Karina foi a primeira a acordar, estranhou ao ver Pedro dormindo em seu ombro e mexeu para acorda-lo.

–Acordei, acordei -falou ainda sonolento, levantou a cabeça mais voltou a deita-la- Só mais cinco minutinhos mãe, cinco...

–Que mãe o que moleque? -mexeu seu ombro de novo- Folgado -ela pegou o livro salva-vidas e começou a ler

Ele acordou assustado e passou a mão no rosto, olhou para os lados meio perdido e se lembrou de onde estava. Karina e Lucas estavam ao seu lado, ela estava lendo e ele dormindo.

–Será que estamos chegando? -perguntou bocejando e olhando pela janela

–Não sei -respondeu sem tirar os olhos do livro

Ele olhou para Lucas e sorrindo acariciou seu rostinho. K estava perdida na leitura mais voltou a realidade quando o co-piloto avisou que já estavam em solo brasileiro e logo pousaram, nesse momento seus encontraram os de Pedro e ambos pensaram na mesma coisa. Voltar para o Rio significava mais para ela do que para ele por que depois que saiu do país nunca mais voltou.

A viagem foi longa e tranquila, Lucas acordou pouco antes de pousarem. Desembarcaram ao meio dia, ela e Lucas desceram primeiro do avião e Pedro em seguida com as malas. Ao pisarem no chão do aeroporto Santos Drummond eles sabiam que suas vidas seriam diferentes, foram para a área de desembarque e se decepcionaram por não ter ninguém para recebe-los, o jeito foi pegar um táxi e ir embora. A partir do momento que entraram no táxi sabiam que suas vidas seriam diferentes, todos os seus planos seriam desfeitos, não haveria mais Karina e Pedro agora era eles, no plural. Uma nova vida para ambos e teriam que encaixa-las juntas. Eram uma família formada pelo acaso e mesmo não estando preparados não fugiriam da responsabilidade.

O taxista parou em frente a casa que seria deles e eles desceram, Karina se surpreendeu com a casa, era grande e bonita, nunca tinha ido visitar a amiga no novo lar, só conhecia mesmo por foto.

–É essa? -perguntou

–É sim -Pedro responde tirando as malas do carro

–Olha Luquinhas, tamo em casa -falou mostrando a casa para o bebê

–Seja bem vindo ao seu lar -disse se aproximando deles e pegando na mãozinha de Lucas

Ficaram olhando para casa por um tempo e brincando com Lucas enquanto esperavam pelo advogado. Ele já estava na cidade e queria encontra-los assim que chegassem pois ainda tinham muito o que conversar e ele tinha as chaves da casa.

–Karina, Pedro -disse o advogado que acabará de chegar e se aproximava deles- Que bom que já chegaram. Tudo bem? -perguntou apertando suas mãos

–Tudo -responderam

–Vamos entrar? -eles concordaram e foram até a porta- Como foi a viagem?-perguntou enquanto destrancava e abria a aporta

–Tranquila -Pedro respondeu

Eles entraram na frente e Karina se surpreendeu ainda mais com o interior da casa. O advogado os conduziu para a cozinha, Pedro deixou as malas no chão da sala e foi com eles.

–Vamos ao que interessa -disse o advogado se sentando de frente pra eles- Primeiramente quero lhes dar as boas vindas ao seu novo lar e que o velório do Leonardo e da Fabiana é hoje ás 16h na casa dos tios dela, levem o Lucas quando forem pois os familiares querem vê-los -eles assentiram- A audiência de vocês tá marcada pra quinta-feira ás 13H, com vocês morando aqui será mais fácil, uma cláusula a menos no testamento que foi respeitada. Só faltará mesmo o casamento pois como eu já disse o juiz vai querer ver a certidão de casamento

–Como vamos nos casar antes de quinta? O nosso casamento tava marcado pro final do ano, lá em Nova York -Pedro falou trocando olhares com Karina que estava preocupada

–Na igreja? -Caio perguntou

–De véu e grinalda, como ela sempre sonhou -Pedro respondeu

–Esse é o sonho de qualquer mulher mais como temos pouco tempo eu sugiro que se casem no cartório. É rápido, simples e nem vai atrapalhar o plano de vocês de se casarem na igreja

–É uma boa sugestão mais como faremos isso antes de quinta, se temos apenas cinco dias para isso?

–Eu posso ajudar vocês se concordarem -Karina concordou sem pestanejar e Pedro ficou surpreso mais aceitou também- Então não se preocupem com isso.

–Ok! -Pedro disse mais tinha uma dúvida - Digamos que o juiz nos conceda a guarda do Lucas, o que acontecerá depois? Ele será definitivamente nosso?

–Não será tão fácil assim Pedro, eles mandaram uma assistente social vir vê-los várias vezes durante alguns meses para saber como estão criando o Lucas e se são realmente capazes pra tamanha responsabilidade. Tudo vai depender da aprovação dela, se sim ele é de vocês e se não...

