Motsatt escrita por Monique Góes


Capítulo 24
Capítulo 23 - Um brilho na Escuridão


Notas iniciais do capítulo

Bem pessoal, eu voltei de viagem e como fui para o interior e lá não tinha internet, aproveitei e dei uma boa adiantada em Motsatt. Resultado...? Eu terminei a fic com exatamente trinta capítulos e um epílogo, ALÉM de que já fiz cinco capítulos da continuação. Assim, entramos na reta final!
Espero que gostem do capítulo! :D



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Capítulo 23 – Um Brilho na Escuridão

Um grito agudo rasgou seus ouvidos, fazendo com que despertasse. Num reflexo adquirido nos últimos meses, Jake agarrou a adaga próxima a si antes mesmo de terminar de se sentar e com sua visão ainda embaçada.

– O que foi isso? – Ouviu Winter perguntar. Aparentemente tanto ele quanto Nero haviam tido a mesma reação, embora o mais velho houvesse pego seu arco com uma mão e a aljava de flechas com a outra, e o mais novo alcançara uma espada.

– E parece que eu sei? – Jake perguntou, se levantando cautelosamente e dando primeiro uma olhada no acampamento improvisado. Passando pela fogueira que havia se apagado, tudo parecia intocado. Voltou-se para Winter. – Não era para você ter ficado de guarda enquanto dormíamos?

– E eu fiquei até Naphees acordar pro dele. Não é minha culpa se ele dormiu!

Nero abriu a boca para protestar, mas Jake jogou uma pedra nele, fazendo-o ficar quieto. O grito soou novamente, e silenciosamente foi verificar.

Sinceramente, ter que literalmente ir para o outro lado de Talbor estava sendo tão cansativo quanto a ideia aparentara ao ser verbalizada por Arenai. Detalhe para o fato que tinham de realizar a viagem a pé, já que não puderam disponibilizar cavalos – ou até mesmo camelos – para os trigêmeos.

Contando o número de bandidos que já haviam encontrado pelo caminho, Jake agradecia o fato de ter aprendido a matar.

Uma mulher surgiu correndo. Estava vestindo uma burca e um manto amarrado em seus ombros, indicando que era uma nômade. Os olhos castanhos delineados com khol se arregalaram e ela se direcionou à ele.

– Quimera! Quimera! – sua voz, além de desesperada, soava embargada. – Atacou a minha caravana, socorro!

– Onde?! – Jake quase saltou ao perceber que tanto Nero quanto Winter estavam atrás de si.

– Lá na frente, por favor... – ela estava prestes a cair no choro. – Meus irmãos e...

– Certo. – Jake suspirou. Uma das coisas que mais ouvira durante aquele tempo era que deveria tentar manter-se o mais afastado quanto possível de quimeras, pois eram bestas extremamente violentas. – Vannes, leve-a para um lugar seguro, por favor. Naphees, venha comigo.

Winter assentiu enquanto Jake e Nero entraram na mata.

– Não acha que é melhor Vannes vir ao invés de mim? Ele é um arqueiro bom o suficiente para ter despertado a atenção dos...

– Naphees, mesmo que ele seja um arqueiro excepcional, tente se imaginar tentando acalmar aquela mulher. Sociabilidade não é seu forte, sinto muito.

–... É, nisso você tem razão. Ele é bem melhor que eu... E de que você também.

– Vannes é alguém que entende de relações humanas, ao contrário de nós. Isso é fato.

O farfalhar de folhas fez com que ambos imediatamente se calassem. Jake preparou-se para qualquer coisa, um ataque, outro sobrevivente. O que viu foi alguém muito pequeno correndo – mancando numa velocidade incrível, na verdade - em sua direção...

E a dita quimera vinha logo atrás. Literalmente seu bafo estava batendo diretamente na nuca da pessoa.

Saltou para o lado, atingindo certeiramente a cabeça que se encontrava nas costas da criatura. Também viu que a pessoa não conseguiu frear e acabou por literalmente atropelar Nero. Com um “uff” abafado, ambos caíram do barranco que estava ao lado do de cabelos prateados.

–... Certo. – Jake murmurou. Não que esperasse que aquilo fosse acontecer, era que mesmo com a criatura prestes ataca-lo, a situação não deixara de ser ligeiramente cômica.

