_Isaac? – Hazel fora visitar seu amigo como sempre vinha fazendo desde que Augustus se foi, encontrava nele certa paz, somente os dois conseguiam entender o que o outro sentia, e começaram a gostar da companhia um do outro.

_Eu estou na cozinha. – gritou o garoto.

_O que você está fazendo? – confusa com a cena que presenciava Hazel perguntou. Isaac segurava um papel a sua frente como se estivesse lendo, porém isso não era possível já que o garoto havia perdido a visão havia alguns meses.

_A pergunta certa seria o que eu devia estar fazendo, e a resposta seria... lendo esta carta, mas não consigo, ser cego é revoltante.

_Porque não pediu pra alguém ler pra você?

_Eu não conseguiria, é... pessoal. – respondeu franzindo o cenho.

_Entendo... – Na verdade ela não entendia coisa nenhuma, afinal de contas o que tanto ele teria a esconder?

_Entende nada, você está morrendo de curiosidade pra saber o que tanto tem na carta que eu sei. – disse Isaac sorrindo.

_Tem razão. – admitiu.

_Eu quero que você leia pra mim.

_Mas... Não é “pessoal”? – fez aspas com os dedos na última palavra, mas logo se repreendeu, pois o garoto não conseguiria ver o gesto.

_Bem, sim... Mas eu confio em você. Além disso, eu acredito que você também merece saber o que está escrito aqui.

_Como assim?

_É uma carta do Gus.

Hazel ficou paralisada com essas palavras, afinal, não sabia da existência dessa carta, e o simples fato de estar olhando pra uma coisa que um dia estivera nas mãos de Augustos a deixava tonta, ela achava que já sabia de tudo sobre o garoto, não sabia que mesmo depois de tanto tempo ainda se surpreenderia com ele, seus olhos se encheram de lágrimas.

_Mas já está chorando? – ironizou Isaac.

_Não estou não. – rebateu, limpando uma lágrima rebelde que insistiu em passear por seu rosto. – Como você sabe que estou chorando? – se entregou.

_Joguei um verde. – o garoto deu de ombros.

_Você tem certeza de que quer que eu leia? – questionou, mesmo estando a ponto de tirar o papel da mão do amigo a força pra ler as palavras de Gus.

Ele apenas acenou afirmativamente, e ela tentou permanecer calma enquanto sentava na cadeira a seu lado e tomava o papel gentilmente da mão de Isaac. Assim que sentiu a folha entre os dedos percebeu que tremia muito, respirou fundo e começou a ler...

“ Isaac,

Sei que escrever uma carta para alguém que acabou de ficar cego não é uma coisa muito inteligente, mas o fato é que não consegui dizer tudo o que estou prestes a escrever nesta carta em voz alta. Desculpa amigo, sei que você não gosta de depender das pessoas, infelizmente eu meio que te forcei a fazer isso não é? Sinto muito.

Eu sei que não estarei mais nesse mundo quando você finalmente pedir ajuda a alguém, sinto muito por isso também, não queria partir tão cedo, mas não estou triste não, morri jovem e lindo, nunca vão me ver careca, banguelinha, barrigudo, enfim, a imagem que terão de mim será a melhor possível... opa eu meio que me deixei levar aqui.

Continuando, eu gostaria de te dizer que você foi o meu melhor amigo, reparou que comecei a escrever as coisas no passado? Pois é, sinto como se já estivesse morto, estou meio depressivo... desculpa, mas saiba que ficarei bem, ninguém é feliz o tempo todo não é? Temos nossos momentos de felicidade, os de tristeza... você entendeu o que eu quis dizer.

O tempo que tivemos juntos foram os melhores, e não fica com ciúmes, Hazel Grace (você é tão previsível meu amigo, que até sei de quem é a voz que você está ouvindo isso tudo, considere esta carta um presente meu para os dois). Isaac você é meu irmão, não de sangue, mas de alma, desde que nos conhecemos eu sempre soube que nossa amizade duraria pra sempre, ou pelo menos até o pra sempre de um de nós. Hazel foi o amor da minha vida, e por você senti amor de irmão.

Espero que mesmo depois de minha morte vocês dois continuem amigos, não se sintam obrigados a isso, esse não é o meu último desejo ou coisa assim, é apenas uma coisa que acredito que iria acontecer mesmo que eu não escrevesse aqui, saiba que eu apoio essa amizade até o fim.

Irmão, nós vivemos tanta coisa juntos, era pra você que eu contava meus segredos, você sabia tudo sobre mim, e eu sobre você, meu amigo, confidente, eu não seria o Gus que sou hoje se você não fosse o Isaac que é. Você me apoiou mesmo quando também precisava de apoio, e eu te apoiei como pude. Dei o meu melhor, espero que tenha sido o suficiente.

Agora eu entendo, eu não preciso fazer uma coisa grande para o mundo pra ser lembrado, eu não dou a mínima pro que o restante do mundo pensa de mim, se é que pensam em alguma coisa quando ouvem meu nome, porém, o que você pensa de mim, é importante, espero que se lembre dos momentos que passamos juntos, espero ter feito algo de importante na sua vida, assim como também espero que Hazel se lembre do nosso pequeno infinito, não é assim que você chamou Hazel? Pequeno infinito, não poderia ter definição mais perfeita pra nossa história.

Só vocês dois conheceram o verdadeiro Augustus Waters, e eu digo isso porque um cara como eu, não é de demonstrar suas inseguranças para todos, eu não me escondi de vocês. Eu fui eu mesmo, e fico feliz por isso.

Sou péssimo com despedidas, sinto como se estivesse enrolando você ou algo assim, mas o fato é que eu não queria partir sem dizer o quanto você foi importante pra mim. Quando todos se afastaram de mim por causa do câncer, você fez o contrário. Obrigado.

Você tem noção do quão gay estou me sentindo escrevendo esta carta? Tipo, muito. Mas vou te confessar uma coisa, se eu não tivesse conhecido a Hazel talvez eu tentasse alguma coisa contigo, afinal você não é de se jogar fora. Relaxa, eu estou só brincando. Ou não, mas isso você nunca vai ficar sabendo.

Enfim, acho que é isso, quero que tenha uma vida maravilhosa, e pare se de lastimar por não poder enxergar, acredito que cada pessoa tem um propósito na vida, quem sabe você não será o primeiro homem cego a pisar na lua? Sonhar faz parte.

Não desista, conquiste! A vitória é sempre mais emocionante quando vencemos os obstáculos que são lançados em nosso caminho. Isso serve pra você também Hazel, não deixe o câncer te impedir de viver.

Amo vocês.

– -Augustus Waters.”

Hazel soluçava, Isaac tentava conter o choro, mas em vão, os dois se abraçaram e ficaram em silêncio por um tempo.

_Leia de novo. Por favor. – Pediu Isaac, e a garota logo que se recompôs iniciou novamente a leitura. Ambos estavam chorando, era como se Gus estivesse ali com eles, não acreditavam nessa baboseira de que após a morte a alma ficava rondando solta por ai não. Pra eles, Augustus estava ali, não de corpo ou alma, mas sim em palavras. E que palavras... pensou Hazel.