Sakura olhou-se no espelho pela enésima vez.Sentiu-se melhor quando constatou que sua testa não desarmonizava seu visual, visto que a franja caía-lhe no rosto, com classe.Nos cabelos uma trança estilo “espinha de peixe” adornava-lhe a cabeça.De fato, seus fios rosados estavam em um tamanho considerável, cerca de um palmo a baixo dos ombros.O vestido vermelho, marcado na cintura parecia ter-lhe usado como modelo desde sempre.Envolvia-lhe a curva da cintura e alargava nas coxas deixando uma misteriosa/deliciosa armação nos quadris e pernas, finalizando perto do joelho.E como naturalmente ela tinha o ar de moça inocente, parecia uma princesa, apesar da cor rubra da vestimenta acrescentar-lhe um tom atrevido à seu figurino.sentiu-se finalmente satisfeita quando olhou para seus pés pequenos e viu-se calçada em um salto dez centímetros, também vermelho, com veludo em cima.Apesar dos dezoito anos, sentia-se bem mais adulta.Se sua mãe estivesse viva, tiraria um milhão de fotos vendo-a vestida daquela forma, porque sua “mocinha” estava uma “mulher” agora.E era mesmo assim que sentia-se.Uma bela mulher, diga-se de passagem.

E porque a médica mais bonita de Konoha estava tão elegante?O motivo seria inacreditável pra ela se a mesma não estivesse intimamente envolvida no processo todo.
Ino Yamanaka, dali à poucas horas casar-se-ia com Shikamaru Nara.Convenhamos que as palavras “Ino, aliança, Shikamaru, compromisso e afins” não são um vocabulário que você pode pensar hoje e amanhã já estar praticamente acontecendo.Foi estranho, de repente, muito rápido mesmo.Mas dias depois do fim da guerra, Ino e Shikamaru estavam decididos a juntar as escovas de dente.Obviamente, Konoha inteira não acreditava, mas se você olhasse bem mesmo, ia ver que tinha a coisa que todo mundo procurava entre eles.E era justamente por serem tão diferentes que se tornavam mais bonitos ainda um para o outro.

Sakura também parou pra olhar o próprio dedo da mão direita.Nele um bonito anel simples, fino e brilhante envolvia seu delicado dedo.Até o momento ela não sabia o que ele significava.Só o tempo ia dizer.Mas ela sabia que podia ser bom para ambos.Era a mesma coisa incandescente, discreta no demonstrar e forte na própria existência tinha acontecido com Ino e que estava acontecendo com ela também.E com alguém que ela jamais imaginou que viesse a corresponder de forma tão sincera.Foi rápido também, estranho e inesperado.Mas tinha acontecido e ela não arrependia-se um segundo de tudo o que havia passado pra consegui-lo.
Ninguém podia dizer que ela não tinha lutado.Daquela sua forma branda, pedindo por calma e que ele não enlouquecesse de vez.

Sasuke.

Sakura olha-se no espelho agora com os olhos fixos mas o pensamento ia longe.

Dois meses atrás.

No segundo em que declarou-se o fim da guerra, o Uchiha mais novo por fim descansou no chão, como todos os outros que a rodeavam e ela também o fez, desolada.Mal seu corpo relaxou o sinal de alerta em sua mente a trouxe de volta à vida. “Os civis”.Correu com os outros médicos impunhando coragem, força de vontade e uma quantidade miserável de chácara se comparado ao início da Guerra.Poderia salvar muita gente com o que tinha antes, naquele momento, se o fizesse com cinquenta pessoas seria o máximo.Enquanto agia, sentia o corpo falhar em protesto ao cansaço e falta de recursos. Dormia uma quantidade mínima na tenda médica quando estavam em batalha.Uma hora ou outra seu corpo cobraria aquele sono.Bem que ele podia adiar um pouco mais já que nomento ela curava cerca de 2 pacientes com queimaduras graves.

O que era pra ser cinquenta pessoas dobrou de número.Ela salvou 100.Desconsou cerca de meia hora e deu as coordenadas para o resto da equipe enquanto se esforçava para manter-se de pé.Pouco depois, antes que ela pudesse sentar ou sequer apoiar-se em algo, foi ao chão, sendo engolida pela total escuridão.

