Obsessão escrita por J Reck


Capítulo 7
Capítulo 7


Notas iniciais do capítulo

Desculpe pela demora, tive compromissos na sexta-feira e todo o final de semana, por isso não pude postar, mas vou compensar.
Bem, o capítulo começa com um flashback. Pela sugestão da leitora Alasca Duchannes (muito obrigada pela ideia), percebi que flashbacks deixariam a história mais interessante, não tanto para explicar algumas situações (como este do capítulo de hoje), mas pra dar mais detalhes ao leitor, mesmo assim não farei isso em todos os capítulos. Enfim, espero que gostem.



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– Há muito risco. Sua esposa ou seu filho pode não sobreviver.

Quando ouviu isso, mesmo sem tanta clareza, já que estava muito fraca, foi tomada pelo desespero. A vontade de gritar pelo marido era grande, mas a voz não saia. Ela olhava para ele e o médico conversando praticamente ao seu lado, ambos com roubas azuis, toucas, máscaras e luvas. As luvas do médico tinham muito sangue.

– N-não... - ela sussurrou, mas não foi ouvida. Os olhos iam se fechando e ela lutava para mantê-los abertos e atentos, mas o cansaço a dominava.

Seu marido Louis lamentou a notícia e se ajoelhou na frente da esposa, olhando para seu rosto pálido e lábios secos.

– Vai ficar tudo bem. - ele tentou encorajá-la, mas sabia que não era verdade.

– P-por favor... - ela respirou fundo. A voz saia muito baixa. Carlos aproximou o ouvido para escutar o que sua esposa dizia. - Se tiver que escolher, escolha ele...

Louis se confundiu, mas logo entendeu. Ele balançou a cabeça em negativa.

– Não posso viver sem você, Abigail.

– Não poderei viver sem Raul. - uma lágrima escorreu de seu olho e ele ardeu. Começavam a fechar de novo, estava quase dormindo, mas ainda sussurrou uma última coisa. - Eu nunca te perdoaria.

E então apagou.

Quando acordou, ainda estava sonolenta, mas melhor que antes. Conseguiu abrir bem os olhos. Estava em um quarto branco. O bipe da máquina que media sua frequência cardíaca lhe irritava. Não havia ninguém ali. Dez minutos se passaram e seu marido entrou no quarto. Estava exausto. Ele se sentou em uma cadeira ao lado de sua maca.

– Louis... - ela começou, o olhando. - Deu tudo certo, não é? Raul está bem?

Ele não respondeu, nem precisava, dava pra ser em seu olhar. De imediato, Abigail entrou em um choro profundo e triste. Louis não pode evitar e também chorou, se sentia impotente por não ter conseguido salvar sua família.

– Sei que disse que não o faria, mas por favor, me perdoe Abigail.

“Me perdoe, Abigail”, essa fala batia em sua cabeça repousada no peito de Henri, este já adormecera.

Ela nunca perdoou Louis de verdade, apenas fingiu, pois não tinha pra onde ir. Não tinha cara para voltar para a casa da tia que nunca aprovou seu casamento, tinha seu orgulho, mas não perdoou o marido de imediato, demorou alguns meses, meses de silêncio do café da manhã até o jantar. Na noite de reconciliação, o segundo Raul foi concebido, mas não importava mais, não era seu Raul. Mesmo que não estivesse viva, Abigail poderia ver seu filho de onde quer de estivesse, mas não podia vê-lo da terra. Estava sentindo uma leve revolta crescer dentro de si.

“Não te perdoo, Louis, pois nunca me perdoarias por isso” ela pensou, olhando para a situação em que se encontrava, sem sentir nenhuma culpa.

Enquanto isso, Doralice e Maurice chegavam de sua divertida noite como um casal normal. Era quase uma hora da manhã. Dora havia realmente se distraído e se divertido muito na companhia de seu marido, mas assim que pôs os pés para dentro de casa, ficou apressada e monossilábica. Maurice nem reparou, estava exausto e foi direto tomar um segundo banho no dia. Doralice foi direto para o quarto de Abigail. Quando abriu a porta e não encontrou a irmã, não sabia como se sentir. Estava satisfeita por ela ter ido ao encontro de Henri, mas furiosa por não estar em casa. Se Maurice percebesse sua ausência, Dora não saberia como explicar.

A mulher estava parada na porta que estava entreaberta, estava segurando a maçaneta.

– Querida?

Ela puxou a porta de imediato, a batendo e causando um som alto, até mesmo ela se assustou.

– Está tudo bem? - Maurice voltou a perguntar.

– Está. - ela se voltou para ele sorrindo, agora juntando as mãos a frente do corpo.

– Desculpe se te assustei. - ele sorriu. Estava com um roupão e o cabelo molhado pingando no rosto. - Abigail está dormindo?

– Sim, está. - respondeu serena. Com tudo o que estava havendo, Doralice estava se tornando uma ótima atriz. Podia fingir muito bem. Feliz, animada, superada... E todos caiam muito bem. Só não enganou a irmã, pois esta a conhecia além do que ela mostrava. - Também devíamos. Está tarde e amanhã trabalha.

