Acordei um pouco tonta. Minha visão estava embaçada e ia clareando aos poucos. Primeiro, um teto branco. Depois uma janela com cortinas que balançavam quando o ar passava. E por último, uma Ophelia com um sorrisinho extremamente filho da puta no rosto.

– Ta rindo do que?

Assim que terminei a frase, olhei para o lado. Eu ainda estava de mãos dadas com o Marshall.

Puxei minha mão o mais rápido que pude.

– NHAAAAAA QUE BUNITINHO.

– CALA A SUA BOCA! Se você contar isso pra alguém...

– Eu não vou contar, relaxa.

– Contar o que? - Marshall disse quando acordou.

– Que vocês dormiram de mãos dadas.

– OPHELIA!

– O que? Ele sabe!

– Na verdade, eu achei que você ia soltar minha mão durante a noite...

– É que eu tava num momento de necessidade, você era a única pessoa aqui...

– Não se preocupa, eu não vou te julgar.

– MAS EU VOU!

Os dois começaram a rir naquele complô imundo deles e eu virei pro outro lado da cama pra fazer bico. ME ERREM, POR FAVOR.

– Aliás, porque você ta aqui, Ophelia? Que horas são?

– São 5:40. Eu quis dar uma passada aqui pra ver como vocês estavam antes de ir pra escola.

– Você acordou tão cedo só pra isso?

– É que eu não tenho coragem de apanhar pra dormir no hospital com você como uns e outros...

Nós duas miramos o Marshall e ele deu de ombros com um sorriso.

– Nem doeu tanto. Não em comparação a ver você sofrendo por causa de tanta coisa que tem acontecido.

– CALA A SUA BOCA!

– ...

– ...

– ...

– NHAAAAAAA QUE BUNITINHO, VOCÊS SÃO TÃO FOFOS, DEIXA EU APERTAR VOC....

– SAI, OPHELIA!
– SAI, OPHELIA!

– Cê tem certeza que você ta bem? Você apanhou ontem a noite, devia voltar pra casa e descansar.

– Não se preocupa comigo. Se preocupa com a Cecílião. - Respondi pra Ophelia.

O colégio estava uma bagunça. Alunos corriam pra lá e pra cá, folhas voavam por todos os lados, alguns gritavam pra que os outros se acalmassem, mas esses próprios alunos não pareciam nada calmos. Era como se a bomba de Hiroshima tivesse explodido no gramado do colégio e todos corressem pra reconstruir tudo em um mês.

Pera.

Um mês?

UM MÊS.

– SÓ TEM UM MÊS PRA PREPARAR TUDO, EU TE VEJO DEPOIS OPHELIA. E VOCÊ TAMBÉM, MARSHALL.

– Isso foi um tchau?

– Ah, é, pra Ophelia. Eu ainda te odeio, mas obrigada por ontem. AGORA SOME, EU TENHO QUE ARRUMAR TUDO.

Corri para a sala do clube de teatro.

– CHEGUEI.

A presidente do clube bateu na minha cara com uma folha de papel.

– ENTREGA ISSO PRA DIRETORA E MANDA ELA ASSINAR. ISSO VAI TE LIBERAR NA ÚLTIMA AULA DURANTE UM MÊS PRA VOCÊ VIR ENSAIAR.

– Um mês sem tem que fazer a última aula, é? To curtindo isso...

– VAI LOGO!

Corri para a sala da diretora. A coitada tinha um World Trade Center feito de papéis na mesa e ela corria pra assinar cada um deles.

– Me dá sua folha.

Ela assinou correndo e me devolveu o papel.

– Obrigada, diretora!

Corri de volta pra sala do clube e fui recebida com outro papel na cara.

– Toma, essa é a peça. Suas falas são as que estão marcadas.

Dei uma olhada na folha. O nome da minha personagem seria Úrsula e pelas minhas falas, eu seria bem má.

– Você vai ser a vilã gostosona.

– Por que gostosona? Por que não só vilã?

– A sua personagem tem que ser sedutora, tanto para os outros personagens quanto para a platéia. Assim a gente tem mais chances de ganhar o campeonato.

– Isso não é golpe baixo?

– Um pouco, mas pra que a Cecílião não mude de ideia e resolva virar a diretora do colégio de novo, vale tudo.

Ok, ela tinha razão.

Depois disso, o resto do dia foi quase normal. Não vi sinal do Billy em lugar nenhum e como foi dito antes, não fiz a última aula pra ensaiar a peça para o campeonato. Pelo que eu entendi, os clubes de Teatro, Eletrônica, o clube gastrônomico e os times de futebol e volêi iriam participar do campeonato. O colégio que tiver pelo menos três prêmios sairá vencedor. E ao final, pra comemorar o vencedor, a banda da escola vai fazer um showzinho.

Desde já estou me esforçando no meu papel na peça. Não quero ver a cara daquela vaca malhada chamada Cecília nunca mais.