A Maldição da Wicca escrita por FireboltVioleta


Capítulo 22
Laughs and Tears




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HERMIONE

Sinceramente, ainda tinha vontade de socar Rony pela sua ideia de jerico.

Mas ele tinha razão. Nós poderíamos dar algumas risadas com as fofocas distorcidas de Rita, ainda mais agora que não tínhamos qualquer segredo entre nós dois.

E os céus sabiam do quanto que eu precisava me divertir um pouco com todo aquele caos acontecendo. Ser uma Wicca era peso demais nos ombros de quem já sofrera um bocado com toda aquela porcaria de bruxos das trevas.

Leopold e Oliviene haviam ido para o Ministério conversar mais pessoalmente sobre toda a ladainha do que ocorrera na casa do meu tio. Ele prometera voltar á tempo do jantar, revirando os olhos para a escriturária antes de desaparecer lareira adentro.

Skeeter, como sempre, agiu rápido.

Já no dia seguinte, fui previsivelmente recebida por vários olhares sugestivos e irônicos. Sorri em resposta, deixando claro o como qualquer bobagem de Rita não iria me incomodar.

Cheguei à mesa de Noble com várias pessoas olhando apalermadamente para mim. Rony não estava por lá, o que me fez deduzir que estava se afogando embaixo das cobertas do dormitório, tentando parar de rir.

Ou – fiquei com o estômago gelado – a coisa estava tão ruim que nem ele aguentou me esperar.

Harry mordia o lábio, parecendo perdido com aquele desafio á força de nossa amizade. Estava indeciso se ria ou se ficava sério só por que eu estava ali.

– É tão ruim assim? – perguntei para Darel, que mergulhava um pedacinho de pão na sopa com uma mão e lia o jornal com a outra.

Darel enfiou o pão na boca, como se quisesse evitar responder, mastigando devagar o suficiente para eu sacar seu acanhamento.

Revirando os olhos, puxei o jornal das mãos dele. Nyree arregalou os olhos para mim, afastando-se um pouquinho, como se eu fosse uma bomba que acabara de acender meu próprio pavio.

Para minha surpresa, nem Gina estava fazendo piada, apesar de evidentemente se contorcer para cuspir uma. Ih, rapaz... a bagaça estava séria.

Comecei a ler, curiosa, a manchete que estava ao redor de nossas fotos no centro da página.

Senti meu queixo cair cada vez mais á cada linha. Tive que morder a língua e tampar a boca para não rir.

Deus... era pior do que eu imaginava.

O FOGO ALÉM DO CÁLICE

Um novo Torneio Tribruxo se inicia. É o suficiente para que todos os olhares se voltem para uma escolinha simplória no meio das ilhas da França, que sediará o novo campeonato de desafios fatais para três jovens bruxos: a apagada aluna da Beauxbatons, Madelaine Dubois, que encantadoramente dispensou entrevistas com um prodigioso Feitiço de Ingurgitação no nosso pobre jornalista; Andrey Borislav, o corpulento favorito de Durmstrang, que nos cedeu uma entrevista conturbada sobre como andam as coisas na misteriosa escola de magia búlgara (vide p. 14, na coluna As Carcaças de Durmstrang) e Hermione Granger, a já polêmica e misteriosa nova escolhida para representar Hogwarts no Torneio.

Porém, nossos olhares se voltam á figura aparentemente inocente da aluna de Hogwarts, que já teve o infortúnio de virar uma besta irracional há meses atrás, após os acontecimentos ainda pouco explorados sobre a curiosa Batalha que ali ocorreu.

É evidente o quanto amigos e outras pessoas tentam esconder dos olhares públicos a verdadeira Hermione Granger. A lenda de uma garota estudiosa, desapegada á coisas emocionais, tímida e reservada, caiu por terra com nossas descobertas em uma entrevista exclusiva com seu suposto “amigo”, Ronald Weasley.

“Todos acham que nos damos bem”, ele desconversou, parecendo evitar nossa pergunta de qual é seu relacionamento com a campeã de Hogwarts. “Mas a verdade é que não somos tão apegados assim... Hermione é simples, sossegada... não é de se jogar fora, de modo algum... mas...”.

Ele ainda tenta se safar de nossa pergunta sobre o último relacionamento dela com Vitor Krum com esta desculpa esfarrapada: “ela já me disse... eles eram apenas amigos...”.

Sossegada? Não se apega? Pois não é exatamente assim que as coisas parecem ocorrer fora dos olhares alheios.

Conseguimos vários testemunhos de entrevistados que desmentem a suposta “amizade” entre os dois jovens. Alguns alunos da própria Beauxbatons afirmam já ter visto ambos de mãos dadas, juntos em vários lugares suspeitos. Além disso, há quem afirme que os dois garotos já andaram se agarrando há muito tempo pelos corredores afora.

Finalmente, uma revelação bombástica de uma jovem sonserina de Hogwarts nos informa que Ronald Weasley já foi visto entrando furtivamente no dormitório feminino de Noble á noite, que estava completamente deserto, exceto pela presença provavelmente ansiosa e excitada de nossa jovem campeã. Para completar, nossa entrevistada completa que ouviu a porta se trancar logo após nosso suposto “amigo” entrar dentro do dormitório.