Sakura dormiu um dia inteiro.Os médicos temiam que seu coma para reculperar-se da falta de chácara durasse mais tempo que isso, afinal de contas além de ser muito querida, os civis precisam de sua habilidade para se curar.Como não havia tempo para a contemplação ou lamentos, encarregaram sua pessoa à alguém que não estivesse ferido à ponto de estar de cama, como Naruto.O resto dos ninjas ajudava de alguma forma, por isso, Sasuke havia ficado como seu “vigia” oficial.Nenhuma reação ao fato, mas sua mente borbulhava em pensamentos.Estes aumentaram intensamente quando ele a viu finalmente abrir os olhos verdes e o encarar assustada e com aquela devoção que ela tentava controlar mas era visível, até porque o fato de ela inclinar-se para trás demonstrava que sua presença o afetava.

-Sasuke-kun.O que...-Ela sussurrou, sua cabeça estava um pouco pesada, mas sentia-se incrivelmente bem.Quando recobrou os fatos na mente, quis levantar-se, mas sua cabeça foi de encontro à lona torta da tenda em que se encontravam obrigando-a à sentar-se novamente, dessa vez cobrindo parte do corpo pelo frio repentino que a noite trouxe, de repente.O garoto a olhava sereno e cheio de profundidade.Havia um milhão de palavras flutuando entre ambos, naquele silêncio doloroso e angustiante que tanto perturbou Sakura.E não era pelo fato de ela não poder ouvir sua voz, mas por saber que quando ele assim se encontrava algo em sua mente estava errado, querendo comer-lhe por dentro.Uma tristeza, um remorso quem sabe?Ou talvez mais algum insano desejo de vingança? A verdade era que seu silêncio perturbava por ela saber que a distância se fazia naquela ausência de palavras e que o coração dele se encontrava trancado em seu peito, trancado pra ela.Em um estado que ela sabia que podia suportar, mas não podia, afinal de contas não sabia o que tinha dentro dele.É, o desconhecido assusta.Até mesmo se ele vier de quem você mais ama.

-Morreu muita gente enquanto estive dormindo?-Ela perguntou, na tentativa de arrancar qualquer reação dele ou simplesmente controlar seu desespero em apartar qualquer que fosse a escuridão que o envolvia.

-Eu não sei.Fiquei aqui o tempo todo.E você só dormiu um dia.-Surpresa, Sakura arregalou os olhos.Primeiro por ele ter-lhe respondido com outras frases que não fossem “hum” ou outro murmúrio.E segundo por ele ter-lhe “vigiado” um dia inteiro.

-Não creio que precisasse ficar aqui me olhando.Estava dormindo, é algo natural depois que se perde muito chácara, logo eu ia acordar-Ela comentou, ajeitando-se mais nos panos.A tenda era aberta e tinha uma fogueira perto, o que tomava a atenção de Sasuke desde o início da conversa.Ele olhava para o fogo contemplando pensativo e lá no fundo poderia ter algo diferente.Antes o ódio que ele carregava brilhava em seus olhos inflamado, querendo sair enquanto ele proferia todos os tipos de loucura.E agora eles estavam calmos, bem mais inofensivos, porém inegavelmente manchados de uma dor que ela temia não poder amparar ou desfazer.

-Eu precisava sim.-Ele continuava olhando para o fogo, seus olhos refletindo as chamas e piscando levemente, querendo dizer algo mais.

-Porquê?-Ela perguntou, débil, baixando a cabeça e o tom da voz, sem saber o que esperar.De fato não entendia.Sasuke nunca lhe reservara quaisquer atos ou palavras gentis por conta própria.

