava presente dentro de si.

Um homem de cabelos negros subiu os degraus que o levavam até o altar real com passos lentos e rastejantes, como se flutuasse no ar. Postou-se ao seu lado e logo o cheiro do enxofre foi perceptível – sangue, desespero e morte compunham a mistura dos aromas que sempre o acompanhavam. Os olhos dourados exibiam a mesma melancolia anteriormente apresentada nas órbitas acinzentadas da Rainha Olimpiana. Sem exprimir uma só palavra ou exibir um só sentimento em sua expressão facial, lançou um olhar para a companheira e a incentivou a fazer suas declarações rapidamente.

“Agradeço imensamente a presença de todos aqui neste dia; peço desculpas por tê-los retirado de seus compromissos e atividades cotidianas, porém...”, Atena travou no meio de seus pensamentos. Em apenas quatro centenas de anos, muitíssimas coisas haviam mudado. Seu juramento fora descumprido e sua castidade fora eliminada da sua lista de qualidades; admitira seu amor – Amor – eterno a uma única pessoa e entregara-se por completo a este sentimento; fora coroada a Rainha do Olimpo, deixando o governo machista de seu pai para trás e recriara o conceito dos deuses gregos, atribuindo-lhes novas funções e restituindo antigas. Em quatrocentos anos, vira sua vida de cabeça para baixo: fora esquecida, excluída, banida, amada, desvirginada, reconstruída, separada, desesperada e enfim, incentivada a começar tudo novamente. E tudo isso a favor de uma só pessoa.

Mimos voltou seus olhos novamente para a multidão esperando o fim dos cochichos que haviam começado com a hesitação momentânea da deusa da sabedoria. A energia que corria como ouro por tais pareceu paralisar os conversadores, que logo voltaram suas atenções para a mulher que se postava no centro do altar.

“Porém, as notícias que trago hoje não são motivo para alegria.”, a preocupação foi crescente; os motivos para estarem ali, todos reunidos, não eram bons. Ao fim da sentença, os guardas do Salão Principal fecharam todas as saídas com um baque surdo, postando-se em bloqueio na frente das portas altas e repletas de detalhes compostos por metais preciosos.

Com um movimento de mãos, o homem de porte físico magro ao lado de Atena, aquele que se denominava Rei da Morte e deus do mimetismo, espelhos de vários tamanhos, mas de uma espessura e um material específico, surgiram ao redor da sala e acima de suas cabeças. Gritos espantados foram quebrados pela intensificação do tom da Rainha diante do desespero de todos os que presenciavam o evento.

“O Rei do Olimpo, Senhor do Sonhar, inventor da imaginação e criador da fantasia saiu a negócios faz quatro semanas. Não recebemos notícias do mesmo há três das mesmas.”, o movimento ensurdecedor da multidão, ao invés de diminuir, foi aumentando. Sabiam o que aconteceria aos humanos se algo viesse a destruir o Sonhar, reino dos sonhos despertos e do sono mortal. “Phantasos não foi encontrado por nenhum de nossos métodos – mandamos tropas procurarem-no em sua terra natal, enviamos grupos de busca para a Terra, perguntamos a familiares e não obtivemos resultado algum em nenhuma das ocasiões. Até mesmo utilizamos de chantagem para conseguirmos utilizar poderes proibidos de deuses maiores, mas não conseguimos absolutamente nada.”

Não havia como parar a movimentação desesperada das pessoas que, mesmo que não gostassem do Rei como pessoa, percebiam o que viria a acontecer se o mesmo sumisse de uma hora para a outra. O perigo de que a barreira do Inferno para os sonhos humanos fosse quebrada geraria uma comoção ainda maior de preocupações e sentimentos ruins dentro de um meio já tão preocupante quanto o deles. O pensamento nos humanos levava a acreditar que a falta dos sonhos que mantinham os homens em seus caminhos e destinos os tomaria para o pior lado de suas almas, o lado monstruoso.

Parecia haver naquele meio uma concordância na necessidade de uma busca a fundo pelo deus que tanto poder tinha, mas nunca assim fora reconhecido. Um silêncio novo, maior que todos os anteriores, apareceu com o propósito de transmitir naquela reunião de deuses, semideuses e seres míticos de quaisquer formas uma nova sensação. Uma que crescia com cada respiração e cada segundo que se passava sem encontrar nenhuma pista sobre o desaparecido.

“Estivemos vigiando os portais para o Inferno cristão, que vem de uma dimensão paralela à nossa, mas que vive ao lado do Sonhar, como todos nós conhecemos. Existem exércitos reunindo-se para acabar com a barreira que existe entre nossos diferentes mundos. Demônios piores que os nossos desejam por uma guerra não só com nossa história antiga, mas com todo o mundo. O Apocalipse está chegando e, ao contrário do que todos pensavam, não são Anjos que lutarão contra o Fim do Mundo. Seremos nós.”, a voz de Mimos ressoou ainda mais alta do que todos os murmúrios e o peso de suas palavras calou a todos, até mesmo aos mais revoltados dos deuses – afinal, todos temiam o desconhecido mundo cristão, aquele que os tirara do topo religioso do planeta Terra.

“Sabíamos que o momento de contar a vocês logo chegaria, mas esperávamos ter a companhia da nossa maior arma e nossa maior proteção quando o fizéssemos.”, foi a vez de Atena se pronunciar novamente, fazendo suas considerações finais. Seus olhos enchiam-se de lágrimas – não sabia-se se por desespero ou tristeza por ter perdido o marido de seu campo de visão e conhecimento. “Se não encontrarmos Phantasos até o início da guerra, estaremos perdidos. O mundo que tanto amamos estará acabado. E será pior que Roma, será pior que os bárbaros, será pior que o cristianismo. Será pior que toda a nossa história.”

“Ninguém sai!”, gritou um exaltado deus do mimetismo, aplicando à sua proteção de espelhos mais uma camada. Não havia como fugir – não havia como não entrar em pânico.


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Notas finais do capítulo

Foi um pouquinho trabalhoso pensar nisso e escolher as palavras certas, mas acho que me orgulho de ter escrito algo assim.
Talvez não achem tão bom, mas comentem! Quero saber a opinião de vocês. ♥



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