O dia começara cedo para João e Gael.

Para conseguir ficar mais perto da realidade e das pessoas que convivem com os dois anjos,Gael resolvera dar aulas de Muay Thai numa academia perto de casa,que ele descobrira mais tarde que era onde Duca passava as tardes.

A academia ficava no andar de baixo da Ribalta,escola onde Karina estudava,o que facilitava e muito para vigiá-la e mantê-la longe do ‘’guitarrista dos infernos’’.

– Vamo lá macacada,que o último dia fácil foi ontem! – Gritou para os alunos,que já estavam a postos para o treino.

– Gael? - Ele ouviu a voz de João o chamar,e se aproximou dele. – Queria falar comigo?

– Queria sim. Tá vendo isso tudo aqui? – E apontou para os alunos treinando chutes no saco de areia.

– Tô sim. É um monte de brutamontes extravasando o seu lado mais..... – Parou a frase ali,entendendo aonde o anjo chefe queria chegar. – Ah,não.

– Ah sim,João. A partir de hoje,eu quero que você faça aulas de Muay Thai aqui na academia.

– E eu posso saber porquê? – Indagou,grosseiro. Não conseguia se ver em outro lugar que não fosse ao lado de seus amados jogos.

– Isso vai nos ajudar da missão,óbvio.

– Não consigo ver como.

– Pra começo de conversa,a Karina estuda aqui em cima,não é? – Ele assentiu. – E até onde eu sei,o Duca faz aula aqui.

– Mas ele não deve ser de grande ajuda. Pelo o que eu sei,ele terminou com a Bianca.

– Mas a Karina é amiga dele,então não vamos descartar nada.

João bufou,impaciente com aquela conversa. Agora não era só Karina que tinha problemas com o anjo Gael,e podia muito bem entender a raiva da loirinha.

– E quando é que eu começo,mestre Gael? – Ironizou.

– Agora mesmo.

– Há há há,muito engraçado! – Irritou-se,e Gael revirou os olhos,sem paciência. – E eu posso saber quem vai buscar a Karina no colégio? Ou você pretende trazer ela pra cá também?

– Até que não é má ideia.... – Ele fingiu pensar na ideia,mas logo se lembrou que a academia vivia cheia de garotos,e acabou desconsiderando. – Eu já sei o que vamos fazer. Você fica,e a Tomtom busca ela.

– Ah,claro! Porque essa sua ideia tem tudo pra dar certo. – Riu,sem deixar de imaginar o que as duas poderiam aprontar. – Só que não.... – sussurrou a última parte,mas Gael ainda ouviu.

– Ei! Eu ouvi isso. – Gritou para o viciado em vídeo games. – Não vejo problema nenhum em deixar elas sozinhas. A Tomtom é um anjo responsável,se eu bem sei ela já tirou essa ideia maluca de ajudar a Karina da cabeça. – Disse sério,e João zombou,internamente. Gael podia ser bem ingênuo as vezes. - E além do mais,hoje é o dia dela.

– Não é,não.

– É sim.

– Não é....

– Agora é! – Gritou,e dessa vez assustou os alunos da academia. – Agora para de enrolar e vambora. Panda,equipa o moleque.

– Ai meu santo,é hoje! – Sussurrou para si,colocando as luvas.

– X –

Me despedi de Bianca e saí da Ribalta. Estava indo em direção as escadas quando encontrei com Tomtom correndo até mim.

– K,ainda bem que te encontrei!

– Quê que houve,mini anjinho? – Perguntei. Ela se acalmou aos poucos e me deu a melhor notícia que eu poderia receber:

– O mestre Gael não vem te buscar hoje.

– É,isso é bom. – Ponderei,ainda cheia daquela vigilância. – Pelo menos o João não tá mais tentando puxar conversa,e ele é menos chato que o anjo chefe.

– Cês ainda estão brigados,K? – Eu assenti. – Mas fica tranquila,ele também não vem hoje.

Arregalei os olhos e me virei pra ela,sem acreditar no que ela queria dizer.

– Isso quer dizer que....

– Isso quer dizer que sou eu quem veio te buscar hoje! – Sorriu pra mim,e eu fiquei séria por um instante. – E que hoje é dia de ver o Pedro também.

Com a marcação cerrada de João e Gael,fiquei alguns dias sem ir ao Amparo. Tomotm prometeu me ajudar,mas para isso,ela teria que esperar um dia em que os dois anjos malas estivessem muito ocupados demais para pegarem no meu pé.

– Graças a Deus! – Abracei Tomtom,feliz e morrendo de saudades do meu guitarrista. – Muito obrigada,baixinha!

