Sem perder a esperança escrita por Ester


Capítulo 35
CAPÍTULO 35- Sobreviventes




Este capítulo também está disponível no +Fiction: plusfiction.com/book/556360/chapter/35

POV Katniss

Peeta corre e tento pará-lo, não sei o que motivou esse comportamento dele, normalmente é tão cauteloso, mas agora saiu de onde estávamos e se lançou de forma imprudente à vista dessas pessoas. Demora um tempo para eu entender o que está dizendo, corro atrás dele com a arma apontada para as pessoas, não vou deixar que corra nenhum risco, nem que para isso precise tirar a vida de mais uma pessoa. Coisa que prometi e mim mesma que jamais faria, mais entre perdê-lo e quebrar minha promessa é claro que escolho proteje-lo, não conseguiria viver em um mundo em que não pudesse ver seu sorriso pela manhã. É pensando nisso que avanço disposta a fazer o que for preciso para mantê-lo seguro, porém o que ele grita chega aos meus ouvidos:

Pai? Ele acredita que pode ser o Sr. Mellark? Somente quando se encontram percebo que é verdade, ele está muito diferente, o rosto bem mais magro, roupas esfarrapadas como todos os demais. Ao chegar mais perto do grupo começo a reconhecer alguns rostos comuns do prego, a garota que chamou os demais reconheço como uma das amigas de escola do Peeta estudávamos juntos mas eu não lembro do seu nome. Ainda relutante quanto aos demais me aproximo dos dois, pai e filho continuam abraçados. Não sei o que aconteceu com eles mas não dá para observar a cena sem me emocionar, de todas as pessoas do mundo que mereciam uma boa notícia como essa Peeta com certeza ocupa o topo da lista. Ele nunca fala mais sei que sofre todos os dias pela perda de sua família. Nesses meses que moramos juntos não foram poucas as vezes que o encontrei chorando com uma foto na mão, ou qualquer outro objeto que lembre aqueles que ele perdeu.

_Sr. Mellark?_ digo quase como um sussurro mas ele escuta, levanta a cabeça e olha em minha direção.

_Katniss! _ parece assustado ao me ver, nunca tivemos muita intimidade, ele sempre foi gentil, comprava meus esquilos e o dia em que mais conversamos foi no dia da primeira colheita em que ele veio me dar uma caixa de biscoitos e prometeu cuidar para que minha irmã não passasse fome, mesmo assim vou até ele e o abraço e depois abraço o Peeta, está emocionado e muitas lágrimas escorrem do seu rosto mais ele está sorrindo.

_Ele está vivo Katniss, vivo! _ ele para um pouco e leva as mão a cabeça, e quando vira para mim fala de forma desesperada:_Katniss meu pai está vivo, real ou não real?_ tem tempo que não preciso confirmar a ele o que é real ou não, mas essa é uma situação inusitada, de repente percebo que ele está com medo de estar imaginando tudo, de sua mente está lhe pregando uma peça e fica nervoso.

_Mentira, você está mentindo, minha família está morta, toda ela, pára de mentir para mim. _está irritado e segura meus braços com raiva.

_Peeta, olha para mim, seu pai está vivo, é real._ parece em dúvida e mesmo comigo confirmando ele balança a cabeça negando e tenta se afastar, não permito isso, seguro seu rosto e olho bem para ele. _ Peeta, amor, olha para mim._ se recusa a manter o contato visual mas não desisto. _Amor olha para mim, por favor! É real, ele está vivo e bem. _ falo alto e firme e ele fica olhando para mim e só depois de um tempo sorri. Sr. Mellark fica acompanhando a cena sem falar nada, quando está melhor Peeta retorna sua atenção para ele.

_Quem mais conseguiu fugir com vocês? E minha mãe? Adam e Brenno?_levo um tempo para identificar de quem está falando mas lembro de seus dois irmãos mais velhos. Peeta pergunta bem próximo ao pai, já refeito do medo de sua mente estar confusa, e ele confirma que também conseguiram escapar e agora possuem um grupo com 45 pessoas, mas que estão enfrentando problemas com alguns que estão doentes.

_Peeta sua mãe não está muito bem de saúde filho, temos enfrentado um surto de sarampo e como não temos acesso a medicamentos perdemos alguns dos nossos. Ela tem resistido até agora mais está muito fraca. Já seus irmãos estão na mata caçando com algumas pessoas pela manhã estarão de volta._ Peeta escuta sobre sua mãe e logo quer vê-la, seu pai nos leva até alguns escombros que ainda possuem cobertura, lá eles deixaram os que estão doentes, reconheço os sintomas, a doença em si não tem tratamento mais sei que minha mãe fazia alguns xaropes para aliviar a tosse e algumas ervas para baixar a febre. A mãe dele está bem febril, nem reconhece o filho, fala coisas desconexas sem muita percepção da realidade.

