Motsatt escrita por Monique Góes


Capítulo 26
Capítulo 25 - Olhos Vazios


Notas iniciais do capítulo

Ok, agora eu realmente preciso falar sério.
Vocês veem por aqui que eu não sou aquele tipo de autora que mendiga reviews, que fica "Eu só vou postar o próximo capítulo se receber 10294827372413138347 comentários e 21283742721 recomendações", mas sério gente: Por dia, Motsatt recebe pelo menos 100 visualizações, e quase todas são nos últimos capítulos (22 para baixo). Agora... Cadê vocês meu povo?! No começo da história eu recebia 3 comentários por capítulo, depois de um tempo, passei a receber só 1. Nem por isso reclamei e fiquei chantageando ninguém. Agora, o último comentário que eu recebi foi no capítulo 19, e ninguém mais mandou depois daí. Tipo, sério mesmo? Eu respondo todos, agradeço todos, mas não sei se vocês sabem, dá um desânimo e uma bela insegurança. A história tá boa? Tá ruim? Os leitores abandonaram? Ou eles acham que eu não me importo? Isso está me fazendo pensar se vou mesmo postar a continuação, ou ninguém se importa, tão pouco se ferrando?
Sinceramente, pra eu escrever um texto desses, é porque eu estou realmente chateada.



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Capítulo 25 – Olhos Vazios

A armadura do Esben era feita com o couro de salamandras vulcânicas. Era leve e maleável, porém mais resistente do que muitas armaduras de metal. Era feita para quem presava a leveza e a agilidade, as principais características do esquadrão. Ela era sem costura e completamente negra, tão negra que parecia ser feita de breu, e sua confecção era relegada apenas aos Salandris, um povo reptiliano nativo de Talbor. Houvera alguns problemas quanto ao modo em como a armadura seria para os trigêmeos, pois à temperaturas extremamente baixas o couro se danificava. Prova disso fora quando mandaram Nero congelar uma haste, e um grande pedaço das luvas que usava normalmente – provavelmente eram pertencentes ao pai deles – simplesmente caíra como se fosse podre. Não sabia exatamente o que haviam posto, mas agora era capaz de resistir à quando usavam-se de gelo.

Nero calçava as luvas compridas e repletas de tiras de couro. Sempre considerara aquela armadura diferente do que via normalmente no continente, porém não sabia o motivo. Maya estava sentada sobre uma mureta do jardim de Ioji, observando-o vestir a armadura sobre as roupas que usava sob as que trajava normalmente.

Sentia-se um tanto constrangido, mas era mais pelo fato de não ter tido tempo de contar à ela como pretendia. Era óbvio. Não era como se contar que era um dos membros mais novos de um grupo de assassinos extremamente conhecido – embora fizesse parte do exército, tecnicamente. E como Maya não falava, não tinha certeza se estava realmente tudo bem, embora seus olhos se mantivessem indecifráveis.

– Está incomodada? – questionou quando sentou ao seu lado para fechar as botas que não eram muito diferentes das luvas. Ela balançou negativamente sua cabeça, porém mesmo assim manteve-se com dúvidas. Acabou suspirando. – Vannes nos meteu nessa... Eu sinceramente estava pensando em como lhe contar, mas agora o estrago está feito.

Ela tocou seu braço como se para assegurar que estava tudo bem, as mãos pequenas engatando-se sobre uma das tiras. Curvou-se ligeiramente, beijando a testa da garota que soltou um suspiro baixo. Talvez pelo fato de passar mais tempo com ela, soubera identificar que ela se acanhara com o ato.

– Bem, estamos indo em direção à uma noite em claro. Tem certeza de que não quer ficar na pousada e dormir?

Maya apenas o encarou, questionando-o com seus olhos se ele realmente achava que ela iria conseguir dormir. Nero acabou rindo de maneira contida devido a isso. Ela formou uma frase com os lábios: “Eu vou esperar”, embora não tenha saído som algum dali.