– X –

Cheguei ao Amparo e apresentei Tomtom e Regina e as outras funcionárias. Quando perguntei por Pedro,ela apenas disse:

– Eu ainda não o vi hoje,querida. Deve estar lá fora com as crianças.

Assenti e saí a procura dele. Cheguei a cogitar que ele não estivesse ali quando o vi,mais distante,conversando com Alice. Me aproximei e me escondi atrás de uma árvore que estava atrás dele,para que ele não notasse minha presença.

– Que houve,minha linda? – Ele se aproximou da pequena Alice,sentando no banco ao lado dela. – Por quê tá chorando?

– P-porque ninguém quer brincar comigo. – Ela sussurrou,tentando secar as lágrimas.

– E porquê não? – ndagou brincalhão,e ela apenas deu de ombros,como se não soubesse a resposta. – Vamos fazer o seguinte,que tal se eu brincar com você?

Vi os olhinhos de Alice brilharem com a pergunta de Pedro,e me derreti ali mesmo com a cena.

– Mas você sabe brincar,tio Pedro? – perguntou,dividida entre ficar alegre ou desconfiada.

– Bom,eu não sei,mas eu sei alguém que sabe.... – Reparei que ele escondia algo com uma das mãos,e logo pude ver do que se tratava. – O meu amigo macaquinho!

Vi um macaquinho verde surgir das mãos de Pedro,e Alice sorriu.

– E aí,gostou?

– Gostei! Mas tio Pedro,o seu amigo macaco não tem nome não? – Perguntou,e Pedro fez cara de supreso.

– É mesmo,pequena! Me ajuda a escolher um nome pra ele?

Vi ela assentir,e logo estavam os dois pensando em um nome.

– Que tal Florisvaldo? – Pedro sugeriu,e ela fez uma careta. – Não,né? Que tal....

– O incrível Hulk? – Ela sugeriu.

– É legal,ele é verde né? – Olhou para o macaco. – Mas será que ele gostou? Pergunta pra ele.

– Macaquinho,você gostou do seu novo nome? – Ela perguntou sorridente.

– Olha só,ele tá me falando aqui que gostou,mas.... – Ponderou,vendo a menina atenta a observá-lo. – Ele me disse aqui que incrível Hulk não vai rolar não. Aqui é o incrível macaco! – E fez cócegas na menina,que ria descontrolada no colo dele.

Eu ri deliciada com os dois,e senti vontade de ir até Pedro,abraça-lo e não soltar nunca mais.

– Você gosta mesmo dele,né Ka?

Me assustei com a presença de Tomtom,que agora estava ao meu lado.

– Ai anjinho,quê que eu faço? – Indaguei,sem conseguir tirar os olhos dele,que distrubuia beijos na pequena Alice. – Porquê ele tem que ser tão...tão...

– Tão?

– Tão Pedro! Eu não consigo ficar mais sem ele. – Exclamei.

– Então não fica,ué. – Respondeu simplesmente,e eu ri. – Vocês tem uma mania muito chata de complicar as coisas,viu?

Resolvi seguir os conselhos de Tomtom,e me aproximei silenciosamente dos dois,que conversavam com o macaco de pelúcia.

– Adivinha quem é. – Tampei seus olhos com as mãos,e fiz sinal de silêncio pra Alice.

– Olha só isso Alice,ela acha que eu não sei adivinhar.

– Sabe mesmo? Não sei não.... – Desdenhei,e ele fez careta,arrancando risadas de Alice.

– Eu sei sim,tá? Mas vou pedir ajuda pro meu novo amigo verde aqui. – Apontou o macaco pra minha direção. – Macaquinho,você sabe me dizer quem é? – Perguntou,e balançou a cabeça do boneco em sinal afirmativo. – Eu acho que é a tia Karina,Pedro. – Imitou a voz do boneco. – Quem,a esquentadinha?

– E não é que esse macaco é inteligente? – Beijei sua bochecha e me sentei ao lado deles.

– Não é não,porque a tia K não é esquentadinha! – Disse Alice. – A tia K é um amor.

– Awn pequena! – Dei um beijo estalado em sua bochecha.

– Hunf,e eu? Não sou não? – Brincou com a pequena. – A tia K é um amor esquentadinha,isso sim.

– E ele já tem nome?

– Ainda não,tia K.

– Que tal Flux? – Inventei um nome,e eles pareceram gostar.

– Eu gostei! – Alice disse.