A quimera saltou, tentando atingi-lo com suas caudas de serpente. Acabou tendo de se jogar no chão mas tomou impulso quase imediatamente para se levantar, tendo de correr imediatamente para o lado para escapar de uma patada.

– Naphees! – gritou.

– Estou aqui! – ouviu a voz do irmão gritando vários metros abaixo.

Não podendo esperar por ele, decidiu tentar a sorte. Correu a toda velocidade em direção à uma árvore, e utilizando-se do impulso praticamente correu pelo tronco de uma das árvores. Sentiu quando a quimera jogou-se de cabeça, e deu praticamente uma cambalhota, empurrando-se para trás, criando uma estaca de gelo e atirando-a como um míssil contra a quimera, atingindo-a diretamente no pescoço.

Ela soltou um rugido, contorcendo-se, mas não demorou muito para que seus movimentos se esvaíssem, tornando-se imóvel.

–... Até que foi fácil. – constatou quando pousou, pisando ainda nas cobras para que elas parassem de se mexer.

O estalo de raízes o fez pular, mas era apenas Nero. Ele estava subindo com certa dificuldade, pois em seus braços carregava a pessoa que vira antes. Percebeu que era uma garota, um pouco mais nova do que os dois. Ela era pequena, deveria ter no máximo um metro e meio de altura, e era tão magra ao ponto de ser quase esquelética. Não vestia nada mais que uma túnica branca puída, não mais que um grande pedaço de trapo, sua cabeça completamente raspada e o rosto era coberto por cicatrizes e hematomas, além das bochechas serem fundas de maneira alarmante devido a sua magreza. Os braços finos estavam fortemente agarrados ao pescoço de Nero.

– Você o matou sozinho? – o de cabelos prateados perguntou surpreso.

– Bem... Até que foi fácil. – admitiu e a garota olhou discretamente para o corpo da quimera. Seus olhos eram tão azuis e límpidos quanto o céu. – Quem é ela?

– Não sei. – Nero deu uma risada sem graça e ela direcionou seu olhar para Jake. – Tentei falar com ela, mas parece que ela é muda.

– Certo... – olhou para a garota. – Volte com ela para o acampamento, eu vou ver a caravana daquela mulher.

– Ok. Tome cuidado.

– Tem algo mais à frente?

– Não vejo nada que me diga que você será morto ou aleijado, então estou levando como um sinal de que não há perigo mais à frente.

Assentiu, dando suas costas e indo na direção antes dada à mulher, enquanto Nero dava a volta para retornar ao acampamento, torcendo que a garota em seus braços não percebesse o quão rápido seu coração estava batendo.

Sentiu as mãos pequenas e esqueléticas descendo para seus ombros, apertando-os com uma força surpreendente enquanto se içava ligeiramente, provavelmente para ver novamente o corpo do ser abatido.

–... Você realmente não fala? – questionou.

Ela apenas soltou-se, voltando a se acomodar em seus braços e o encarou com grandes olhos expressivos. Não, era o que estava escrito neles.

Desviou o olhar, sentindo o rosto abrasar. Sentia como se o olhar dela fosse pesado sobre si.

– Naphees! – Winter exclamou assim que o viu. A mulher de antes havia aparentemente rasgado a parte superior de sua burca e agora bebia do odre deles, as lágrimas flamejantes caindo abundantemente dos olhos castanhos. Ela ainda tremia. – Como foi?

– Klodike o matou.

–... Foi bem rápido.

– Sim – olhou para a mulher. – Ele foi verificar sua caravana.

– Oh, obrigada! – ela exclamou. – Pela luz de Ringan, que todos estejam bem!

Pensou em dizer que as chances de todos estarem bem eram mínimas, já que foram atacados por uma quimera, mas decidiu que talvez fosse melhor ficar quieto dessa vez, ao invés de fazê-la se desesperar novamente.

Pôs a garota sentada sobre o chão, e viu o sangue por toda a região de sua perna esquerda, que fora resultado da queda. Saíra incólume – graças às Marcas do Esben -, mas ela não. Pegou delicadamente seu tornozelo, levantando ligeiramente o tecido para verificar a gravidade do ferimento, mas ela ofegou e puxou rapidamente sua perna, retraindo-a, embora sua expressão finalmente demonstrara a absoluta dor que ela certamente sentia.

