No fim eu e a outra Maka nos demos muito bem, a gente se apoiava nos momentos difíceis e eu era sua arma. A última noite tinha sido difícil, mas era hora de ir às catacumbas, encontrar o Soul. Eu não posso nem pensar no nome dele, será que ele se tornou um naghfir completo? Interrompi meus pensamentos quando vi um homem com um parafuso na cabeça. Doutor Stein! Saí correndo e só quando cheguei mais perto vi seus machucados, a roupa em farrapos.
–Tem um naghfir, eu senti, senti também almas de outro mundo, vim conferir, são vocês, são os que podem deter o naghfir, usem suas almas para escolher seus caminhos-foi nessa hora que a voz dele começou a falhar-e se quiserem voltar...um gesto...coragem... sacrifício...como o que os...-Ele estava morrendo tínhamos que fazer alguma coisa!
–Temos que ajudar!-Mas já era tarde demais, ele já estava desacordado. Foi assim que vi o Doutor morrer, e me senti tão impotente, sem fazer nada, senti um pavor de imaginar aquilo acontecer com o Soul. Isso era egoísmo meu, e não era hora de desistir, enterramos ele brevemente, e quando eu joguei a última pá de terra, eu ouvi uma voz: "É você, viajante, você tem um poder em si, e cada mundo pode ser renovado por você. Quando chegar a hora, você saberá o que fazer." Eu já tinha visto o bastante para acreditar que era o Doutor, mas nada fazia sentido.
–Temos que continuar, e nós vamos ter que matar o Soul, porque não sabemos curá-lo.-Todos ficaram chocados e não disseram uma só palavra, continuamos andando.
Chegamos a um tipo de construção com dois pilares formando uma cobertura para escadas subterrâneas, em cima, uma placa: "O preço pela entrada, você pagará com a alma". Senti um arrepio pelo corpo, mas ignorei, e tomei forma de arma, indo para as mãos de minha mais nova artesã. Todos prontos para lutar, fomos descendo pelas escadas, andando pelos túneis de ossos humanos, tudo parecia tão vazio...Entramos em um salão, e o vazio deu lugar a algo pior. Havia centenas de ovos de naghfir, e liderando-os, um naghfir completo, de cabelos acinzentados, mas manchados de sangue, um sorriso que não era sarcástico ou cínico, mas cruel e olhos...eu não me atrevi a olhar, com medo de fraquejar. Fomos lutando com os ovos que avançavam, sem dificuldade, já que nossas almas densas eram perfeitas pra isso, era por isso que éramos especiais. Seguimos mais e mais, sem medo, e na ressonância senti tudo o que Maka sentia, tanta dor. Pelo seu amor, perdido para sempre, ela não amava meu Soul, só precisava parar com a dor, e a luta dela era contra essa dor, ela lutava pela vida. Tinha chegado a hora, porque eu sabia o que fazer. Agora eu tinha entendido, não era um gesto de morte, era um gesto de vida, não era um gesto de coragem ou sacrifício, mas algo forte o bastante pra unir os dois.
–Maka, me dê cobertura!
–Pode deixar.-Ela não me questionou, ela me entendeu.
Fui andando até o Soul, a outra Maka abrindo espaço pra mim, e quando eu cheguei perto finalmente encarei aqueles olhos, e vi o medo, mas no fundo um brilho, um brilho que não podia ser apagado. Antes de começar a sofrer o efeito do medo naghfir, corri para aquele brilho e beijei o Soul. Senti gosto de sangue, e o beijo foi se tornando intenso, como se fosse mesmo decidido pela minha alma. Eu senti que comecei a ser sugada, toda a minha vida, então abri meus olhos, que eu tinha fechado por medo e busquei neles a alma que procurava. Tudo se tornou preto e a minha alma continuou a ser sugada, mas agora vi que estava em outro lugar, e nossas almas tinham se tornado uma só.
Acordei suada, o despertador tocando, era o primeiro dia de aula e eu continuava com aqueles sonhos estranhos, mas tão reais.