— Alô?

— Boa noite, gostaria de falar com a senhorita Anelise Eve, por favor.

— Sim, é ela. Com quem falo?

— Que bom que finalmente consegui encontrá-la! – A voz enérgica no telefone parece realmente feliz. Eu sorrio confusa.

— Com quem falo?

— Ah! Isso, bem, você não me conhece.

— Não? Tem certeza? Sua voz me soa muito familiar – Deveras semelhante a voz da garota com quem dormi ontem, mas omito essa parte.

— Sim, tenho certeza. Não nos conhecemos, ainda. Você se lembraria de mim. – A voz ri divertida.

— Escute, estou com pressa agora e você ainda não me disse com quem estou falando. Aliás, como conseguiu meu telefone?

— Seu chefe me deu seu número, Anelise. Carl está aqui comigo. Eu tive que ser bastante persuasiva, mas ele finalmente cedeu depois de algumas horas.

— Isso é impossível, querida. Carl me mandou uma mensagem há poucos minutos. E novamente, você ainda não me disse com quem estou falando. – Ela ri mais uma vez, como se estivesse ouvindo a melhor piada do ano. Franzo as sobrancelhas.

— Não era o Carl, Lise. Aliás, posso chamá-la assim? Adoro dar apelidos. De qualquer forma, fui eu que mandei a mensagem marcando essa reunião no estúdio de TV. Carl não conseguiria digitar sem os dedos, não é?

Paro de caminhar por um segundo. Sinto um calafrio percorrer meu corpo.

— O que disse?

— Não se preocupe Lise. Ele está bem, quer dizer, vivo. Vamos falar de coisas mais importantes, sim? 2004 foi o ano da sua primeira reportagem, lembro como se fosse ontem. Você estava linda. Desde então tenho sonhado vividamente com o dia em que a conheceria.

Escuto as portas de vidro do estúdio se fecharem ruidosamente atrás de mim e desligo o telefone imediatamente. Dou meia volta e tento abri-las, mas não consigo. Vejo um vulto passar velozmente pelo reflexo espelhado. As luzes do estúdio 9 piscam. Minha boca começa a ficar seca. Que brincadeira de mau gosto é essa? Penso em ligar para a polícia e começo a discar o número, mas noto que o sinal está fraco. Merda!

“05 de Agosto de 2004...” Com estranheza reconheço minha voz ecoando dos alto-falantes. É quando desisto da porta e corro em direção aos camarins. “Estamos falando ao vivo da Casa Branca onde o novo presidente dos Estados Unidos da América acaba de ser eleito...” Minha primeira reportagem feita há oito anos continua a ser narrada nos alto-falantes. Tropeço e abandono meus saltos, largando-os no chão. Pego meu spray de pimenta da bolsa, segurando-o contra meu corpo e tranco-me em meu camarim, lembrando-me da janela que dá para o lado de fora. Estou prestes a tocar no ferrolho da janela quando a voz suave e atraente surge atrás de mim.

— Eu não faria isso se fosse você, Lise. – Escuto o som ensurdecedor de um disparo efetuado para o alto. Ergo as mãos e viro-me lentamente.

A mulher que me encara tem o rosto igual ao meu. Ela sorri dissimuladamente.

— Enfim está na hora de conhecer sua maior fã.