Até então tudo tranquilo, fui transformado em uma garota por Ártemis, me juntei a caçada por pura e espontânea pressão, minha mãe admitiu que queria uma filha e não um filho e eu pensava na possibilidade de meu pai descobrir e fazer com suas mãos, o que Ártemis deveria ter feito quando eu fiz o maldito juramento. E para piorar, ela ficava me olhando com uma cara de: “Você vai sofrer muito ainda”.

A mim só restava me ajustar a vida como caçadora, Thalia estava sendo muito gentil, me ajudando a arrumar as coisas e contando um monte de histórias de suas aventuras com as caçadoras. Ela era uma boa amiga, Percy já tinha sua amizade, e pelo jeito Artemisa começava a obtê-la também.

– Então quer dizer que ontem vocês lutaram contra um exército de monstros comandados por Cronos e venceram?! Que demais! – Falei empolgada

Claro que aquilo era mentira, mas era legal ver o ponto de vista de outra pessoa, o que tinham visto da batalha. Quer dizer, a batalha de Nova Iorque foi incrível, e ver a opinião de Thalia na integra iria ser muito legal.

– Bem, tivemos muita ajuda dos semideuses do Acampamento Meio-Sangue, na verdade, nós ajudamos eles. Se quer agradecer a alguém, agradeça a Percy Jackson, foi ele que salvou o mundo, um verdadeiro Herói do Olimpo! – Ela disse feliz

Tá bom, em algum lugar dentro da garota que agora eu era, uma voz gritava: “Chupa Mundo! Sou um Herói do Olimpo”, mas outra gritava ainda mais alto: “Cala a Boca, você agora é uma garota, têm que se comportar!”. Então a voz que dizia a verdade ganhava e eu ficava apenas sorrindo para Thalia.

– Afinal, quem é Percy Jackson? –

– Um garoto lerdo... Um garoto lerdo que é meu amigo, filho de Posseidon, extremamente poderoso e fiel aos amigos, infelizmente, ele foi embora ontem do Olimpo e não disse a ninguém para onde iria. –

Ei, eu era lerdo?! Mas que falta de educação... Eu poderia ser um pouco menos inteligente que a maioria das pessoas, até perguntar coisas óbvias de vez em quando... Mas... Tá bom, eu era lerdo.

Ártemis chamou as caçadoras para dar as instruções sobre a próxima caçada... Ou melhor, os detalhes de “Vamos ferrar ainda mais com a vida do Percy.”.

– Então caçadoras, vamos tirar alguns dias de folga, vocês foram muito bem ontem combatendo o exército de Cronos, e nada mais justo que um descanso, vocês vão ir para o Acampamento Meio-Sangue, se juntarão as atividades normais do acampamento por algum tempo. –

Thalia sorriu, estava feliz em descansar um pouco no seu antigo lar, mas para mim, as coisas eram bem mais complicadas. Eu não queria voltar ao acampamento, pelo menos, não por um tempo. E o medo de voltar ao acampamento ser reconhecido, levantou outra questão, e se alguém realmente me reconhecesse, quer dizer, é difícil esconder o carisma de um cara como Percy Jackson (Há, Humildade 0 ), mesmo sendo transformado em uma garota.

Ártemis me olhou, eu tentei dar um sorriso para ela, mas não consegui, estava chateada, frustrada e queria descontar tudo aquilo em alguém, se eu fosse um garoto, com certeza já teria dado um soco na parede ou gritado alto para aliviar o estresse, mas sendo uma garota, alguma coisa dentro de mim dizia que elas não faziam aquilo.

– Ártemis, eu posso conversar com você a sós? – Perguntei Séria

A deusa me olhou e fez sinal com a cabeça para que eu a seguisse. Enquanto as outras caçadoras terminavam de embalar as coisas do acampamento, eu e ela fomos para uma parte afastada do parque. Sério, eu queria pular no pescoço de Ártemis e resolver aquilo ali na base da força, mas, uma dama não faria aquilo (Sério que escrevi isso? O.O).

Ártemis caminha feliz, aparentemente não preocupada com nada. Já eu estava tensa, meus sentimentos ainda estavam muito confusos.

– Lady Ártemis! – Falei calmamente – Tenho que ir mesmo para o acampamento? – Perguntei fazendo biquinho

Sério, eu já sabia até fazer biquinho, que evolução em menos de duas horas!

Ela me analisou. Em meu bolso, a caneta que havia sido a arma de Percy Jackson durante quatro anos implorava para eu abri-la e atacar a deusa, mas não funcionava assim, naquele momento, eu estava completamente nas mãos dela.