_Pode fazer alguma coisa Katniss? _ Peeta me pede de forma suplicante, não possuo muita habilidade para cuidar de doentes mais conheço de plantas, digo a ele que deve pedir ajuda para encontrar algumas ervas e raízes, não preciso explicar muito pois ele passou dias desenhando várias delas comigo e poderá reconhecer todas facilmente. Depois de algum tempo eles retornam e logo preparo tudo, não é muito mais dará para passarem à noite.

_Pela manhã retornaremos ao Distrito e conseguiremos ajuda para os levarmos ao hospital._ falo isso ao Peeta que concorda comigo mas minha fala trás um alvoroço geral entre os demais, estamos ao redor de uma grande fogueira enquanto o alimento está sendo preparado, assim que escutam sobre retornar ao Distrito se recusam. Ripper que depois veio falar comigo enquanto estava cuidando dos doentes é a primeira a declarar:

_Katniss nós não vamos voltar para lá, aqui somos livres, não é a melhor vida do mundo mas podemos fazer o que queremos e nunca mais vamos nos submeter aos caprichos da Capital, já tentaram nos matar uma vez, não daremos essa chance a eles de novo. _ eles ainda pensam que estamos sobre domínio da Capital, Peeta e eu passamos um longo tempo explicando a todos que Snow estava morto e que tínhamos um novo regime, sem escravidão, para eles é algo utópico e surreal, quando falamos do Distrito Treze e sua contribuição com a revolução alguns nos chamam de malucos e logo o burburinho é total, escutamos de tudo até que nós viemos atrás deles para escravizá-los novamente, não conheço muito bem essa pessoa, todas são do mesmo lugar que nasci, mais nunca fui muito sociável, por isso a grande maioria só me conhece de longe, Peeta por outro lado conhece quase todos, alguns são seus amigos, mesmo assim ficam desconfiados ainda bem que o Sr. Mellark confia no filho por isso passa parte do tempo convencendo os demais que não estamos tramando nada e que só queremos ajudar.

Quando nos afastamos dos demais ele começa a relatar o que o seu grupo tem passado desde o bombardeio do Doze, segundo ele ficaram sabendo que Gale estava fugindo com um grupo para a floresta e tentaram fazer igual porém a manobra foi percebida pelo pessoal da Capital que começaram a bombardear a floresta também, por isso tiveram a idéia de se esconderem na Vila dos Vitoriosos, mas assim que o bombardeio acabou um grupo de pacificadores começaram a procurar por sobreviventes e tiveram que fugir para a floresta mas como ninguém conhecia o território não conseguiram encontrar o grupo do Gale e continuaram andando sem rumo por semanas, descansando apenas durante à noite, até encontrarem as ruínas, lá se estabeleceram, aprenderam a caçar e cultivar alguns alimentos. A principio o grupo era maior mais algumas baixas foram acontecendo com o tempo e agora somam um total de 45 pessoas entre crianças e adultos.

_No início foi mais difícil, tínhamos muitos queimados e doentes, mais aos poucos as coisas foram melhorando, aprendemos a lidar com a terra e a caçar, acho que agora todos se sentem um pouco você Katniss, foi nossa inspiração por muito tempo. _o comentário é inocente mas sempre me trás um pouco de culpa, a verdade é que foram meus atos na arena que determinaram tudo que aconteceu com essas pessoas e os demais habitantes do meu Distrito. Peeta sempre percebe quando algo me incomoda por isso logo pega em minha mão e a beija depois sorri para mim, seu pai olha para nós de forma interrogativa, nunca soube se ele tinha conhecimento do nosso real envolvimento, mas a forma como olha para nós todas as vezes que estamos juntos me remota a ideia que sabia do namoro falso e agora estranha nossa aproximação.

_Pai o Distrito está praticamente reconstruído, temos casas populares para essa gente, escolas, hospital, pela manhã irei até lá e vou trazer ajuda mas precisa convencê-los de que isso é o melhor, pode fazer isso?_ o seu pai parece pensar um pouco mais depois concorda, o trabalho de convencimento é lento mas um a um as pessoas começam a ceder, finalmente descubro por que Peeta é capaz de convencer as pessoas é algo que ele herdou do pai, ver o olhar de orgulho que ele dirige ao pai é algo incrível. Depois do jantar retorno para o local em que estão os doentes, os remédios que consegui produzi com a ervas começam a fazer efeito, não é muito mas a febre e tosse da maioria dos pacientes começam a ceder, o resto da noite é igual, dividido entre cuidados com os doentes e poucas horas que consigo dormir um pouco, mas assim que o sol nasce Peeta retorna ao Doze, eu me ofereço para ficar e continuar cuidando dos doentes , ele concorda mas antes de sair passa um tempo me beijando.

_Fico feliz que vocês tenham se acertado Katnis, meu filho sempre gostou muito de você. Eu realmente acreditei que nunca mais o veria, que o tinha perdido para sempre, mas é muito bom ver que além de vivo, ele está com você, algo que sempre esperou._o Sr. Mellark fala isso assim que Peeta se afasta, não sou muito de falar sobre meus sentimentos, mas considerando tudo que ele passou tento ser simpática.

_Peeta e eu estamos bem sim, eu amo muito o seu filho e ele me faz muito feliz. _ ele sorri um pouco mais depois para parece querer perguntar algo mas não tem coragem.

