POV Katrina

Acordei com o doce som de meu despertador, que eu ajustara para uma hora mais cedo que o normal. Minhas damas não estavam comigo e agradeci mentalmente, ás vezes você só quer se arrumar e escolher sua roupa por si próprio, sem ninguém pra te dizer o que fazer e o que vestir. Levantei graciosamente de minha cama e andei até meu banheiro. Fiz minha higiene matinal e minhas necessidades. Abri a torneira de água quente da banheira e a enchi de sais de banho. Assim que ela estava cheia suficiente, tirei o fino tecido de seda que usava como camisola e entrei na banheira, relaxando o corpo completamente assim que todas as extremidades da minha pele foram encobertas pela água quente e cheirosa. Demorei cerca de quinze minutos na banheira e meu corpo reclamou assim que entrou em contato com o ar frio. Me cobri com o roupão e fui a meu closet. Hoje era sábado e em todos os sábados eu adorava seguir com que minha mãe "pregava". Usar calças. Passei pela seção de vestidos e parei onde estava minhas calças. Escolhi uma calça jeans branca e uma regata azul marinho bem simples. Peguei um casaco rosado de cashmere e coloquei um tênis All Star vermelho. Acha que princesas não usam All Star? Bem, eu sempre usei e admito que amo!

Saí do closet na hora em que minhas damas entraram.

– Oh! Vossa Alteza já está acordada? E arrumada? - disse Úrsula.

– Quase arrumada, mas basicamente, sim. - disse com um sorriso.

– Podemos fazer seu cabelo e sua maquiagem.

– Não, por favor, eu insisto em fazer hoje. -disse, pegando nas mãos de Úrsula para enfatizar meu pedido.

– Tudo bem, Alteza. Quer que nos retiremos?

– Se puderem, eu agradeceria.

–Sim Alteza.

Assim que as três saíram respirei fundo e me sentei em minha penteadeira. Escovei meus cabelos, que nem estavam tão rebeldes como de costume, e os prendi em um rabo de cavalo alto. Passei um batom vermelho e depois tirei um pouco para não ficar muito forte. Passei máscara preta nos cílios e passei um blush rosado. Nunca gostei muito de usar sombra, então deixei de lado. Decidi que falaria com minha mãe, eu tinha alguns assuntos para resolver com ela. Saí de meu quarto e dei de cara com Harry. Me assustei um pouco e assim que me notou ele apenas me reverenciou e me desejou bom dia.

– Por que está aqui? - perguntei.

– Exigências do rei. Cada quarto deve conter um guarda.

– Meu pai está paranoico desde o último ataque. - comentei, colocando minha mão na cabeça.

– Ou talvez só esteja preocupado. - disse Harry.

Concordei com a cabeça e comecei a andar em direção ao quarto de meus pais. Bati na porta e ouvi a voz de minha mãe me pedindo para entrar. A cama estava desarrumada, mas apenas de um lado. Não vi qualquer sinal de minha mãe então fui para o banheiro. E lá estava ela, secando seus cabelos avermelhados com uma toalha.

– Bom dia querida. - disse-me com um sorriso.

– Papai não dormiu aqui? - perguntei, me encostando na batente da porta.

– Não, ele passou a noite no escritório resolvendo algumas coisas daquela garota que desmaiou ontem.

– Quem desmaiou ontem? - perguntei desentendida.

– Onde você estava, por falar nisso? Sua tia quer ver você e seu irmão.

– Eu estava... - parei minha frase no meio. Estava com Madison, mas nossa conversa de ontem tomou rumos que eu não havia previsto e eu acabei a noite trancada em meu quarto, lendo livros que eu deixara de lado a quase um mês, desde o início da Seleção. - Isso não importa. Enfim, quem desmaiou?

– Uma das selecionadas do seu irmão, Sophie se me lembro bem. Eu estava perto e vi tudo, inclusive fui até a ala hospitalar ontem e acho que em poucas horas ela sairá de lá.

– E você sabe por que ela desmaiou?

Ela se virou pra mim, com um olhar de...pena.

–Bem...é muito complicado. Se não me disse a verdade, mas eu, sua tia e uma selecionada a descobrimos. - ela se aproximou de mim e tocou em meu rosto - Ela não disse a mim querida, então não posso dizer a você e muito menos a seu irmão.

– Por que não?

– Esta história é dela e creio que com o tempo vocês descobrirão. - disse, indo em direção a seu closet.

Que coisa tão terrível poderia ser essa para minha mãe não me contar? Me despedi dela e sai de seu quarto determinada a encontrar Ethan, não antes de ver minha tia, já que tinha prometido a minha mãe. Passei por meu quarto e perguntei a Harry se ele sabia onde era o quarto de minha tia. Assim que ele respondeu, andei até a porta do quarto e bati algumas vezes. Um homem alto e bonito abriu a porta.