– Se acalme, eu só quero ver o quanto se machucou para que eu possa curá-la!

– Quem é ela? – ouviu a mulher perguntando. – Uma escrava?

Nero teve vontade de responde-la de maneira mal educada devido a comparação que fizera, porém novamente decidiu que era melhor se manter quieto.

A jovem engoliu o seco e de maneira trêmula estendeu novamente sua perna, permitindo-o verificar o ferimento. Nero esforçou-se para tentar manter alguma compostura, porém não deixou de arregalar os olhos ao ver a quantidade absurda de cicatrizes e ferimentos em processo de cicatrização em suas pernas e até mesmo nos pés. Jurou que viu marcas de chicotes e pequenas cicatrizes arredondadas nas solas de seus pés. Engoliu o seco e foi ver a ferida mais recente, a sangrenta sobre seu joelho. Não parecia ter sido um golpe da quimera, já que era uma ferida era um golpe redondo como se ela houvesse caído sobre algo pontiagudo, sem contar do imenso hematoma que já adquiria uma coloração amarelada, revelando que, se fora realmente uma queda, fora uma bem feia. Aquilo não era fruto do barranco certamente.

Franziu o cenho e murmurou algumas das palavras que se recordava. Agaumine o ensinara – muito casualmente – um pouco de magia de regeneração, e devido a isso acabara por recordar do que já sabia antes... Não sabia se deveria agradecer pelo fato de ser a primeira vez que se recordava de algo realmente útil. A garota soltou um suspiro de alívio enquanto a ferida se fechava.

– Mamãe! – um grito o fez virar e viu um garoto de no máximo seis anos correndo na direção da mulher, seguido por outra mulher de burca, e logo atrás vinha Jake.

– Seth! – ela correu até a criança e o suspendeu do chão num abraço apertado, e depois agarrou a outra mulher com um braço. – Sara!

– Temos que ir até a cidade. – Jake disse assim que se aproximou. – Há alguns mortos e muitos feridos. Você não vai conseguir curar todos sozinho.

– Certo. – levantou-se e a garota agarrou-o pelo pulso, atraindo sua atenção. – O quê?

Ela não disse nada – obviamente -, mas o encarando de forma tão intensa que se encolheu minimamente. Jurou ter ouvido Winter prender o riso atrás de si.

– Bem, parece que ela não é da caravana, então parece que o certo é leva-la com vocês, não?

Os olhos dela pareceram começar a pedir ajuda.

– Vannes, você...

– Fico aqui, eu sei. – ele completou a fala de Jake. – Vocês sinceramente tem que aprender em como lidar com pessoas... Apesar de Naphees parecer estar no caminho.

Lançou um olhar cético para o mais velho, porém relegou-se a seguir Jake de volta para a estrada com a garota praticamente grudada em seu braço. Jurava que ela estava tremendo e estava gelada.

Espera.

– Você é Bergal... – começou então recordou-se de como o sangue dela era quente. – Não... Galrdai?

Ela assentiu minimamente. Pensou em carrega-la novamente, pois parecia estar tão fraca que simplesmente cairia a qualquer momento, mas ela ainda o apertava com tanta força que mudou de ideia. O que havia à frente para deixa-la tão assustada? E o que acontecia com ela para se encontrar naquele estado? Se fosse uma escrava, como sugerido pela mulher, ela deveria pelo menos ter as marcas – ou ter, no caso – os ferros em seus tornozelos, porém não havia nada, apenas aquelas marcas de abuso.

Jake observava os dois, mas decidiu ficar quieto. Sabia que naqueles momentos era melhor ficar quieto.

Não demorou muito para chegarem aos portões de Anwar, a cidade mais próxima. Haviam soldados dispostos, guardando a entrada, e havia duas mulheres falando e gesticulando com um deles. Estavam vestidas com sáris ricos, bordados em pedrarias e fios de metais preciosos, além de serem de cores extremamente vibrantes, e seus braços eram repletos de joias.

Ao avistá-las, a garota apertou o braço de Nero com tanta força que ele não pôde se reprimir e acabou soltando uma exclamação de dor, atraindo tanto a atenção das mulheres quanto dos soldados.

– Maya! – uma exclamou, virando-se imediatamente para a garota.