_Quer me perguntar alguma coisa?­_ sei que deve ter um monte de perguntas a fazer, principalmente depois de ter presenciado o quanto Peeta ficou confuso assim que chegamos.

_Katniss eu sempre pensei que sabia tudo sobre meu filho, mas teve um momento ontem que achei que não o conhecia mais, ele ficou nervoso e parecia com raiva de você, não consegui entender, parecia transtornado, como se fosse outra pessoa._ suspiro pois não sei se seria a pessoa correta a explicar isso mas penso que será muito mais difícil para Peeta contar ao pai tudo que passou, sei que terão de conversar sobre isso, mas resolvo adiantar para que consiga assimilar antes do filho voltar.

_Acontece que antes de Snow morrer ele ficou com Peeta na Capital, eles o torturaram e o programaram para me matar, quando o Treze conseguiu resgatá-lo ele estava muito confuso e perdido, não sabia quem era e nem me reconhecia, levou um tempo para que ele melhorar, mas algumas coisas ainda são confusas para ele, é por isso que questiona se é real ou não, depois da revolução ficou um tempo na Capital para se tratar e só depois foi liberado para voltar. Mas agora está bem. _ ele me olha assustado, é claro que preciso ficar horas lhe explicando tudo nos mínimos detalhes, e quando fica sabendo que Peeta tentou me matar começa a chorar, é difícil falar pois minha voz fica embargada ao perceber sua aflição, para mim foi horrível viver tudo aquilo, mas ele também ama o filho e saber de todo o seu sofrimento também não é fácil. Nossa conversa demora até o retorno do Peeta, seu pai faz de conta que nada aconteceu e vai recepcionar os visitantes, ele retorna com Haymitch, Gale e alguns médicos e enfermeiros, eles vieram em vários caminhões para levar as pessoas, surpreendentemente foi a presença do Gale que mais trouxe segurança as pessoas, acredito que pelo fato dele estar presente durante o bombardeio e ter guiado os demais para a floresta, muitos querem saber de parentes que estavam com ele e a resistência a mudança acaba. Logo começamos a ajudar na remoção das pessoas porém nem todos estão presentes, o grupo que estava caçando ainda está na mata e precisamos esperar até que voltem. Peeta fica pois não quer deixar o pai para trás ele será o responsável para convencer os demais a voltarem ao Distrito por isso fico com ele, enquanto esperamos nos afastamos dos poucos que ainda ocupam a cidade.

_Peeta seu pai quis saber o que tinha acontecido com você e tive que contar a ele._ seu olhar é de surpresa, acredito que não esperava que seu pai descobrisse tão rápido.

_Está tão evidente assim? Quer dizer ficamos perto somente algumas horas e ele já percebeu?_ toda expressão alegre do seu rosto se desfaz, ele fica realmente abatido.

_Não é evidente é só que você ficou nervoso com a notícia e seu pai lhe conhece, ficou preocupado com você._ele abaixa a cabeça e fica um tempo sem falar nada, detesto vê-lo assim, meu coração se aperta e passo meus braços ao redor dele tentando lhe dar um pouco de conforto.

_Você contou tudo a ele? Até que eu tentei matar você no Treze? _ está tão triste que gostaria de dizer que omiti essa parte mais não consigo mentir para ele por isso confirmo, mas não deixo que continue triste.

_Peeta tudo isso passou, o importante é que agora você reencontrou sua família e estamos juntos, o resto é passado e vamos deixá-lo onde merece estar, não é esse seu lema? Não sofrer pelo que já passou? Eles são sua família amor e tenho certeza que não irão julgar você. _ ele volta a me beijar e ficamos assim um tempo, só paramos quando um pequeno grupo se aproxima de nós. Reconheço os dois irmãos do Peeta e uma mulher que costumava encontrar no prego, e logo atrás vejo minha amiga Madge, ela está sorridente mas para assim que me vê.

_Aquela é a filha do prefeito?_ Peeta pergunta, confirmo só com a cabeça, antes de sair do Doze ela e eu passávamos muito tempo juntas, e reencontrá-la é realmente algo muito bom. Assim que se aproxima eu a abraço, e passamos um tempo conversando, ela diz que minhas aulas sobre uso de arco e flecha foi essencial para conseguir ajudar os outros a sobreviver. E que sentiu menos medo da floresta por freqüentá-la comigo. Não levamos tanto tempo para convencê-los até por que a maioria das pessoas já foram embora por isso logo estamos de partida. Estranho a aproximação dos irmãos do Peeta, eles não são muito amigáveis com ele, passam a maioria do tempo tirando sarro entre si, mas ele me garante que estão normais por isso ignoro. Quando subimos no caminhão que nos levará de volta ao Distrito penso em como esses dois dias mudarão para sempre nossas vidas.


Não quer ver anúncios?

Com uma contribuição de R$29,90 você deixa de ver anúncios no Nyah e em seu sucessor, o +Fiction, durante 1 ano!

Seu apoio é fundamental. Torne-se um herói!