Patrick permaneceu em silêncio enquanto encarava uma Lisbon completamente estática e definitivamente lutando com um emaranhado de emoções que ele estava tendo dificuldades em discernir e acompanhar.


“Teresa...” Começou a formular uma nova pergunta, mas antes que pudesse concluir foi cortado por ela.


“Não é nada.” Lisbon falou desviando o olhar. “Só pensando sobre você me levando arrastada ao hospital.” Ela soltou uma risadinha. “Quero ver você conseguir.”


Era óbvio que ela estava mentindo, e que alguma coisa a estava preocupando, mas Jane resolveu deixar passar e apenas ergueu as sobrancelhas para ela.


“Não me tente, mulher. Você sabe o quanto eu adoro um desafio. Bobeie e, quando se assustar, vai estar jogada sobre meus ombros feito um saco de batatas.”


Lisbon não conseguiu se segurar, soltou uma gargalhada com a fala dele.


“Até parece que você conseguiria.” Ela disse com um sorriso nos lábios e um olhar brincalhão. E Jane fez questão de memorizar esse momento e adicioná-lo ao seu palácio de memória.


“Acho que devo lembrá-lo de quem carrega uma arma nesse relacionamento. E também sobre quem é a única pessoa que pratica atividades físicas por aqui.”


“Bem, querida...” Ele lhe deu um leve beijo nos lábios. “Talvez eu deva te lembrar quem é o especialista em hipnose nessa relação.”


Ela lhe lançou um olhar ameaçador que dizia: nem ouse tentar isso ou vai passar o próximo mês dormindo no sofá. E isso fez com que os olhos dele assumissem aquele costumeiro brilho travesso.


E antes que ela pudesse retrucar, ele continuou. “Eu acho que tenho lhe mostrado nos últimos meses o quão resistente e forte eu sou.” Ele balançou as sobrancelhas sugestivamente para ela, os olhos agora adquirindo um brilho totalmente malicioso. “Eu não ouvi você reclamando do meu desempenho no chuveiro na noite passada.”


Lisbon sentiu a respiração acelerar ao escutar as palavras dele. Jane definitivamente sabia como levá-la à loucura. E ele tinha feito isso com ela ontem no chuveiro nada menos do que quatro vezes. Ele sabia exatamente onde, como e quando tocar e, principalmente, como encontrar os pontos mais sensíveis. Essa provavelmente era uma das vantagens de estar em um relacionamento com um mentalista. Ela sentiu um arrepio subir pela espinha e as bochechas corarem ao se lembrar das coisas incríveis que aqueles dedos e lábios tinham feito a ela e da sensação maravilhosa de plenitude que era ter seu corpo unido ao dele.


A risada de Patrick a fez sair de seus devaneios, e o sorriso presunçoso que ele ostentava lhe dizia que ele sabia exatamente o que ela estava pensando. Como se ele precisasse que ela inflasse ainda mais seu ego já anormalmente grande, pensou.


Esse Patrick na frente dela era uma versão de Jane com a qual ela ainda estava se acostumando. Um Jane relaxado, livre e... incrivelmente feliz. Ela amava esse novo lado dele, mas, principalmente, ela amava saber que era o motivo dessa mudança.


Diante desses pensamentos, Teresa foi tomada de novo pela sensação de pânico e medo de perdê-lo de horas atrás. Seus olhos imediatamente se encheram de lágrimas. E ela se inclinou para beijá-lo. Ela adorava aquela sensação dos lábios dele se movendo contra os dela e do gosto de chá em sua língua. Nesse instante ela queria se afogar nessa sensação.


A incerteza sobre quanto tempo ainda o teria ao seu lado e a possibilidade da perda a fizeram aprofundar ainda mais o beijo, transformando a carícia leve em algo avassalador, profundo e quente. Um beijo que deixou ambos com falta de ar.


Quando finalmente se separaram e Lisbon abriu os olhos, encontrou aquelas duas esferas azuis encarando-a. E no mesmo instante ela percebeu que Jane estava usando todas as suas habilidades para tentar descobrir o que ela estava sentindo.


Enquanto lia as emoções que passavam pelos olhos dela, Jane desejava que toda a tristeza concentrada ali não fosse por causa do que ele pensava.


“Teresa, vamos lá. O que houve?” O Jane brincalhão de momentos atrás tinha dado lugar agora ao Jane totalmente preocupado.


“Não é nada, Patrick. De verdade. Eu só estou cansada... E esse mal estar está realmente me incomodando.” Disse, novamente desviando o olhar. Ela estava lhe dizendo uma meia verdade, então esperava que ele não conseguisse ver que ela estava tentando esconder algo.


O efeito foi completamente o contrário do que ela queria, como sempre. O olhar de Jane ficou sério e ele levou a mão a face dela para que ela o encarasse.


“Teresa, a essa altura do campeonato você já sabe que não adianta mentir pra mim.” Soltou um suspiro profundo, enquanto mais uma vez tentava ler as emoções que dominavam os olhos dela. “Eu sei que você está cansada e o mal estar está te incomodando. Mas tem alguma coisa a mais por trás disso. Me conte o que é.”


Agora ele estava lançando a ela aquele olhar de menino que era praticamente impossível de resistir. E ela deixou algumas lágrimas escaparem.


“Patrick...” Ela engasgou, sem saber como continuar.


“Vamos lá, Teresa. Você pode confiar em mim. Seja o que for que está se incomodando você pode me contar.”


A expressão dele era tão carinhosa que ela não conseguiu mais se controlar e deixou o choro escapar.


“Teresa...” Ele disse, passando os braços em volta dela, e ela aproveitou a oportunidade para enterrar o rosto em seu peito.


“Eu sinto muito, Jane. Eu não planejei isso, eu juro que não planejei isso.” Soltou entre uma arfada e outra. “Foi sem querer. Eu não queria.”


Lisbon sentiu o corpo de Jane ficar tenso junto ao dela.


“O que você não queria?” Ele perguntou, acariciando o cabelo dela numa tentativa de acalmá-la e ao mesmo tempo em que desejava estar lendo o desespero e a tristeza dela de forma errada.


“Patrick...” Ela começou, finalmente conseguindo dar uma trégua no choro e enterrando ainda mais a cabeça no peito dele, as mãos se erguendo e segurando a camisa de Jane com força. “Eu... eu estou... grávida.” Ela soltou em um sussurro fraco, e o movimento dele acariciando seu cabelo imediatamente cessou.