Para nós do Profeta, é evidente que Hermione Granger não só anda “socializando” e se “apegando” muito bem, como anda provavelmente sendo uma menina muito levada. Podemos imaginar a intensidade das ações carnais e de travessuras maliciosas que ambos devam andar fazendo quando os ingênuos amigos não estão vendo.

Parece-nos que a imagem supostamente casta e virginal da “garotinha” que todos tentavam descrever quando indagados sobre Hermione Granger, na verdade, é uma fachada para tentar inutilmente proteger aquela que poderá ser a nova e devassa Messalina de nosso tempo.

O fogo que irrompeu em Beauxbatons, conclui-se, não estava simplesmente num cálice tosco de madeira, e sim dentro dos aparentemente inocentes e sossegados quartinhos de nossa agora espantada escola-anfitriã.

Senti alguém se aproximar atrás de mim. Ainda mordendo a pontinha da língua, virei a cabeça para cima. Deparando-me com o olhar surpreso de Rony.

Arfei baixinho quando reparei que ele estava com a camiseta levemente aberta, mostrando um pouco de seu peito. Músculos, sério? Era impressão minha ou ele andara se exercitando? Hum...

– Então? – ele indagou, ignorando a careta aflita de Neville – como foi?

– Veja você mesmo – murmurei, finalmente soltando uma risadinha.

Rony se sentou ao meu lado, lendo o jornal, enquanto todos o observavam em expectativa – exceto Nyree – ah, pobre, ingênua e romântica Nyree – que parecia horrorizada com o fato de alguém escrever algo assim da vida alheia, como se beijos abraços – e vá saber mais o quê - fossem falta de vergonha. Ela estava me olhando atravessadamente, aflita, tamborilando os dedos na barriga já levemente saliente.

Quando Rony terminou de ler, ele pareceu também estar mordendo a língua.

– Ela te chamou de Messalina? – foi a única coisa que o deixou enojado, dada sua expressão.

– Pois é – dei de ombros – sou um pouquinho mesmo... a diferença é que é por um cara só – brinquei.

Todos riram, finalmente aliviando a tensão do canto da mesa de Noble. Os alunos de Noble que haviam ficado nos encarando riram baixinho, meio confusos com o fato de eu estar perfeitamente confiante e contente depois daquela matéria enfadonha.

Para minha leve irritação, Mila Bulstrode passou pela mesa, e, ainda em pé, olhou para mim com um misto de desprezo e ironia.

– E então, Granger? Já deu uma alisada sacana com seu “amigo” hoje?

Rony ia abrir a boca, mas eu o chutei por baixo da mesa.

Dei um sorriso doce para Mila.

– Ainda não... vou esperar até mais tarde... e você, já alisou o seu? Ah, não... esqueci, você não tem ninguém... garotinhas como você não nem um “amigo” pra alisar...

Mila fechou a cara, apertando a varinha que estava em sua mão. Porém, rodeada por amigos meus e um bando de beauxbatonianos com cara de “briga, briga!”, Mila só pôde estalar as juntas e se afastar, me olhando com raiva.

Harry abriu a boca e assim ficou quando Mila sumiu de vista.

– Tenso – murmurou Gina, arregalando os olhos – que coice que você deu nela, Hermione! Olha a cara da biscateira! – ela riu.

Rony também parecia espantado. Se era pela patada que eu dei em Mila, ou pelo fato de eu falar de “alisada sacana mais tarde” com tanta naturalidade, eu não sabia dizer.

– Nem olhe assim para mim... a culpa é sua – comentei, dando uma acotovelada brincalhona nele.

Rony me olhou daquele jeito que fazia meu neurônio encefálico corar.

– Ah, não... não se atr...

Nem tive tempo de terminar de falar. O desgraçado me beijou sem mais nem menos, agarrando minha cintura. Sem que ninguém visse, afagou minha perna por trás do banco.

“Ai, minha Wicca... se você estiver aí e quiser se dar bem, Rita, a hora é agora” choraminguei mentalmente, enquanto Rony me beijava.

– Ah, parem com isso! Que nojo! – cuspiu Gina, com os braços cruzados e fingindo repulsa.

De rabo de olho, olhei sarcasticamente para Gina, fazendo Harry e Darel, que já estavam rindo, gargalharem ainda mais.

– Calma aí – estapeei Rony, me afastando – espera eu terminar o café da manhã... posso?

Rony riu, me dando um beijinho tão carinhoso na bochecha que tive que disfarçar meu derretimento.

Nyree parecia encantada da vida com nossos gestos de carinho. Se esparramava feito um chiclete de baba-bola no sol ao lado de Darel.

– Vocês deviam casar – ela comentou, animada.

Um silêncio mortal atingiu nosso grupinho.

– Ah... – ciciei, surpresa.

– Por que não? – Rony grasnou.

Olhei para ele, sentindo alguma coisinha estranha, lá nas profundidades do meu ser, se expandir aos poucos em meu corpo. Algo latejante, quente, que tingiu minhas faces e fez minha respiração acelerar.