– Eu também,esquentadinha. O lance é ver se o Flux gosta. Você gostou? – Balançou o boneco novamente. – Então fechou,é esse!

Os três se levantaram e foram em direção a sede do Amparo.

– X –

Pedro levou Karina e Tomtom pra casa. Durante o caminho,o guitarrista desafinado cantou as músicas que tocavam no rádio,e as duas se diviam entre rir e manda-lo ficar quieto.

– Chega Pê! Tadinho do Luan Santana,ele não merece isso não.

– É aquele vesgo que canta esse negócio aqui? Agora é que eu canto mesmo. – Gargalhei com Tomtom,e ele recomeçou a cantoria.

Desceram do carro e ele as levou até a porta. Quando Karina a abriu,presenciou um completo silêncio.

– Ué,cadê todo mundo? – Indagou Tomtom. – Será que o João e o Mestre ainda estão lá na academia?

– Mestre? – perguntou a loira.

– É Ka,agora que o Gael tá dando aula de Muai Thay lá em cima da Ribalta,só quer ser chamado assim. – Reparou que sem os dois lá,a amiga poderia ficar sozinha com Pedro,e logo se adiantou. – Eu vou subir,tchau pra vocês.

Pedro esperou a irmã de Karina chegar ao segundo andar e disse:

– Sabia que eu adoro essa menina? – E se aproximou da loira,colando seus corpos.

Pedro envolveu seus braços pela cintura da pequena loira,e Karina por sua vez tinha os braços repousados no pescoço do guitarrista.

– E eu? Você não adora não? – Indagou,se fingindo ofendida.

– Ahn,deixa eu pensar....Não! – Respondeu brincalhão,e Karina lhe deu a língua. – Ih,olha que quem mostra l´ngua,ou quer beijo,ou tá com fome.

Ela se aproximou dele e roçou seus lábios,mas antes que Pedro pudesse beijá-la,ela sussurrou:

– Tô com fome. – E saiu correndo entre risadas.

– Aaah,então é assim? Mas você vai ser só uma coisa. – E correu atrás dela,e logo eles estavam correndo em círculos pela sala.

– Você não me pega!

– Volta aqui,esquentadinha!

Pedro esperou um momento de distração dela e a puxou por trás,derrubando seu corpo no sofá e ficando por cima dela,prendendo seus braços.

– Me solta,Pedro!

– Só se você pedir beijo. – Disse,e ela negou,gargalhando.

– Não meeesmo,Pedro Ramos! Pode esquecer.

– Então eu não te solto,linda. Simples assim. – Mandou,ainda prendendo seu corpo ao sofá. – Pede,vai. – sussurrou ao pé de seu ouvido.

– Não. – Sua negação saiu como um sussurro,pois assim que respondeu,Pedro aproximou suas bocas,roçando seus lábios.

– Eu quero e vou ouvir você pedir,Karina.

– Olha que isso é tortura....

– Então você gosta? – Pedro começou a soprar devagarzinho o pescoço da garota.

– Não adianta Pê,eu já disse que não vou pedir. – Ela arfou entre uma palavra e outra.

– Então eu não vou parar. - Mordeu a orelha dela devagar,acariciando com a língua.

– E-eu desisto. Que droga,Pedro! – Choramingou,enquanto ele fazia uma trilha pergosa de beijos por seu pescoço,maxilar,bochecha até chegar a sua boca. – Me beija,Pedro! Me beija,logo,vai.

Ele riu do desespero dela e tomou seus lábios para si,iniciando um beijo. Sua língua procurava pela dela,e quando encontrou,houve um encaixe perfeito,elas dançavam num mesmo ritmo e provocavam uma sensação maravilhosa.

Ouviram um pigarro e se afastaram,encontrando um João nada feliz.

– Posso saber o que tá acontecendo aqui,dona Karina? – Mandou,fuzilando Pedro sem discrição.

– Não é da sua conta! – Karina bufou,morrendo de raiva do amigo. Ela nunca pensou que poderia ficar tanto tempo brigada com ele.

– Acho melhor eu ir,Ka. – Pedro disse,e Karina o levou até a porta.

– Até amanhã,minha esquentadinha. – Uniu seus lábios,iniciando um beijo calmo e doce.

– Até amanhã,meu guitarrista maluco.

Ele rumou para a casa ao lado e Karina voltou para a sua,entrando e trancando a porta.

– Precisava esse escândalo todo,João? – Gritou,irritada com aquela invasão do novo lutador.

– E você ainda pergunta? – Mandou de volta,sentando no sofá. – Imagina só se é ele que te pega aqui com ele?

