Grávida?!

_Linda, você está grávida..._Gessi falou meio assustada, agarrada em mim.
_O que?_Sussurrei contra o cabelo dela.
_Você está grávida amiga, grávida!_Seu sussurro fraco e rouco mostrava desespero.
_O que eu faço?
_Abor...
_Não!_Eu me afastei dela e me segurei na pia._Isso não! Não quero matar uma pessoa.
_O que?_Ela parecia não ter entendido.
_O que eu tenho dentro de mim é uma pessoa em formação, eu não vou matá-la.
Gessi balançou a cabeça negativamente e olhou para baixo.
_Você não vai mudar de opção, não é?
Balancei a cabeça rapidamente e olhei para o chão.
_Eu vou cuidar dela, dessa criança.
_Por quê?
_Porque foi a minha escolha...
Gessi não pareceu entender muito bem, mas eu compreendia o que havia dito. As portas, o pesar, os sussurros agora faziam sentido. Gessi afirmou com a cabeça, cedendo a guarda sobre minha criança. Olhei para Lucas, que nos olhava sério.
_Você vai ir conosco..._Eu falei fazendo movimentos com a cabeça, com uma voz confortável._E... Já sabe o que são os vampiros, suponho.
_Sim, já ouvi falar dessa raça.
_Ótimo, mais informações para nós. Como os matamos?
_Veneno de rato no pulso._Gessi disse olhando para mim.
_Certo. Vamos fazer esse trabalho.
_Você?_Lucas perguntou._Mas você está grávida!
_Eu sei._Disse friamente._Já passei por situações piores.
Andei até um armário que eu já havia revistado. Lá estava um veneno de rato.
_Gessi, pegue uma seringa dentro da minha bolsa azul, a de couro pequena.
_Tudo bem.
Abri o veneno, colocando-o na mesa e aquele cheiro insuportável entrou por minhas narinas. Senti uma mão em meu ombro e me virei, vendo Lucas.
_Não vou deixá-la fazer isso._Ele pegou o veneno e pôs em outro móvel.
_Por quê?_Continuei parada no mesmo lugar e não olhei para ele, apenas pesei meu corpo no móvel em minha frente.
_Vai fazer mal para o bebê.
_E desde quando você é o pai?
Ele não falou nada. Apenas continuou fazendo o que era necessário. Quando terminou, segundos depois, pediu para Gessi nos deixar sozinhos.
_Desde nunca..._Lucas respondeu minha pergunta._Mas agora que você tocou no assunto... Quem é o pai?_Ele se sentou na cama.
_Não te interessa._Senti meu estômago dar um pulo só de pensar nele...
_Interessa... E muito. Ele te largou?
Senti uma lágrima escorrer na minha face, só de lembrar o quão amável o pai daquela criança indefesa que estava dentro de mim era.
_Não._Minha voz fraquejou._Pelo contrário. Ele foi levado por demônios._Virei-me para ele._Fez um pacto de 2 ou 3 dias para me livrar do inferno.
_Você já morreu?
Assenti com a cabeça.
_Sinto muito pelo seu namorado.
_Obrigada... Mas não quero a pena de ninguém.
_Tudo bem... Sente-se aqui.
Fiz o que ele pediu e me sentei ao seu lado.
_Você disse... Que já passou por situações piores do que essa, com o bebê. Eu te entendo, mas isso não deveria ser assim. Você deveria estar feliz.
_Feliz? Pôr mais uma pessoa nesse mundo cheio de brutalidade não parece muito “feliz”._Ironizei._Ele vai crescer vendo sua mãe lutar contra monstros... Quando ele disser que está com medo do escuro o que eu vou fazer? Dar á ele uma arma? O escuro... É realmente muito perigoso. Eu não quero que uma criança cresça assim... Minha criança.
_Deve ter algo de bom nisso._Eu não falei de imediato, mas já havia pensado no assunto.
_Ele vai lembrar o pai... Tomara que tenha os olhos dele._Eu estava sonhadora._Uns olhos azuis como o mar juntamente com a lua espelhada naquela superfície lisa...
_Isso é bom.
_Sim..._Respirei pesadamente, como se fosse chorar, e era o que eu queria fazer naquele momento._Eu quero Andy de volta...
Não aguentei muito e meu rosto foi molhado por uma lágrima, e mais outra, seguida por mais muitas outras incansáveis.
Senti os braços fortes de meu novo amigo em volta dos meus braços e o calor transmitido por ele.
_Eu... Já suspeitava que você estava grávida assim que á vi.
_Verdade?
_Sim... Vi sua barriga e ela estava em um formato levemente arredondado, como é comum no primeiro mês de gestação, além do formato oval e grade de seus seios e as veias que estão se tornando levemente aparentes.
_Como você sabe disso tudo?
_É apenas... Intuição e um pouco de prática. Ao contrário do que parece, já fiz vários partos naturais... Não é muito fácil, mas é... Mais prático quando se está em uma situação não muito boa, como estar em uma caixa de papelão apenas com uma caixa de ferramentas no seu lado.
_Já aconteceu?
_Sim._Ele riu._Naquela época que nasceu meu filho.
Olhei espantada.
_SEU filho?
_É... Eu tive com 19 anos, com uma mulher de 22. Ela me expulsou... Eu tenho vontade de um dia poder visitá-los... Mas não quero ser mal recebido.
_Eu entendo, vou com você quando chegar a hora.
_Obrigado.
_Não por isso...
Então era isso. Alguém crescia dentro de mim, já sentia o calor dentro de mim, o calor da nova pessoa que crescia lentamente em meu útero. Pus minha mão no ventre. Eu iria protegê-la... Á todo custo.