POV Katrina

Sinto saudades de quando eu era criança. Nunca tive tantas preocupações como tenho hoje, por mais de, como meu irmão disse, sejam besteiras, mas eu não consigo. Acho que se eu parar de pensar, ficarei louca. Mais do que já estou. Por fim, decido parar. Só...parar. Já é noite e amanhã voltaremos á nossa “rotina” da Seleção. Tia Nicoletta só iria em alguns dias então poderíamos ver como os selecionados reagem á presença dela e de tio Alissio. Cansada, tanto fisicamente quanto mentalmente, me dispo do vestido leve que passara o dia e entro rapidamente no chuveiro. A água quente adormece e relaxa meus músculos, o que me deixa maravilhada. Termino meu banho, seco-me e vou em direção ao closet. Escolho uma lingerie branca básica e uma camisola de seda cor de rosa. Visto tudo quase desmaiando de cansaço. Ando á passos pesados até minha cama e desabo nela. Arrasto-me para dentro dos cobertores e ajeito-me em meu travesseiro. Acho que em segundos adormeço, pensando no dia de amanhã, algo que eu devo me desacostumar a fazer.

Sou acordada por um estrondo. Estou suando frio com o susto que levei e pulo da cama o mais rápido que posso. Uma sirene toca e eu sei o que está acontecendo. Busco meu roupão em meu banheiro, visto-o e saio no corredor. Já está de manhã, então tudo está muito claro, porém sombrio. Ethan sai de seu quarto na mesma hora que eu. Olhamo-nos e sabemos o que devemos fazer.

Adentro o quarto de Amberly, minha pobre irmãzinha, que á esse ponto já está aos prantos. Pego-a em meu colo e corro em direção ao corredor. Ethan está ao lado de Malcolm, todos estamos extremamente aflitos com as sirenes, e juntos corremos em direção ao quarto de nossos pais. Ethan abre a porta da maneira menos delicada possível, mas a ocasião pede medidas desesperadas. Minha mãe estava terminado de colocar seu roupão ás pressas e meu pai estava abrindo a passagem secreta. Ethan puxou Malcolm para dentro da passagem assim que ela foi aberta e meu pai puxou a mim e a minha mãe. Assim que atravessamos o portal da passagem ela se fechou, fazendo um barulho aterrorizante. Minha mãe pegou em Amberly em meu colo e eu passei para ela. Sem o peso extra, me apressei e assim cheguei em um pátio. Ethan e Malcolm estavam sentados em seus tronos, descansando. Ambos estavam bem. Sentei no chão, sentindo uma dor no peito e uma grande falta de ar. Meu pai percebeu minha situação angustiante, ele levantou-me e me conduziu até meu trono, ajudando-me a sentar e relaxar um pouco.

Imediatamente meus pensamentos mudam e começo á pensar nas pessoas. Os selecionados, minhas damas, todo o pessoal do palácio. Felizmente, para minha calmaria, neste exato instante homens e mulheres adentram o local. Procuro por minhas damas e assim que as vejo corro até elas. Tropeço em mim mesma no meio do caminho, por conta do choque de pouco tempo atrás, mas não deixo isso me impedir. Abraçamo-nos em um abraço coletivo. Todas estamos aliviadas por vermos nossas faces, mas não podemos sorrir. O momento ainda é de tensão. Antes que eu perceba, o pátio já está repleto de pessoas. Até que meu pai assovia de uma maneira alta e estridente, chamando a atenção de todos.

– Eu sei que todos estão assustados, mas peço que não entrem em pânico, isso poderia piorar a situação. Por favor, sentem-se e acomodem-se da melhor maneira possível. Em breve isso tudo acabará e todos voltaremos á nossos respectivos quartos, mas por hora devemos aguardar. – diz, retirando fôlego de algum lugar dentro de si. Após isso, os murmúrios diminuíram a intensidade.

