A Maldição da Wicca escrita por FireboltVioleta


Capítulo 34
.... And a Little More of Trouble


Notas iniciais do capítulo

Hey, gentes!
ATENÇÃO: Esse capítulo é MUIIIIITO grande e pode causar cegueira.
brincadeirinha, gente! (Não, é grande mesmo. Tô falando da cegueira.. hehe)
Boa leitura!



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RONY

Darel ficou arrasado quando soube o que aconteceu com Nyree.

Eu não o culpava. Ninguém sequer cogitara que isso era possível. Onde é que ela se contaminara com vírus de trasgo, se o castelo de Beauxbatons nunca recebera nenhum dentro de seus corredores?

A história não demorou a correr. Logo, todos já sabiam o que acontecera.

Mas, para minha surpresa, ninguém pareceu em pânico. Fosse talvez por que já haviam ouvido falar da vamprirização em Hogwarts, fosse – por mais inusitado que parecesse – pela simples presença de cinco pessoas ex-vampirizadas que já tinham experiência com aquilo dentro da escola, não houve nenhum tumulto por causa da condição de Nyree.

Mas não era isso que nos preocupava, quando acordamos no dia seguinte.

Com a mãe na condição em que estava, Tamahine ainda não havia sido alimentada. E as enfermeiras me olharam indignadas quando eu insinuei se não deveriam ao menos tentar aproximar as duas.

Hermione arregalou os olhos, enquanto observava tristemente a nossa amiga sibilar na cama, agitada.

– LeBru...

– Sra. Granger – a auxiliar a olhou, exasperada – não podemos fazer uma loucura dessas. Ela atacaria a criança na condição em que está!

– Preferem que ela morra de fome, então? – Hermione fuzilou LeBru com os olhos.

– Melhor do que ela morrer estraçalhada pela própria mãe! – a enfermeira pareceu se descontrolar – não podermos arriscar!

– Vai ser covardia nossa se ao menos não tentarmos – suspirei, piscando para Hermione – Hermione já foi vampirizada... e não só conseguiu se controlar como repassar esse mesmo controle sobre outros doentes. Ela pode tentar fazer o mesmo com Nyree.

LeBru vincou a testa, irritada, mas parecia ser a única. As outras enfermeiras pareciam quase convencidas.

– Está bem – ela fungou – tentem. Se o pai do bebê deixar. E que estejam cientes de que, se essa criança morrer, a culpa será exclusivamente de vocês.

– Eles têm minha permissão.

LeBru amarrou a cara em direção da voz que surgiu na porta.

Darel se aproximou, olhando com uma expressão angustiada na direção da esposa.

Hermione arfou.

– Darel... não sei se consigo... só foi uma sugestão...

– Consegue sim – Darel disse, a voz cheia de convicção – vi você e Rony fazerem coisas incríveis na Austrália, quando nem mesmo eu esperava que conseguissem... você tem razão. Temos que tentar – ele engoliu em seco – não vou suportar ver minha filha morrer de fome. E sei que Nyree jamais a machucaria... nessa condição ou não...

Como se fosse para deixar o ambiente ainda mais tenso, Nyree rosnou baixinho na cama, ajoelhada no colchão. Para minha curiosidade, as correntes pareciam subjuga-la muito bem, ao contrário do que fariam com Hermione. Estranho... achei que todos os vampirizados conseguiam se livrar de algemas.

Se bem que Hermione era um paralelo bem injusto. Hermione não era comparável a nada nesse mundo.

Hermione se empertigou, decidida.

– Rony...

Ergui a cabeça, entendendo o que devia fazer.

Aproximei-me da incubadora mágica em que Tamahine se debatia, abrindo a redoma e pegando a bebê cuidadosamente em meus braços. Ela se retorceu um pouco, me encarando com os olhinhos assustados.

Vi Hermione se aproximar de Nyree, ansiosa, enquanto trazia Tamahine lentamente em meu colo.

– Nyree... sei que está aí, por trás de tudo isso – Hermione chegou absurdamente perto de nossa amiga, mas o suficiente para que as correntes ainda a impedissem de avançar para o seu lado – sei que está com sede... mas precisa controlar tudo isso, só um pouco... pela sua filha...

Nyree sibilou baixinho, encarando Hermione com uma leve ferocidade. Apesar de tudo, ela não parecia nem um pouco com os vampirizados bestiais do início da vampirização em Hogwarts.

