Pobre papai, não imaginaria nem em mil anos que eu estaria dirigindo seu impala levando no banco da frente uma garota morta, quer dizer não literalmente. Bradley estava com os cabelos pretos, amarrados em uma fita qualquer o capuz já não estava em sua cabeça e ela comia, de forma selvagem as rosquinhas que estavam na sacola. Não, eu não poderia deixa-la passar fome. Além do corte na boca e a palidez, ela parecia muito magra, um tipo de magreza preocupante, apenas o óculos continuava em seu rosto.

Alternava meus olhares da estrada para a garota ao meu lado, além do mais não é todo o dia que se vê uma garota que estava declarada morta... bem, viva ao meu lado pedindo ajuda. Sinceramente Bradley estava diferente, parecia distante e esquisita, mesmo depois da morte do pai ela não estava tão diferente como agora, claro o papo de suicídio foi algo que chocou quem a conhecia como Norman que mesmo depois de ter sido rejeitado ainda mandava cartas para ela.

Quando chegamos Bradley voltou a usar seu “uniforme” aquele capuz estava surrado e sujo, abri a porta do carro vendo-a fazer o mesmo ela estava cabreira e olhava para todos os cantos possíveis. Uma família – hospedada no motel- estava saindo e quando a pirralha chamada Livy passou por nós, Bradley virou-se para mim olhando para baixo. Se passar despercebido era seu objetivo, advinha! andando desse jeito tá parecendo um traficante de órgãos.

– Oi Emma – Disse a garotinha sorrindo mostrando que faltava dois dentes da frente a famosa “ janelinha” .

– Oi Livy – Forcei a gentileza estava preocupada com Bradley, ela olhava para o chão tentando a todo o custo ocultar seu rosto.

Livy acenou para mim dando uma gargalhada irritante e saiu correndo em direção aos pais, que estavam transbordando uma felicidade incompreensível. Bufei, irritada. O que faria agora? Havia pensado o básico leva-la até Norman, mas fazer isso seria um pouco complicado com Norma por perto.

– Bradley – A Chamei e ela virou sua atenção para mim – Espera aqui vou ver quem esta na recepção.

Ela murmurou algo que não entendi, estava preocupada com as posterioridades, por que estava praticamente perdendo Norman para Bradley...De novo. E pelo visto sempre que ela precisar de ajuda em algo, ele sempre vai estar a prontidão, algo realmente significativo por que ele ainda gosta dela. Claro, até um cego conseguiria ver isso. Pela porta de vidro vi Norman concentrado em algo no celular, e aparentemente sozinho mais me enganei quando avistei Dylan sair da sala aos fundos. Olhei para trás notando a caminhonete preta estacionada. Droga.

Abri a porta e fiz minha melhor cara de quem não quer nada.

– Ah, - Norman olhou para mim com aquele jeito meigo e sorriu – Oi, Emma.

Norman guardou o celular, especialmente hoje ele estava a fim de me dar atenção?

– Oi Norman –Notei que Dylan sequer olhou para mim, ele ainda estava irritado.

Fiquei aflita, não fui sutil e se ele criasse raiva de mim não teria como conseguir me aproximar. Destino, você esta contra mim?

– Olá Dylan – Disse ainda o fitando. Ele desvio o olhar de uns papeis que estava lendo e apenas assentiu.

Merda. Tem como ele ser mais irritante? Por que isso mal começou e já esta me tirando do serio. Percebi Norman olhar de mim para Dylan, claro, nunca fui de conversar com Massett ele sempre perguntava por Norman ou Norma, e eu tentava dar conselhos de não beber muito e só. Isso claro, nunca na frente de Norman por que ele sempre passava a maior parte do tempo no porão. Então é claro que deve ser estranho, mais pensou o que? Que eu nunca fosse falar com ele?

Bufei irritada, lembrei-me da grande omissão de Norman. Vi a chave do quarto daquele lindo casal de drogados ali, então certamente já teriam ido embora, as peguei e saiu sem dizer nada por que simplesmente não poderia. Voltei ate Bradley e a guiei até o quarto.

Oitavo quarto.

O quarto estava limpo e cheirando a lavanda, então Norma já arrumou os quartos. Merda! Ela ainda esta por perto.

– Onde esta o Norman? – Bradley tirou o capuz e os óculos, revelando uma grande mancha roxa que ainda não tinha percebido.

Ela estava terrivelmente horrível. Estou tentando ao máximo não ter tanta compaixão por esse ser vivo, mas aquela minha mãe interior é um saco e não me deixa ser ruim.

– O que aconteceu com o seu rosto? – Tenho certeza que perante a situação, ser educada não é prioridade.

– Um cara me socou – Nossa, um cara? O estrago estava feio, do tipo “ wow” – Emma, preciso falar com o Norman.

– Eu sei Bradley, eu sei – Não conseguia parar de olhar aquele roxo. Parecia recente – Fica com a chave vou trazer ele até aqui.

Em outras palavras iria dar Bradley de bandeja para Norman. Como em uma lanchonete, e eu estava sendo a garçonete. Fechei a porta e vi Norman a poucos metros de mim, disfarcei meu pânico e raiva... mentira deixei mais aparente do que nunca.

– Emma, por que você peg...- Não, eu não iria deixar ele falar primeiro.

– Escuta Norman – Me aproximei e fiquei o mais perto dele possível – Por que você não me disse que Bradley estava viva?

BUUUUM.

– O-oque? – Norman riu nervoso. Aposto que ele vai falar que eu sou doida – Emma de onde você tirou isso?

Rá Rá Rá! Tirei da rua, dei meus doces favoritos, uma carona e deixei ela em um quarto.

– Norman para! – Pedi calmamente – Ela me pediu ajuda, quer falar com você.

Ele notou que eu estava falando serio e parou de fingir, por que sinceramente ele não é um bom ator e mentiroso. Não pra mim. E como um cachorrinho pegado um graveto qualquer, ele correu até o oitavo quarto sem sequer bater na porta ou me chamar pra ir junto. Não! Não de novo. Ninguém vai esconder mais nada aqui, e se preciso eu vou me impor.

Pouco antes de Norman trancar a porta eu a abri. Ele não estava confortável com a situação, mas ao vê-la ele parecia... contente demais. É ele ainda gosta dela. Bradley abraçou Norman de um jeito necessitado, como se ela não tivesse visto ninguém familiar por muito tempo.

– Bradley por que você esta aqui? – Norman segurou os ombros de Bradley notando todos os hematomas.