O bar. escrita por VictorSilveira1912


Capítulo 1
O bar.




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Um homem velho e gordo sentando na borda triste do bar sussurrava em hebreu ancestral, ninguém percebe isso, é apenas um velho bêbado. Ninguém também percebe o ranger da porta a abrir, um jovem entra e se senta, jovem, porém com aparência de idoso pois se vê a sabedoria aprofundada em sua pele, em sua mão direita ele acaricia um crucifixo e deixa a outra ocupada para retirar o cigarro de sua boca durante uma baforada de fumaça cinzenta e melancólica. Deixa o cigarro na mesa do bar e tem uma rápida crise existencial sobre como aquela pequena coisa lhe mata aos poucos, mas faz tempos que ele não liga para a morte, nem para a vida; Ele tem consciência. Tudo isto é uma merda, cerveja e cigarros. Ele pressiona o crucifixo contra a palma da sua mão deixando uma marca rosada, está esperando o bar esvaziar, os olhos do bartender desmaiam em cima do balcão e sua boca libera baba. Alea jacta est, vadias. O jovem encara o velho que esbraveja em voz rouca maldições em línguas ancestrais, o demônio o teme, o teme mais que o crucifixo em sua mão, o seu nome jaz amargurado em sua memória e tudo que ele remete é a dor de um exorcismo antepassado, o demônio recua com medo.

Constantine.

­O jovem faz um leve ajuste na sua gravata e toma um último gole de cerveja. O último da noite. Acende outro cigarro e sorri para o velho, sorriso no qual é banhado de sarcasmo e egocentrismo, reconhece suas limitações.

- Vou fazer uma proposta; Estou cheiroso, quer dizer, cheiro a cigarro, mas te mandar de volta para o buraco que você veio vai me fazer suar, e isso faz com que eu cheire mal. Pensando na questão do cheiro, não tenho ninguém para impressionar, esse cabelo dourado e essa barriga moldurada não vão impressionar ninguém decente há esta hora, e não tenho dinheiro para pagar por diversão. A questão é, se eu te vencer e te devolver para o inferno, o que é o mais provável, vou voltar para casa e assistir TV naquela merda de aparelho que só funciona em duas cores, um puta contraste. E que escolha de lugar, meus parabéns, eu estava querendo mesmo ir a um bar, me embebedar e coisas do gênero. Sabe, eu já dancei com o diabo a luz do luar, um grande dançarino.

-Você é louco, padre. – As veias do velho saltam em sua pele e seus olhos vermelhos parecem sangrar, tudo isto forma um quadro reflexivo.

- Louco? De fato, falar em loucura tenho certeza que estou desenvolvendo TOC, conto todas as coisas, quantos cigarros fumo por dia e coisas do gênero, as dobras do meu terno amassado – Ele aprecia a fumaça liberada de sua boca – Sei de coisas que até mesmo você não sabe, e tem sido complicado andar por esse mundo sozinho. Quer dizer, todo dia ando pela rua esbarrando em casais que me fazem constantemente refletir sobre solidão, e eu não tenho respeito, quem sabe se eu tivesse uma cartola obteria respeito...Não sou Lincoln, mas fico legal de cartola.

- MONSTRO.

-Nossa, ninguém mais está disposto a ouvir uma reflexão sobre a vida. – O jovem pressiona as suas duas mãos contra a cabeça do velho e força o crucifixo contra o seu crânio que libera fumaça e cheiro de enxofre. O bar localizado na rua mais amuada da cidade sempre teve bons clientes, uma vez ou outra entra um demônio por lá, a porta range com o seu grito.


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