Ele estava falando sério?

Queria casar comigo?

Arfei, me sentindo anestesiada.

Será que mais alguém estava notando os fogos de artifício que explodiam dentro de mim naquele momento?

– Rony... – falei, meio atordoada.

Rony pareceu reparar no clima esquisito que estava ao nosso redor, pois desviou o olhar e começou á depenar – em outro sentido – uma coxa de frango em seu prato, evitando deliberadamente se virar para mim de novo pelo resto do café.

Beleza, então... fazer o quê...

Também me virei para meu prato e comi em silêncio, lançando olhares fuzilantes para Gina, que fingia se abraçar e dançar feito uma garota da PlayWizard. Saco, eu entendera a indireta...

– Vai comer esse bolinho? – ouvi Nyree perguntar.

– Tá brincando? Esse bagulho é pra comer com garfo, faca e um antiácido do lado!

Nyree capturou o bolinho tão rapidamente do meu prato que poderia virar uma apanhadora de quadribol sem problemas. Darel arregalou os olhos como quem dizia “elas ficam famintas assim mesmo?”, mas não comentou nada.

________________________O_________________________

Rony, para alívio geral, não se transfigurara desde que voltara á forma humana, o que poupou o pobre rapaz de passar mais uma semana difícil comendo bezerro-apaixonado. Mas, sinceramente, eu estava sentindo falta da sombra absurdamente grande do meu namorado na forma animal ao meu lado. Estava quase torcendo para que sua próxima transformação não demorasse.

Eu nem havia tido oportunidade de dizer a ele o quanto ficara fantástico como uma criatura tão poderosa...

Rony me impressionava cada vez mais desde que havíamos retornado á escola. Deixava-me cada vez mais maravilhada... cada vez mais orgulhosa.

Ao mesmo tempo, eu me sentia angustiada em pensar no Wicca Negro e no suposto confronto que teria que enfrentar no futuro.

Morria de medo... não por mim, obviamente.

Morria de medo de que tentassem machucar Rony para me atingir. Eu nunca aguentaria aquilo... não podia deixar que ele sofresse por uma luta que, eu querendo ou não, seria invariavelmente minha.

Passei um longo tempo considerando a repulsiva possibilidade de estar me afastando dele, dando alguma desculpa para que se mantivesse a salvo e longe de mim.

A simples ideia me embrulhava o estômago... mas e se fosse o único modo de garantir que não se machucasse? Eu não poderia estar sacrificando minha felicidade para salvar sua vida?

Ou seria egoísta o suficiente para continuar ao lado dele e deixa-lo em risco?

Eu só não tinha coragem o suficiente para jogar tudo aquilo na cara dele, depois de tudo que acontecera entre nós dois, como se tudo que havíamos passado não tivesse sido mais do que um passatempo que podia acabar do nada, sem remorsos.

– Hermione?

Saí de meu terrível devaneio quando o ouvi me chamar. Me ergui no sofá, virando-me na direção de Rony, que sentou-se ao meu lado.

– Está tudo bem? Parece pálida...- ele indagou, preocupado, afagando minha bochecha.

– Estou... – menti, tentando disfarçar – só... estou preocupada com o Torneio...

– Vai ficar tudo bem, Hermione... você vai ver só... – ele me abraçou, e automaticamente me debrucei sobre seu corpo, me encaixando em seu abraço.

Ah... eu me sentia tão segura ali. Como se nada nem ninguém pudesse me atingir. Ele era minha armadura, meu porto seguro... como conseguiria ficar longe dele, quando tudo que eu queria era estar em seus braços? Como me esconderia nas sombras, se Rony era minha claridade?

Beijei delicadamente seu ombro, me aninhando naquele ponto tão macio em seu pescoço. Lembrei-me dos momentos que havíamos passado juntos enquanto estava vampirizada... no seu carinho, na sua fé inabalável em mim... no seu altruísmo insano, dando seu próprio sangue para me manter viva...

Pensar em perder tudo aquilo por me distanciar dele me dava vontade de chorar.

Um soluço estúpido e intrometido sacudiu meu corpo.

– Hermione! – ele exclamou, erguendo meu rosto com as mãos – o que foi?

– N..nada – choraminguei – é... muita coisa... eu...

Rony me puxou para seu colo, apertando-me contra ele.

– Shh... calma, Hermione... shh – ele afagou meus cabelos, como se consolasse uma criança – por favor, não chore.. é assustador te ver vulnerável assim...

Beijei sua bochecha, abraçada em seu pescoço. Droga, até mesmo quando precisava de consolo, Rony conseguia me acalmar.

– Rony...

– Se acalme, se acalme.. = ele cantarolou, balançando meu corpo em seu colo como se o embalasse.

Com seu embalo, ainda abraçada em seu colo, peguei no solo, adormecendo eu seus braços, me desligando de tudo... inclusive de meus pensamentos turbulentos.

Pode ter sido sonho ou não, mas, enquanto adormecida, juro que uma voz falou comigo.

“Não se afaste agora. Você está em alto mar. E ele é seu salva-vidas.”


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Notas finais do capítulo

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