POV Katrina

A conversa com minha mãe foi estranha. Ontem ela viera até meu quarto e tivemos uma conversa sobre a Seleção. Ela me disse que deveria ser doce e gentil com todos, e chamar os rapazes de “senhores”. Não entendi bem o por quê dessa insistência mas deixei para lá. Depois que ela saiu de meu quarto me joguei na cama novamente. Eu estava com certo desconforto, que de inicio imaginei ser por causa da Seleção, mas agora eu sabia que eu estava com cólica. Maldito útero! Esparramei-me na cama e tentei encontrar uma posição confortável. Quando finalmente a encontrei e estava para cair no sono ouço três batidas em minha porta. Levanto-me e vou em direção a porta bufando. Porém, quando a abro, não havia mais nenhuma pessoa no mundo que me faria sorrir daquela maneira. Olhei descaradamente o corredor e o puxei para dentro de meu quarto logo em seguida. De início, ele pareceu um pouco tímido. Ri quando seu rosto ficou completamente vermelho e o abracei.

– Senti saudades. – ele sussurrou para mim enquanto tocava em meus cabelos.

– Eu ainda sinto. – sussurrei de volta.

– Como anda os preparativos para a Seleção? – ele me perguntou um pouco curioso demais.

– Minha mãe está cuidando de tudo. Eu não queria me envolver agora no começo, então ela tem me ajudado bastante.

– Bom saber. E os selecionados? Algum bonito?

– Você quer mesmo falar disso agora? – lhe perguntei separando-me de seus braços.

– Tem razão. Vamos só aproveitar. – disse ele me puxando para si novamente e me beijando.

– Sabe que o que estamos fazendo é proibido? Que podem te chicotear ou coisa pior se descobrirem?

– Eu sei. Mas você vale a pena o risco. – disse ele com um sorriso fraco.

– Mas eu não suportaria viver sabendo que você foi ferido por minha culpa. – me afastei de seus braços novamente. – É melhor você ir embora.

– Katrina...- ele tentou pegar em meu braço mas eu desviei.

– Agora! – gritei, sentindo uma lágrima descendo por meu rosto. Ouvi um suspiro e a chave girando na fechadura. E finalmente, o barulho da porta se fechando.

Desatei a chorar. Eu sei que não fui gentil com ele, mas já devemos nos acostumar a ficarmos...separados. Fui rapidamente para o banheiro e lavei meu rosto até as lágrimas pararem. Eu não estava me sentindo bem. Então voltei para cama e tentei dormir novamente.

Claro que eu não dormi. Passara a noite pensando em Harry e em como fui grossa com ele. Minha mente ficava dizendo que era necessário mas meu coração dizia que eu o machucara por dentro. Fiquei rolando na cama até o sol aparecer no horizonte. Já cansada de ficar deitada, levantei-me e fui tomar um banho. Quando saí do banheiro fui em direção closet. Sequei meu corpo e comecei a escolher uma roupa. Decidi-me por um vestido florido que caia até o joelho e uma Anabela de salto baixo. Minhas criadas, Beatrice, Lily e Úrsula, entraram no quarto e espantaram eu já estar acordada.

– Caiu da cama Kat? – perguntou-me Lily.

– Não. Apenas dormi muito mal esta noite e acabei acordando cedo.

As três concordaram com a cabeça e apontaram minha penteadeira. Lily sempre cuidava de meus cabelos, e hoje ela decidiu por fazer um rabo de cavalo alto. Notei o quão cumprido estava meu cabelo e logo botei em minha cabeça que eu necessitava cortá-lo. Após terminar de arrumar meu cabelo, Lily permitiu-me sair da penteadeira. Eu não tinha nada para fazer, mas não queria ficar perambulando pelo palácio e acabar dando de cara com Harry. Decidi ir ao jardim, o local onde mais me sentia livre. Após a reforma no palácio, o jardim também mudara. De um belo campo repleto de flores a um magnífico labirinto. Sem hesitar, aproximei-me da entrada do labirinto, fechei meus olhos e comecei a correr para dentro dele desgovernadamente. Até que finalmente esbarrei em uma videira. Eu ria de minha infantilidade, mas eu adorava fazer isso. Acabou que fui para uma área que eu não me lembrava. Olhei um pouco a volta e sorri sabendo que demoraria muito para encontrar a saída. Fui por vários caminhos, mas nunca encontrava a saída. O sol já estava alto, provavelmente era perto de meio dia. Quando notei uma espécie de clareira próxima a mim corri até o local. E para meu espanto, eu acabei no meio do labirinto. Até que era um local bem aconchegante. Uma fonte gigantes fazia águas cristalinas dançarem entre peixes e flores feitos de pedra, várias roseiras exalavam um aroma doce porém forte ao mesmo tempo, a cobertura feita de videiras deixava o local com muita sombra, e mais ao fundo três bancos de pedra completavam a decoração. Não me aguentando, corri até a fonte e molhei o rosto com a água gelada. Revigorante. O melhor era que a partir de agora eu sabia o caminho. Sorri comigo mesma e comecei a caminhar. Ao sair do labirinto, logo notei que estava encrencada. Meus pais estavam mais ao longe conversando com o chefe da guarda real, com expressões preocupadas nas faces. Corri até eles, assustando-os por não terem me notado antes.

– O que houve? – perguntei a minha mãe.

– Onde a senhorita estava? – ela me perguntou abismada.

– Dentro do labirinto. – disse um pouco mais baixo.

– Ah, filha. Você sabe que ficamos preocupados quando você some por muito tempo. Avise-nos da próxima vez, sim? – ela me disse, tocando em meus cabelos e suspirando. Meu pai apenas observava a cena.

– Tudo bem. – respondi abaixando minha cabeça.

– Deve estar com fome.

– Na verdade não. Estou cansada, quero ir ao meu quarto.

– Que tal um SPA? Será melhor para você que ficou tanto tempo andando neste sol. – disse ela animadamente.

– Tudo bem. Com licença. – pedi e me retirei em direção ao SPA.

Era incrível o quanto meus pais queriam controlar minha vida. Até parece que eu não sei me cuidar sozinha. Não fiz aulas de autodefesa desde criança para ficar dançando feito uma bocó. Ao chegar ao SPA, pedi um pacote completo, com manicure, pedi cure, massagens,banho de lama, tratamento de pele, e tudo mais. Agora eu só queria relaxar, afinal, logo teria setenta pessoas para me estressar.