Mais tarde...

A maioria dos órfãos já havia ido para a cama. Mosca e Janu estavam no pátio. O moreno pedira para conversar com a namorada e a mesma se sentiu animada. Mal esperava para finalmente ter um momento à sós com o menino.
- Eu senti tanta falta... - dizia ela o puxando para um beijo. Antes que a menina pudesse selar seus lábios, o moreno se afastou.
- Janu, nós precisamos conversar! - ele disse sério. A loira estranhou mas concordou. Ambos se sentaram num dos bancos.
- Sobre o que você quer conversar amor? - ela disse despreocupada.
- Eu... Nós.
- Nós?
- Eu vou ser bem direto: nós não podemos mais ficar juntos.
- O quê?! - gritou a loira o encarando.
- Janu, eu não sinto mais aquilo que eu sentia por você quando a gente começou a ficar. Na verdade, eu nem sei se eu sentia alguma coisa. - disse o garoto cabisbaixo. No mesmo instante, Janu se lembrou da pessoa que ligara para ela maia cedo. "Então ele está me traindo...", pensou. Deu um tapa no rosto do menino.
- Você tá me traindo, não é? - ela disse em seguida. Mosca ficou calado. Estaria ela falando de Mili? - Você me traiu. Covarde! - completou. Seus olhos refletiam a raiva que o moreno provocara nela.
- Eu não sei do que você está falando...
- Ah, não? Pois bem. Eu te digo! Há algum tempo me ligaram dizendo que você estava me traindo. Ignorei. E hoje, outra vez. Tudo isso porque eu confiei em você! Fui uma trouxa! Panaca! E a tal pessoa tinha razão... Você é um estúpido, Felipe! - revelou Janu. Já com lágrimas nos olhos se levantou.
- Isso não é verdade Janu. - disse Mosca. O garoto não sabia ao certo do que ou de quem a menina estava falando, mas ele não a traíra.
- Não minta! Quem é ela?
- Eu não sei!
- Estúpido! Eu te odeio. - antes de continuar pensou em suas próximas palavras. - Não me procure. Ah, e quando eu achar essa garota... Ela vai pagar muito caro! Eu vou fazer da vida dela um inferno! E aí de você se tentar me impedir! - concluiu se retirando. Mosca estava verdadeiramente assustado. E se ela estivesse falando de Mili? E quem havia contado aquilo para Janu? Pensou em ir atrás da loira e explicar tudo. Mas tinha de ver outra pessoa. Alguém para ele se assegurar que estava bem.
Saiu do pátio correndo na direção da sala. Como imaginava, Janu não estava lá. Subiu na direção do quarto das meninas. Ouviu as meninas conversando pela porta. Suspirou e bateu três vezes antes de abrir. Então percebeu que não poderia entrar.
- Sai daqui, Mosca! - ordenou Cris jogando um travesseiro na direção da porta. As meninas estavam se trocando. Antes de fechar a peça de madeira, deu uma olhada na procura de Mili. Nada. Rodou a maçaneta fechando porta. Ao se virar, deu de cara com Mili.
- Mosca? - perguntou a garota o encarando. O moreno não conseguia se mexer. Ou falar. E bem, havia um motivo óbvio: a morena usava um pijama de verão. Como osa órfãos estavam crescendo, Carol providenciou novos uniformes. O novo pijama das meninas para os dias de calor era um short que ia até quase na metade da coxa rosa claro e uma regata de alça fina da mesma cor. Ambas as peças eram de seda e soltas. Não era segredo que Mili tinha um corpo muito bem formado para saeusa quinze anos, mas, mesmo assim, ficara impressionado. Talvez fosse por conta do decote "V" da vestimenta ou talvez fosse porque ele nunca vira a amada em trajes como aquele.
- Mili? - ele disse confuso. Depois de algum tempo, voltou para a realidade. - É... que bom que está bem!
- Não quero ser grossa, mas por que eu não estaria? - perguntou a menina confusa.
- Eu e a Janu terminamos. - revelou o moreno. Mili deu um sorriso discreto. - Eu estou preocupado.
- Com o quê?
- Ela disse que disseram pra me ela que eu estava traindo ela. - ele respondeu sério. A morena continuou calada tentando absorver as palavras com mais clareza. - Mili, eu não sei de quem ela estava falando, mas estou preocupado com você. E se qyem disse isso à Janu estiver falando de você? Ela jurou que transformaria a vida da menina em um inferno... - ele disse tenso.
- Por que alguém faria isso?
- Não sei. Talvez não queira nós dois juntos.
- O que você acha que a Janu vai fazer? - ela perguntou preocupada. Estava com medo.
- Não faço a menor ideia. Mas seja o que for, eu vou te proteger. - ele disse fazendo com que um sorriso surgisse no rosto da amada. Em seguida, a beijou. Seu polegar acariciava levemente o rosto da garota. Esta tinha as mãos apoiadas sobre o peito dele. Ficaram ali por mais alguns poucos minutos até Mili entrar.