Reconheci, pasmo, os sibilos exasperados de uma vampirizada tentando se comunicar.

– Está tudo bem, Nyree... – Hermione segurou o pulso de Nyree.

Se ela realmente estava descontrolada, tinha agora a oportunidade perfeita para provar; o braço de Hermione estava á meros centímetros de seu rosto.

Senti todos enrijecerem ao nosso redor quando Nyree fez um movimento repentino com o braço que Hermione segurou, desvencilhando-se dela e recolhendo-o no próprio corpo.

LeBru parecia querer desmaiar atrás de mim.

Darel se aproximou de nós, com os olhos saltados, fixos na esposa.

– Toku aroha ... – ele sussurrou – você consegue me entender? Tena, here...

Nyree arregalou os olhos para o marido, sibilando baixo de surpresa.

– Ah... – Hermione arfou.

– Ela reconheceu você – sorri – ela reconhece você, Darel!

Nyree olhou-o fixamente, parecendo confusa e triste.

Ignorei as enfermeiras que se aproximaram quando ela ergueu o braço na direção do rosto de Darel.

Talvez por puro reflexo, ele recuou um pouco, pasmo.

Nyree arfou baixinho. E seu rosto murchou, numa chocante e inconfundível expressão de mágoa.

– Ah, qual é – Hermione soltou uma risadinha indecente – dê um pouco de crédito pra ela, Darel. Ela só ia tocar seu rosto.

– Sei – bufou LeBru atrás de nós. Nossa, eu ia esganar aquela enfermeira.

– Desculpe, amor – Darel voltou á se aproximar, parecendo maravilhado – foi sem querer...

Darel fez menção de chegar mais perto, mas Nyree se encolheu na cama, e – para nosso maior choque ainda – balançou a cabeça vigorosamente para os lados.

“Ela está com medo de machuca-lo também!”, arfei mentalmente, admirado.

Hermione ajoelhou perto da cama, e, mesmo contra a vontade de Nyree, segurou novamente seu braço.

– Nyree, você não vai machuca-los. Vai poder se alimentar também depois... mas Tamahine precisa de você agora...

Inclinei levemente a bebê nos meus braços na direção de Nyree.

A reação dela foi surpreendente. Nyree rosnou alto, com os olhos saltados, se encolhendo ainda mais na maca. Não era preciso saber ler expressões para ver o claro grito de “NÃO!” em seu rosto.

Hermione parecia estar perdendo a paciência. E, sinceramente, eu estava temendo por Nyree. Uma briga de vampirizada com uma Wicca não iria ser uma cena agradável de ver.

– Se você não fizer isso, Nyree – a voz de Hermione baixou, incisiva – Tamahine vai morrer de fome. Assim como você, se não se alimentar mais tarde. É isso que você quer?

Nyree piscou, como se fosse chorar. Ela negou com a cabeça.

– Nyree, meu amor – Darel pegou a outra mão livre de Nyree – confie em nós. Não vai acontecer nada.

Aproximei-me ainda mais, chegando á apenas um metro de distância de nossa amiga. Tamahine guinchou em meus braços, nervosa.

O som pareceu abalar todas as estruturas de Nyree. Ela estremeceu, dando algum tipo de uivo lamentoso. Ela erguia e recolhia as mãos, como se hesitasse em pegar ou não a filha.

– Vamos lá, Nyree – incentivei-a, com um sorriso forçado – não vai acontecer nada...

– Loucos – ouvi LeBru resmungar.

Finalmente, no ápice da tensão que pairava na Ala Hospitalar, Tamahine foi transferida lentamente para os braços da mãe vampirizada.

Ninguém recuou. Todos estavam prontos, mesmo eu, para reagir á qualquer coisa ou problema. Por mais que me doesse, eu já tinha escondida nas costas minha varinha erguida, se tivesse que intervir.

Nyree arregalou ainda mais os olhos ao finalmente vislumbrar o rostinho redondo e minúsculo de seu bebê. Tamahine olhava para a mãe, sem parecer ter medo algum.

Aquela atmosfera estava matando todos de ansiedade.

A bebê ergueu a mãozinha desorientada, que pousou suavemente na bochecha descorada de Nyree.

– Ah... – Hermione soltou o ar ao meu lado.

