Os Escolhidos - Destinos Interligados escrita por Angie


Capítulo 7
Capítulo 6 - Visita Indesejada


Notas iniciais do capítulo

Por favor, NÃO fiquem com raiva da Selena.



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Aaron estava apoiado em uma das paredes de mármore do templo de Zeus esperando por Selena. Ele a tinha visto entrar no templo de Hecate e sair poucos minutos depois com uma cesta a menos, mas tinha entrado no de Hades há mais de quinze minutos e ainda não havia retornado.

Seu celular começou a tocar insistentemente no bolso de trás de sua calça e ele o pegou. O visor brilhava, mostrando uma foto e o nome de sua irmã.

– Eu vou me mudar! – Shannen anunciou com a voz alegre quando ele atendeu.

– Hum, o cumprimento usado normalmente é 'oi'. – ele disse. – Quer dizer que vocês não vão voltar para a mansão Oceano?

– Melissa foi designada para administrar uma das mansões. Nós partiremos do Brasil para lá imediatamente.

– Ah, é? E qual delas?

– Elísio. Não é demais? Nós recebemos a notícia de uma possibilidade ontem, mas apenas hoje tivemos a confirmação. Parece que a líder do Conselho dos Feiticeiros nos aprovou.

A líder. Selena.

De repente Aaron notou que não tinha perguntado nada sobre isso. Havia pensado tanto sobre a noite anterior que esse fato simplesmente lhe fugira da memória.

– Melissa quer que você vá também, sabe, antes de começarem as aulas...

– Eu não vou mais para a Academia.

Shannen ficou em silêncio por um segundo e então desatou a falar:

– O quê?! Porquê?! ENLOUQUECEU?! Você estava praticamente obcecado para encontrar aquela garota, e acredite, eu entendo isso. Ficar sonhando sempre com a mesma pessoa em uma cena de assassinato deve ser perturbador...

– Shannen...

– … tipo, Sexta-feira 13, mas desistir sem nem mesmo tentar é babaquice...

– Shannen, eu a encontrei.

– … e você não costuma fazer o gênero babaca, mas agora... para tudo, o quê?

– Ela está aqui.

– Aí com você? Tipo, agora?

Ele sorriu.

– Por perto. Ela chegou aqui na mansão ontem. Eu senti algo estranho, então saí do quarto e dei de cara com ela.

– E como você reagiu? E por favor, me diz que não fez besteira.

Aaron suspirou. Isso não ia ser fácil. Decidiu falar de uma vez.

– Eu perguntei quem ela era – ele pode ouvi-la suspirar do outro lado da linha como se houvesse estado prendendo a respiração. – Depois de tê-la ameaçado com uma adaga. Não que isso venha ao caso.

Silêncio... e então:

– O QUÊ?! NÃO VEM AO CASO UM INFERNO! – ele afastou o celular alguns centímetros. – Esquece o que eu disse sobre você ser um babaca. VOCÊ É O DEUS DOS BABACAS, talvez esse seja até o seu domínio. Como pode ser tão idiota? Eu aqui, imaginando uma cena totalmente romântica e melosa, quando na verdade você ESTRAGOU TUDO! Como você pode?! Pelo que me disse ela é uma pobre menina sofredora e você a estava procurando por quê? Para MATÁ-LA?

– Talvez se você parasse de falar um pouco, eu pudesse explicar. – ele a interrompeu.

– Espero que tenha uma boa explicação. Se essa menina está aí com você, ela deve ser uma santa por não ter te estrangulado, porquê acredite, eu o farei quando te vir e não pense que...

Aaron pigarreou.

– Posso? – ela resmungou e ele prosseguiu: – Eu tinha acabado de chegar do Olimpo quando senti uma coisa estranha. Saí para verificar e então a vi. Tem algo de errado com a Selena, Shannen. É algo como uma aura de trevas consumindo a luz que há nela, tão forte que eu simplesmente não pensei, apenas parti para ação.

– Forte quanto?

– Não dá nem para explicar. É algo que só vi em seres maléficos, completamente dominados pelas trevas.

– Cara, eu acho que você se apaixonou pela garota errada.

– Eu não estou apaixonado e ela não é errada. Por incrível que pareça, as trevas não parecem afetá-la. Talvez pelo fato de ela ser uma feiticeira poderosa, não sei. Ainda tem muitas coisas sobre ela que eu preciso descobrir. Ela parecia saber coisas sobre mim antes de nos conhecermos e quando falei sobre ela com Hades, ele disse que não tinha autorização para revelar nada.