-Porque você merece.Eu pareceria ainda mais idiota se tentasse pedir desculpas Sakura.Não existe perdão para nada do que eu lhe fiz.E sinceramente não entendo o que em mim lhe deu razões para desenvolver sentimentos amorosos.Eu nunca mereci o que quer que você sente por mim e provavelmente nunca vou merecer.-Ele falou, pela primeira vez na vida Sakura via uma ponta diferente de emoção em seu olhar.Ele estava presente ali, para ela.Tinha dor em demasia sim, mas também tinha uma esperança tímida de quem dá o primeiro passo em direção ao fim da linha e para, porque olhou duas vezes e sabe que se ainda respira é porque o fim ainda não lhe quer.Aguarda ansioso, mas não está eminente, ela sabe.Sasuke sussurrou um conjunto de letras sofridas, bonitas, que em si não continham o real significado de seu pedido.Tinha honra e uma faísca de humildade também.Séria e preciosa que ela poderia guardar como um tesouro em uma caixa de veludo preta.Não achava que estaria viva para ver seu amor por ele ter qualquer mísera resposta ou sinal de que valia à pena.-Me perdoa?-Ele perguntou, encolhido em volta de si mesmo, agarrado aos próprios joelhos e olhando para o chão.A desolação da culpa quase derretia por sua expressão.

Sakura esperava ter um dia aquela conversa com ele, em um lugar mais reservado e sob condições psicológicas e todo o resto bem melhores.Mas era só um remoto sonho.Nunca imaginou que pudesse acontecer mesmo como naquele momento.De qualquer forma, ela já tinha em sua mente algumas palavras para dizer-lhe desde o início.

-Sabe Sasuke, uma vez, enquanto conversava com Kakashi sobre nós-E ela lembrou que não existia e nunca houve um “nós”, então riu e calou-se para mudar a fala-Sobre mim em relação à você...E ele também me perguntou a mesma coisa.Com os olhos desdenhosos de sempre e desviando-os do livro, naquele ar meio paternal que ele tem, meio receoso ele me perguntou : “Sakura, que motivos você tem para amar o Sasuke?”.E depois pediu-me para pensar.-Seus olhos já queriam soltar algumas lágrimas para dar vazão ao que tinha no peito.Que não sarava nunca, não importa o quanto ela chorasse.-E eu descobri Sasuke uma verdade aterrorizante e medíocre.Uma verdade que é quase tudo o que eu tenho.Eu te amo porque você é já perdeu tudo.Porque você foi embora e me deixou.Porque você tentou me matar.Porque você é um ingrato que nunca reconheceu o que eu fazia e faço por você-Havia uma raiva rasgando-lhe a voz enquanto ela falava e rangia os dentes, olhando para a fogueira.Nenhum dos dois tinha coragem de se encarar.-Eu te amo porque enquanto você esteve aqui me protegeu.E raramente me reservou algum vínculo amigável.E me disse “obrigado” uma vez.Enfim...-Ela limpou as lágrimas em excesso e endureceu a expressão-Não tenho muitos motivos justos para amar você.Mas justiça, clareza ou mesmo sanidade não tem qualquer vez quando se trata de amar.Eu te amo porque você é você e essa é minha condição.Quando se ama alguém erros não são perdoados.Eles machucam mais são ignorados porque você ama!Não me peça pra perdoar você quando eu já fiz isso...-Ela baixou a cabeça e esfregou mais ainda o rosto, tentando acabar com as lágrimas.

-Eu perdi tudo e decidi lidar com isso da pior maneira possível.Seja pelas circunstâncias em que eu fui colocado, a manipulação de Itachi e dos outros ninjas de alto escalão ou não, eu agi pelos caminhos mais obscuros.Eu me sujei de todas as formas.Nunca achei que isso ia permanecer em você mesmo eu sendo dessa forma.Se eu não fosse a pessoa errada que sou, facilmente deixaria você ir te dispensando mais uma vez e te dizendo que você é “irritante”...Mas eu quero ser egoísta uma última vez Sakura.-Ele parou e olhou-a, profundamente, os olhos dela eram esmeraldas exaustas de sofrimento e clamavam por um pouquinho de o que quer que fosse que ele pudesse oferecer a ela.Um pouco de Sasuke.