– Claro... Estou exausto, o vinho me deu um sono horrível.

– Pois então vá na frente enquanto tomo um banho. Tudo bem?

Maurice assentiu com um sorriso singelo. Doralice sentiu um aperto. Aquele homem que estava diante de si era um homem bom e amável e que amava. Era tão frágil quanto ela, aquele sorriso inocente lhe tocou na alma e não entendia porque. Talvez lembrasse aquele homem que conheceu fazia alguns anos, antes de se casarem.

Doralice se aproximou e abraçou seu marido, o pegando de surpresa. Sentia sua falta, era verdade. Todo o nervoso e loucura a fizera esquecer disso. Sentiu um aperto novamente, mas de dor. Entre ele e sua filha, escolheria os dois, mas não poderia. O defeito de Maurice: ele não a compreenderia.

– A noite foi ótima. - ela sussurrou, ainda o abraçando.

– Eu te amo, Doralice. Desculpe se não a lembrei disso por um tempo...

Eles ficaram em silêncio, apenas por alguns segundos.

– Eu também te amo, querido. - ela sorriu, o soltando assim que lembrou de que precisava fazer algo. - Agora vá.

Maurice a beijou e foi para seu quarto. Doralice realmente foi tomar um banho. Demorou um pouco. Sabia que seu marido estava muito cansado e assim que caísse na cama, dormiria. Saiu do banheiro após 15 minutos, a água quente a aqueceu, mas o roupão com que saiu do banheiro não fazia da mesma forma.

Quando entrou em seu quarto, encontrou o marido roncando baixo. Silenciosamente, ela pegou roupas em seu armário e foi se vestir no quarto de Abigail.

A noite estava mais fria, Dora precisou sair com um casaco a mais. Quando foi buscar um no quarto, quase acordou Maurice, mas conseguiu sair sem fazer nenhum som. Ela esperava encontrar Abigail no meio do caminho, mas não aconteceu. A cada passo que dava ficava mais nervosa. Começava a pensar que algo tinha acontecido. Laura tinha fugido ou entrado em trabalho de parto, claro, só poderia ser isso. Apressou o passo e se atrapalhou descendo as escadas do beco.

Quando chegou, havia um homem sentado à porta de Laura, quase cochilando.

– Ei. - Doralice lhe deu tapinhas no ombro, ainda nervosa. - Onde está Henri? Como Laura está?

– Lá dentro. - ele apontou para trás com o polegar. Não apontou para a porta de Laura, mas para a casa onde Henri ficava. - A menina está bem. - ele cruzou os braços e se encostou na cadeira.

– E minha irmã? Ela passou por aqui?

– Se passou? - o homem riu, balançando a cabeça. - Passou por aqui e também passou pela porta.

– Pela porta? Os dois estão lá dentro? - ela abaixou as sobrancelhas, muito confusa. - O que tanto conversam?

O homem apagou o sorriso e pareceu irritado e impaciente.

– Como pode ter sequestrado uma moça? Ela só pode ser mais burra que a senhora.

– Como ousa falar assim comigo? Se fala por códigos não sou obrigada a decifrar! - ficou extremamente brava. - É melhor que se explique, eu que estou pagando aqui.

– Não fique toda nervosinha. - ele ergueu as mãos, se rendendo. O homem, forte e alto, se levantou e ficou de frente para Doralice. Diante dele, era apenas uma criança frágil e magra. - Direi só uma vez, primeira-dama. A relação de sua irmã e Henri passou dos negócios, entende?

Doralice encarou o homem, esperando por mais algum sinal. Ele ergueu uma sobrancelha, como se dissesse: É isso mesmo que está pensando.

O queixo de Doralice caiu, mas logo fechou a boca e pressionou os lábios. Se preocupara tanto a toa. Mas não foi tão a toa assim, teria uma conversa séria com a irmã e seria logo. Doralice deu as costas para o homem ali e bateu à porta de Henri, tentando abrir a porta em seguida. O homem segurou sua mão.

– Não pode atrapalhar.

– Minha irmã está lá dentro e ela vai pra casa comigo agora. Se não posso chamá-la, que você o faça. - ela o fitou com firmeza.

Antes que o homem pudesse dizer algo, a porta se abriu. Henri estava com um lençol amarrado na cintura. Doralice virou o rosto, constrangida e irritada.

– Pode por favor chamar minha irmã? - falou com o tom mais alto. - Precisamos ir para casa agora e depois conversaremos sobre seu comportamento.

Henri preferiu não discutir, embora quisesse. Não estava mesmo no acordo que ele poderia dormir com a irmã de Doralice. Ele olhou nervoso para seu capanga que estava do lado de fora com Dora, era uma humilhação obedecer uma mulher na frente de seus homens. Ele apenas entrou na casa e quando voltou, estava acompanhado de Abigail, de vestido amassado e cabelo bagunçado.

– Dora...

– Precisamos ir agora. Maurice pode acordar a qualquer momento, conversamos no caminho.