– Hades? Não seria mais sábio falar com Apolo? – sua voz carregava um pouco de sua típica curiosidade. – Afinal, porquê consultar o imperador do mundo dos mortos, quando se tem o deus das profecias?

– Eu já tentei antes e o resultado foi o mesmo. – Aaron não conseguia mascarar sua frustração. Já tinha até mesmo começado a andar de um lado para o outro. – Tentei com Hades porque ele é o patrono dela, mas a única coisa que consegui foi uma certeza: Os deuses estão tramando algo.

– E o que você pretende fazer?

– Esperar, o que mais? É minha única saída agora.

– Mas enquanto espera, onde pretende passar esse tempo? Porque sinceramente, você me disse antes que essa garota, a Selena, tem mais ou menos a nossa idade e se ela mora na mansão, acha mesmo que não é uma aluna da academia?

Ele havia estado tão focado no momento presente que não tinha pensado nessa possibilidade.

– É… pelo que estou vendo você realmente não tinha botado essa cabecinha divina para funcionar. Mas quem garante que eu não estou errada? Bom, te desejo sorte com a sua namorada, mas tenho que desligar. O táxi acabou de chegar e vamos partir para o aeroporto imediatamente. Tchau, Sage...

– Ela não é minha namo... – o celular emitiu um bipe anunciando o fim da chamada.

Shannen tinha desligado na sua cara.

Ótimo.

Já fazia quase meia hora que Selena havia entrado no templo, então ele pensou que não faria mal ir até lá. Por algum motivo ele achava que algo estava errado.

Enquanto subia os degraus e passava pelas colunas dóricas, começou a sentir as Trevas se fortalecendo. Era um sentimento constante enquanto Selena estava por perto, mas no momento era como se tivesse sido multiplicado dez vezes mais. Parecia quase palpável. Aaron apressou o passo, temendo o que poderia ver lá dentro.

Selena estava de perfil. Uma mão apoiava seu peso no altar e a outra estava jogada sobre o rosto.

– Selena? – ele chamou. O tom de preocupação presente em sua voz. – Há algo errado?

– O que está fazendo aqui? – não parecia ser apenas uma pergunta inocente. Seu tom era frio e ríspido.

– Apenas fiquei preocupado. – justificou-se.

Ela baixou a mão e olhou para ele. Seus olhos que antes eram de cor azul gelo, agora estavam se perdendo em redemoinhos negros, nas mais profundas trevas. Seu olhar inocente e postura delicada haviam sumido, dando espaço para algo indescritível, que parecia mais cáustico e venenoso que qualquer outra coisa.

– Você está bem? – ele insistiu.

Olhando em sua direção ela sorriu friamente.

– Jamais estive melhor.

Ele deu um passo a frente a medida que ela se afastou.

– Deixe-me ajudá-la, nós dois sabemos que essa não é você. Isso não é certo.

– A única coisa errada aqui é você. Um deus sem domínios? – ela riu e foi como se um soco lhe atingisse a estômago. – Você é ridículo, nem seus pais te querem no Olimpo.

– Selena...

Ela passou por ele em direção a saída.

– Melhor sorte na próxima encarnação Aaron. Ops, desculpe, erro meu, você não pode morrer. Então o melhor conselho que eu tenho para te dar é: Conviva com isso e fique bem longe de mim.

Depois disso ela foi embora, deixando-o estático, imaginando o que poderia ter acontecido.

***

Rennata já havia esquecido como era pintar. O quão mais calmo seu espírito ficava a cada pincelada. Ela não tinha a mínima ideia de a quanto tempo estava trancada em seu quarto, mas esse era exatamente o propósito. Era bom esquecer de tudo por um momento e se deixar levar por cada curva de um desenho.

– Devo admitir que você tem talento. – alguém disse ao seu lado, fazendo-a afastar o pincel da pintura e encarar o dono da voz. Ele apontou a pintura na parede. – Foi em homenagem a mim?

– Evidentemente não. – retalhou. Ele apenas deu de ombros e ela teve vontade de enfiar o pincel em sua garganta. – O que pensa que está fazendo aqui?

Ele estalou os dedos e um trono de cor perolada apareceu no meio do quarto, no qual ele se sentou.

– O de sempre. O resto do Conselho Olimpiano disse que eu tenho que visitar você de vez em quando e já que sou seu patrono, você deveria tentar ser um pouco mais gentil para variar.

Ela encarou o teto.

– Oh, Zeus, eu devo ter jogado tachinhas em seu trono quando era criança. Porque esse é o único motivo imaginável para você me dar o castigo de ter como patrono a deus mais chato do Olimpo.