– Graças aos deuses, vocês encontraram Maya? – a outra questionou os gêmeos, parecendo aliviada.

–... Quem são vocês? – Nero questionou.

– Oh, perdoe-nos. – percebeu que uma possuía cabelos ruivos e a outra possuía cabelos loiros. A loira continuou. – Somos irmãs dela. – gesticulou a garota. – Eu sou Priya e esta é minha irmã Indira. Estávamos atrás dela!

Jake ergueu uma sobrancelha, olhando-as da cabeça aos pés, com suas joias e vestimentas caras, totalmente belas e bem tratadas, então olhou para Maya, coberta de cicatrizes e hematomas, vestida em farrapos. Havia algo muito estranho, não?

–... Irmãs? – o de cabelos prateados continuou. Sinceramente, o tom dele estava dando arrepios em Jake. Nunca o vira falar daquele modo, assim decidiu se virar para os soldados. – Por que ela...

– Uma caravana foi atacada. – disse ao soldado, e o homem olhou-o com atenção. – Comerciantes, pelo que vi, e o ataque foi realizado por uma quimera. Há muitos feridos, e vários deles precisam de ajuda o mais rápido possível.

– Uma quimera?! O que aconteceu com o animal?

– Já o abatemos. – os olhos do homem se arregalaram. – Mas os feridos...

– Certo, iremos providenciar ajuda imediatamente! – e ele saiu gritando ordens.

Jake olhou então para Nero, que observava as três afastando-se. Priya retirara seu véu e o pusera em Maya, enquanto a segurava pelos ombros. Os olhos amarelos de seu irmão estavam fixos na menor figura.

– Naphees. – chamou.

– Hm. – resmungou, sem desviar o olhar. Num reflexo, Jake acabou pondo sua mão sobre o peito do irmão. – O quê?!

–... Bem-vindo ao clube. – disse ao constatar o quão descompassadas estavam as batidas do coração do mais novo.

Nero encarou-o com uma expressão de quem não acreditava que ele estava fazendo aquilo, e com um muxoxo retirou a mão de Jake de seu peito, enquanto este se virava, preparando-se para retornar. Estava prestes a segui-lo quando ouviu a voz de Priya, que já se encontrava extremamente baixa devido à distância:

– Quando chegarmos em casa, é bom você lavar esse véu até tirar toda a sujeira que você está pondo nele, sua porca imunda. – a cabeça de Nero quase deslocou quando virou, olhando na direção em que elas seguiam novamente. As mãos da mulher estavam como garras nos ombros da jovem, claramente intencionando machuca-la. Maya se encolhia enquanto seus ombros começavam a tremer descontroladamente, indicando que ela provavelmente caíra no choro. – Comece a rezar para os deuses, pois hoje você vai vê-los bem de perto por ter fugido de novo, assim como a prostituta da sua mãe viu, está ouvindo?

Se Jake não houvesse voltado para arrastá-lo consigo, teria voado no pescoço da loira. Novamente, só havia escutado daquela distância devido ao efeito das Marcas, certamente.

– Bem, amanhã bem cedo teremos que continuar. Na próxima cidade devem haver cavalos à venda, certo? – Jake olhou para Nero. – Sinto muito, mas este não é o melhor momento para se começar um relacionamento. O que elas disseram em relação ao estado da garota?

– Que ela parou de falar quando a mãe morreu. Depois o pai delas foi para a guerra e morreu lá, então Maya começou a se flagelar, rasgou as roupas que possuía e raspou os cabelos, e ficou praticamente louca desde então. – sua voz soava trêmula.

– ...Naphees?

– O quê?

– Só eu acho essa história suspeita?

– Não te lembra a história de um certo Galrdai que vivia numa casa que ninguém se importava com ele?

Olhou para Nero.

– Eu nunca te vi assim. Parece que está prestes a ter um ataque de raiva semi-psicopata.

– Você não ouviu o que aquela loira disse?!

– O que ela disse?

Repetiu as palavras que ouvira e Jake sentiu a própria expressão mudando. Nem conheciam a garota e suas irmãs, mas aquilo em qualquer situação era deveras sério, e não pode deixar de se pôr no lugar. O que faria se ouvisse o Sr. Toy ameaçando a Far? O pensamento foi inevitável.

– Naphees, tem certeza que ouviu isso? Elas já estavam...