– É,mas não foi. – Perguntei aonde Gael estava,e ele disse que ainda estava na academia. – Poxa João,cê bem que podia quebrar meu galho né? O mestre não precisa saber disso... – pedi com meu lado angelical aflorado.

– Cê sabe que eu não posso fazer isso,nem vem.

– Ai,quer saber? Cê devia era fazer o mesmo! Assim ficava menos chato,eu hein. – Respondi irritada,e ele desviou o olhar,encarando os pés.

Me lembrei do porquê não deveria ter dito aquilo,e me xinguei de todos os nomes possíveis quando vi a carinha dele.

– Ai João,me desculpa vai! Por favor,eu não queria....

– Não queria,mas disse né Karina? – Ele retrucou,ríspido. – Mas tudo bem,deixa pra lá.

– Cê ainda não superou a Henya né? – Perguntei,mas não precisava de resposta. Ele deitou sua cabela nas minhas pernas,e eu afaguei seus cabelos.

– Desculpa?

– Tá desculpada,maninha.

Ouviram a campainha tocar,e Karina se levantou para atender.

– Deve ser a Bianca. – Ia abrir a porta,mas ao ver a carinha triste de João,repensou a noite com a amiga. – Você tá bem mesmo? Se quiser eu posso desmarcar....

– Não precisa não,Ka. Eu já tô melhor. – Respondeu sincero. Ainda que falar sobre Henya o machucasse,ele não iria estragar a noite da amiga novamente.

– X –

Os três assistiam ‘’O Poderoso Chefão’’ por insistência de Bianca,enquanto comiam pipoca. - ‘’Como assim vocês não conhecem? É o filme favorito do Pê!’’ – foi o que ela disse.

– Tá gostando do filme,João? – Karina perguntou,vendo a cara de tédio do menino,enquanto Bianca já sabia todas as falas de cor.

– Não. Como o desafinado consegue gostar disso? A gente devia ver V de Vingança,isso sim.

– E desde quando você gosta desse filme? – A loira perguntou.

– Eu odeio esse filme. Aposto que você quer ver só por causa da Natalie Portman! – Bianca retrucou.

– Já que você tá dizendo.... – Ele sorriu maroto,e Bianca encheu sua boca de pipoca.

– Fica quieto aí e me deixa ver o filme.

Continuaram nessa implicância o filme todo,e Karina aproveitou a distração dos dois e fugiu para a casa de um certo guitarrista maluco e perfeito pra ela.

– Cadê a Karina? – João perguntou,se levantando e olhando por todo o cômodo.

– Não sei,não... – disfarçou olhando pra cima,fingindo que não a viu sair para ficar com o irmão.

– Bianca.... – repreendeu a menina,e ela logo soltou o que sabia,sem paciência pra aquilo.

– Ah,quer saber? Ela tá com o Pedro sim! Satisfeito?

– Satisfeito eu vou ficar quando trouxer ela de volta. – Ele afirmou. Tentou ir até a porta,mas Bianca o impediu,parando em sua frente. – Dá licença,Bianca.

– Não.

– Eu não vou pedir de novo,me dá licença! – Ele já estava irritado,e Bianca se divertia.

– E eu não vou sair.

Os dois estavam numa richa onde nenhum queria ceder.

– Ah,não vai não? – Indagou,e ela assentiu,convicta. – Depois não diz que eu não avisei.

João pegou a atriz e a colocou nos ombros,tirando a garota de seu caminho.

– ME SOLTA,SEU MALUCO! - Ela batia em suas costas,e ele riu internamente. ‘’Quem é que está rindo agora?’’

– Seu pedido é uma ordem.

Tirou a menina dos ombros e logo seu corpo já estava no sofá. Ele só não esperava que ela fosse puxá-lo junto,fazendo seus corpos se aproximarem como nunca antes.

João,que tinha o olhar fixo em Bianca,pensava em mil maneiras de brigar com ela e sair dali,mas não conseguiu fazer nada. O único movimento que conseguiu fazer foi descer seu olhar dos olhos para a boca dela.

Nunca tinha estdao tão próximo de uma garota assim,depois de Henya. Mas ali estava ela,tão – talvez? – certa,na hora errada. Podia sentir sua respiração em sua boca,e deslizou os dedos sobre o rosto dela,fazendo um leve carinho.

Lembrou-se de quando disse a Gael que ela tinha terminado o namoro com Duca. O que o impedia de fazer o que estava em sua mente? Nem ele mais lembrava. Foi com esses pensamentos que levou seus lábios aos de Bianca,iniciando um beijo.