– Tudo pronto? – Escutou alguém questionar, e ironicamente não soube dizer se era Jake ou Winter. Levantou-se indo até onde seus irmãos estavam. Ioji havia os recebido, mas não havia os visto daquele modo, então simplesmente escalaram os muros da casa, e Nero deu uma última olhada à Maya sentada sozinha no jardim antes de seguir o caminho.

Uma das coisas mais dolorosas do treinamento sem dúvidas foram as Marcas, porém certamente eram a parte também mais vital. Eram símbolos mágicos marcados à pele como tatuagens, porém quando a magia se introduzia à pele e parecia se juntar ao sangue nas veias, a dor era uma sensação congelante e agonizante, insuportável. Os magos responsáveis para pô-las eram capazes de rastrear quantas o membro já havia recebido, e o padrão era uma por mês. Assim, identificaram vinte e quatro sobreposições no braço esquerdo tanto de Jake quanto de Nero, e receberam ordens de pôr tudo o que o que haviam perdido durante os anos passados sem treinar, o que resultara em 96 sobreposições em cada uma das cinco Marcas do Esben: Velocidade, força, percepção, equilíbrio e recuperação. No total, 480 vezes em que tiveram de receber a dor excruciante, ao ponto de que acabaram perdendo a consciência quando literalmente perderam a conta de quantas vezes aquela sensação era reavivada.

Infelizmente, Winter acabara passando por uma situação ainda pior. Para se manter em uma situação de igualdade com a dos irmãos, fora marcado pela primeira vez e ainda recebera 120 sobreposições, resultando em seiscentas marcas. Ele praticamente entrara num coma durante quase dois dias.

O treino do Esben durava em torno de doze anos. Ao menos haviam sido marcados de acordo com o tempo perdido, então já contava dez. Como não dispunham de tanto tempo, quando iam por quatro marcas mensalmente, ao invés de apenas uma em cada símbolo, para que conseguissem terminar os doze anos em seis meses.

– Foi por aqui? – Winter questionou quando já haviam adentrado a floresta. Estavam próximos à água do rio de anteriormente.

– Eles entraram numa gruta que era contra fluxo da água. – Jake informou. – Assim, temos de ir contra a correnteza. Ou podemos entrar na água e seguir à nado.

– Quando estivermos próximos à entrada. – Nero argumentou. – Assim entramos sem sermos vistos.

Assim seguiram pelas margens, seus passos não fazendo barulho contra a mata rasteira até a gruta vista anteriormente. Pouco antes da entrada, fizeram o sugerido e mergulhando. Haviam feito duas descobertas durante aqueles meses: A primeira era que Talbordais eram capazes de entrar em água e nadar, desde que ela não sofresse interferência de Bergais. A segunda era que aparentemente haviam herdado a capacidade Bergal de respirar embaixo da água, então não precisavam retornar à superfície para respirar.

Seguiram pelo fundo até diversas armações de madeira, indicando pontes, tablados e trapiches começaram a surgir. Winter olhou para cima, indicando as sombras bruxuleantes de tochas e as silhuetas brilhantes dos ladrões. Ele tirou seu arco e fez uma flecha com a água, atirando-a numa das tochas, que imediatamente apagou. Nero também atirou em outra que havia ali com algo que Jake não identificou.

– Mas aos Sthanom, o que foi isso?! – ouviu um reclamar assim que deslizou para fora da água.

– Deve ter sido um daqueles malditos peixes cuspidores. Você sabe que eles adoram fazer isso. Vá acendê-las de novo.

– Não sei não... Teve algo diferente dessa vez... Cê sabe que pode ser alguém tentando pegar de volta alguma coisa que roubamos.

– Boba...

Seja quem quer que estivesse falando, Jake tapou sua boca e cortou sua garganta. Antes que o outro reagisse uma estalactite tremeu e soltou-se sobre ele, porém ao invés de empalá-lo na madeira do tablado, ela foi para o lado e o cravou no fundo do rio. Sabia que aquilo fora obra de Nero, então nem se assustou.