Nyree arfou quando Tamahine a tocou.

E então, aconteceu.

Um sorriso de ternura e felicidade, embalado por soluços, surgiu no rosto de Nyree.

Aquilo deixou sua expressão tão bonita que, por um segundo, nem se podia dizer que estava vampirizada.

– Não acredito – ouvimos a irritante enfermeira balbuciar.

Nyree abraçou a filha, fazendo o corajoso gesto de beijar sua testinha mínima. Ela nos olhou, parecendo espantada com o próprio controle.

– Eu disse, Nyree – Hermione sorriu, aliviada.

Eu disse – desdenhei, fazendo Hermione e Darel rirem – você faz milagres com vampirizados, Hermione.

Meio constrangido, não fiquei ali para observar Nyree alimentar a filha. Virei-me, encarando as expressões abobadas das enfermeiras.

LeBru parecia não saber onde enfiar a cara.

– Acho que deu certo – ela murmurou, olhando para o chão.

– Ah, vá... – ergui a sobrancelha.

Voltei á olhar apenas o suficiente para focalizar o rosto de Darel, que parecia ter recuperado um pouco de vida, afinal, ao ver esposa e filha juntas outra vez.

– Rony!

Alguém me chamou da porta da enfermaria. Voltei o olhar para a saída, me deparando com minha irmã, que parecia ansiosa.

– Então? Deu tudo certo?

– Sim... – Hermione respondeu por mim, se aproximando - Nyree está com Tamahine agora.

– Que bom... fico feliz – Gina sorriu – Mione, McGonagall pediu para você que, se não estiver ocupada, pra voltar para a Sala de Transfiguração, para continuar aquele “esqueminha secreto” de vocês, que não é secreto já que vamos ficar sabendo assim que você sair de lá.

Hermione riu.

– Estou indo... Darel disse que vai cuidar delas por enquanto... – ela se voltou para Darel, enquanto Gina sumia porta afora – vou ver McGonagall... me avisem qualquer coisa, tá? Ah, e não esqueça... – ela gesticulou para o próprio pulso, fazendo um movimento muito significativo com a mão e a boca.

Captei, penalizado por Darel, o que ela quis dizer. Caramba... ia ser uma semana difícil para os três.

Darel assentiu da maca de Nyree, finalmente com um sorriso no rosto.

– Vamos? – ela me olhou, sorrindo.

– O quê? Quer que eu vá junto?

– Não quer ver? São aquelas lembranças que eu te falei ontem...

Ah, sim. As lembranças de Harold. Dei de ombros.

– OK... vamos, então...

Saímos de mãos dadas, ainda olhando em direção á maca onde nossos amigos se encontravam. Rezei aos céus para que, ao menos na família Williams, não houvesse mais nenhuma desgraça durante aquela que seria uma semana funesta para Nyree.

__________________O_______________

– Temos companhia hoje, Hermione? – sorriu Leopold ao nos receber na Sala de Transfiguração.

– Pois é – ela sorriu, apertando minha mão.

– Como está a Sra. Williams? – indagou McGonagall.

– Bem melhor, professora... foi por pouco – suspirei – mas tudo deu certo, graças á Deus...

– Ótimo – a diretora sorriu – bom, como nós havíamos considerado ontem, Sr. Weasley, estávamos revirando as memórias de Harold Granger à procura de alguma luz sobre o que aconteceu com ele, ou o que poderíamos estar acrescentando ou retirando no treinamento Wicca da Srta. Granger – ela murmurou - acredito que saiba como funciona uma Penseira...

– Sim, senhora – assenti.

– Muito bem – McGonagall ergueu um vidrinho transparente em sua mão, colocando-o na minha – os dois poderão mergulhar nas lembranças... depois repassem à Leopold o que viram... vou ter que sair devido á uma nova reunião sobre o Torneio, mas fiquem à vontade para usarem a Penseira pelo tempo que precisarem.

– Não vai com a gente? – perguntei à Leopold.

Ele sorriu.

– Acho que será melhor que o senhor vá com Hermione hoje.

Eu não estava gostando nada do jeito misterioso que ele me sorria. Eu, hein...

– OK... nos vemos mais tarde – Hermione se despediu da diretora, que aparatou na porta da Sala de Transfiguração em seguida.