Peço licença ás minhas damas e junto-me a minha família. Amberly permanece no colo de minha mãe, mas mais calma agora, quase adormecida eu diria. Minha mãe balança-se para frente e para trás para ninar Amberly. Eu passo minha mão em suas costas e ela me retribui com um sorriso Meu pai está conversando com o pai de Harry, Carter, um dos comandantes de nosso exército. Me aproximo deles para ouvir o que estão dizendo.

– Praticamente todos os selecionados estão aqui. Cerca de dez guardas se localizam aqui dentro para todos os casos. Para essa quantidade de gente acho que temos suprimentos para cerca de cinco dias, mas oremos para que isso dure menos.

– Sim, prossiga. – pediu meu pai. Ele e Carter são grandes amigos hoje em dia. Eu não vejo a família de Harry com frequência, mas meus pais sim. Minha mãe por ser a melhor amiga da mãe de Harry, Marlee e meu pai por sempre ter que se manter informado a partir de seus generais, além de que eles são amigos também.

Nesse momento me ocorre um pensamento. Vejo Harry do outro lado do pátio, mas ele está inquieto. Parece estar procurando alguém. Então me toco do que está acontecendo.

– Tio Carter. – digo antes que ele comece a falar novamente.

– Sim? – ele diz, com um pequeno sorriso ousando vir em seus lábios. Acho que ele gosta que eu o chame de tio.

– Onde está tia Marlee? Vejo Harry mas não a vejo. – e nesse momento, seu sorriso cai.

Ele procura por sua esposa por ali, assim como meu pai, mas é inútil.

– Maxon, ainda tem um portão aberto. Eu preciso...

– Carter, não posso permitir que vá. – meu pai insiste.

– E eu não posso abandoná-la. – diz Carter. Meu pai parece ponderar por alguns segundos, até que solta um longo suspiro.

– Não quero perder duas pessoas importantes esta manhã. – pede.

– E não irá.

E com isso Carter corre em direção á uma das cinco entradas para aquele lugar. Ele está lutando contra a racional e empírico, só para salvar seu amor. É homens como ele que admiro até o fundo de minha alma.

– Como notou que ela não estava aqui? – meu pai me pergunta.

– Revistei este lugar com meus olhos e vi Harry extremamente inquieto, procurando por alguém. Então somei dois mais dois e avisei tio Carter. – concluí. Ele parece bobo. Na verdade parece impressionado.

– Que raciocínio...rápido.

– Ahn...obrigado. – agradeço.

Decido que tenho que ver como estão os selecionados. Caminho até o meio do pátio e olho para alguns. Algumas moças trouxeram suas damas assim como alguns rapazes trouxeram suas auxiliares. As demais devem estar no alvoroço lá em cima. Cumprimento alguns rapazes perguntando se eles estão bem e paro em alguns para falar algo mais. Mas no meio de uma conversa, noto um certo desespero do lado oposto em que estou. Corro até lá, assim como Ethan estava checando os selecionados como eu. Quatro meninas estão juntas. Duas estão sentadas, uma em pé e a outra ajoelhada. Uma das meninas sentadas, uma loira, chora e a que está em pé afaga seu cabelo na tentativa de ajuda-la. As outras duas, a que estava sentada e a que estava ajoelhada, estão abraçadas, uma consolando a outra com palavras em um tom extremamente baixo.

– O que aconteceu, Sophie? – Ethan pergunta á menina com cabelos castanhos ajoelhada e abraçada á uma menina....albina. E a menina que está em pé tem o cabelo com diversas cores, emo, como Ethan diz. Eu conheço essas meninas. Conheço de tanto que ele já me falou seus nomes. Sophie, Kaitlin, Veronica e Dorothy.

– É Julia, ela não está aqui. – disse Sophie, a menina de cabelos castanhos.

Ethan pareceu aflito. Eu sabia que a sua vontade era de fazer o que Carter fizera, voltar lá para cima para buscar alguém. Mas ele sabe que não pode. Não pode por ser príncipe, por não ter treinamento e por que nossos pais o matariam antes de ele subir dois degraus da escada. Infelizmente, só o que nos resta agora é aguardar.