– Ahn...bom dia. - disse sem jeito.

– Senhorita o que está fazendo aqui? - perguntou o homem.

– Perdão?

– Não é uma das selecionadas do meu sobrinho? - disse e naquele momento eu percebi quem ele era. Tio James, marido de tia Kenna.

– Não tio, sou eu, Katrina. - disse sorrindo.

– Katrina? - disse meu tio, sorrindo e me abraçando logo depois.

– É um prazer vê-lo!

– Digo o mesmo. - disse, me soltando de seu abraço quente e acolhedor.

– Onde estão minha tia e minha prima? - perguntei ansiosamente.

– Ah querida, elas saíram. Acho que estão no jardim ou na biblioteca, sua tia tem estado um pouco...avoada. - disse, com um olhar tristonho.

– Ah, então eu vou procurá-las. - conclui sorrindo.

– Nos vemos no café da manhã? - perguntou.

– No café. - concordei.

Ele fechou a porta e eu suspirei aliviada. Desci o primeiro lance de escadas e parei no andar dos selecionados. Por que as escadas eram longe uma das outras? Enquanto cruzava o largo corredor, ouvindo umas risadinhas e em seguida uma porta se abrindo.

– Nos vemos no café da manhã. - disse Malcolm, saindo do quarto de uma selecionada.

– Mas é claro Alteza. - disse uma voz feminina de dentro do quarto.

O guarda que estava na porta parecia suar frio, não sabendo o que fazer. Assim que a porta se fechou peguei no colarinho de meu irmão e o puxei junto comigo. Ele se assustou com minha aparição. Eu sabia que os últimos quartos estavam desocupados então fui até um deles, abri a porta e o joguei na cama.

– O que raios você fazia a essa hora da manhã dentro do quarto de uma selecionada? - perguntei extremamente irritada.

– E...e o que você faz acordada a essa hora? - tentou se esquivar.

– Não mude de assunto! O que você está fazendo Malcolm? Está louco?

– Sim, louco de amor. - disse se jogando na cama novamente e sorrindo como um bobo.

– Seu idiota! E se seu irmão gostar da garota? O que vai fazer?

– Melhor pra nós! Assim ela ficará mais tempo no palácio comigo.

Me aproximei dele e puxei seu colarinho de novo, fazendo seu rosto ficar a centímetros do meu.

– Acha que isso aqui é uma brincadeira? Se alguém descobrir e deletar vocês dois a papai ou Ethan vocês serão julgados de traição e serão açoitados.

– Papai mudou essa lei. - disse, engolindo seco.

– Não, não mudou. - confirmei cerrando os dentes.

– Ele não faria isso comigo.

– Mas Ethan faria. Você sabe como ele é possessivo, principalmente com as selecionadas. Ele não evitaria em levantar a mão para chicotearem vocês.

– Mas eu a amo! - gritou.

Levantei minha mão e acertei seu rosto. Minha mão ardia com o impacto e vi meu irmão ficar desnorteado com o tapa.

– Você é doida? - ele correu até o espelho e se virou, vendo a marca de meus dedos em seu rosto - Olha o que você fez comigo?

– E se você não parar vai ser pior, irmão. - disse, mais calma dessa vez. - Não quero que você se machuque e muito menos a garota.

Ele se virou para mim e vi seus lábios se abrirem e se fecharem várias vezes, até que ele finalmente falou.

– Estou disposto a correr o risco. - disse, com o queixo travado com o medo e a certeza de suas palavras. - Virei meu rosto para não ter que olhar mais pra ele.

– Será considerado um traidor dentro da família e não receberá o perdão.

– Mas você pode...

– Eu não vou impedir Ethan e muito menos te livrar depois de te avisar. Deixa de ser burro e pare.

– Não posso. - disse, andando até perto da cama e sentando na mesma - Não posso mais.

– Quem é a garota? Quantos anos tem?

– Não vai delatá-la, vai? - disse, senti o desespero em sua voz.

– Eu deveria, mas não vou.

– Roxie, ela tem quinze.

– A mesma idade que você. - constatei.

– Sim. - disse, e olhei pra ele.

– Olhe pra mim. - pedi e ele subiu seu olhar até meus olhos - Se não parar nunca mais o verei como meu irmãozinho. Pense no que está fazendo. Não estará destruindo só sua vida, mas a dela também! Use um pouco da inteligência que o resta e não faça merda, Malcolm! Te dou dois dias. Pense e fale com ela a respeito. Depois venha até mim e tome muito cuidado com o que vai dizer, - disse, me movendo e girando a maçaneta da porta - pois pode mudar tudo para mim e para você também.

E com essas palavras saí do quarto, que já estava cheio de ódio e arrependimento, tanto por mim quanto por ele. Acho que foi o primeiro palavrão que usei em anos. Se eles não respeitam a Katrina santinha, agora vão ouvir, e muito, a Katrina verdadeira.