A pesada porta de carvalho escuro se abriu lentamente revelando um salão mal iluminado de paredes de pedra azul escura, o ar quente acariciou o rosto de Adam enquanto ele adentrava o castelo. Tentando parecer confiante, ele atravessou o recinto a passos largos, timidamente acenando a cabeça para cada um dos muitos guardas imóveis como colunas em frente às paredes, e parando logo que percebeu que sua tentativa de ser gentil estava sendo, na realidade, irritante.

Na sala para onde se dirigia, dois homens conversavam enquanto uma grande lareira ardia, embaçando as vidraças no teto alto aonde a neve caía suavemente.

“Eu tenho certeza de que essa é a decisão certa, se queremos alguém à altura da tarefa, é ele” o homem alto de nariz pronunciado se apoiou na mesa na qual o outro estava sentado “Não faça essa cara. Pelos deuses, Thomas, temos que trazer os mais jovens para cá, senão será o fim desse ministério, não vamos viver pra sempre, quem vai continuar nosso trabalho?”. O outro homem recostou-se na cadeira e cruzou os braços no peito, em evidente insatisfação, então Melmond bufou e ambos ficaram em silencio, aguardando longamente pela batida na porta.

Finalmente ela veio depois de alguns minutos, o jovem Adam se postou rigidamente na frente dos homens assim que fechou a porta.

“Ao seu serviço, senhores” ele disse de maneira nervosa, a voz oscilando e a respiração acelerada. Mas os homens perdoaram seu aparente despreparo, conheciam o histórico impecável de suas notas e desempenho nos treinamentos da academia e também pelo que ele passou antes de chegar, bem jovem, nas portas da escola preparatória.

“Sente-se, Adam” sir Thomas apontou a cadeira à sua frente, tentando parecer casual, deixar o jovem mais confortável. Melmond tirou seu braço da mesa e deu a volta na sala, parou ao lado de uma estante, passando a mão em seu bigode, observando Adam de longe. “Adam, você não precisa ficar nervoso, o Ministério reconhece seu empenho absoluto pelo bem da instituição. Por isso queremos recompensá-lo, há uma tarefa delicada que pretendemos incumbir a você, se estiver preparado, claro” ele lançou em tom de desafio.

“Qualquer coisa, senhor” Adam respondeu prontamente.

“Você deve ter ouvido falar no assassinato de um membro do Conselho de Ministros há alguns meses...”

“Sim, senhor” o assunto fora o mais comentado durante semanas nos corredores da academia entre os estudantes e até mesmo entre os professores, todos lamentavam a morte violenta de Gilian Beller, um homem bom, segundo muitos membros da escola. A revolta que pairava entre todos era palpável, ‘Então eles voltaram?’ ‘Eles não podem ter muita força, dizimamos metade da escória’ ‘Não parece que o Ministério está fazendo algo sobre isso’ eram frases ouvidas por toda a parte, longe dos ouvidos dos supervisores.

“Espero que nada que seja falado aqui hoje saia desta sala, compreendeu?” Thomas inclinou a cabeça para Adam, que confirmou com um breve aceno “Prendemos um membro dos Vermelhos e temos razões para crer que foi ela quem assassinou Beller, ainda estamos atrás do mandante, do chefe do bando”. Adam parou de respirar por alguns instantes, Os Vermelhos eram o maior e mais perigoso grupo de Seyas enfurecidos e lançavam ataques esporadicamente, todos muito violentos, contra cidadãos humanos. Nunca haviam atentado contra um ministro antes.

“Compreendo senhor, o que posso fazer para ajudar?” muitas perguntas disparavam pela cabeça de Adam, se a Seya estaria na sede do Ministério, se ela entregaria o resto do grupo, se eles têm mais ataques planejados. Uma ânsia começou a subir pelo estômago dele, Seyas o enojavam acima de tudo.

“Ah, rapaz...” ele fez uma pausa “Queremos que você a leve para a Capital para julgamento e execução. Nada mais queremos do que ver sua cabeça rolar em praça pública e assim evitar que as ameaças dos Vermelhos se concretizem” então havia novas ameaças, Adam engoliu em seco. Melmond se manifestou pela primeira vez, abrindo um sorriso de canto de boca:

“Eles vão se borrar de medo”. O rapaz se sentiu completamente impotente sentado entre aqueles dois homens, diante daquela ordem, ele sabia que era loucura um novato com nenhuma experiência em qualquer atividade no Ministério ser encarregado de fazer uma viajem tão longa sozinho com uma Seya. Todas as histórias de terror que ouvira quando criança lhe vieram à mente, causando um tremor em sua espinha. Então ele continuou parado, sem saber o que responder, ele não pode recusar isso.

“Sabíamos que podíamos contar com você” Adam então percebeu que a mão de sir Thomas estava em seu ombro, apertando-o suavemente em aprovação.