Enquanto isso, do lado de fora do Raio de Luz, Janu xingava Mosca mentalmente. Havia passado pela sala correndo e não percebera a presença de Marian que a observava. Sentia as lágrimas nos olhos que já escorriam pelo rosto.
Para completar sua infelicidade, o celular vibrou no bolso. Não estava com cabeça para falar com ninguém. Pensou em desligar mas, ao olhar a tela e secar os olhos, reconheu o número e se lembrou das ameaças.
- Oi? - disse assim que deslizou o botão verde. Percebeu o quanto sua voz soava chorosa quando falou.
- Saudades? - respondeu a pessoa do outro lado da linha cinicamente.
- Olha, eu não tô afim de conversar então seja o que for que você queira dizer, diga logo!
- Opa, opa, opa! Pensa bem no jeito que você fala comigo Janaina. Você pode ter atendido, mas eu ainda posso desligar esse telefonema e ligar pra alguém. E sabe o que essa pessoa vai fazer? - Janu engoliu seco. - Matar o seu irmão antes de você chegar na sua casa!
- Como eu posso ter certeza de que você não está blefando? - perguntou a menina por impulso.
- Você não sabe com quem está se metendo... - disse a pessoa num tom tão calmo que chegava a ser ameaçador.
- Desculpe.
- É melhor ir se desculpando mesmo! - um silêncio surgiu. Janu não tinha certeza se desligava a chamada ou se continuava na linha.
- Seu namoradinho terminou com você? - disse a voz quebrando o momento. A loira hesitou. Como ela sabia daquilo? Acontecera há cinco minutos!
- Como você sabe disso?
- Mas como é tola! Eu estou em todos os lugares lembra?
- Claro...
- Eu te avisei!
- Quem é ela? - perguntou a menina. As lágrimas haviam deixado os olhos. A raiva voltava a tomar conta de seu corpo.
- Ela quem?
- A garota com quem o Mosca está me traindo.
- Ah... Isso você só saberá segunda.
- O quê?
- Aposto que você quer saber quem ela é, quem eu sou e o EU quero, não é mesmo?
- Sim...
- Segunda-feira na escola você descobrirá.
- Mas...
- Até mais ver Janu! - disse a voz por fim. A pessoa deixara a loira intrigada. Bem, o jeito seria voltar pra casa, assegurar-se de que o irmão estava bem e esperar o fim de semana passar.

Na manhã seguinte...

No banheiro, as garotas conversavam animadamente. Era sábado e elas andavam planejando algo para fazerem juntas. E, de preferência, sem os meninos.
- Eu apoio um ida ao shopping. Estamos precisando de roupas novas! - disse Vivi enquanto enrolava o cabelo com a ajuda do babyliss.
- A gente pode aproveitar e ir ao cinema assistir "Cidades de Papel"! - disse Cris animada com a ideia.
- Gostei. - concordou Ana. A ruiva arrumava o penteado de 'maria-chiquinhas' olhando-se no espelho.
- Cool! Faz tempo que eu não tenho um assunto bom pra comentar na rede e a festa de ontem nem foi tão falada no Twitter... - lamentou Dani. Apesar de estar vestindo o uniforme do Orfanato, não largara o celular.
- E teremos fotos legais para o Snap! - concluiu Teca sorrindo. A conversa se estendeu por mais alguns minutos e, assim que haviam decidido o que fariam, correram para a diretoria para convidar Carol para o "Dia das Garotas".