– Pronto? – Hermione parecia estar achando graça de minha expressão ansiosa.

– Se lá... – brinquei.

Hermione me puxou pelo pulso em direção á uma bacia prateada em cima de uma das carteiras. Derramou o conteúdo do frasquinho dentro da bacia e inclinou o rosto, rindo, indicando o que eu devia fazer.

Mergulhei, junto com Hermione, a cabeça dentro da bacia, fechando os olhos.

Em questão de segundos, abri os olhos outra vez. A Sala de Transfiguração desaparecera. Estávamos agora dentro das lembranças.

Havia uma casa muito bonita adiante, cercada por uma bela sebe de rosas.

– Minha casa – explicou Hermione.

Entramos na visão de Harold repentinamente.

O homem se adiantou um pouco, se aproximando da casa.

Fazia tantos anos que não via sua Lontrinha... precisava vê-la só mais uma vez, antes que Rodrick finalmente o achasse...

Tinha a péssima impressão de que a profecia também anunciava sua morte precoce... se fosse assim, sua sobrinha teria que terminar a temível tarefa de cumprir aquela terrível praga...

Mas ficava feliz por isto. Era melhor assim.

Pois, se não fossem as cinzas de sua Semente, seriam as cinzas de sua amada Lontrinha... estava aliviado por não ser o Wicca da profecia. Aliviado por saber que, apesar de tudo, sua sobrinha iria sobreviver.

Assim que terminasse, iria desaparecer. Levar Rodrick o mais longe possível dali, para atrasar ao máximo o desfecho da profecia...

Com Voldemort por perto, tentando matar Harry Potter, um encontro entre o Lorde das Trevas e Rodrick condenaria o mundo á uma desgraça de Trevas sem fim. Precisava manter o Wicca Negro o mais longe possível da Grã-Bretanha, enquanto pudesse.

Finalmente chegou perto do quintal da casinha de verão. Ocultado pelas sombras de um grande carvalho, ele observou a agitação que acontecia ali.

Havia umas três crianças, todas de cabelos loiros , com uns cinco anos, correndo pelo gramado em círculos. Deviam ser vizinhos da família visitando a casa.

– Ferrari, Jeniffer, Gabriel! – ouviu uma voz chamar – parem de pisar das petúnias ou vou chamar a Dona Monica!

– Ih, é a Mimi! – guinchou o menino, fazendo as irmãs rirem.

– Mimi, vem pega a gente! – exclamou uma das meninas, rindo.

– Mimi não pega e-eu! – incitou a gêmea da primeira menina, pulando num pé só.

– GRAURRRR! – exclamou uma quarta voz, familiar.

De dentro da casa, surgiu uma garota esguia com o rosto oculto numa capa de e fingindo rosnar para as crianças.

– Xi, Mimi vai pega a gente!

A moça avançou, fazendo as crianças gritarem.

– Socorro! – riu Ferrari – ela vai me transforma em um sapinho!

– Psiu! – fez a garota, dando um tapa de brincadeira na orelha da menina quando a alcançou.

– É a Mimi! Montinhoooooo! – berrou Gabriel.

As crianças se jogaram em cima da garota, fingindo esmaga-la com as mãozinhas gorduchas.

– Oh, não! Fui derrotada! – brincou a moça, rindo, esparramada no gramado.

Dei risada, apreciando a cena.

– Coitada de você... – ri – as crianças te adoram...

Hermione riu baixinho, mas parecia absorta demais na lembrança para me dar atenção.

O homem franziu a testa. Seria ela..?

A garota se ergueu, chacoalhando a perna exasperada, tentando se livrar do pirralho que agarrara seu pé. Tirou a capa de chuva, revelando seu rosto.

Não tinha como não reconhecê-la. O mesmo rosto de querubim, só que mais maduro. Os olhos achocolatados, os cabelos saltados, a expressão teimosa, contorcida agora num esgar de diversão.

O homem sentiu vontade de chorar.

Ela já não era mais uma garotinha. Era quase uma mulher.

Mas era tão linda e tão esplêndida quanto ele a imaginara.

Tinha algum tipo de aura que era naturalmente intimidante, como se esperaria de uma futura Wicca. Mas tudo que se podia sentir, naquele momento, era a bondade e gentileza que emanavam da jovem moça que brincava com as crianças, com um sorriso no rosto.