Como conseguia enxergar na escuridão quase tanto quanto um gato, viu Winter deslizando acima do tablado no outro lado, enquanto Nero permanecia na água. Seguiram à passos rápidos, apagando tochas no caminho, e quando uma estrutura começara a subir em direção ao teto da caverna, Winter escalara as vigas, movendo-se sinuosamente por elas. Ele apontou para algo à esquerda, e Jake viu que era um Salandri. Ele era alto e repleto de escamas, com uma cauda repleta de espinhos e a cabeça seca de um lagarto. Sabia que seria inútil tentar furá-lo, então teria de apelar para outro tipo de ataque.

Torceu os lábios, deslizando velozmente sobre ele, prendendo seu pescoço com os braços e o tronco com suas pernas, fazendo com que ambos caíssem. Jake sentiu como se houvesse caído sobre uma bolsa de ar, percebendo que Nero impedira-o de cair sobre o tablado da ponte afim de evitar o estrondo que causaria.

O lagarto debatia-se furiosamente, porém Jake ergueu uma mão – tomando cuidado com as presas -, pegando a outra extremidade de sua cabeça e com um puxão ouviu o estalo da coluna, fazendo com que o reptiliano parasse de se debater.

Escutou o assobio das flechas de Winter, assim jogou o corpo na água, porém ela se moveu, erguendo-se como três braços e puxando diversos homens antes que eles tivessem a possibilidade de gritar. Aproveitando-se da oportunidade, subiu sobre os braços d’água, deslizando sobre a água e saltou, pendurando-se numa viga à frente de Winter. Girou, logo pondo os pés sobre ela e de cima viu diversos caixotes e itens aparentemente roubados, assim como o modo que as pontes eram construídas.

– Que bagunça, isso parece um labirinto! – murmurou.

– Algum sinal da arc.... – Winter começou, saltando para seu lado, porém algo agarrou a ambos por suas nucas, atirando-se junto a eles em direção à ponte antes de terem uma reação válida. Jake e Winter bateram com um bufo dolorido na madeira que imediatamente se partiu.

Viu os olhos arregalados de Nero sob a água assim que recuperou-se da tontura que o acometera, então Jake olhou para cima afim de ver o que havia os atacado, tendo de pôr a cabeça para fora da água. Arregalou os olhos ao ver o lunático de anteriormente, Inq, empoleirado sobre uma viga partida ao meio.

– Você...!

Ora ora, acalmem-se.

– Tsc, obrigado por fazê-los perceber que estamos aqui.

Para quê palavras venenosas?

Jake se assustou quando Winter simplesmente sacou uma flecha mais velozmente do que poderia acompanhar e a atirou contra Inq, porém o surpreendendo, o homem pegou-a em plena ar, faltando poucos milímetros para atingir seu olhos.

– Exatamente como sua tia... – Inq sequer tentou mais deformar sua voz ou falar em versos. Ele parecia achar graça.

– O que merda você está falando?!

– Acalme-se garoto. Não percebe? – ele ergueu uma mão, demonstrando então algo que até então Jake não havia percebido. A água não tremulava, e as vigas de madeira estavam paradas em pleno ar, travadas em meio à um giro, os corpos que deveriam estar caindo na água meio mergulhados e meio emersos.

Era como se o tempo houvesse parado.

–... Você... Você que fez isso? – Nero questionou em voz baixa.

– Talvez sim, talvez não. – respondeu. – Mas o que temos aqui?

Ele ergueu suas mãos e Jake instintivamente levou a mão ao pescoço, atrás de seu amuleto de Dekhi, percebendo que ele havia sido arrancado de seu pescoço. E mais... O cachecol prateado que recebera de Perizad estava estendido sobre seu braço. Havia o deixado em sua sacola, na pousada! Na outra mão, estava com o amuleto de Ringan de Winter, além do tecido branco também estendido em seu outro braço.

