A Lenda dos Sete escrita por Lótus Brum, Martins de Souza


Capítulo 24
Olhos de Elfo


Notas iniciais do capítulo

" Aquele que me comanda não é você, sugador de árvores — ralhou o espírito. — Aquele a quem devo meus respeitos, não precisa de artimanhas como as suas para falar com os mortos. Ele é vida, ele morte. Ele sabê tudo que foi, tudo que é e tudo que vai ser. " Rouhir, do Quarto Círculo



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— Mas esse Pete não faz nada que preste, só se perde e atrapalha todo mundo! — disse uma criança da platéia do velho.

— Mais respeito com ele, seu pirralho! — contradisse o contador de histórias. — Se fosse um pouco mais sensato, calaria a boca e prestaria atenção na história!
As outras crianças riram, como sempre, mas o que isso importa? Vamos voltar para a história.


De onde estavam, não vinham nenhum goblin de pé. O mestre deles, em quem Frey havia jogado uma árvore, estava caído no chão, quase irreconhecível. E o nosso herói estava logo ali, sentado encostado no tronco que ele arremessou, com o irmão ao lado. Os dois sussurravam um com um outro, dando risadas. Era uma família feliz.
Mark estava de braços cruzados, em frente ao que sobrava do mago. Observava-o com olhos de elfo. Vocês sabem quais são? É aquele olhar que parece ver mais do que está ali, olhos que veem a página seguinte do livro sem se estar nela. São esses olhos especiais, que poucos no mundo tem.
E com aqueles olhos de elfo, Mark via a aura corrompida daquele corpo se erguer. Tornou-se numa esfera sombria, que assumiu a forma em vida do homem. Ele olhou para o elfo, e o elfo olhou para ele. Ambos se encararam por um momento, e então o fantasma disse.

— Então? — disse o velho, e sua voz era acompanhada de uma rouquidão fantasmagórica. — Fale o que quer, arrasta folha. — Era esse um dos muitos apelidos para os Elfos.

— Quem é você? — e tratou de se corrigir. — Quem era você?
— Eu era chamado de Rouhir, no Quarto Círculo das Pedras, mas esse não é meu verdadeiro nome — respondeu.

— Fale seu nome verdadeiro — ordenou o Elfo.

— Eu não possuo mais esse nome, o vendi há muito tempo, para uma criatura sombria — o Elfo pareceu intrigado, e o velho percebeu isso. — Há muitas criaturas nesse mundo, elfo. E você, guardião das árvores, não conhece nem um terço delas — e completou com um riso seco.

Mark sentia o vômito subir pela garganta, mas o engoliu. Ele podia sentir toda a corrupção daquele homem, todo o tipo de absurdo que aquele monstro havia cometido. Não é um homem, é uma besta pensou o Elfo.

— O que queriam com as crianças? Por que atraíram Anne para vocês? Quem é seu chefe? — o espírito sorriu.

— Quantas perguntas. Você faz perguntas demais elfo, será que é a hora para receber suas respostas? — o mago balançou a cabeça, negando. — Creio que não seja.

— Sou eu quem te comanda agora, monstro — contradisse Mark. — Você dirá aquilo que eu quiser saber.

— Aquele que me comanda não é você, sugador de árvores — ralhou o espírito. — Aquele a quem devo meus respeitos, não precisa de artimanhas como as suas para falar com os mortos. Ele é vida, ele morte. Ele sabê tudo que foi, tudo que é e tudo que vai ser.

— Diga quem é! — gritou o Elfo, em fúria.

— Não te direi nada — respondeu seco o morto, e então riu. Sua risada rouca logo foi desaparecendo, junto de seu corpo.

— Volte, eu não o permiti ir embora! — gritou outra vez Mark. — Mas tudo que teve de resposta foi a risada, que se prolongou um instante depois do corpo sumir totalmente. — Volte! — mas nada veio para responder sua ordem.

E toda aquela cena foi vista por Pete, que estranhava o fato do Elfo falar com um corpo morto. Não, ele não pode ver o fantasma, só o Mark. Frey parecia não notar, ele geralmente não percebia as coisas, e também, o cansaço já pesava nos olhos do irmão mais velho. Pete o cutucou na costela.

— Hum? — falou Frey, acordando de seu curto cochilo.

— Você estava dormindo — disse Pete.

— Não, não estava não — e soltou um bocejo —, eu só estava descansando os olhos.

— Sei — ele voltou a olhar para Mark. — Ele é um elfo de verdade, né? — Frey confirmou com um aceno de cabeça. — E vem da Floresta dos Elfos né? — mais um aceno de Frey. — Será que poderíamos ir lá um dia? Depois disso tudo acabar.

— Quando isso tudo acabar, vamos voltar para Bravia — respondeu Frey, e percebeu uma tristeza disfarçada em Pete. — Mas acho que podemos fazer uma visita para ele.

— Sério? — Pete sorriu, olhando com esperança para o irmão.

— É, sério — e deu uns tapinhas nas costas do irmão, levantando-se. — Agora vamos.

O garoto levantou-se, acompanhando o irmão que ia na direção de Mark. O elfo estava ajoelhado sobre o corpo, proferindo palavras distintas daquelas que Pete conhecia. Supôs que aquilo devia ser o élfico que Frey havia dito.

— O que está tentando fazer? Reviver ele? — perguntou o Construtor, com um sorriso.

— Isso mesmo — respondeu o Elfo, levantando a cabeça para Frey. — Como sabia?

O carpinteiro resolveu não comentar sobre aquilo, o Mark era um elfo no fim das contas. Elfos tem a própria maneira de fazer as coisas.

— Acho que já está na hora de seguirmos nosso caminho — falou Frey. — Não temos motivos para ficar aqui nesse... Lugar.

Mark acenou levemente com a cabeça, levantando-se.

— É, não vou conseguir tirar mais nada mesmo desse aí — olhou para o céu, o Sol já estava nascendo no horizonte. Foi uma noite difícil aquela. — Vamos para Balran.

— Balran? — perguntou Frey.

— É a cidade para onde estávamos indo, não demoraremos para chegar — respondeu o Elfo. — E então poderemos alugar um quarto e ter nosso merecido descanso.

— Ja decidiram para onde vamos? — Anne, que havia se aproximado dele, perguntou.

— Já — responderam o Carpinteiro e Elfo, Pete apenas observou. — Balran — foi Mark quem falou.

Ela apenas acenou a cabeça, como se desse permissão para que eles seguissem caminho. Entendendo isso, Espadachim e Construtor foram na frente, guiando Pete e Anne. Logo chegaram na estrada por onde iam antes, vazia. Os refugiados deviam estar próximos da cidade.

Enquanto os dois íam na frente, o Pequeno foi caminhando no mesmo passo da Ruiva. Ela tinha um rosto sereno, sentia-se assim perto do garoto. Ela sempre teve apreço pelas crianças.

— Senhorita Anne? — perguntou Pete, um tanto receoso. A ruiva olhou para ele e sorriu.

— Sim Pete? — ela tinha um sorriso encantador.

— O meu irmão foi realmente incrível na floresta, não foi? — ele sorriu para ela.

A ruiva ergueu as duas sobrancelhas, espantada, e então voltou o olhar para o grandalhão mais adiante. Matutou durante uns tempos, antes de um pequeno sorriso se formar no canto de seus lábios vermelhos.

— É, ele foi incrível.


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Notas finais do capítulo

O capítulo ficou realmente pequeno dessa vez, mas teve que ser assim, para desencadear as coisas de uma vez.
Boa leitura.
~Ookuna



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