O homem sorriu. Tinha certeza agora.

Ela seria uma Wicca do bem. Não havia como ser diferente.

E, sem dúvida, sua Lontrinha seria a Wicca mais poderosa de toda a História.

Sentia orgulho do que sua linda menininha se tornara. Queria dizer o quanto ela estava linda. O quanto amadurecera. O quanto ele se sentia orgulhoso.

Mas nunca poderia dizer à ela.

Ele se afastou, com o coração latejando de dor, observando ao longe sua Lontrinha se divertir, sem sequer saber que ele estivera ali, perto o suficiente para abraçá-la. Para ajuda-la. Para pedir perdão...

O cenário mudou abruptamente. Ainda parecia se passar na mesma época que a lembrança anterior, mas era outro lugar, absurdamente familiar.

– A Redoma – arfei, pasmo.

– Becky! Becky! – bradou o homem ao chegar.

A elfa surgiu num estalinho, ansiosa.

– Sim, meu senhor?

– Temos que ir. Organize minhas coisas, feche a casa, sele a Redoma.

– Senhor... –a elfa se encolheu – para onde... vamos?

O homem se virou para sua criada, sorrindo levemente.

Aquela elfazinha maravilhosa havia feito com que seus últimos anos na penumbra fossem os menos desagradáveis possíveis. Era quase como uma filha para ele. O que iria pedir a ela seria a coisa mais importante e pesada que poderia lhe ordenar. Sentia-se mal por jogar nas costas da elfa algo tão perigoso. Mas seria necessário.

– Vamos embora daqui, Becky – ele afagou a cabecinha pelada da elfa – o Wicca Negro está por perto, e eu tenho que afasta-lo daqui.

A elfa estremeceu. Havia ouvido falar do temível Wicca inimigo de seu senhor. Mas seu temor não era por si mesma.

– Meu senhor não pode tentar lutar com ele! – ela esganiçou-se, em pânico – a profecia...

– Eu sei – ele suspirou – sei, Becky, e, por isso, mais uma vez, vou ter que confiar em você.

Como fizera à tantos anos, o homem se ajoelhou até ficar na altura da elfa.

– Senhor... – ela fungou.

– Preciso que você nunca diga nada do que ver ou fizer daqui em diante para ninguém, exceto para Hermione, quando você finalmente for a elfa dela.

– O quê? – balbuciou a elfazinha, soluçando – o senhor vai...

– Sim... vou coloca-la no meu testamento – o homem acariciou a mãozinha diminuta de sua elfa – Becky, é vital que só conte à Hermione o mais importante no começo... sei que não me resta muito tempo e, mais cedo ou mais tarde, minha sobrinha se invocará... e precisará de todos os cuidados e carinho que você me deu todos estes anos. Conte tudo a ela aos poucos... assim que eu... – ele engasgou - você servirá apenas á Hermione, está bem? Eu... não suportaria deixa-la com outra pessoa, Becky.

A elfa não se segurou. Sabia que era irracional. Parecia até achar ousado. Mas não aguentou.

Ela abraçou as pernas de seu senhor, fungando.

– Não, não, senhor, não! Deixe Becky ajuda-lo! Deixe Becky protegê-lo!

– Não – ele foi firme, embora retribuísse o abraço da elfa – assim que acontecer, Becky, quero sua palavra de que fugirá para longe, que não se arriscará, e só reaparecerá quando a reclamarem no testamento, está bem?

“Também vou te pedir mais uma coisa, querida... quando eu estiver em meu leito, quero que recolha minhas lembranças... Hermione precisará delas, nem que seja apenas para entender o que vai acontecer. Ela precisa saber que será uma Wicca. E precisa saber que terá que fazer uma escolha. Agora parecerá ridículo. Mas, no futuro, as Trevas poderão tenta-la. E, se ela se deixar levar, se for seduzida pelo poder dos elementos, pode ser o fim do mundo como o conhecemos. Ela tem capacidade e poder o suficiente para salvar os nossos dois mundos... ou destruí-los. Eu confio em você, Becky. Prometa-me que fará tudo isso.”

A elfa soluçou, com os olhos cheios de lágrimas, antes de erguer a cabecinha, mas assentiu.

– Prometo, senhor. Com minha própria vida.

