NARRADOR

– O QUÊ?!!! – Jason gritou, exaltado, logo depois de seu amigo moreno ter chegado para “visitá-lo”, e ele ter pedido por detalhes da efetuação plano, só para Nico lhe contar que ele e Thalia haviam se beijado - EU PEDI PARA VOCÊ ME AJUDAR A DESCOBRIR QUE MERDA DE CARA TINHA BEIJADO MINHA IRMÃ, E AI, VOCÊ VAI LÁ, SEU FILHO DA PUTA, E BEIJA ELA, PORRA?!

Normalmente, Nico teria se levantado, enfiado o dedo na fuça de Jason, e respondido no mesmo tom “NÃO CHAME MINHA MÃE DE PUTA, SEU MERDA”, e só não teria batido nele, pois sabia que numa briga seria aniquilado pelo loiro.

Porém, naquele dia, ele só continuou largado no seu não habitual, mas mesmo assim minúsculo sofá do chalé 1, encarando desfocadamente a cara do altão a sua frente, emerso em pensamentos, numa calmaria e despreocupação nada comuns em sua face.

– Confia em mim, cara. Eu a beijei porque fazia parte do meu segundo plano, o que eu tinha formulado quando meio que reparei que você não ia ficar de pé ás 3h00 da manhã. Nada mais que isso; era só mais uma parte do plano B, não teve importância, nem para mim, nem para ela. Só que creio que ela poderá nos fornecer mais informações sendo, hã, minha, hã, sei lá, ficante? – de sua boca, saiam palavras que diziam uma coisa, seus olhos, perdidos, desfocados, e com um algo a mais, diziam exatamente o oposto.

Para sorte de Nico, Jason não era muito lá de olhar nas órbitas cor de carvão queimado que ele possuía, e evitava sempre que podia, então não chegou nem perto de reparar nisso (N/A: sendo meio brisadão como ele é, acho que nem olhando ele reparava...), só deu uma bufada descontrolada.

– Não gosto da ideia de você ser ficante da minha irmã, mas é melhor isso que algo mais, né? – perguntou o loiro, retoricamente, bufando de novo logo depois – Mesmo assim, concordo com você, acho que realmente ela vai te contar mais informações com você sendo, hum – ele soltou as palavras como se fossem veneno para sua garganta – algo a mais dela.

Nico abriu a boca para responder um “Aham” que provaria que ele não estava prestando atenção em uma palavra sequer do que Jason dizia, quando a porta se abriu de supetão, e um ser gritante saiu de lá:

– Jas, cadê você?! Quíron me mandou te chamar! Ele disse que quer dar um recado muito importante e quer que todos os campistas estejam lá!

Nico gelou-se da mesma forma que faria se tivesse sido atingido por Quione. Ela, a razão de ele estar bobo daquele jeito, estava lá, e estava falando de um recado horrível que ele já sabia qual era, e que já o deixava nervoso sem sair de uma boca que beijava excepcionalmente bem.

–Estou aqui, Thalia, se você for uns dez metros para a direita e vai ver! – Jason respondeu, também gritando, ao mesmo tempo em que um sorriso maligno se formava em sua boca.

Assim que a morena entrou no campo de visão de Nico, ele sentiu uma enorme vontade de esquecer a vida e beijá-la de novo, ainda mais com aquele tênis da Marvel e aquele gorro de HP que ele queria roubar. Isso sem falar naquela camiseta linda de Star Wars que tinha um decote um pouco generoso de mais. Não que ele estivesse reclamando, para falar a verdade verdadeira (aquela que ele não ia admitir nem com uma arma na cabeça), ele estava amando aquela blusa.

Aparentemente, porém, Thalia não estava tendo a mesma recepção calorosa a sua presença. Ela havia paralisado, o estava encarando de forma gélida e engolia em seco como se, por uma das primeiras vezes em sua vida, estivesse realmente amedrontada.

– Huhum – o loiro limpou a garganta, como se para chamar atenção para sua presença no quarto – Vamos lá ver o negócio do Quíron, só preciso ir ao banheiro antes. Será que você faz companhia pro Nico? Estávamos discutindo o assunto da sua camiseta agora mesmo, talvez você possa continuar a discussão né, Thals? – dito isso, Jason entrou no banheiro e trancou a porta atrás de si, nem dando tempo de sua irmã responder o que já lhe estava na ponta da língua: “Mas a Annie tá me esperando!”.

Como se para conferir qual camiseta estava usando, Thalia olhou para baixo, reparando então no decote não proposital que tinha se alargado, corando e ajeitando a blusa, não deixando então nenhuma coisa que não queria a mostra, para a infelicidade de Nico.

–Hum...é... – o garoto tentou puxar assunto, se aproximando á passos vagarosos e discretos da morena – Qual é seu filme favorito de “Star Wars”?