***

Ao entrarem juntos na cozinha, os meninos perceberam de imediato a ausência das órfãs. As meninas sempre levantavam antes deles e já tomavam café da manhã quando os mesmos chegavam ali.
- Chico... Cadê as meninas? - perguntou Neco estranhando o "sumiço". Em sua cabeça, imaginava que extraterrestres haviam abduzido-as ou, uma bruxa, as enfeitiçado.
- Estão na piscina. - respondeu o cozinheiro distraído com o preparo dos petiscos que as garotas haviam pedido.
- Elas não vão tomar café? - disse Binho.
- Sim. Disseram que hoje farão tudo diferente, mas não falaram o quê! - exclamou Chico.
- Eu preciso ver isso! - disse Juca atravessando a porta que levava para a horta e, logo depois, para a piscina. Não acreditou no que viu.
Vivi estava deitada de bruços sobre uma toalha eatendida a beira da piscina. Usava biquíni e uma camiseta qualquer cobria o rosto. Estava tomando sol. Teca e Dani, como sempre, se escondiam em baixo do quarda-sol enquanto mexiam nos smartphones. Ao contrário das outras, vestiam calça jeans e uma regata. Pata e Bia cantavam dentro da água com Maria, Cris e Ana. Tati tirava fotos das amigas com a câmera de Cris e, de vez em quando, mergulhava também. Marian conversava com Leticia e ambas estavam sentadas na borda da piscina. Mili estava mais afastada. Lia um livro com um pouco de dificuldade por conta do sol que batia com frequência nas folhas.
- Que bonito, hein? As princesas resolvem dar a festa e nem chamam a gente! - disse Binho vindo logo atrás de Juca com oa outros.
- Talvez seja porque vocês não são convidados! - retrucou Ana revirando os olhos. Binho bufou.
- Exatamente! Este é o NOSSO dia. - disse Maria cheia de autoridade.
- E isso quer dizer que é um dia apenas para garotas. - completou Cris.
- Sem meninos, sem chatices e cheio de paz! - disse Bia.
- Paz, moda e pipoca! - disse Vivi ainda com a roupa sobre o rosto.
- O quê? - perguntou Juca confuso.
- Nós vamos ao shopping e depois ao cinema! - respondeu Dani tirando o olhos do celular.
- Vocês não! - disse Marian sorrindo sarcasticamente.
- Sumam! - ordenou Leticia brincalhona.
- Isso é injusto! - reclamou Rafa.
- Fala isso pra Bel porque ela topou ir com a gente! - disse Pata. Rafa ficou com cara de tacho quando, segundos depois, se deparou com a namorada entrando pelo jardim acompanhada de Angelina e Giulia.
- Oi gente! - exclamou a menina. Carol apareceu por lá também.
- Uau! Aqui tem piscina! - disse Giulia surpresa. Era a sua primeira vez no Orfanato. A garota era da classe de Tati e Teca.
- Pois é! - disse Tati sorrindo. - Gostou? - perguntou se aproximando da amiga e a cumprimentando.
- Claro! - respondeu a menina. As outras garotas riram wm coro.
- Lincença! - pediu Chico que trazia nas mãos duas bandejas com petiscos variados. - Trouxe tudo o que me pediram! - completou colocando-os na mesa ao lado de Teca e Dani.
- Brigada, Chico! - agradeceu Dani.
Thiago se aproximou para pegar um enroladinho de presunto, nas foi repreendido pela garota com um tapa na mão. Incrédulo, o menino a olhou feio. Contudo, logo uma ideia lhe veio à cabeça.
- Dani, se você deixar eu pegar 'unzinho' só, eu te dou um beijo! - provocou.
- Não. - ela disse indiferente.

***

Depois de muita insistência com os meninos, Carol conseguiu fazer com que os mesmos voltassem para a cozinha e tomassem o café da manhã. As órfãs, por sua vez, colocaram uma roupa mais adequada e saíram em direção ao shopping.

Continua...