Minha cabeça doía. Tentei abrir os olhos,mas a claridade tornou tudo mais difícil.

– Ai,meu Deus! – Ouvi uma voz ao longe gritar. O que ele tinha a ver com isso? E onde eu estava?!

– Pedro,corre aqui! Duca,vem também.

Ouvi passos vindo em minha direção,eu não conseguia ouvir nenhuma parte do meu corpo,nem mesmo as minhas....Asas! ONDE É QUE ESTAVAM AS MINHAS ASAS?

Uma sensação de pânico começou a se apoderar de mim,mas tudo passou quando eu o vi. Ele se ajoelhou próximo a mim e eu paralisei de vez. Como ele era lindo! Nem todos os anjos juntos conseguiam ser tão lindos quanto ele.

Saí do transe e percebi que mais humanos me olhavam e tentavam falar comigo.

– Cê tá legal? – O outro garoto me perguntou,mas eu não respondi. O que eu diria a ele? – Ô garota,cê tá legal?

Garota? Será que ele não percebeu que eu sou um anjo?

– Claro que não,seu idiota! – Respondeu a menina,com um ar de preocupação. – Será que você não viu que ela caiu do.... – apontou para o céu,fazendo uma careta de dúvida. – De onde ela caiu mesmo?

O garoto lindo ao meu lado revirou os olhos para os dois que discutiam.

– Como você tá? – perguntou,sua mão afagava meus cabelos discretamente.

– Eu tô... – comecei,sem saber muito bem o que dizer.

– Aí gata,doeu quando você caiu do céu? Porque você parece um anjo! – Duca disse,e vi a menina bater nele. – Ai,Bianca!

Eu não estava entendendo nada,mas pelo menos alguém ali sabia que eu era um anjo.

– O quê? – disse meio sem voz.

– Isso se chama cantada barata,é só ignorar que ele para. – Disse o menino que eu ainda não sabia o nome.

– Vai se ferrar,Pedro! – Então esse era o nome dele?

Agora o olhando mais de perto,percebi que seus olhos estavam muito vermelhos,que ele tentava escondeu um semblante triste. Ainda que sem brilho,seus olhos transmitiam uma verdade que eu ansiava conhecer. Contive a minha vontade de tocá-lo e a tal Bianca perguntou:

– Como você se chama?

– Careina. Eu me chamo Careina.

Todos me olharam estranho. O que eu tinha dito de errado?

– Ih,tadinha,a pancada deve ter sido forte mesmo. – Duca disse. -Tá até trocando as palavras e falando o nome errado.

Tentei retrucar e dizer que não era nada disso,mas a menina com nome de fada me interrompeu:

– Gente,não é melhor levar ela pro hospital? – Ela perguntou,preocupada.

Hospital? Que lugar é esse? Ai meu santo,cadê o João???

– A Bianquinha tem razão,temos que levar ela agora! – Ele disse,e todos pareceram concordar. – Eu levo ela,dá licença Pedro.

– Não precisa.... – comecei,mas não me deixaram terminar.

– É claro que precisa! – Ouvi Pedro dizer,e eu me senti estranha quando notei ele preocupado comigo. – Não adianta discutir comigo,você vai e pronto.

Ele passou um braço pelas minhas costas e o outro por debaixo das minhas pernas,me erguendo próxima a ele. Coloquei meu braço em seu pescoço,me aninhando levemente a ele. Senti que não teria problemas em ficar tão próxima dele,ainda que ele fosse um humano.

– Pedro.... – indaguei,e ele olhou pra mim. – É sério,não precisa. Eu só preciso ir pra.... – Pra onde eu preciso ir? Vamos lá Careina,você se lembra..... – Eu só preciso ir pra casa.

– Onde é que você mora? – Bianca perguntou,e eu gelei.

– Erm...não é muito longe daqui não.... – gaguejei,totalmente perdida. Socorro? – O meu irmão deve chegar logo....

Não sei o que me deu de citar o João,nem quero imaginar o que ele vai fazer comigo.

– E você vai ficar sozinha? – Pedro perguntou,e eu assenti. – De jeito nenhum! Você vai ficar lá em casa,até o seu irmão chegar.

– Isso mesmo,a gente não vai te deixar sozinha. – Bianca disse,agora abraçada a Duca.

Fomos em direção a casa e eu não pude deixar de sentir medo. Eu,um anjo,estava conversando com humanos e entrando na casa de um deles. Pensei que ele ia me soltar quando chegamos,mas subiu as escadas comigo e entrou num quarto que imaginei ser de Bianca.

Ele me deitou na cama e depois se sentou ao meu lado.

– Tem certeza que tá tudo bem? – Ele ainda parecia preocupado,e eu notei a irmã o olhar desconfiada de alguma coisa.

– Pode deixar que eu assumo agora Pê,vai lá vigiar o Duca antes que ele quebre a casa toda.