– Sinto muito Misa. – Ela sorriu – Mas, as outras precisam realmente descansar, sei que para você vai ser um pouco ruim. Mas talvez assim possa fazer paz com seu passado e projetar seu futuro... Não é Artemisa? –

Fazer as pazes com meu passado? Até a duas horas atrás eu era um garoto, um semideus grego que tinha amigos, eu estava feliz com meu passado, ou pelo menos parte dele, mas, não estava em paz com Annabeth. Será que Artemisa realmente merecia uma chance? Será que eu queria dar essa chance a ela.

– Não sei se preciso fazer as pazes com meu passado... Mas se sãos suas ordens. –

– Ainda bem que entendeu isso... – Ela respirou – Agora me diga o que a incomoda? –

– Estou com medo de que eles me reconheçam! Quer dizer reconheçam o Percy, que sou eu! – Coloca as mãos na testa – Aí que dor de cabeça... Mas você me entendeu, e se a Annabeth ou a Thalia descobrem? Ou se meu pai descobre? Zeus daria muita risada, mas Posseidon me transformaria em Salmão e me serviria ao molho pardo no Olimpo! – Fiquei histérica

­sério, ficar histérica até que era divertido, não sei porque as garotas não fazem mais isso...

– Não seria um bom salmão... – Ela riu – Mas não se preocupe Misa, eu já tenho tudo planejado, claro que não vamos conseguir manter o segredo para sempre. Mas pelo menos por hora você não corre risco... – Ela falou colocando a mão no meu ombro

Eu corei.

– Ártemis eu não tenho roupas! – Falei

– Vai ser arranjado... – Ela disse

– E mais um coisa... O que significa Artemisa? –

– Quer mesmo saber? – Ela perguntou com um sorriso no rosto

– Quero! –

– Significa, Dádiva da Deusa da Lua... – Ela falou feliz

Mas o que?! Minha mãe havia me dado o nome em homenagem a Ártemis?! E agora eu era uma dádiva dela... Quer dizer, era bonito, mas não me parecia certo. E lá dentro de mim, eu estava muito feliz com o que Artemisa significava, eu estava uma contradição ambulante.

– Uma dádiva sua? – Perguntei feliz

– Exatamente! –

Nós duas voltamos para encontrar as outras caçadoras, e iniciamos a movimentação rumo ao Acampamento. Foi divertido, caminhar com elas, dando risadas e contando as mais diferentes histórias. Eu acho que foi ali que eu comecei a entender o porquê delas serem tão felizes, e que aquela cena com a Zoe, há dois anos, sentada no refeitório do acampamento, conversando e dando risada com suas irmãs era tão diferente.

Chegamos em frente ao pinheiro da Thalia e começamos a descer a colina, de longe dava para ver aos chalés em formato de ômega. Olhei para o Chalé 3, e não podia acreditar que não poderia passar mais um verão ali.

Quando descemos a colina, nos aproximamos da Casa Grande, onde Quíron jogava Pinhochet com o Sr.D. Dionísio estava até mais alegre, quando o centauro viu a movimentação das caçadoras, ele veio nos receber.

– Lady Ártemis e suas caçadoras, são bem vindas ao acampamento! – Falou Quíron

– Obrigada Quíron, elas vão descansar por alguns dias, espero que as aceite como quaisquer outros campistas... –

– Claro... E vejo que temos uma nova caçadora! – Disse Quíron olhando para mim

Naquela hora eu vi o filme de minha vida passar a minha frente, e foi muito chato! Eu olhei para o centauro tentando disfarçar, mas no final Ártemis me salvou.

– Sim, ela acabou de chegar, o nome dela é Artemisa. – Falou Ártemis

Eu sorri para o centauro e ele sorriu em aprovação.

– Seja bem vinda! – Ele falou

Foi aí que o Sr. D levantou, e veio até mim. Naquela hora eu sabia que ele me reconheceria.

– Gente nova? Interessante! – Dionísio falou

– Sr. Dionísio! – O reverenciei – É uma honra estar a presença de um Deus tão famoso e tão bondoso! Os semideuses devem ter muita sorte em o senhor treiná-los! – Eu completei

Aquilo doeu, mas pareceu funcionar.

– Até que enfim uma garota sensata neste acampamento! –

Depois deu as costas e voltou para a varanda da casa grande, Ártemis nos levou até o Chalé 8, seria a primeira vez que eu entraria lá.