Ele bufou.

– Primeiro: Foi no MEU trono no qual você praticou esse ato infantil e infeliz. – disse ele. – Segundo: Não seja dramática.

– Não seja detestável. – ela retorquiu. – E não enumere as coisas, isso não é muito masculino. Agora falando sério, o que trouxe o grande deus Poseidon ao mero mundo mortal? Tenho certeza que não foi apenas minha ilustre presença.

– Sua perspicácia é impressionante. – a ironia em seu tom era tão espessa que poderia ser cortada com uma faca. No mesmo instante Rennata ficou tentada a testar seus poderes, usando ele como cobaia. – Vim te trazer um presentinho.

– Se for mais uma pérola sem graça, devo avisar que ela vai parar no e-Bay no instante em que você me der as costas. – antes de receber esse conselho de sua irmã Isabella, ela jogava cada uma das pérolas na privada. Infelizmente muitas tinham sido desperdiçadas, já que ele a visitava mais frequentemente do que ela gostaria. Isabella quase teve uma síncope quando descobriu o que Rennata fazia. – Garotas não gostam de presentes repetidos, não importando de quem venha.

Ele revirou os olhos.

– Você poderia se surpreender.

– Bem, e o que é então?

Poseidon estendeu as mãos diante de si e imediatamente a “coisa” surgiu diante dela, como se fosse uma oferenda. Sim, coisa, porque Rennata preferia chamá-la assim, a ter que admitir o que realmente era.

– Tira esse negócio da minha frente, – ela disse pondo as mãos a sua frente com as palmas viradas para ele, como se fosse uma espécie de escudo. – você não ouviu quando eu disse que não gosto de presentes repetidos?

– Você não o aceitou da última vez, então tecnicamente eu não estou repetindo.

– Eu não quis a cinco anos atrás, – ela disse exasperada. – o que te faz pensar que eu o aceitaria agora?

Poseidon deixou a “coisa” sobre o colo e pôs o punho sob o queixo, olhando para o vazio, como se estivesse em profunda reflexão.

– Oh, eu não sei, – falou – talvez a ameaça eminente de um inimigo próximo?

– Não seja cínico! Eu não tenho inimigos, – e então ela se lembrou de Lindsay, a vadia do colégio, e acrescentou: – que valham a pena temer. E outra, eu sou uma pessoa totalmente paz e amor, jamais poderia aceitar uma coisa dessas.

– “Paz e amor”? – ele riu, enquanto ela deixava o pincel e a palheta sobre a mesinha de cabeceira. – Seu histórico escolar diria outra coisa.

– Pouco me importa o que ele diz, tudo que aconteceu foram apenas infelizes acidentes.

– Quando se trata de acidentes infelizes, você é a pessoa mais azarada que conheço.

– Isso porque você é ante social demais para conhecer muitas pessoas. Agora vá embora e leve essa coisa com você.

– Isso se chama arco, não coisa. – ele a corrigiu e ela lhe mostrou a língua.

– Tanto faz.

Uma batida na porta de seu quarto tirou sua atenção da conversa.

– Com licença. – ela disse demonstrando respeito pela primeira vez desde que ele tinha chegado.

Quando abriu a porta se deparou com uma garota morena, de olhos castanhos e cabelos negros cacheados e de um corpo escultural. Resumindo: a garota era tudo que ela nunca seria. Estava vestindo um vestido preto curto e colado e sandálias de salto alto, fazendo com que Rennata se sentisse bastante sem graça em seus jeans, camiseta e tênis.

– Oi, eu sou a Ariel. – ela disse. – A Chloe me pediu para te trazer isso.

Entre os dedos Ariel segurava um fino cartão prateado.

– Hã, tudo bem. Deixa só eu despachar o... – ela olhou dentro do quarto e percebeu instantaneamente que Poseidon havia sumido, levando trono perolado e tudo.

Não, tudo não…

Desgraciado! – ela xingou entrando dentro do quarto e encarando o arco em cima da cama. – Ah, seu covarde, apareça aqui agora!

– Desculpe, aconteceu alguma coisa? – Ariel perguntou, entrando no quarto. – Uau, você manda bem na pintura.

– Obrigado, mas saindo do assunto artes... – Rennata olhou para o teto. – SE VOCÊ NÃO APARECER, EU VOU JOGAR ESSA PORCARIA NA PRIVADA!!!

– Com quem você está falando? – a outra garota a olhava como se ela fosse louca.