– Mas como...! – acabaram exclamando em uníssono.

– São ingênuos demais para perceber o quão abençoados por terem estes presentes... É algo que chega a me impressionar.

Com um movimento em que Jake pensara que ele derrubaria os tecidos na água, as pedras dos amuletos começaram a brilhar. Quando deu por si, os panos giravam quase como se estivessem sendo espremidos enquanto presos à uma hélice, então percebendo que algo pareceu materializar-se das luzes dispostas dos dois amuletos.

Eram armas. Do amuleto de Ringan saíra um arco azul gelo com diversos entalhes violetas formando uma fênix com suas asas abertas, a cabeça disposta com os olhos brilhantes sem seu bico, e junto com ela vinha uma aljava, fechada quase como um estojo, também branca, entalhada como se fosse a cauda do animal. Do amuleto de Dekhi viera duas adagas, ambas tão negras quanto a armadura do Esben, porém seus punhos eram entalhados como se houvesse magma e pareciam asas, os desenhos estendendo-se para as lâminas cobertas pelas bainhas douradas e aparentemente bordadas que Jake não conseguiu ver de longe seus detalhes.

– Presentes dos deuses, presentes dos mortais... Sanadora e Peregrinas. Creio que deveriam está-las usando, não deveriam?

Os amuletos pararam de brilhar, os tecidos desapareceram, porém as armas ainda estavam ali. Jake piscou e quando percebeu seu amuleto já estava em seu pescoço e as lâminas estavam em suas mãos.

– Ei, esse é o meu...! – ouviu Nero exclamando e Inq já estava em outra viga, meio de lado com o amuleto de Akhir em mãos. Assim como acontecera com os dois, ele começou a brilhar e uma longa e fina espada surgiu, branca como a neve e assim como as adagas de Jake, sua bainha era retorcida como uma asa em vermelho sangue e sua bainha era negra, repleta de pontos brilhantes como se fosse um céu estrelado.

– Mas... Se não é o Fim... – Inq murmurou.

– Devolva-a!

– Mas é claro. – Ele atirou a arma em direção à Nero. Quando Jake percebeu, ele estava equilibrado na ponte que caía, parada no tempo, em frente à eles. Ele encarou aos três intensamente com seus olhos vermelhos, e disse: - Já tentaram unir os amuletos? Formar a fênix?

Antes que respondessem, os olhos de Inq tornaram-se completamente negros, porém neles havia algo... Jake percebeu ser a galáxia. Uma galáxia com seus cosmos, as estrelas, constelações, tudo dentro dos olhos daquele homem estranho à sua frente. E ele simplesmente disse:

Às cinco partes

Aos dragões que voam no céu

Àquele que se encontra distante e próximo de todos.

O Dragão Dourado há de ressuscitar

Os segredos esquecidos por aqueles demasiadamente poderosos

Na escuridão e profundezas da loucura dissipada.

Adormecido, aquele que escapou da destruição:

O sábio ignorado,

O prodígio subestimado

Aquele que teve de nascer antes para poder presenciar o depois

No túmulo dos primeiros, na cova dos imortais

O profeta adormecido.

As tábuas caíram estrondosamente na água e quando deu por si, Jake percebeu que Inq havia desaparecido como se tudo o que houvessem visto não passasse de uma ilusão. Escutou as vozes e gritos dos ladrões que vinham verificar o motivo daquela barulheira, porém sentia como se seu corpo estivesse dormente e sua mente estivesse em outro lugar.

Piscou, e viu os ladrões correndo em direção à eles, cimitarras e maças em punho.

– Esben?!

– O que o Esben está fazendo aqui?!