– Eu ouvi. E – apontou para o braço onde as marcas haviam sido postas. – isso com certeza ajuda.

Soltou um suspiro. Se havia ocorrido o que pensara que ocorrera – o que era óbvio. – sabia que seria inútil tentar impedir o irmão. Sabia que ele não procrastinava como Jake fazia, mas... Ele mal havia conhecido a garota, sequer haviam chegado direito na cidade e aquilo seria se meter em problemas que foram avisados a tentarem evitar.

– Se for fazer algo, espere anoitecer. – Nero abriu a boca. – Sinto muito, mas fazer qualquer coisa à luz do dia vai chamar atenção. À noite ninguém irá te ver, e.... Bom, você pode até sufocar as irmãs dela com um travesseiro caso queira. – o outro pareceu ponderar. Ele parecia estar realmente considerando a possibilidade. – Certo?

Ele não respondeu.

Certo Naphees? Nada de assassinatos ou semi-sequestros, ou resgates, à luz do dia!

– Argh, certo! – voltaram a andar. – Mas e se elas...

– Naphees, à noite.

Retornaram ao acampamento, pegaram suas coisas e avisaram aos três que estavam ali que a ajuda estava a caminho. Assim, retornaram, finalmente indo até a cidade.

– E aquela garota? – Winter questionou. Nenhum dos dois responderam. -... Por que sinto cheiro de problemas?

– Que garota? – Aegis pôs sua cabeça para fora da sacola de Nero. A Denor assumira a forma de um pequeno panda vermelho.

– Tsc, bela Denor você é, perdeu toda a ação do dia. – Winter fungou.

– Sinto muito, eu estava dormindo dentro das luvas de Naphees. Mas o que aconteceu?

No caminho fizeram uma breve recapitulação do que acontecera até então. No momento, ela era a única Denor com eles, pois Rarac e Kapheliria haviam sido enviados para Ha’qin, uma das cidades que se localizavam do outro lado do continente, pois haviam sido envenenados seriamente com um veneno extremamente potente – algo chamado extrato de lavellan – durante o ataque em que os Bergais haviam conseguido pôr as mãos em Winter e Jake, e só havia alguma chance de cura mandando-os para lá, por isso era uma parada obrigatória para eles quando alcançassem a cidade... Além do fato que a mãe dos três havia se mudado para lá.

– Ei. – Jake deu um peteleco em Nero, que soltou outro resmungo. Winter havia ido questionar onde havia uma estalagem ou algo do tipo. – Se você vai mesmo atrás da menina à noite, acho melhor ir atrás de roupas para ela. – o de cabelos prateados o olhou.

– Espera, como assim... – Aegis começou com sua voz aguda e num tom extremamente alto, mas Nero num movimento rápido a pegou de sua sacola, pondo-a em seus braços e fechando seu focinho. Ela se debateu, mas o mais novo apenas se prensou de costas contra a parede para ter certeza de que não iriam roubar nada da sacola entreaberta.

– Continuando, as irmãs dela disseram que “ela rasgou” – fez aspas com os dedos. – as roupas que possuía e só tem trapos agora. Vão pensar que ela é uma escrava ou algo do tipo, e isso chamaria atenção indesejada.

Nero assentiu, pois as palavras de Jake tinham alguma razão.

– Vai logo e aproveita e vai atrás de comida pra viagem. – chutou-o com a lateral da perna, mas o outro desviou. – Eu arranjo alguma desculpa pro Vannes, porque ele por incrível que pareça tem a cabeça no lugar mais que nós, então provavelmente não vai ajudar se ficar sabendo.

Nero saiu, e logo após Winter retornou. Ele estava comendo alguma coisa.

– Onde está Naphees?

– Foi atrás de provisões. – teve que mascarar sua surpresa ao ver que o irmão acreditara na mentira – mesmo que fosse mais uma omissão – pois o que mais lhe repetiam era que mentia muito mal. – E há algum lugar onde possamos passar a noite?

– Sim. Só há uma estalagem, então podemos ir na frente, pois se Naphees perguntar, vão lhe indicar onde é.

– E essa é a questão. Onde fica?

– Próxima ao bazar.

– “Todas as ruas das cidades levam ao bazar”.

– Exato. Vamos indo!

