A dor dos teus olhos - One Shot. escrita por Sany


Capítulo 1
Os teus olhos.


Notas iniciais do capítulo

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Estava só. Deitado na grama, algumas crianças corriam ao longe. Tão felizes e tão inocentes, sem a menor idéia da crueldade que vida reserva pra elas. Elas só brincavam, brincavam como se não houvesse amanhã, e riam, não o riso falso que forçamos para agradar nossos chefes ou tios chatos. Era um riso sincero, o melhor tipo de riso, soava como música aos meus ouvidos, era doce como o amanhecer. Era como um deja vú, via a felicidade delas, e me sentia feliz também, feliz mas incompleto, faltava algo, algo dentro de mim, dentro do meu ser.

Um homem passou por mim, olhando o relógio, apressado, como se sua vida estivesse presa aos ponteiros daquele relógio caro, vestia um terno elegante, do tipo que só as pessoas ricas usam. Ricas de coisas materiais, mas pobres de espírito. Mais uma pessoa vazia. Apenas mais uma pessoa vazia no mundo. Alguém que prende sua vida aos ponteiros de um relógio, alguém que só quer mais e mais. Então eu penso: Pra que? Pra que viver assim? Pra que prender sua vida aos ponteiros de um relógio? Pra que querer mais e mais? A vida é muito mais que isso. A vida é o cheiro da relva ao amanhecer. A vida é o barulho da chuva no telhado. A vida é o mergulho de uma cachoeira. A vida está nas pequenas coisas, elas que nos mantêm vivos. Pequenas coisas que ficam esquecidas. As pessoas vivem mortas. Adormecidas e esquecidas dentro deles mesmos. Esquecem a cor do brilho das estrelas, o canto dos pássaros, o cheiro das rosas.

E sentado ali, ainda vazio, lembrei de você, lembrei dos teus olhos castanhos, doces, sensíveis porém guerreiros. Seus olhos carregavam tanta coisa. Seus cabelos ao vento, a coisa mais linda que já vi, você sorria, com uma felicidade tão sincera, tão pura, tão natural... Me dizia que sempre ia me amar, e eu sorria de volta e te enlaçava em meus braços, e era quente, doce, como você.

Então lembrei de você lá, na chuva, deitada no asfalto, os olhos ainda abertos, ainda carregavam o medo, ainda carregavam a esperança, mas eu nada pude fazer, como um enfeite velho e inútil, só pude ver aquele homem vazio, sacar sua arma e atirar em teu peito, e fugir para a noite. O sangue jorrava, óh meu Deus, era tanto sangue... Eu corri em seu encontro, e aparei suas queda nos braços, senti seu calor pela ultima vez. Em seus lábios quase em cor, balbuciou as últimas palavras, palavras que nunca esquecerei, "Eu te amo", e sua alma se separou da carne, a deixando em meus braços, e em meio as lágrimas, eu gritava por ajuda, mas as pessoas vazias apenas olhavam, te abracei e chorei, chorei como uma crianças. Apenas dizia seu nome

E deitado aqui, embaixo dessa árvore quase morta, me lembro do brilho dos teus olhos, e deles sem vida, e uma lágrima silenciosa escorre, essa única lágrima, é a dor de uma alma incompleta, uma alma sem você, sem o brilho dos teus olhos. O que faltava em mim, era você, e sempre irá faltar.


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