Winter foi o primeiro a ter reação, pegando uma flecha da aljava – que nem percebera que Inq trocara – sacando-a no arco azul, a ponta tornando-se o bico da fênix. Atirou-a, e ela sequer pareceu zunir, indo tão veloz quanto a bala de uma arma, certeira no peito de um dos ladrões. Ele arregalou os olhos, e quando perceberam houve uma explosão silenciosa e o gelo se espalhou por todo o local, congelando, branco, todos os ladrões e parte da água.

O mais velho olhou assustado para o arco em suas mãos. Virando-o um pouco, Jake avistou entre as asas da fênix, entalhado de maneira discreta, quase confundindo-se como um dos detalhes do arco: Sanadora.

– Certo, isso foi...

– Inesperado?

– Sim, mas útil. Vamos em frente?

Acabaram por sair da água e Jake percebeu que as adagas que usava normalmente haviam sumido de seu cinto, assim, acabou por prender as novas lá, retirando-as de suas bainhas. Os desenhos dos punhos seguiam para as lâminas negras, e cada arma formava uma metade da fênix, e unindo-as, viu também seus nomes: Peregrinas. Elas pareciam quentes em suas mãos, e quando as abriu, percebeu que elas mantinham-se pregadas à sua pele, embora não sentisse como tal. Engoliu o seco, sem entender o que Inq fizera. Aquelas armas estavam guardadas em seus amuletos, era isso? Se sim, como ele conseguira retirá-las de lá?

– Klodike, acorde para a vida! Tem mais ladrões vindo!

Olhou para cima, porém os ditos ladrões pareciam cautelosos, temerosos em ataca-los. Separaram-se, tentando cerca-los. Eram cerca de dezoito, mas antes que tivessem tempo de armarem um plano, Jake saltou em frente, atingindo a um com uma Peregrina. A lâmina brilhou como se estivesse em chamas e o ladrão gritou enquanto sua pele começava a borbulhar e quase como um reflexo, Jake aumentou sua temperatura. A lâmina o acompanhou e o homem gritou mais ainda, e simplesmente se incendiou. Quase imediatamente, uma pilha de ossos carbonizados caiu onde o ladrão estava.

Ao invés de se manter atônito como se mantivera anteriormente, seguiu para o próximo, atingindo num golpe vertical, concentrando o calor das chamas em seu braço. Como se respondendo a isso, quando ela o cortou, as chamas simplesmente o atravessaram, atingindo aos ladrões que estavam atrás dele num efeito dominó. Com uma explosão, todos acabaram caindo mortos. Não carbonizados, porém as peles borbulhavam como ferro derretido.

– Argh, que... – Winter olhou para os corpos e estremeceu. – Vamos em frente.

– Vocês não dão nem oportunidade de ataque... – Nero comentou atrás deles.

– Bem, essa é...

– Para mim.

– Ah, ok.

Seguiram em frente. Novamente foram apagando as tochas, porém os criminosos presentes no local já estavam cientes na presença de invasores, mas continuaram a mata-los silenciosamente. Jake percebeu rapidamente que se retivesse o calor, conseguiria usas as Peregrinas sem causar todo aquele estrago, o que era bem mais silencioso. Não soube o que Winter fez, mas ele conseguiu acabar com as explosões das flechas de Sanadora rapidamente também. Nero ainda não utilizara-se de Fim, pois atacava usando magia ou a água.

Estavam já chegando aparentemente ao fundo da caverna e nenhum sinal da dita arca que haviam visto no dia anterior. Algo o dizia que os ladrões guardavam os saques mais preciosos ao fim de seu esconderijo, e à medida que encontravam caixas de joias, roupas caríssimas, tapetes bordados com pedras preciosas, sua suposição foi se tornando certeza.

