P.O.V. Nicholas Ellionder

A entrevista ocorreu perfeitamente bem. As selecionadas compareceram todas e estavam adoráveis. O entrevistador era simpático, apesar de as vezes insistir no assunto do baile. Então enfim a entrevista terminou.

– Você foi encantador. – minha mãe me cumprimentou quando estava me levantando da cadeira onde a entrevista ocorria.

– Sinceramente? – pergunta e ela sorri de canto.

– Você sabe que eu não lhe enganaria filho.

– Apesar de adorar fazer surpresas. – falo me referindo a chegada de meu irmão.

– Ah, mas essa foi surpresa até para mim. Uma boa surpresa, assim como você foi. – ela sorriu abertamente, acariciando sua barriga.

Eu ainda não me havia acostumado cem por cento a ideia de ganhar um irmão. Sempre foi só eu, e eu me acostumei assim. Apesar de na minha infância eu sempre ter desejado alguém com quem eu pudesse brincar.

– A senhora acha que será um menino ou menina? – pergunto e ela pensa por um momento.

– Realmente não faço ideia, apesar de eu querer uma menina. – ela sorri sonhadora.

– Eu só espero que eu não tenha que cuidar de fraldas mãe. – falo e ela ri alto. Eu amava ouvir o som da risada de minha mãe. Talvez por eu ter escutado tanto na minha infância... só sei que o simples riso dela já me faz sorrir.

– Você pode até escapar agora, mas quando tiver seus filhos as fraldas serão a menor preocupação. – ela me cutuca com o cotovelo. Era o jeito brincalhão e extrovertido dela.

– Mas antes vou precisar de uma esposa. – murmuro.

Era isso que estava custando eu perceber. A Seleção estava já na Elite. Tinha apenas nove garotas e apenas uma escolha. Eu não estou tão preocupado em quem escolher. Realmente acredito que ela virá no tempo certo. Mas...

– Alteza! – ouço um guarda chamar, se aproximando correndo, com a feição preocupada.

– O que houve? – pergunto quase ao mesmo tempo que minha mãe.

– A prisioneira... Angelline fugiu. – ele responde, e mil e uma questões surgem na minha mente.

– Como? – é minha mãe que fala primeiro.

– Não sabemos ao certo, os guardas que estavam trocando de turno estão já disponíveis para questionamento. – ele avisa, e assim o seguimos até onde os guardas estão aguardando.

Minha mãe veio junto, apesar de toda minha insistência em deixa-la no seu quarto. Situações de estresse não são algo muito bom para a sua gravidez.

– Pare de se preocupar tanto comigo Nicholas. – ela falou de modo divertido. Eu não achava essa situação nem um pouco divertida, mas resolvi não discutir.

Chegamos numa sala totalmente fechada, com tons de creme e marrom. Uma mesa se encontrava no meio da sala e várias cadeiras estofadas a rodeava. Ocupando algumas delas estava Derek e os dois guardas.

– Ainda bem que chegaram. – Derek suspirou.

– Já tem alguma novidade? – perguntei me sentando de frente para ele. Minha mãe sentou-se ao meu lado. Os dois guardas encontravam-se na outra ponta.

– Vamos saber agora. – ele responde, transferindo o olhar para os dois guardas. Eu também olhei para eles.

– Então, digam o que ocorreu. – falo firme.

– Eu estava vigiando a cela, e estava quase na hora de trocar de turno, contudo Tiago estava atrasado. – o guarda loiro, que reconheci por ser um romano, começou.

– Eu estava dando proteção na entrevista. – o guarda moreno grego se defendeu.

– Mas era sua obrigação guardar a cela. – o romano diz.

– Foi um pedido do rei. – o grego responde.

– Calem-se agora! – interfiro. – Não quero saber de discursões. Uma prisioneira importante fugiu e eu preciso de respostas!

– Desculpe alteza. – os dois falaram quase ao mesmo tempo.

– Certo. Digam o que ocorreu. – Meliandra fala com a voz calma.

– Bem, Tiago estava atrasado e a prisioneira começou a falar comigo. Dizia coisas ruins sobre Tiago e... sei lá, eu só senti uma grande raiva e revolta. – o romano disse, e percebi no seu olhar o quanto confusa foi toda a situação.

– Quando eu cheguei, Harry estava furioso. Falando palavras raivosas, que não faziam sentido. Quando percebi estávamos numa grande confusão. E aí eu olhei para dentro da cela, e percebi que a prisioneira não estava mais lá. Isso durou um segundo, antes de nós dois desmaiarmos. – Tiago, o grego, concluiu.

– Então ela aproveitou a distração e fugiu. – Derek parecia não acreditar.

– Sinto informar que sim. – o romano abaixou a cabeça, envergonhado.

É claro que eles deveriam estar envergonhados. Por causa de uma briga besta Angelline fugiu. Agora vá saber o que ela fará livre. E nem obtemos respostas de quem está por trás dela!

– Obrigado pelo depoimento. – falo, me levantando. – Vocês podem fazer as malas, vão ser transferidos de posto.

Não gostava de ter que fazer isso, mas as regras exigiam. Os guardas não ousaram discutir minha ordem.

P.O.V. Angelline Gryffiworld

Eu havia conseguido!

Sorri vitoriosa, enquanto me escorava na parede de uma loja, respirando fundo após uma corrida desgastante. Eu realmente havia conseguido fugir. Isso me deixou mais orgulhosa do que nunca.

Algumas poucas pessoas me olhavam estranhamente, olhei para mim mesma e percebi que usava a roupa do baile de Hallowenn, sendo que a mesma estava completamente encardida e com rasgos destacáveis. Eu precisava me trocar.

– Ω -

Consegui uma calça jeans e uma blusa de flanela, que estavam estendidas em um quintal. Prendi todo o meu cabelo em um coque frouxo e lavei meu rosto e braços nas margens do lago de Veneza. Eu já havia me trocado, e estava me sentindo muito melhor.

As ruas de Veneza são cheias de cafés, então escolhi qualquer um e me sentei numa mesa vazia. Um garçom se aproximou de mim perguntando se eu queria algo, e eu disse que estava esperando alguém. Aqui as coisas funcionavam assim, você podia sentar ali para sempre, contanto que consumisse algo. Mas como estava sem dinheiro, o melhor era usar uma desculpa dessas.

Peguei o espelho dourado no bolso da minha calça jeans, eu o havia pego na hora que estava fugindo. Foi muito difícil entrar no meu quarto sem ser notada, mas consegui. E meu espelho continuava no mesmo canto que havia colocado.

Abri a pequena tela, e a imagem da caverna apareceu novamente.

– Acredito que eles revistam os prisioneiros. O que você faz com o espelho? – a voz fria que eu já estava acostumada ressoou.

– Eu fugi. – não contive o orgulho na minha própria voz.

– Fugiu? E com que intenção? – eu não estava acostumada com a raiva dele, e isso me desestabilizou.

– Horas, eu vou ajudar você. Sua melhor e mais fiel seguidora. Sei que precisa de mim.

– Eu precisava de você dentro do castelo. Procurando! – ele se exalta.

– Eu sei, mas ainda posso ser útil. – respondo tentando manter-me calma.

– Certo, e qual seria sua utilidade para mim agora? – ele parece interessado, o que me fez sorrir triunfante.

– Primeiro me tire daqui, realmente não gosto desta cidade. Então quando estivermos frente a frente eu lhe conto meu plano. – respondo, e ele acaba concordando.

Que aqueles principezinhos se cuidem, pois eles estão na minha lista negra de vingança.