-O que quer dizer ?-Ela perguntou, arredia e desconfiada.Quase cética.Pausadamente, como que dando tempo para ele disistir do que quer que fosse fazer com ela depois (matá-la ou amá-la, ela pensava.Na menos surreal das hipóteses, murmurar qualquer coisa e calar-se, como ele sempre faz)

-Obrigado por todo o insano e infinito amor que você já dedicou a mim.Eu quero retribuir.-Pausadamente ele proferiu, engoliu em seco e tocou sua mão com a própria palma.A menina passava de cética à surpresa.Ganhando a coloração de seu cabelo ela enclinou a cabeça para o lado, observando suas feições agora mais próximas, tentando saber o que ia receber.

-O que vai me dar ?-Ele perguntou, dessa vez apertando a mão dele firmemente, como que para confirmar que ele estava mesmo ali e dizendo-lhe tudo o que acabara de ouvir, interessada e desconfiada, estava armada para não desabar naquele momento.Uma emoção desenfreada tomou conta de si,uma que ela não estava preparada para sentir ou suportar.Era felicidade.Era amor na mais pura forma, era alívio e mais felicidade ainda.Quando ela ouviu a resposta seguida de um sorriso mínino e na mesma proporção simpático( no padrão Sasuke de ser) era como se em seu interior houvesse um mês de dança, comida e calor.

-Eu e o que mais você quiser.-Ele disse, de olhos fechados.Uma frase miseravelmente pequena e incontáveis promessas.Que no pessimismo de sua mente poderiam ser quebradas.Porque ele era Uchiha Sasuke, o homem das sombras que não tinha nada dentro de si a não ser ódio.Mas era também o seu Sasuke, que apreciava molho de tomate e gostava de caminhar em plena madrugada.O garoto que tinha perdido tudo.A casca de um homem ou um embrião para um começo melhor.-Você aceita?

-Sabe que sim.Tem consciência de tudo o que está prometendo?-Ela perguntou, ainda atônita.Não era nem de longe uma casa, filhos e amor.Mas era ele.Em todas as suas inegáveis insanidades e momentos de lucidez.

-Acho que eu dou conta.-Ele deu de ambros, lhe oferecendo outro meio sorriso.A garota sorriu abertamente, como não fazia já a um longo tempo.Não sabia como, mas estavam agora à centímetros de distância.As mãos ainda unidas.

-Bem vindo de volta, Sasuke-kun!-Ela falou, encostando sua testa na dele.Quase como se fosse natural de seu corpo ele respondeu ao toque fechando os lhos como ela mesma fez logo depois.

-É bom estar em casa.-Respondeu sereno e com feição séria, olhando bem para ela: Sua nova casa.
E foi dessa forma. De repente, que o distino os juntou.Sakura acordou de seus pensamentos com o garoto encostado na parede de seu quarto.Estava lindo.Trajava uma camisa social azul marinho e uma calça jeans.Sakura babaria se não fosse ridículo.Em dois meses, suas habilidades sociais haviam resurgido bem melhores.A dor e momentos infelizes ainda existiam, mas eram menores e quase inexistes quando se tratava dos dois.E sim, ela estava tendo ele e muito mais, embora o primeiro termo bastasse.Afinal, ele era mesmo bom em cumprir promessas.

-Ino mandou te chamar.Ela disse que parecia que era você quem ia casar demorando desse jeito.-Ele riu levemente.

-Aposto que aquela loira oxigenada não ia gostar que eu fosse madrinha dela parecendo uma mendiga!Ela tem é que esperar mesmo!-Falou, divertida, ajeitando um pouco a trança e recolocando um pouco do batom.Ela o via pelo reflexo do espelho e vizualizou ele caminhar até próximo dela.-A espera valeu à pena?-Ela perguntou, sorrindo.

-Você está bem mais bonita do que a noiva.-Ele a encarou, sério e com um sorriso mínimo, as mãos saíram de seus bolsos e uma palma tocou a bochecha corada dela.A menina fechou os olhos em resposta.Ele beijou sua testa, cortês e cuidadoso.Sakura sorriu em agradecimento, depois passou um braço em volta do dele e eles foram em direção à sala de estar, onde Naruto e os demais conversavam entre si.

“Lar é aonde o nosso coração está”-E fosse na escuridão ou na luz radiante que vinha dela mesma, Sasuke não tinha lugar mais perfeito para ficar se não ao lado dela.