– Boa noite, Henri. - Abigail o olhou com malícia e recebeu um sorriso da mesma forma de volta. Doralice aguardou com o resto de paciência que ainda tinha. As duas andaram até a escada e a subiram.

Doralice segurou Abigail assim que atingiram o topo do beco e saíram da vista de Henri.

– Que merda está pensando, Abigail? - perguntou indignada. - Olhe pra você. Achei que tinha mais respeito. Está toda amarrotada, traindo o marido que nem está aqui para se defender. Como pôde?

– Não me julgue, Doralice. Também está mentindo para o prefeito!

– Mas não estou traindo. Eu amo meu marido, Abigail.

– Ah, parece que o jantar romântico lhe tocou no coração, não foi minha irmã? - ela sorriu, debochando de Doralice. Era verdade, mas não precisava admitir. - Pois você mesma já explicou. Você não trai seu marido porque o ama. Eu não amo Louis, Doralice. Achei que soubesse.

– Claro que sabia, me conta tudo, como daquela vez que me contou sobre como não superou porcaria nenhuma a morte de seu filho!

– Não grite! Lembre-se que ainda estamos na rua. - Abigail começou a ajeitar-se. Se fossem pegas ali, queria estar no mínimo apresentável. Ela começou pelo cabelo, tentando um coque, mas não tinha nada para segurá-lo, logo falhou. Ajeitou o vestido e abotoou o casaco inteiro. - Isso é problema meu, Dora. Não te prejudicará em nada e nem atrapalhará seu plano.

– Sabe que horas são, Abigail? E se Maurice tivesse entrado em seu quarto e não tivesse te visto lá? O que eu diria?

– Ora, seu marido é inteligente e respeitoso o bastante para saber que não deve entrar no quarto de uma mulher a não ser que esta seja sua esposa, no caso, você. - ela sorriu, vitoriosa. Doralice percebeu que não teria como discutir, não levaria a nada. Suspirou com impaciência. - Tudo bem, vou me desculpar pelo horário, mas não por ter tido a noite mais divertida de minha vida. Agora vamos para casa, sim? Fique calma!

– Pelo amor de Deus, Abigail... - ela começou, mais calma, mas ainda séria. - Não vá se apaixonar por esse homem.

– Pelo menos poderia me dar joias e muito mais prazer que aquele fraco que ficou em Avignon. Já disse para ficar calma. Vamos.

Pela manhã, Henri foi para o quarto onde mantinha Laura presa para lhe dar de comer. Quando entrou, ela já estava acordada. Estirada na cama fitando o teto com os olhos grandes. Eles se dirigiram a ele quando ela percebeu sua presença ali.

– Com fome? - ele sorriu ironicamente. Fechou a porta atrás de si e colocou a bandeja com pães e suco no criado-mudo ao lado da cama. Laura já sabia o procedimento. Ficar sentada, abrir a boca, morder, mastigar, engolir.

Mas tentou algo diferente. Conversar.

– Divertiu-se ontem a noite?

– Parece que o tempo nesse quarto escuro atiçou seus ouvidos, não é?

Laura se atreveu a sorrir. Henri levou um dos pães a sua boca, ela abriu, mordeu e estava mastigando quando ele o pôs de volta na bandeja.

– Sabe Laura, eu só te trato bem assim porque estou recebendo. Sabe qual é minha vontade? - ele apoiou os cotovelos nos joelhos. Laura começou a mastigar devagar. O olhar irônico dele se transformou em raiva, ela se assustou. - Te deixar apodrecer aqui.

Laura engoliu, respirando fundo em seguida.

– Por quê? Porque eu não te escolhi?

– Você nem tentou me conhecer, Laura. - ele sorria novamente, mas com raiva. - Você me julgou pelo que os outros falavam.

– Mas eles não mentiam, Henri. Olhe no que se tornou.

Ele se enfureceu. Se levantou da cadeira e a chutou para longe. Em seguida, puxou o criado-mudo para frente de Laura, fazendo o suco de laranja voar do copo e cair nos pães.

– Eu não era assim! - ele gritou – As pessoas me fizeram assim! Eu não era perfeito, eu não era da família! Não me aceitavam, então eu criei uma vida pra mim, Laura. Se tivesse acreditado em mim, eu seria outra pessoa, mas ao invés disso, você me enganou, achou que eu te deixaria em paz? Você não precisou de mim antes? - ele riu, se sentindo superior por estar de pé diante dela, que estava acorrentada e calada. - Coma sozinha. Que tal? E se abrir o bico para a primeira-dama, eu desfaço tudo e te mato antes. Ouviu?

Henri ainda pegou um dos pães de Laura enquanto se dirigia para a porta. Laura respirou fundo, sabia que seria o melhor a fazer no momento. Tomou fôlego e olhou para ele.

– Faria isso com a mãe do seu filho?


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Notas finais do capítulo

Não vão precisar esperar tanto para matar a curiosidade, postarei um capítulo antes de sexta-feira. Obrigada por ler!



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