– Poseidon, o deus da chatice extrema. – ela apontou para a cama, Ariel foi atá lá e tocou o arco, olhando-o de forma apreciativa. – Ele veio e me deixou esse negócio. Quero que ele leve de volta!

– Sinto muito, mas acho que isso não caberia na privada. – falou examinando a arma. – E mesmo que coubesse, não acho que daria certa por muito tempo.

– Quer para você então? – indagou, tomada de uma esperança momentânea.

Ariel negou.

– Se um deus quer que você fique com ela... Bom, acho que é inevitável. Aliás, sou péssima no tiro com arco, prefiro feitiços.

– Quer dizer que você é uma bruxa. – não era uma pergunta.

Ariel tirou a atenção do arco e sentou-se na cama em seguida.

– Ah, por favor. Nós, mulheres, preferimos o termo feiticeiras.

– Feiticeira é só um jeito bonitinho e mais educado de se dizer bruxa, todo sabem disso.

Olhou acima da cabeça da feiticeira e encontrou seu reflexo em um espelho do outro lado do quarto. Estatura mediana, pele clara, cabelos loiros platinados batendo na cintura e olhos cinzentos. Nenhum atrativo. O que ela mais odiava eram seus olhos. Tinham um tom tão claro que quase não possuíam cor.

– Tem uma coisa estranha nesse arco, – Ariel disse, claramente mudando de assunto. – ele não tem linha.

– Não precisa. – quando Rennata proferiu tais palavras, Ariel encarou-a.

– Todos os arcos precisam. – a morena pronunciou lentamente, como se Rennata fosse idiota.

– Esse não. Quer dizer, não agora.

Ela o apanhou a contragosto e no mesmo instante uma linha translúcida apareceu.

– Vê agora? – perguntou a Ariel.

– Ver o que?

Ótimo. Ainda tinha mais essa.

Todo o arco era feito de um material que parecia ouro, mas parecia quase não ter peso em suas mãos. Ela tinha que admitir, era uma bela obra. No centro estava gravado seu emblema, a marca de nascença que ficava em sua omoplata direita e que a destacava como uma pessoa diferente. O desenho de um ômega sobre um tridente. Em letras miúdas ao redor do ômega havia inscrito a frase “Portadora da Luz”. O resto do arco era entalhado com espirais e cravejado com pequenos diamantes. Poseidon havia dito que tinha sido feito por Hefesto, o ferreiro dos deuses, seja lá quem fosse esse cara. É... Rennata realmente se destacaria na academia, já que não sabia nem os nomes dos doze deuses do Olimpo. Ou seriam treze?

Segurou-o com a mão esquerda, estendendo-a diante de si e pondo-o em posição de tiro. Com a direita ela segurou a linha e puxou o braço para trás. O queixo de Ariel caiu. Era como se a luz se solidificasse, tornando-se uma flecha. Mirando acima da cabeça da feiticeira ela soltou a flecha. O espelho se espatifou. Adeus reflexo.

– Agora vou ter sete anos de azar. É, não muito diferente da minha vida normal.

Join. – Ariel disse gesticulando em direção ao espelho, em um idioma que Rennata pensou ser latim. Todos os cacos voltaram ao lugar. – Acho que é de um tipo de arma que só pode ser usada pelo dono original. Eu já vi antes, com a diferença de que eram um par de adagas. Definitivamente você não vai conseguir se livrar dessa coisa.

– Quer apostar? – Rennata se ajoelhou sobre o carpete e jogou o arco debaixo da cama. – Feito. – disse se levantando. – Deixa aí acumulando poeira. Agora, vamos ao assunto inicial, sim?

– Ah, claro. – Ariel lhe estendeu o cartão.

– Mas o que é isso?

– Um cartão de crédito. – o modo com que ela respondeu parecia mais como: Dããããã! Um cartão de crédito!”, mas Rennata deixou passar.

– E para que isso?

– Você ainda tem que comprar as coisas que vai levar para a academia, não é?

– Sim, mas eu não quero o dinheiro da Chloe.

– O dinheiro é seu. Sabia que temos uma grande amizade e parceria com o governo americano?

– Ainda assim...

– Vamos, pense nisso como um retorno de seus impostos. Não seja boba. – Ariel insistiu.

– Bom, se é assim. – ela pegou o cartão.

– Eu não tenho nada para fazer agora e fui encarregada de te tirar desse quarto, então vamos às compras.

– De novo?

– Você foi com a Chloe, não comigo. Prometo que será divertido. – ela se levantou e foi em direção a porta. – Você vem ou não?

O que Rennata poderia fazer?

Ela a seguiu.


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