Ao meu lado, minha amiga estava tremendo de tanto chorar. Não era por menos... Estávamos sendo ameaçadas de morte... Por Loki. Todas estavam com medo, mas a garota ao meu lado olhava para o deus com certa admiração. Sinistro.
O colégio costumava ser um lugar seguro... era o que diziam, afinal, as filhas de pessoas importantes estavam ali. Filhas de políticos; de cientistas do governo; de agentes; e até uma Stark legítima (não, ela não é filha do Homem de Ferro)... ah, não posso me esquecer de uma parente distante de Nick Fury, estavam ali.

Eu sou filha de John Dhenings, um cientista que está desaparecido, assim como o tal Coração de Vidro, o motivo de Loki estar nesse momento olhando pra gente como se visse nossas almas.
Lally, minha única e melhor amiga, não conseguia conter o choro, assim como várias outras garotas. Algumas estavam conversando em voz baixa. Eu estava apenas olhando para o deus, que andava de um lado para o outro, enquanto assistíamos, abaixadas no refeitório.
—Ele é lindo. -Blair murmurou. Ela era a garota que o olhava com admiração.
—O que?-Perguntei, olhando pra ela. Blair era filha de um governador e pintava o cabelo bem de vermelho, para provocar o pai. Ela tinha a minha idade (dezesseis) e era bem rebelde. -Ele vai nos matar.
—Olhe pra ele, Avery, ele é lindo.
—Você é louca.
—Apenas olhe, e tente deixar de lado o fato de ele estar nos ameaçando. -Revirei os olhos, mas fiz o que ela disse.
—Até que você tem razão. Mas ele continua sendo um psicopata assustador. -Blair deu de ombros.
—Pense como quiser. -Lally tremeu ainda mais. Ela era filha do prefeito de São Francisco, e tinha cabelos loiros e lisos. Nem preciso dizer que era medrosa. Não que eu não fosse.
—Todas vocês, calem a boca!-Loki gritou. Me encolhi. Lally começou a chorar silenciosamente, e Blair sorriu. Revirei os olhos de novo. -Se eu ouvir mais alguma coisa... nem queiram saber o que vai acontecer.

Minha amiga olhou pra mim, então eu fiz um sinal dizendo pra ela ficar quieta. Morreria se algo acontecesse com ela. Blair não tinha cara de quem estava preocupada com as ameaças de Loki. Eu estava.

Eu vi o que ele fez há alguns meses, e sabia que ele mataria todas nós se fosse preciso. Uma das garotas soluçou. Loki se virou e olhou pra ela como se pudesse queimá-la com o olhar. Antes que ele sequer se movesse, eu fiquei de pé, ganhando o olhar que era para a outra garota.
—Sente-se, eu não mandei você se levantar. -Ele disse.
—Você não manda em mim. -Cruzei os braços. -E aliás, onde estão nossos professores? Onde estão os adultos?
—Eles estão mortos. -Algumas meninas recomeçaram a chorar. -Agora sente-se.
—Me obrigue.
—Avery. -Lally sussurrou. -Não o irrite.
—Quem ele pensa que é?
—Sente-se agora mesmo. -Loki mandou.
—Não.
—Quem você pensa que é?
—Eu? Eu sou humana, mas sou bem melhor que você, que é um deus solitário e irritante. Não pode chegar aqui e mandar na gente.
—Seu nome?
—Avery Dhenings.
—Dhenings?
—É.
—Seu pai é John Dhenings?
—É. Por que?
—Porque nós vamos ter muito o que conversar, Avery. -Oou. Melhor eu sentar e calar a minha boca grande.
—Hã...é?
—Venha comigo.
—Eu?
—Sim, humana. -Okay. Tô. Ferrada.
—T-tudo bem. -O segui. Eu sabia que as garotas não iam fugir, pois Loki tinha "enfeitiçado" nossos seguranças, e agora eles trabalhavam pra ele. Entramos na ex sala do diretor (que descanse em paz) e eu tentei pensar em um jeito de fugir. Acho que Loki não foi com a minha cara. -Por que quer falar comigo?
—Onde está o seu pai?
—Hã... não faço ideia.