O lugar onde foram parar não era muito limpo. Havia beberrões, comida pelo chão, e jurou ver ratos em alguns cantos, mas conseguiram um quarto onde poderiam ficar os três. Enquanto tirava as coisas das costas, Jake não deixou de se questionar que explicação Nero deveria estar dando para Aegis.

Ele apareceu quando o pôr do sol já dava lugar à noite. Parecia cansado.

– A dona ficou impressionada quando me viu. – disse, pondo as coisas e embrulhos no chão – E ficou repetindo o quão auspicioso é pra ela ter trigêmeos em seu estabelecimento e tudo mais.

– Dizem que mais de uma criança em uma gravidez é um sinal de sorte, não é? – Winter coçou a cabeça. - Tem alguma coisa que já possamos comer? – Nero atirou um pacote em seu rosto. – Ai!

– Somos amuletos de sorte ambulantes. – jogou-se no chão com um suspiro pesado e Aegis deslizou habilidosamente de sua sacola para o chão. – Devemos dormir o mais cedo possível, não é?

– É a intenção, para sairmos o mais cedo possível. – Winter respondeu de boca cheia.

Assim comeram e se arrumaram para dormir. Jake teve de admitir que ficou surpreso com Nero, pois não sabia que ele poderia ser tão dissimulado, já que aparentava uma inocência tão grande que Jake por um momento esquecera do que ele pretendia.

– Ele já está dormindo? – Ouviu-o questionar num sussurro após algum tempo.

O ruivo aproximou-se cautelosamente do irmão, levando um dedo e erguendo uma pálpebra. O olho nem deu sinal de se mover.

– Já. – suspirou. – Por que estou lhe ajudando com isso?

– Porque eu tive que te ajudar quando você fez burrada com a Far. – foi a resposta afiada e Jake teve que admitir que estava lhe devendo uma. Nero foi até a janela e a abriu. – Qualquer coisa, me esperem fora da cidade.

– Você não quer que... – Ele já havia pulado. – Certo, eu fico aqui e ignoro que você pulou do terceiro andar de um prédio... Mas se bem que não nos machucamos dessa altura mesmo.

– Hm? – Winter resmungou e Jake quase se deu um soco.

– Estou falando com Naphees. – respondeu rapidamente e Winter pareceu se conformar com a resposta, voltando a dormir, fazendo com que Jake desse um suspiro de alívio.

Deitou-se, e olhou a janela aberta. Não sabia exatamente o que se passava na cabeça do mais novo, e perguntou-se se ele usaria sua vidência para descobrir o caminho ou se procuraria por si só. Se deveria espera-lo ou...

– Pode dormir, eu espero por Naphees. – Aegis disse, assustando-o. Achava que ela havia ido com seu protegido

–... Obrigado.

Adormeceu rapidamente num sono sem sonhos. Acordou bem depois com seu irmão mais velho sacudindo-o pelos ombros.

– O que foi? – questionou grogue.

– Onde está Naphees?

– Ele disse para esperarmos ele fora da cidade.

– Você não respondeu a minha pergunta, Klodike.

– Eu sei. – Jake sentou e bocejou. – Vamos pegar as coisas.

Winter apenas o encarou com uma expressão “Vocês tramaram algo pelas minhas costas, não foi?”, mas não teve alternativa a não ser acatar o que o outro dissera. Os olhos azuis vasculharam o quarto, encontrando Aegis na forma de um cachorrinho branco, sentada na janela.

– Aegis? – Chamou.

– Tudo calmo aqui.

– Certo. – pegou-a, levando a Denor debaixo de seu braço. Virou-se e viu Winter encarando-o com uma expressão cética. – O que foi?

– Ele foi atrás daquela garota, não foi? – Jake abriu a boca. – Klodike, eu não sou idiota.

–... É.

O mais velho suspirou e rolou os olhos.

– Espero que não nos traga problemas.

– Não vai dizer nada, brigar ou...

– O que fazer? Poderia fazer algo antes dele ir, mas agora que já foi...

Teve de assentir, e assim saíram da estalagem. Não era a mesma mulher tomando conta, então ela não deu falta de um deles. Foram silenciosamente pelas ruas durante a madrugada, e Jake olhou para a lua afim de ter alguma ideia de que horas eram. Era a maior e azulada – Tsuki – que estava no céu, e pela posição poderia dizer que era em torno das três ou quatro da manhã. Questionava-se se os guardas não os achariam demasiados suspeitos.