–Se não? -Karina perguntou preocupada

–Ele irá para os Dias e se eles não quiserem ficar com o menino ele irá para um orfanato

–Isso nunca -Karina tremeu só de imaginar

–Então precisam provar que são os melhores pra ele mais mudando de assunto agora vem as despesas, os bens deles irão cobrir a hipoteca da casa mais é só isso. Eles não tinham muita coisa então as contas da casa ficaram pra vocês, tudo bem?

–Tudo -Pedro respondeu- Mais alguma coisa?

–É só isso por enquanto, eu quero dar as boas vindas e lhe desejar sorte nessa nova vida. Cuidem bem desse meninão e tudo de bom pra vocês

–Obrigado

–Então nos vemos no velório e quinta -disse se levantando e saindo- Tchau -apertou suas mãos

–Tchau -responderam

Eles o acompanharam até a porta e depois que ele foi embora desabaram no sofá, cada um pensando em alguma coisa. Karina olhava curiosa todos os cantos da casa: Era enorme, ladrilhada, branca, toda organizada e cheia de fotos da família espalhada, bem a cara da Fabi e de dois andares, no primeiro ficava a sala, a cozinha e o banheiro; no segundo os quartos. Também era totalmente a prova de crianças e tinha fotos deles espalhados pela casa toda.

Karina foi pra cozinha fazer o almoço e Pedro ficou com Lucas na sala, brincando com o menino viu o quanto se parecia com seu pai. A maior preocupação deles era se seriam capazes de cuidar de outra vida além das deles pois desde que estavam com Lucas não souberam o que fazer e o que os salvou foi um livro, aquilo era muita responsabilidade para dois jovens com o mundo todo pela frente.

Ela terminou o almoço e os chamou para comer, primeiro tratou de Lucas e depois comeu com Pedro. Na mesa eles conversaram sobre as despesas que o advogado havia citado e decidiram que teriam que trabalhar para sustentarem a casa e eles, depois de comerem Pedro a ajudou com a louça. Foram para a sala assistir TV e alguns minutos depois Pedro começou a sentir um cheiro estranho.

–Tá sentindo esse cheiro?

–Que cheiro?

–Esse cheiro -saiu procurando até chegar em Lucas- É ele

–Talvez ele tenha feito cocô

–Talvez -ironizou pegando ele e entregando a Karina- Tem um banheiro no quarto do Lucas próprio pra isso, boa sorte

–Nem pensar bonitinho, pode subir comigo

Eles subira as escadas e entraram no quarto, ela tirou a roupa dele e o deitou no fraldário.

–Que cheiro forte -Pedro comentou

–Muito

–E agora?

–Agora tem que troca-lo né?

–Como eu disse antes boa sorte

–E como eu disse antes nem pensar bonitinho, eu já fiz muito isso agora é sua vez

–Mais eu não sei

–Aprende afinal eu não vou cuidar dele sozinha

–Mais...

–Sem mais Pedro

–Tá. Não deve ser tão difícil assim, né? -ela deu de ombros

Ele só enrolou pra começar.

–É pra hoje sabia? -ironizou

–Eu sei mais paciência, pra você que já tá acostumada é fácil mais pra mim isso complicado

–Complicado Pedro?

–Muito, isso devia vir com instruções

–Instruções? Jura? -ela não tinha ouvido aquilo

Ele não sabia o que fazer e nem por onde começar, nunca tinha feito aquilo e sua expressão de nojo e ânsia de vomito quando finalmente conseguiu abrir a fralda foi hilária para Karina. O coitado penou muito e ela resolveu ajuda-lo, instruindo-o mais mesmo assim foi complicado para ele, que fazia uma bagunça maior do que já tava. Pedro estava quase pedindo água quando foi salvo pela campainha.

–Deixa que eu atendo -falou assim que ouviu o barulho vazando pra sala deixando pra Karina o seu serviço

–PEDRO! -ela ficou indignada com aquilo

Ele desceu as escadas e abriu a porta, era seu amigo João e a namorada dele Pri, ambos estavam de preto. Ele usava uma roupa básica e ela um vestido longo.

–Johnny boy -abraçou o amigo feliz em vê-lo- Quanto tempo?

–Só alguns anos, nada demais -ironizou e exibiu Pri- Essa é a minha namorada, sei que vocês não precisam de apresentações porque já se conhecem de outros carnavais mais vamos fingir que é a primeira vez que se veem. Então Pedro essa é a minha vida; minha vida esse é o Pedro meu amigo

–Oi Pri -ele abraçou ela

–Oi Pê

–Que intimidade toda é essa? -ficou com ciúmes - Pra você é Priscilla -olhou para o amigo sério- E pra você é Pedro - olhou para a namorada- E não Pri e Pê, só eu posso te chamar assim, só eu -falou de novo para o amigo

–Não tá mais aqui quem falou -brincou

–Mais é ciumento -ela disse abraçando e beijando o rosto do namorado- Não precisa disso

–É cara, a gente é só amigo

–É -ela concordou- Escuta Pedro, a K tá ai?

–No quarto do Lucas, sabe onde é?