No fundo da caverna, porém, uma surpresa. As paredes erguiam-se à quase quinze metros de altura, e havia uma enorme barragem de madeira, formando um paredão. Um mínimo de água corria de sua parte inferior, que eventualmente se tornava aquele rio por onde vieram. E ao fundo estava justamente a arca que haviam visto no dia anterior, escondida entre vasos de ouro, baús de aparência refinada e coisas do tipo. Ela era grande, quase com um metro de altura, de ébano polido e com entalhes em seu tampo e extremidades do dito metal dusora, que era de um pálido tom de dourado e fios pulsantes vermelhos, dando-o uma aparência pulsante. Os entalhes formavam uma esfinge, a cabeça masculina disposta elegantemente altiva enquanto o corpo felino estava deitado como um felino e as asas curvadas.

– Isso parece pesado. – Winter observou.

– Nós tecnicamente temos mais força do que um homem comum. – Nero retrucou. – Mas... O que será que há dentro?

Abriu a boca para dizer que no momento, isso não importava, porém Jake jurou que o chão pareceu começar a tremer. Alarmado, ergueu o olhar, e quase não acreditou quando viu uma multidão de homens vindo na direção deles de tal modo que a ponte começou a tremer.

– De onde saiu tudo isso?! – Winter exclamou, pronto para pegar seu arco, porém Nero simplesmente saltou próximo a barragem, desembainhando Fim.

– Segurem-se na arca! – gritou e fincou a lâmina alva na madeira.

Jake quase não acreditou no que viu. A madeira simplesmente soltou um longo gemido, e diante de seus olhos pareceu que os anos se passaram a ela. A superfície se torceu, encolhendo-se e apodreceu a olhos nus. A água começou a forçar passagem, espirrando pelas fissuras que eventualmente foi abrindo e por fim só teve tempo de agarrar-se à dita arca antes da barragem explodir e água se soltasse como uma besta furiosa.

Como estavam mais próximos, o impacto doeu como uma surra e Jake perdeu o ar quando seu estômago bateu certeiro na cabeça da esfinge. Segurou nas hastes de metal que serviam para o transporte da arca e percebeu que ela quase não saiu do lugar, primeiramente. Porém, quando saiu, eles literalmente voaram dentro da água, girando loucamente e se batendo por coisas que nem conseguia ver o que eram.

A mente de Jake pareceu entrar em branco, e quando piscava, parecia que os restos da gruta sumiam e uma cidade à beira da destruição aparecia diante seus olhos, os gritos desesperados de seus moradores sendo abafados pelo rugido da água. Seus braços pareciam repentinamente curtos e mesmo sem se recordar daqueles tempos, sentiu como se possuísse oito anos novamente, durante o ataque à Nirllys.

Trincou os dentes, sua cabeça pesando repentinamente devido ao fato das memórias parecerem estar se forçando contra o selo. Respirou fundo, apertando com força o metal, e conseguiu pegar um Nero que quase passou voando por si. Como fora ele que causara tudo aquilo, não tivera tempo de se agarrar à arca.

Foram minutos intermináveis até finalmente a água começar a diminuir em seu ritmo, e Winter a controlou para que o líquido os expelisse. Caíram pesadamente sobre a grama e com um estrondo a arca rolou sobre as raízes de uma árvore. Jake gemeu de dor, provavelmente com alguma concussão.

– A madeira... Ela apodreceu... – Winter balbuciou.

– E provavelmente os ladrões se afogaram. – Jake continuou, sentando-se com dificuldade, retirando a máscara de seu rosto. Estava ofegante devido toda a ação que ocorrera repentinamente.

– Essa provavelmente entrou para uma das noites mais estranhas da minha vida... – Nero resmungou em algum lugar próximo a si. Viu-o se levantar, apoiando-se na arca e virando-a com claro esforço. – Certo, temos que levar isso até a casa de Ioji. Teremos de ser rápidos, já que logo vai amanhecer e não podemos aparecer vestidos assim, carregando isso em plena luz do dia.

– Está certo. – o mais velho ergueu-se, pegando os apoios. Com um pouco de esforço, ele e Nero ergueram a arca. – Essa coisa pesa toneladas! – exclamou.

– E eu? – Jake questionou.

– Vá na frente, e veja se não há ninguém no caminho ou algo do tipo.