Uma das coisas que aprendera ultimamente era que, mesmo o Esben fosse parte do exército, era para que eles tentassem ao máximo evitar serem identificados como membros do mesmo, pois muitos lugares ainda carregavam as marcas do tempo em que o grupo era apenas um grupo de criminosos habilidosos. Se os guardas os achassem suspeitos e quisessem revistar suas coisas, encontrariam a armadura de couro da guarnição, e eles poderiam ter que acabar cortando algumas gargantas para se livrarem dos problemas.

Felizmente, conseguiram passar os portões apesar das olhadelas desconfiadas dos soldados. Seguiram apenas o suficiente para ter certeza de que estavam longe das vistas dos soldados, então Winter parou.

– Certo, estamos fora da cidade. Agora onde está Naphees?!

– Bem aqui.

Dessa vez Jake não foi o único a se assustar. Winter soltou o que carregava nas mãos e Jake quase fez o mesmo, porém Nero saiu dentre as árvores, novamente carregando Maya, só que desta vez a pobre garota jazia inconsciente. Devido ao brilho que o mais novo emanava viu o estado dela, fazendo com que se arrependesse por ter feito com que Naphees esperasse até o anoitecer. O rosto de Maya estava praticamente deformado e irreconhecível, totalmente roxo e inchado, injetado de sangue em algumas regiões, seus lábios estavam partidos e um dos braços pendia, deslocado e em uma posição estranha devido a uma fratura exposta, além dos dedos de sua mão estarem todos roxos e tortos. Novamente havia sangue escorrendo de suas pernas e seu pé direito estava virado de maneira não natural.

– Isso não são irmãs, são demônios. – Jake disse a primeira coisa que lhe veio até a mente.

–... Por que demorou tanto? – Winter questionou cauteloso, os olhos pregados em Maya.

– Estava sufocando as irmãs dela com um travesseiro. – o mais velho arregalou os olhos. – Mentira. Elas pretendiam matá-la, então fiz alguns acidentes ocorrerem pela casa para que elas parassem.

–... Que tipo de acidente?!

– Do tipo que elas podem não morrer, mas podem acabar com algumas sequelas graves. Agora vamos encontrar um lugar tranquilo para que eu possa curar Maya, por favor?

Jake até pensou em perguntar o que Nero fizera, mas concordou que a garota precisava de cuidados urgentes. Pensou até que ele fosse acusa-lo pelo fato de que, se houvesse ido mais cedo poderia ter evitado tudo o que ela passara, porém ele apenas passou direto por eles com passos decididos, até encontrar uma clareira próxima à estrada, onde deitou a jovem no chão e começou a trabalhar em silêncio.

– Depois me explica o que aconteceu? – Winter questionou à Jake e ele assentiu.

Sentou-se no chão, soltando Aegis que correu até a garota e começou a farejá-la com o rabinho caído. Poderia até pensar em ajudar, porém nem Jake nem Winter sabiam magia, que era o que mais poderia ajudar no momento, e nenhum dos dois sabia qualquer coisa válida para cura.

– Ela é forte por ainda estar viva. – Aegis comentou. – As irmãs que fizeram isso a ela? Intencionavam realmente matá-la, certo? Mas por quê?

– Só as ouvi falando que ela não é filha da mesma mãe que elas. – Nero respondeu e Jake pensou em várias coisas. Recordou-se de Debrah, como eles não se davam bem e que ela não poupava esforços para insultá-lo, porém... A relação de ambos nunca chegara a um ponto tão extremo quanto a de Maya e suas irmãs.

Pensou também no que Nero fizera. Conhecera aquela garota no dia anterior e já fizera tanto por ela como Jake jamais fizera por qualquer um, e como ele gostaria de poder fazer com Far, embora não houvesse qualquer sinal de onde ela poderia estar.

Um gemido fora o sinal certo de que Maya estava realmente viva. Olhou para cima, vendo que o sol já começava a nascer, enquanto ouvia os sussurros de Nero assegurando à garota que tudo ficaria bem enquanto ela começava a chorar.


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Notas finais do capítulo

Aqueles momentos em que não sei o que por aqui...
Mimimimimi ç.ç



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