Não era tão diferente de qualquer outro chalé, todo em prata e decorado com figuras de animais, haviam beliches comuns, um banheiro e só. Esperava mais Ártemis.

Nos instalamos, eu escolhi meu beliche ao lado do de Thalia e percebi que nele estava uma mala cheia de roupas, ela realmente tinha providenciado. Eu e Thalia saímos do Chalé e ela foi me mostrar o acampamento.

Passamos a tarde rindo e contando histórias, ela parecia gostar de fazer isso, e a noite, as coisas ficaram mais interessantes, quando a fogueira tomou conta das atividades do acampamento.

Os filhos de Apolo puxavam as canções, os de Ares brigavam entre si, os de Atena, bem, eles estavam lá. As caçadoras estavam um pouco a parte, eu até estava um pouquinho animada, mas me contive, a única que participava ativamente era Thalia, ela parecia sentir saudade de tudo aquilo.

O desconforto com o meu corpo novo pareceu diminuir um pouco, embora ainda era estranho olhar para baixo e ver dois seios tapando a minha visão do solo.

Foi aí que aconteceu, a hora em que todos pararam de cantar e olharam para mim. Acima de minha cabeça flutuava um símbolo, não o de meu pai, longe disso, flutuava uma coruja cinza.

– Artemisa, uma filha de Atena? – Perguntou Thalia perdida

– Mas e os olhos verdes?! – Uma das outras caçadoras perguntou

Eu não olhava para nenhuma delas, eu só contive o olhar em uma semideusa, Annabeth me olhava fixamente, me estudando, eu deveria ser o projeto de arquitetura mais difícil dela, alguém que não se parecia em nada com seus irmãos.

– Parece que temos uma filha de Atena! Artemisa! – Anunciou Quíron

Eu estava em estado de choque, que a noite passou tão depressa que eu voltei a raciocinar direito quando deitei na cama. Agora não eram os olhos de Ártemis que me assustavam, eram os de Annabeth.

Eu dormi, tentei não pensar na cena de Ártemis e Atena discutindo para chegar naquela decisão... Elas deviam ter pensado: “Como podemos deixar aquele semideus ainda mais constrangido ou confuso?! Ah, claro, eu vou assumir ele como filho, vamos ver o que acontece...”. Elas deveriam estar rindo a essa hora. Murmurei uma maldição para Atena e adormeci.

Fica a dica, nunca deseje uma maldição para uma deusa como Atena... Ela pode lhe chamar em seus sonhos, e podem ser completamente bizarros como os meus.

Eu estava na sala dos tronos, os deuses ainda reconstruíam toda a sala depois da batalha contra Luke/Cronos, eu estava em frente ao trono de Atena, e ela me olhava fixamente como Annabeth fazia a pouco.

– Estranho, não é? Você salva o Olimpo e pede a Ártemis para esquecer de seu passado e virar uma nova pessoa?! Eu ainda não entendi até agora Jackson, se quiser me explicar... – Falou Atena, dura como sempre

– Eu também não entendi minha deusa... – Desviei o olhar – Eu fiz o juramento sem pensar, e Ártemis aceitou... E agora estou aqui. –

Atena veio para perto de mim.

– Devo admitir, quando Ártemis me contou, eu achei que você era meio idiota, mas agora, está parecendo um desafio... Agora você é Artemisa, uma caçadora... –

Eu solucei e lágrimas escorreram do meu rosto.

– Porque me reclamou como filha? Eu não tenho nada a haver com você ou com seus outros filhos! –

– Pedido pessoal de Ártemis, eu achei divertido, ter o maior do Olimpo, nascido em décadas na palma de minhas mãos... Agora você é Artemisa, minha filha e uma caçadora de Ártemis. –

Atena estava com um sorriso sarcástico no rosto, aquilo era divertido para ela. E foi aí que Poseidon resolveu aparecer.

– Atena, você sabe alguma coisa do Percy? – Perguntou ele sendo inconveniente

Eu o olhei e ele parou de boca aberta.

– Quem é essa garota... Parece com uma filha que eu teria, olhos verde do mar e cabelos negros! – Perguntou ele chegando mais perto

Só pensando na possibilidade de Poseidon ser um pouco menos lerdo do que o Percy, eu me virei para Atena e abracei suas pernas. Ela me olhou desconfiada mas passou a mão em meus cabelos.

– Mamãe. – Falei forçando para sair

Ela sorriu e Posseidon ficou de boca aberta.