Meu pai havia sumido mesmo. A última vez que eu o vi, tinha dez anos, e ele me deu um colar com um pingente de chave, dizendo que eu nunca devia perdê-lo, e protegê-lo com a minha vida. Nunca entendi o motivo. Depois disso... eu nunca mais vi meu pai.
—Você é filha dele, deve saber onde ele está. -Loki insistiu.
—Não o vejo faz seis anos. Por que está atrás dele?
—Como todos, estou atrás do Coração de Vidro.

Ah, não. Isso não era bom. Até a S.H.I.E.L.D. estava atrás daquela coisa. Falando nessa organização aí... eu me lembrava de uma coisa que papai me disse antes de partir.

"-A S.H.I.E.L.D. me deve um favor, já que eu fiz um pra eles. Se um dia acontecer alguma coisa com você, esse favor vai ser automaticamente cobrado. Eles vão ter que te ajudar.
—Quer dizer que eles vão me salvar?-Perguntei, confusa. Para uma criança de dez anos, era muita coisa.
—Isso. Eles me devem."

Bem, isso era bom, não era? Pelo menos isso.
—Mas eu não sei onde isso está. -Eu disse. -Nem sei onde meu pai está. Não posso te ajudar.
—Quando seu pai souber o que está acontecendo, ele vai correr pra entregar o Coração.
—Espero que não.

Ou ele estaria cometendo um erro muito grande.
***
No fim do dia, Loki mandou todas nós para os quartos. Lally foi chorando o caminho todo. Eu me aproximei dela, cuidando para falar baixo.
—Eu vou fugir. -Sussurrei. Ela olhou pra mim, assustada.
—Loki deu as regras, não pode nem tentar fugir.

As regras eram: Não fugir. Não gritar. Não chorar. Não desafiar Loki. Não olhar torto para Loki. Não falar a não ser quando ordenado.

A quebra dessas regras resultava em morte, ou tortura. E eu estava quebrando uma delas, quando na verdade já tinha quebrado algumas. Mas se nada me aconteceu ainda... talvez seja aquela coisa: "cão que ladra não morde". Nesse caso... deus que ameaça não mata.
—É perigoso. -Lally disse.
—Eu sei, mas não sei se podemos simplesmente sentar e esperar. Loki quer o Coração de Vidro. E se ele pegá-lo... coisas ruins podem acontecer. Eu tenho que fugir.
—Como espera fazer isso?
—Eu vou fugir essa noite. Se tiver sorte... posso ir até a S.H.I.E.L.D., eles devem um favor ao meu pai.
—Como se fosse fácil. Sabe onde eles estão?
—Hã... não. Mas... eu posso tentar. E é por isso que eu disse "se tiver sorte". Não vou ficar aqui sentada enquanto Loki espera meu pai vir atrás de mim. Eu vou fugir e ponto final. Quer vir comigo?
—Não. Desculpa.
—Tudo bem. -Ela deu um puxão no meu cabelo, agarrando uma mecha negra.
—Vê se toma cuidado, sua boba.
—Eu vou, loira tampinha. -Ela sorriu.

Esperei todas as garotas que dormiam no meu quarto pegarem no sono, então levantei. Olhei as horas no despertador ao lado da cama, eu tinha cinco minutos pra sair, antes que um dos seguranças passasse no corredor, verificando se não havia nenhuma menina zanzando por ali.

Desci até o jardim e olhei em volta. Não havia ninguém. Bom sinal. Com cuidado, me aproximei do muro e comecei a subir em uma das árvores. Eu estava quase livre! Isso até alguém me puxar pra baixo, com força.
Caí no chão como um saco de batatas.
—Ei. -Olhei pra cima. -Hã... e aí, Loki? Passeio noturno?