–Sei sim

–Vai lá então

–Já volto ciumentinho -deu um selinho em João- Licença Pedro

–Toda -ele ficou vendo ela subir e João não gostou

–Aí será que dá pra parar de secar minha namorada, eu ainda tô aqui se esqueceu ?

–Ciumento nível mil, você hein?

–Isso é precaução

–Sei. Te conheço faz tempo Johnny e você sempre foi ciumento

–Tanto faz mais vem cá será que dá pra eu entrar também ou o convite é exclusivo?

–Entra -ele riu

Eles foram sentar no sofá mais antes Pedro foi pegar duas cervejas para beberem.

–Cê vai beber? -João perguntou espantado

–E por que não?

–Por que nosso melhor amigo será enterrado hoje, é errado cara

–Eu só tô fazendo o que o Léo gostaria que eu fizesse

–Que é?

–Viver a vida meu amigo, a gente conhecia o Léo há anos e sabemos que ele não queria ninguém sofrendo por ele e eu também não quero quando chegar meu dia. É lamentável o que aconteceu com eles mais infelizmente a vida é assim e temos que aceitar. É um dia triste mais ficar chorando pelos cantos e culpando a Deus não vai adiantar em nada, acredite eu tentei. Não é culpa dele e de ninguém, o Léo sempre disse que queria que nesse dia estivéssemos felizes por ele e eu estou

–Você tem razão no que diz mais beber já é um pouco demais, não acha?

–Quer saber você tem razão

Ele voltou a cozinha e guardou as geladas depois foi para a sala e disse decepcionado ao amigo se sentando ao seu lado

–Pô, que decepção hein amigo? Tava crente que você ia tá no aeroporto pra nos receber mais nem sombra de você

–Foi mal cara mais eu tava ocupadaço e perdi a hora

–É, legal da sua parte se esquecer dos amigos

–Olha quem fala! Cinco anos fora e quando você pensou em ligar ou escrever para dar notícias suas?

–E desde quando tu lê carta?

–Desde nunca mais pelo menos eu ia ter alguma noção de como você tava

–Foi mal também mais eu andava muito ocupado com os shows e tudo o mais

–E agora que não tá mais tão famoso e nem nada se lembrou dos amigos?

–Tá eu mereço, mandei malzaço

–É mais mudando de assunto -ele coçou a cabeça- Quem diria você e a esquentadinha juntos novamente

–Loucura né?

–Que nada, isso é o destino meu caro

–Que destino? -revirou os olhos- Não viaja cara, isso é no mínimo o acaso

–Acaso? -ele olhou serio para o amigo- Você já ouviu dizer que nada acontece por acaso nessa vida ? Tudo tem um propósito. Só falta você descobrir o seu

–Ih! Tá muito romântico hein, anda tomando o que? -brincou rindo

–Pode rir mais isso é um fato e tô mesmo, é o amor que me contagiou e só tomo minha dose diária de Pri

Pedro achou engraçado ver o amigo tão apaixonado mais não se imaginou no lugar dele, não tinha como ele e Karina terem um final feliz juntos sendo tão diferentes. Eles ficaram conversando sobre vário assuntos na sala enquanto as meninas se falavam no quarto.

Karina tinha acabado de limpar Lucas e estava ponhando roupa nele quando ouviu baterem na porta.

–Posso entrar?

–Pri? -ela ficou feliz em rever a amiga- Entra

–Que saudades k! -abraçou a amiga- Como você tá?

–Bem e você?

–Também -olhou para Lucas- E como tá essa coisa gostosa? -se aproximou e o pegou no colo- Que saudades de você também

–Ele tá bem mais o que você tá fazendo aqui?

–A gente veio se redimir por não ter ido ao aeroporto

–A gente?

–Eu e o João, meu namorado e vou logo dizendo que a culpa foi dele

–Mentira? Você e aquele nerd juntos?

–Ele não é nerd, não mais porém é uma longa história para outro dia. Nós vamos com vocês ao velório

Elas ficaram conversando sobre várias coisas também até sobre a relação de Karina com Pedro e assim como João, Pri acreditava que os dois estavam predestinados um ao outro mais assim como Pedro, Karina não via futuro nessa história. Depois foram se juntar aos meninos na sala e Lucas não saia do colo da Pri.
Ficaram a tarde toda conversando relembrando o passado e dos amigos, entre um papo e outro eis que surge uma oportunidade de emprego para Karina e Pedro. Ela trabalharia como garçonete de segunda a sábado na parte da manhã no CyberCafé, uma cafeteria LAN house que era do João e da Pri; Ele trabalharia como professor de música na Ribalta sua antiga escola, seria de segunda a sexta dás 13h ás 18h. Começariam já na segunda.

O papo estava tão bom e descontraído que eles nem viram a hora passar e quando perceberam já era 16H. Karina usava um vestido básico e discreto, Pedro uma roupa básica como João e Lucas igualmente, todos usavam preto. Antes de saírem ele pegou seu violão e ela uma rosa branca que tinha em cima da mesinha de sala. Depois foram todos ao velório.