– O três ou o seis – ela respondeu, olhando para a porta, para o beliche, para o sofá, para o armário, para o quadro sobre a escrivaninha; olhando para tudo, menos para Nico – porque o três é o mais violento e o mais da hora com todo aquele negócio do Anakin virando Darth Vader, e o seis tem o Yoda, e eu AMO o Yoda!

–Ah, é? – ele respondeu com a voz rouca, já tão próximo de Thalia que se erguesse um dedo a tocava. Com ela não o olhando, foi ainda mais fácil chegar perto dela sem que reparasse.

Vendo-a e ficando pela primeira vez sozinho com ela desde que se beijaram, seu desejo pela garota crescia, ele queria tocá-la, beijá-la, abraça-la, tirar suas roupas; qualquer coisa, desde que fosse com ela.

Ela finalmente o olhou, surpresa com a respiração de menta que Nico tinha logo acima de sua cabeça. Como se esperasse a deixa, ele a beijou.

Diferentemente da primeira vez, em que ele a beijou com calma e paciência, desta vez ele beijou-a com ardor, suprindo a necessidade que tinha dela. Claro, no topor que seu beijo lhe causava, ela correspondeu, com a mesma necessidade, pois, afinal, era a mesma coisa que carregava em si desde o começo da manhã do dia anterior quando se beijaram: necessidade. Necessidade dele.

Eles pararam por meio segundo para o ar voltar, apoiando suas testas uma na outra; eles sabiam que não podiam ficar se agarrando no meio do chalé, sabiam que qualquer um podia entrar a qualquer momento, sabiam que Jason logo sairia do banheiro, mas a necessidade mútua que sentiam um do outro venceu.

XXX

À metros de distancia, um loiro estava sentado apoiado na porta do banheiro, tentando ouvir todos os sons que eram produzidos no aposento ao lado. Deste modo, ele poderia saber se o Di Ângelo realmente falara a verdade quando dissera que era tudo pelo plano, que não tinha significado nada nem a ele nem a ela.

Se eles ficassem só de conversinha de Stars Wars mesmo, ou o garoto não estava se esforçando com o plano, ou era covarde. Se dessem um único beijo ou um selinho, ele estava focado no plano ou era frouxo. Porém, se dessem mais de um beijo, ou alguns beijos desesperados, ele estava pouco se fudendo para o plano e queria mesmo era ficar com sua irmã.

Finalmente, Jason havia criado um plano digno de Sherlock, não perguntas dignas de Watson. Infelizmente, porém, acreditava que o item um da segunda opção iria acontecer.

Ele esperou alguns instantes, ouviu uma pequena conversa dos dois sobre, (“é serio isso?!”), Star Wars, até uma voz masculina, obviamente Nico, dizer “Ah é?”, e os sons se tornarem indistintos.

Ele esperou. Ouviu leves sons de lábios se tocando, ouviu ambos respirando apressadamente, acreditou que fosse acabar naquele ponto, acreditou que ele realmente estivesse certo a respeito de Nico estar focado no plano. Acreditou com todas suas forças naquilo, para ver se, por isso, se tornava realidade.

Até ouvir de novo os mesmos sons.

“Tudo bem” pensou “Dois beijos eu perdoo”

Então ouviu de novo; e de novo; e de novo. Na sua surpresa, ficou lá, imóvel, só escutando os sons. Em sua situação, tão desavisado, tão abismado, se eles tivessem ficado o dia e a noite inteira se beijando, ele teria ficado o mesmo tempo lá ouvindo.

Só que então, um novo som chegou aos seus ouvidos. Gemidos; gemidos deliciados.

“Meus deuses, eles tão transando!”

Sua consciência lhe disse, e, invocado pela raiva, ele empurrou a porta, nem se preocupando em abri-la (ou seja, quebrando-a).

A cena que encontrou lhe dava vontade de sair por ai com uma metralhadora matando tudo o que via pela frente.

Ambos se beijavam desesperadamente, perto demais do beliche para o gosto de Jason. A camiseta de Nico estava jogada em um canto do quarto, e as mãos de Thalia já estavam no cós (parte superior) da calça dele.

“Para uma virgem, ela é bem apressadinha, hein?”

A consciência de Jason invadiu-lhe pela segunda vez, sem sua permissão.

Pelo menos, se é que havia um pelo menos nessa situação, Thalia continuava vestida, tendo só perdido a camiseta que usava por cima da do Star Wars pelo caminho. O lado ruim, é que as mãos de Nico já se encontravam na barra desta, só esperando o momento certo para tirá-la.

Uma raiva misturada com um ciúme da irmã que nunca tinha sentido antes lhe invadiram, e Jason deu um soco descomunal na parede ao seu lado.

– QUE PORRA VOCÊS ACHAM QUE ESTAM FAZENDO, CACETE?! – ele gritou, dando inveja a um tomate pelo tom tão vermelho que sua face havia adquirido.