A lembrança estremeceu outra vez. Antes mesmo que eu pudesse ter tempo de digerir a última lembrança, me vi num outro ambiente. Ainda na visão de Harold, nos vimos numa campina fechada do que parecia ser um bosque.

Para meu choque, tudo estava destruído. As árvores mais próximas ardiam em chamas, O lago ao redor do bosque parecia ferver. Havia crateras monstruosas por todo o lado.

Pela primeira vez, mesmo ainda na visão de Harold, pudemos nos afastar para ver seu corpo caído entre uma das crateras.

Hermione guinchou ao meu lado.

Harold estava ofegante, parecendo congelado no chão. Parecia vivo e ileso, mas, por alguma razão, não conseguia se levantar. Seus olhos saltavam das órbitas.

O homem olhou adiante, encarando, paralisado pelo quinto elemento, a face odiosa do Wicca Negro.

Vimos uma figura encapuzada se aproximar, gargalhando cinicamente.

– Achou mesmo que conseguiria fugir de mim, Granger?

Ele piscou com dificuldade, sentindo seu coração ser espremido lentamente nas mãos de Rodrick, que mantinha a mão erguida em concha, com um sorriso de escárnio.

As lágrimas que continham suas lembranças escorreram pelos seus olhos. Ele teve o cuidado de fazê-las cair em cima de uma folha que criou com o resquício de poder que ainda conseguia conjurar.

– Você também vai morrer, Carrow – foram suas últimas palavras.

– Acho que não – o Wicca sorriu, erguendo o rosto os suficiente para que o homem visse seus olhos prateados sem vida - e não se preocupe, Harold... sua pequena sobrinha vai ser a próxima. Em breve, vocês se encontrarão. Enquanto isso, você será achado numa casinha qualquer, como outra patética vítima de assassinato por Comensais a Morte. Ninguém se lembrará de você.

Ele sentiu a dor em seu coração físico aumentar. Sentiu suas artérias sendo despedaçadas pelo poder do quinto elemento. Mas ela não se comparava nem um pouco á destruição de sua própria alma ao pensar em sua Lontrinha... em nunca mais poder vê-la.

– Becky... – foi seu último suspiro antes de Rodrick explodir seu coração dentro do corpo.

Emergi da Penseira, arfante.

Sentia minha cabeça latejar e meu estômago se retorcer de enjoo.

Meu Deus... Meu Deus...

Nunca iria tirar da minha cabeça a cena em que Harold foi destroçado de dentro para fora.

– Hermione! – berrou Leopold.

Virei-me para o lado, me dando conta que Hermione estava caída no chão, de joelhos,, tremendo e chorando.

– Ah, Hermione... – murmurei, angustiado.

Não precisei erguer os braços para que ela se jogasse contra mim, soluçando histericamente.

Só pude ficar abraçado á ela, no chão frio da Sala de Adivinhação, perguntando aos céus por que tudo aquilo estava acontecendo com ela. Ou aonde o mundo iria parar.

– Estou aqui... estou aqui... – cantarolei para Hermione, afagando seus cabelos.

O choro angustiado de Hermione dilacerou minhas veias. Ela o som da tristeza de alguém que vira uma atrocidade. Era o som de alguém que estava perdida dentro de si mesma. Mas, mais do que tudo, era o som de uma garotinha que assistiu um ente querido morrer sem nunca poder ter feito nada.

________________O______________

Não conseguimos falar mais nada um com o outro durante o resto daquele dia.

Fomos visitar Nyree mais uma vez, descobrindo que já conseguira se alimentar – pobre Darel -, nos despedimos de nossos amigos durante a noite, e Hermione se despediu de mim no pé da escadaria.

Beijei-a, tentando passar por ali tudo o que eu queria dizer. Que podia contar comigo para o que quer que fosse acontecer. Que eu sentia muito por tudo. Que eu a amava. Que tudo ficaria bem.

Ela não me disse nada.

Mas, enquanto Hermione subia, vi, em seus olhos, que tinha entendido a mensagem.


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Notas finais do capítulo

Comentários, xingamentos, protestos... fiquem á vontade!
beijinhos sabor Amortentia e até o próximo!
E sim, gente, VAI ACABAR. Daqui a uns dez ou doze capítulos talvez, mas ACABA.
Agora, se o povo protestar contra o término e á favor de uma quarta temporada... a hora é agora.... hehe
#FUI



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