Irmãos escrita por tonbotticelli


Capítulo 1
Sozinho




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Muitos pensam que pior do que enterrar os pais é enterrar um filho. Desconhecem então a sensação de enterrar o próprio irmão, ainda mais quando se é gêmeo. Para George Weasley a última piada realmente não teve graça. Ao contrário de sempre ele não estava rindo, tampouco estava chorando. Era mais como uma complacência morna. Ele havia consolado Ginny um pouco mais cedo e dera um abraço em Molly que poderia tê-la curado de todas as dores, inclusive as dele.

Muitos vieram prestar suas condolências. As amigas Angelina, Katie e Alícia, os ex-professores, os amigos mais próximos como Lino Jordan, Harry, quase parte da família. Infelizmente, ele sabia que nenhum deles traria Fred de volta. Pelo menos não o Fred que ele queria. Tocou o buraco onde ficava sua orelha e sentiu um arrepio: Quando ele apareceu sem a orelha e sangrando foi Fred quem demonstrou a maior preocupação. Quem diria. Antes eles eram dois irmãos mais do que completos, agora eram apenas... Um faltando um pedaço.

Uma lágrima rolou pela face e ele desviou o rosto. Seu pai terminava de dizer as últimas palavras e ao seu comando todos ergueram suas varinhas e lançaram faíscas vermelhas e laranjas. Ele foi o único a não faze-lo. Sentiu um olhar pousar em sua nuca e se virou, para encontrar Harry o encarando. Ele fez um sinal que George compreendeu.

Duas horas depois ele vagava pelos corredores de Hogwarts. Um dia aquele castelo fora seu segundo lar, onde aprontara poucas e boas ao lado de Fred. Agora era o túmulo de seu irmão. Sabia que ele morrera feliz, lutando junto de Percy, e se culpava por não estar do seu lado. Poderia tê-lo salvado do feitiço ou da parede que o soterrou. Talvez pudesse.

Virou o corredor e, pela primeira vez em muitos anos, a presença de Peeves o assustou. E não por sua insolência ou seu mau-gosto para brincadeiras. Ele estava flutuando quieto à sua frente, com um chapéu-coco em mãos. E parecia constrangido.

-   Sabe... Seu irmão... Ele era um bom companheiro. – ele disse. Sua voz, geralmente esganiçada estava suave, séria.

George ficou surpreso. Nunca esperara tanto de Peeves quanto aquilo. O poltergeist atravessou-o e foi embora. George deu um passo quando pisou em algo macio, que fez um som de “Plosh”. Olhou para baixo e reconheceu os restos de bomba de bosta.

-   Certo... Obrigado, Peeves.

Anteriormente, no funeral, Harry dera um aviso, indicando onde e como encontra-lo. Conhecendo o garoto-que-derrotou-Voldemort como ele conhecia sabia o que viria por ali. Potter tentaria passar algum conforto, quem sabe até mesmo compartilhar alguma lembrança. Nunca essa idéia parecera tão ridícula como agora. Ele, como George, perdera grandes amigos, pessoas que eram sua família, mas nunca, nunca alguém como um irmão.

Deu três voltas pelo mesmo lugar e a porta surgiu. Desde que conhecera aquela sala tinha certa curiosidade de imaginar como ela seria em outras situações que não para a Armada e a Ordem. Ouvira mais cedo que ela havia sido destruída por um dos Orcs de Malfoy e agora ela estava ali, intacta. Pequena, verdade, aconchegante para ser mais específico. Umas poucas poltronas, uma janela grande para os terrenos de Hogwarts. E Harry Potter, olhando para ele.

-   Hei, Harry, cheguei. – saudou, desanimado.

-   Senta aí, George. Vamos conversar.

-   Escuta, Harry, eu...

-   Primeiro eu, George. – pediu Harry e então olhou diretamente para o Weasley. – Você sabe que eu perdi o Sirius, não é, George? Sirius, Dumbledore, agora o Lupin... Todos eles farão falta não só pra mim, mas para todos os que conheciam eles. Uma falta imensa para o meu afilhado no futuro e eu espero que, como o Sirius, eu possa ajuda-lo um pouco a se entender e ao pai quando ele crescer o suficiente. Disso tudo você provavelmente já tinha idéia. Eu não posso dizer que lhe entendo, sei o que você está sentindo, só por causa de ter perdido alguém importante assim. Nenhum deles era meu parente realmente... Só que...