Mesmo com todo o esforço posto, conseguiram ir rapidamente de volta à Cleethorpes. Passaram para dentro evitando os guardas nos portões por um buraco na muralha. Jake escutava os dois bufando atrás de si, mas não reclamavam do peso. O portão dos estábulos estava destrancada quando chegaram e os cavalos pareceram relinchar em conjunto quando Winter e Nero passaram já quase aos tropeços e foram literalmente jogar a arca no jardim.

Maya estava na borda da fonte que havia ali, e acabou saltando quando todo aquele peso quase caiu sobre si, tropeçando e caindo sentada dentro da água.

– Ai, desculpe... - Winter bufou. – Onde está...

Antes mesmo que mencionasse seu nome, Ioji apareceu correndo de forma esbaforida. Seus olhos se arregalaram, indo da arca até os rapazes encharcados vestidos com armaduras do Esben, porém ele acabou seguindo até o objeto.

– Que os deuses queimem minha língua, vocês conseguiram! – ele praticamente se jogou de joelhos e abraçou a esfinge como se realmente fosse um animal vivo. Ioji parecia prestes à chorar emocionado.

– Bem, cumprimos nossa parte do trato. – Winter se jogou no chão, extremamente cansado.

– Sim... Sim! – exclamou. – Deuses... Esse lugar... Vocês tiveram muitos problemas?

– Não. – Nero mentiu. – Foi algo que conseguimos dar conta.

Ele assentiu, parecendo um pouco mais aliviado. O de cabelos prateados não conseguiu se reprimir e questionou:

– Senhor Ioji, o que há nessa arca?

Ele pareceu hesitar, porém ao fim, simplesmente afastando-se e pressionando o que Jake inicialmente pensara ser apenas mais alguns adornos, porém o som dos mecanismos dentro da arca comprovaram imediatamente o contrário. O tampo da arca pareceu se elevar, e a esfinge se desfez, revelando que na realidade ela era a abertura.

– Como vocês fizeram tudo isso para recuperá-la e não a abriram antes de trazê-la para mim, não vejo mal. – respondeu simplesmente. Os irmãos e Maya se aproximaram, e o interior estava repleto coisas ligeiramente ovaladas e achatadas nas extremidades. Aparentemente finas, Jake estendeu a mão, pegando uma que era quase do tamanho de sua palma e ela reluziu diante o brilho de sua pele num incrível tom de prateado, e sua superfície era tão lisa, brilhante e uniforme como se fosse polida por horas à fio todos os dias, ao ponto de conseguir ver seu reflexo como se fosse um espelho. Ela era incrivelmente rígida, e sem conseguir se segurar, acabou pegando-a com ambas as mãos, tentando entortá-la, sem qualquer sucesso.

– O que é isso? – Winter questionou enquanto Maya também estendia a mão e pegava uma.

– Escamas de dragão. – todos o olharam de olhos arregalados. Já haviam ouvido falar dos dragões, obviamente. Que suas escamas eram a coisa mais resistente existente, que seu fogo era o bastante para matar Talbordais queimados e eram criaturas extremamente orgulhosas, normalmente vivendo reclusas em suas montanhas. – Uma dessas já vale uma fortuna.

–... Você tem uma arca cheia... – Nero continuou.

– Sim, é.... Uma herança. Nunca descobri quem de meus antepassados conseguiu isto, mas está conosco há tanto tempo que... Não sei explicar. É como se fosse quase parte de minha família. Dizem que traz sorte, e eu acredito veemente nisso. Durante séculos os cavalos da família são os melhores de Talbor, e nosso negócio foi em vento em popa. Não saberia o que fazer sem, elas, por isso... Muito obrigado.

– Bem, o que faremos agora?

– Por que não vão descansar? Deve ter sido uma noite cansativa. Quando voltarem, não se preocupem, seus cavalos estarão prontos. E mais uma vez, muito obrigado por devolverem as escamas de dragão.


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