Ele deu um sorriso com o comentário da irmã.

– Tô indo maninha,qualquer coisa é só gritar. – E fechou a porta.

Eu gritava mentalmente por João. O que eu faria agora que estava sozinha com Bianca? E se ela desconfiasse de alguma coisa?

– Então.... – começou ela,eu torci mentalmente para que desse tudo certo. – Você é nova no bairro,né? Nunca te vi por aqui.

Eu só precisava respirar fundo e responder,era só pensar como ela. Não devia ser tão difícil assim.

Então foi o que eu fiz. Eu pensei,pensei,e.....Ah quem eu estava querendo enganar? Era difícil sim! Tinha muito pra aprender,se quisesse que minha curta estadia na Terra desse certo. Resolvi responder a primeira coisa que me veio a cabeça,e saiu mais ou menos assim:

– Eu....morava em São Paulo,com o João,meu irmão, - comecei,e ela pareceu interessada. Eu só precisava continuar. – mas tivemos uns problemas e acabamos tendo que nos mudar pro Rio.

Estava com medo da reação dela,mas ela pareceu concordar. Ponto pra mim! O próximo passo seria tentar sair dali.

– Já fez muitos amigos aqui no Rio? – perguntou,e eu neguei. – Pois então pode me considerar sua amiga! – Ela sorriu,e foi inevitável não sorrir junto.

Eu não sabia até que ponto poderia me aproximar dos humanos,mas conhecer mais sobre eles era uma oportunidade que eu não perderia,João que se conformasse.

– E pra começar,vou te apresentar alguns amigos meus. – Ela se levantou e foi em direção a um quadro de fotos,que estava na parede. – Tem algumas fotos aqui,quer ver?

Eu disse que sim e ela se sentou na cama ao meu lado,espalhando as fotos pela cama.

– Esse é o Duca,como você deve ter percebido. – Ela disse,apontando para uma foto em que ele beijava seu rosto,e outra onde os dois faziam caretas para a câmera.

A cada palavra dita e foto que eu via,meu interesse só aumentava. Todos pareciam ser bem amigos e passar muito tempo juntos.

– Essa é a Mari e o Jeff,ela canta muito! Essa é a Sol,o Wallace,a Fabi....

– Que lugar é esse? – perguntei,quando vi uma foto de todos reunidos.

– Aqui nós estamos na Ribalta,a nossa escola. Lá nós temos aula de canto,dança,teatro.....O Pedro tem até uma banda com a galera.

Eram muitas as fotos e histórias,mas eu percebi quando uma foto caiu no chão,se afastando das outras.

– Que foto é essa? – Bianca perguntou.

– Não sei,caiu no chão e eu peguei. Devia estar junto com as outras.

Eu não sei bem porquê,mas assim que viu a foto,ela fez cara de poucos amigos. Era uma foto do Pedro com uma outra garota,essa eu não tinha visto em nenhuma outra que Bianca tinha me mostrado.

– Esse é o Pedro,e essa do lado é a Priscila, – ela disse o nome com desdém – namorada dele.

Na foto os dois sorriam,ele a abraçando de lado. Pareciam felizes,mas não era isso o que o me instinto de anjo dizia. Prova disso foi ver Bianca mudar de expressão,ao ver o verso da foto. O que tinha escrito lá? Agora ela parecia assustada.

Queria poder saber mais sobre ela e tentar descobrir o que havia de errado,mas não consegui. Meus olhos estavam presos na foto,enquanto meu coração batia em ritmo acelerado,o quarto girava lentamente ao meu redor.

– Bianca... – tentei chamá-la,ao ar me faltava.

– Ai meu Deus,você tá bem? – ela questionou,mas eu não consegui responder. O que estava acontecendo comigo? – Não sai daqui,vou chamar os meninos!

Eu não podia deixar ela ir,senão eu iria praquele tal de hospital e João nunca acharia meu paradeiro.

– Não! – respondi,tentando recuperar o ar. – Eu t-tô bem,sério. Eu só preciso de um copo d’água.

– Tem certeza? – Ela me olhava,duvidosa. – Se você quiser,a gente vai pro hospital agora.

Neguei mais uma vez,e ela saiu para buscar o copo d’água. Respirei fundo. Seriam efeitos colaterais de se estrar na Terra? Cada vez mais eu precisava de João,e nada dele aparecer.

Foi então que vi o infeliz entrar pela janela. Teria rido se tivesse condições,como foi que ele fez aquilo?

– João! – Corri ate ele,e o abracei. – Por quê demorou tanto?

– Vim assim que pude,como é que você tá? – perguntou,ao ver a palidez em meu rosto. – Senta,você tá tremendo.

Fiz o que ele disse,tentando normalizar a respiração. O mal estar foi passando,acho que a presença do João ajudou. Assim que fiquei melhor,ouvi ele dizer:

– Ca,se prepara......Temos problemas.