-   Só que você perdeu seus pais, também... Olha, Harry, eu sei...

-   Você sabe o que é isso. Você perdeu seu irmão. Sim, eu também sei, George. Eu não ia dizer que é fácil, muito menos que você não vai sofrer sozinho. Porque você vai. Por mais que estejamos do seu lado, por mais que lhe demos apoio, você vai sofrer, vai procurar se esconder ás vezes e sentirá falta do Fred. Acredite, George, DISSO eu posso lhe garantir.

O silêncio pesou um pouco e George desviou o olhar. As palavras de Harry foram duras, de certa forma cruéis, mas... Verdadeiras. Quando o garoto havia crescido tanto? Aliás, por que só ele havia ficado para trás? Que vergonha.

-   O que eu vou lhe contar agora pouca gente sabe. Só mesmo Dumbledore, que nunca iria dizer a ninguém, e o Nick, realmente tem noção de como eu fiquei preso a esse assunto. – ele deu uma pausa para respirar e o tom de voz voltou mais sério – Quando Sirius mo... Atravessou o véu, eu não acreditei. Procurei ajuda em todos os cantos, e de nada me adiantou. Até o final daquele ano eu não conseguia engolir a simples idéia de que ele tivesse morrido. – ele engasgou – E então eu procurei o Nick para saber se havia possibilidade de o Sirius voltar como fantasma. Nick me respondeu que: Para alguém voltar, é preciso que ele tenha deixado algo para trás pendente, e queira voltar. Assim, tanto Sirius quanto meus pais e Dumbledore nunca teriam porque voltar. Você compreende?

Verdes. George nunca tinha reparado em quão verdes eram os olhos de Harry. Eram intensos, cheios de magia. Como os azuis de Dumbledore. De alguma forma, naquele último ano, parecia que Harry tinha se aproximado mais do velho diretor de Hogwarts do que nunca. E estava ali, agora, falando como se fosse o próprio, com aquela mesma intensidade no olhar. George concordou com a cabeça.

-   Bem, eu espero sinceramente que você consiga digerir essa informação e pensar um pouco. Se seu irmão tivesse algum arrependimento, ele estaria aqui agora, não acha? – Harry perguntou com malícia – Ele se foi com um sorriso no rosto, George. Com que cara você vai encara-lo no outro lado se na sua vez você for com essa cara melancólica? Você é a alegria de muita gente por aqui, George. Seu irmão também era. Anime-se, continue sendo o brincalhão da turma e faça com que nós caiamos em gargalhada não importa o quê.

Harry se levantou e disse: Pode ficar aqui o tempo que quiser. Eu aviso o pessoal que você logo vai aparecer.

E saiu andando, os passos apressados. Estava perto da porta quando parou, mordendo o lábio inferior, coisa que George não viu.

-   Só mais uma coisa. Certa vez Dumbledore me disse algo importante: A morte é apenas o começo da próxima aventura.

A sala ficou vazia. Apenas George sentado em uma das várias poltronas. Uma idéia, maravilhosa e hilária, surgindo em sua mente.

Estavam todos reunidos nos jardins, conversando e trocando informações. Até mesmo o ministro Shacklebolt tinha vindo prestar homenagens aos falecidos. De repente, uma voz surgiu de lugar algum, com tanta força que algumas pessoas cambalearam.

-   Respeitável público, deixem de tristeza. Preparem-se para a última e maior de todas as atrocidades, brincadeiras e zombarias das Geminialidades Weasley!

George surgiu de uma das torres do castelo, encarando a todos lá embaixo, que estavam atônitos. Ele viu Harry também olhando para cima, o único a esboçar um sorriso. “Valeu por essa, amigo”. E então ele pulou. Um “Oh” surgiu da multidão. Com um Accio fez a vassoura segui-lo e montou e com mais um Accio puxou inúmeros fogos da torre, acendendo todos ao mesmo tempo. Dragões, fênix e unicórnios passaram por todos, iluminando o cenário triste que havia a pouco ali. Um enorme rojão explodiu não muito longe do local do funeral e em seu lugar surgiu uma suntuosa construção de pedra, tão grande quanto as estátuas do ministério. Em pose heróica, homens e mulheres olhavam para o céu. Até mesmo um elfo-doméstico muito conhecido por Harry estava ali. Como um epitáfio, uma inscrição estava talhada na base do monumento.

“Por aqueles que fizeram mais do que podiam pelo mundo de amanhã! Acreditem, eles estão rindo do lado de lá”


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